quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Identificar e aceitar a ilusão do mundo

Antes de me ocupar da lição de hoje, o que vou fazer em seguida, gostaria de estender alguns comentários a respeito da conversa que tivemos ontem em nosso encontro para a leitura do UCEM. O assunto de que tratamos é o do subcapítulo VI. O Amigo indicado e está na página 592 do Livro Texto, como parte do capítulo 26: A TRANSIÇÃO. Creio que vale a pena - quem ainda não leu - dar uma espiada ou, quem já leu, revisitar.

Começa assim [estou retraduzindo do original]: "Qualquer coisa neste mundo que acredites ser boa e valiosa, e pela qual vale a pena lutar, pode te ferir, e o fará. Não porque tenha o poder para ferir, mas justamente porque negaste que ela não é só uma ilusão, e a tornaste real [verdadeira]. E ela é real para ti. Ela [já] não é [apenas] nada. E por meio da realidade percebida nela todo o mundo de ilusões doentias se apresenta. Vem a ti toda a crença no pecado, no poder do ataque, no ferimento e no dano, no sacrifício e na morte. Porque ninguém pode tornar verdadeira uma ilusão e escapar do restante [delas]. Pois quem pode escolher manter aquelas que prefere e achar a segurança que só a verdade pode oferecer? Quem pode acreditar que as ilusões são a mesma e ainda assim afirmar que uma ao menos é melhor?"

É neste estado de confusão que o sistema de pensamento do ego quer que permaneçamos. Ele não quer nos permitir perceber que aquilo tudo que vivemos e experimentamos neste mundo é apenas parte de uma grande e única ilusão construída a partir da crença na separação. Ele não quer que compreendamos que aquilo que é verdadeiramente real, como dizem os hindus, é neti neti, ou seja, não é "nem isto nem aquilo". É algo que está além e adiante, no espaço que existe entre isto e aquilo, no interior disto e no interior daquilo e também além e adiante e no interior daquele que pensa que pensa a respeito disto e daquilo, e que não é visível. Nem por isto, nem por aquilo e nem por aquele que pensa que pensa.

Citando partes de uma leitura, como fiz ontem, Lao-Tse diz que "antes que houvessem céus e terra, havia o inominável". E James Carse diz que "as coisas não existem enquanto não houver palavras para nomeá-las. Os nomes, entretanto, não vêm das coisas, mas do silêncio que precede o ato de nomear". "O insight do taoísta aqui", diz ele ainda, "não é [perceber] que somos literalmente os criadores de nossos próprios mundos. É [antes perceber] que no uso da linguagem nós criamos distinções onde não existe nenhuma".

Ao mesmo tempo em que reconhecemos, a partir de nossa leitura de ontem e da conversa a seu respeito, a ilusão de tudo aquilo que percebemos no mundo, podemos concordar com Carse, quando ele diz que "a questão [...] não é se usamos nossa linguagem de forma acurada para descrever o mundo que realmente existe, mas se percebemos que as coisas criadas por nossa linguagem têm a impermanência da espuma sobre a face do Inominável, do Incognoscível, do Impronunciável".

Concluindo, como ressaltei ontem, saber que tudo o que experimentamos neste mundo, mesmo aquilo que, às vezes, se nos afigura importante ou grandioso, não passa de ilusão pode nos trazer a possibilidade de um viver mais leve, mais solto, mais livre. Um viver que nos leve na direção de "curtir" a viagem que fazemos com alegria. Ou, como diz, o Dito, de Guimarães Rosa, "o certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundas. Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma".

3 comentários:

  1. Muito lindo, Moisés, tudo realmente!
    Há muito tempo atrás perguntei a um grande professor de treinamento em relações humanas, como fazer para colocar todos estes magníficos ensinamentos dos grandes mestres na prática e ele respondeu:
    "Não se ligue nos detalhes"! E a seguir disse: "Lembre-se: Tudo são detalhes!"
    Simples? Sim...Fácil...Não!!!
    Bj

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  2. Maravilhoso Moisés, um dos melhores textos aqui postados. Neste momento, muito actual para mim.
    Mais uma vez muito obrigada!

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  3. Obrigado Welwitschia, obrigado Nina, por seus comentários, por acompanharem as postagens e por compartilharem tão valiosas contribuições.

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