domingo, 31 de janeiro de 2021

Eis aqui a oportunidade de abandonarmos o mundo

 

LIÇÃO 31

Eu não sou vítima* do mundo que vejo.

1. A ideia de hoje é a apresentação de tua declaração de liberdade. Mais uma vez, a ideia deve ser aplicada tanto ao mundo que vês fora quanto ao mundo que vês dentro. Na aplicação da ideia, usaremos uma forma de prática que será utilizada cada vez mais, com modificações conforme indicado. Em geral, a forma inclui dois aspectos, um no qual aplicas a ideia de modo mais contínuo e o outro que consiste em aplicações frequentes da ideia ao longo do dia.

2. São necessários dois períodos de prática mais longos com a ideia para hoje, um pela manhã e um à noite. Recomenda-se de três a cinco minutos para cada um destes períodos. Durante este tempo, olha a tua volta lentamente enquanto repetes a ideia duas ou três vezes. Em seguida, fecha os olhos e aplica a mesma ideia a teu mundo interior. Escaparás de ambos ao mesmo tempo, pois o interior é a causa do exterior.

3. Enquanto examinas teu mundo exterior deixa simplesmente que quaisquer pensamentos que passem por tua mente cheguem a tua consciência, para considerar cada um por um momento e, então, ser substituído pelo seguinte. Tenta não estabelecer qualquer tipo de hierarquia entre eles. Observa-os virem e irem com a maior imparcialidade possível. Não te demores em nenhum em particular, mas tenta deixar a corrente seguir adiante regular e tranquilamente, sem qualquer envolvimento especial de tua parte. Ao sentares calmamente para observar teus pensamentos, repete a ideia de hoje para ti mesmo quantas vezes quiseres, mas sem nenhuma sensação de pressa.

4. Além disso, repete, para ti mesmo, a ideia para hoje com a maior frequência possível durante o dia. Lembra-te de que estás fazendo uma declaração de independência em nome de tua própria liberdade. E em tua liberdade está a liberdade do mundo.

5. A ideia para hoje também é particularmente útil para ser usada como uma resposta a qualquer forma de tentação que possa surgir. Ela é uma declaração de que não cederás à tentação para te colocares em cativeiro.


*

NOTA DA TRADUÇÃO: 

A palavra victim, do original, também tem a acepção que permitiria traduzi-la por escravo. A frase ficaria, então, "Eu não sou escravo do mundo que vejo". Em minha opinião, este significado talvez seja até mais adequado para traduzir a ideia da lição de hoje, a se considerar o que dizem as instruções para as práticas quanto à declaração de independência que fazemos ao usar a ideia. Optei por manter a versão dada por Lillian em função do fato de ser comum em nossa experiência neste mundo o contato com pessoas que se julgam vítimas das circunstâncias que as cercam, por não terem aprendido ainda a assumir a responsabilidade pelas situações que seus pensamentos criam para suas vidas.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 31

Ao dar início, em 2010, à publicação das lições numa versão que buscava revisar algumas questões de linguagem na tradução feita por nossa querida Lillian Paes, minha tentativa foi sempre a de chamar a atenção para alguns pontos específicos nas partes em que fiz qualquer alteração que pudesse soar como algo com uma diferença mais substancial em relação ao texto traduzido por ela a que muitos de nós nos acostumamos.

A observação que faço acima a respeito da tradução da palavra victim não é a única que se poderia fazer, uma vez que no original a ideia que vamos explorar hoje diz: I am not the victim of the world I see. Uma versão que traduziria de forma mais literal a frase, ou ideia, é a seguinte: Eu não sou "a" vítima do mundo que vejo.

E talvez esta versão nos mostre mais claramente o modo do ego ver o mundo e de se ver no mundo. Vamos explorar um pouco mais o tema?

"Eu não sou [a] vítima do mundo que vejo."

Aparentemente não há nenhuma diferença em relação à versão de Lillian e esta, a não ser pelo artigo definido "a" antes da palavra vítima. Será que isto faz de fato alguma diferença?

Pensemos um pouco a partir do que a lição nos diz já em sua frase inicial:

A ideia de hoje é a apresentação de tua declaração de liberdade.

Há aqui também a necessidade de mais uma escolha diferente de palavras, de que só me dei conta agora, para traduzir a frase inicial da lição em seu original: [Today's idea is the introduction to your declaration of release.] Lillian a traduziu como: [A ideia de hoje é a introdução para a tua declaração de liberdade]. Pela lógica da Língua Portuguesa não há sentido para tal expressão. Ninguém é introduzido à sua declaração de liberdade. Assim só podemos pensar na palavra original "introduction" como "apresentação", como quando apresentamos alguém, um amigo ou amiga, a uma outra pessoa. Um sentido que também existe para a palavra na Língua Inglesa.

Assim, é clara a razão pela qual só podemos pensar também que a ideia tem de ser a apresentação a nossa declaração de independência do mundo. E a razão ou as razões por que dar importância à inclusão do artigo "a" para se lidar com a ideia que o Curso nos oferece para as práticas de hoje.

Voltando, então, em parte aos comentários feitos anteriormente a esta mesma lição:

Ora, um dos hábitos comuns do ego é "se achar", tanto para o bem quanto para o mal. Isto é, quando estamos nos sentido bem em relação à vida que levamos - entenda-se ao emprego ou profissão que temos, ao trabalho que fazemos, às opções de lazer a que temos acesso, aos relacionamentos em que nos envolvemos, às coisas materiais de que dispomos -, julgamo-nos, vemo-nos, a partir da imagem que o ego tem de nós mesmos, "por cima da carne seca". Ninguém é melhor do que nós. Chegamos por vezes a menosprezar quem não tem o mesmo tipo de "sucesso" de que pensamos desfrutar, classificando as pessoas como perdedoras, fracassadas, fracas, incapazes e por aí vai uma série de julgamentos.

O ego sussurra em nossos ouvidos: "você é o cara". Ou, "você é a cara". Talvez: "você é a mina".

Do mesmo modo, quando nos sentimos mal e embarcamos numa "deprê", seja por que razão for, o ego tende a se ver como "a" vítima, "o" rejeitado, "o" coitado, ou "a" coitada, "aquele" ou "aquela" a quem a sorte [ou Deus] abandonou. 

Perguntamo-nos ou perguntamos a quem fala conosco e nos ouve: "por que isso foi acontecer comigo"? Ou dizemos: "é só comigo que acontece este tipo de coisa". Ou ainda: "eu devo ter sido muito ruim em outra encarnação", ou ainda, "joguei pedras na cruz, quando criancinha". E muitas outras bobagens mais, não é mesmo? Cada ego encontra seu tom particular para reclamar da vida, e da situação por que passa.

Eu não sou [a] vítima do mundo que vejo.

É muito importante notar também que em ambos os casos, seja nos momentos bons, seja nos ruins, o ego - cada um de nós sob o domínio dele - reforça a crença na separação, emitindo julgamento sobre julgamento.

Dizendo de outro modo, se eu me sinto único e só eu sou "o" cara, estou - em sintonia com "o grande impostor" - pouco me lixando para o que acontece com os que vivem à volta de mim. Posso até querer demonstrar uma falsa ou fingida empatia com os que não conseguem viver como eu, mas, no fundo, acho que eles não sabem o que sei e que, por isso, não merecem os mesmos resultados que tenho. São frouxos, inseguros, incapazes, fracos e incompetentes para fazer o tipo de escolha que fiz para chegar aonde estou. Vide o que eu já disse alguns parágrafos acima.

Por outro lado, quando estou mal, quando tenho de enfrentar uma crise qualquer, eu também me ponho numa posição de isolamento, separando, afastando, ou buscando afastar de mim os/as que estão próximos/as, porque "ninguém pode entender o que sinto", o que vivo. Ou porque, reza a lenda, não devemos deixar ninguém nos ver em crise, sob pena de prejudicarmos nossa imagem de bem-sucedidos/as. E, claro, ponho a culpa de meus fracassos, de meus equívocos no fato de ninguém me dar a atenção que busco ou parar para ouvir o quanto "meu" problema é delicado e especial. Também neste caso, a ideia que o ego vende é a de que não há ninguém que sofra tanto quanto eu.

Transformei-me no enjeitado, no pária, a quem ninguém ama, que ninguém quer ajudar e o mundo que vejo se cobre de nuvens cinza-escuro e pesadas que me impedem de ver a luz. Tudo está a ponto de desabar sobre minha cabeça. Não há solução possível para o drama que vivo. Acho que quero morrer, para me livrar de uma vez por todas deste "vale de lágrimas", que é o mundo.

Eu não sou [a] vítima do mundo que vejo.

É claro que há um número incontável de modos de descrever as situações de que falo. Cada um de nós - no ego - vai - e pode - se perceber como "o" ou "a" alguma coisa e acreditar que sua experiência é única e que está sozinho, ou sozinha, no mundo com sua dor ou sua alegria. Os egos são solitários, apesar das mentes serem unidas, como ensina o Curso.

No entanto, lembrando das lições que já praticamos, e das que ainda vamos praticar, aplicando-as às situações que se apresentam em nosso viver, é possível intuirmos que existe outro modo de ver. Aliás, até trabalhamos com a possibilidade de tomar a decisão de ver, e de ver de modo diferente todas as coisas.

Na lição de ontem em particular, nossa tentativa, segundo a orientação do Curso, foi a de buscarmos um jeito de nos unirmos a tudo o que vemos, dentro ou fora de nós, em lugar de manter qualquer coisa separada.

Eu não sou [a] vítima do mundo que vejo.

O que a lição nos oferece hoje, e que está lá na frase inicial, conforme falamos, é a grande oportunidade de abandonarmos de uma vez por todas o mundo. Não no sentido de morrer ou qualquer coisa parecida com isso, como ir viver numa caverna distante, ou numa montanha, longe de tudo e de todos. Mas no sentido de não dar, a qualquer coisa ou pessoa no mundo, nenhum poder sobre nós. 

Ressalte-se aqui, neste momento por que passa o mundo todo com a ameaça do vírus e da pandemia, a importância de termos bem claro em nossa mente que não somos "o corpo" com o qual o ego se identifica e que não devemos temer nada no mundo da ilusão. Aquilo que somos de fato não pode ser ameaçado, como vemos já na abertura do ensinamento. E tudo no mundo - pessoas e coisas, o vírus inclusive - só tem sobre nós o poder que nós dermos. Porque nenhum de nós é "a" vítima do mundo. Em tempo algum.

É na direção disso que toda a orientação para as práticas deste dia nos levam. Vamos juntos, juntas? 

Às práticas?

sábado, 30 de janeiro de 2021

Só "crer para ver" pode levar à visão, não o contrário

 

LIÇÃO 30

Deus está em tudo o que vejo, porque Deus 
está em minha mente.

1. A ideia para hoje é o trampolim para a visão. A partir desta ideia o mundo se abrirá diante de ti e olharás para ele e verás nele aquilo que nunca tinhas visto antes. E o que vias antes não será visível para ti nem mesmo vagamente.

2. Hoje tentamos usar um tipo novo de "projeção". Não estamos tentando nos livrar do que não gostamos buscando vê-lo fora. Ao contrário, tentamos ver no mundo o que está no interior de nossas mentes e aquilo que queremos reconhecer que está aí. Deste modo, tentamos nos unir ao que vemos, em lugar de mantê-lo separado de nós. Esta é a diferença fundamental entre a visão e o modo como vês.

3. A ideia de hoje deve ser aplicada tantas vezes quanto possível durante todo o dia. Sempre que tiveres um momento, repete-a para ti mesmo devagar, olhando a tua volta e tentando perceber claramente que a ideia, de fato, se aplica a tudo o que vês agora, ou ao que poderias ver agora, se estivesse ao alcance de tua vista.

4. A visão verdadeira não está limitada a noções tais como "perto" e "longe". A fim de te ajudar a começar a te acostumares com esta ideia, tenta pensar em coisas distantes de teu alcance atual tanto quanto naquelas que podes realmente ver ao aplicares a ideia de hoje.

5. A visão verdadeira não só não é limitada pelo espaço e pela distância, mas também não depende em absoluto dos olhos do corpo. A mente é sua única fonte. Também a fim de te ajudar a conseguires ficar mais acostumado com esta ideia, dedica vários períodos de prática à aplicação da ideia de olhos fechados, usando quaisquer sujeitos que venham a tua mente e olhando mais para dentro do que para fora. A ideia de hoje se aplica igualmente a ambos.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 30

Afinal, eis a resposta para a pergunta que nos fazíamos, enquanto praticávamos a ideia de ontem: Deus está em tudo o que vejo. Precisamos chegar à consciência de que a explicação que satisfaz é sempre a mais simples. E ela que traz sentido para aquilo que estamos buscando aprender. Não lhes parece, então, que a resposta mais simples, a explicação mais simples, para confirmar a veracidade da ideia que praticamos ontem está exatamente na ideia que vamos praticar e explorar hoje? 

Vejamos:

"Deus está em tudo o que vejo, porque Deus está em minha mente."

É óbvio, como podemos perceber, e como eu já disse antes, que esta lição complementa, estende e responde de forma mais completa a pergunta que a ideia que praticamos ontem suscitava, como eu já disse também ao comentar a lição de ontem, não é mesmo?

Sabemos que, no tempo em que vivemos - para lembrar parte do que eu disse antes a respeito desta lição -, até mesmo a Ciência confirma  que não há diferença para o cérebro entre aquilo que é aparentemente real e visível aos nossos olhos - e perceptível a todos os nossos sentidos - e aquilo que existe apenas em nossos pensamentos.

A forma de reagirmos a alguma coisa que vemos e podemos tocar, ouvir, cheirar ou saborear é a mesma com que reagimos a uma lembrança, ou a um pensamento que nos venha à mente. Todas as possíveis alterações físicas, químicas e emocionais que experimentamos são também as mesmas, quer desencadeadas por um fato, alguma coisa que nos aconteça, uma situação que se apresente, quer devidas a uma lembrança despertada por uma imagem, uma fala, uma música ouvida ou por um pensamento.
 
Deus está em tudo o que vejo, porque Deus está em minha mente.

Acredito que saber disso, isto é, que Deus está em tudo - e só pode estar em tudo - o que vejo, porque Ele está em minha mente, pode ser de grande ajuda para compreendermos - lembrando-nos de que a compreensão sempre está ligada à aceitação - o que a lição nos diz logo em seu início:

A ideia para hoje é o trampolim para a visão. A partir desta ideia o mundo se abrirá diante de ti e olharás para ele e verás nele aquilo que nunca tinhas visto antes. E o que vias antes não será visível para ti nem mesmo vagamente.

Em seu livro, Viver Como Se Deus Existisse, de que já falei outras vezes, o teólogo Heinz Zahrnt, argumenta que aquele, ou aquela, que quiser "ficar seguro a respeito de Deus precisa - como também em outros âmbitos da vida - apostar em alguma coisa que não conhece antecipadamente. Precisa crer, pensar e agir - 'como se Deus existisse'. Somente assim experimentará se Deus existe. Deus mora apenas onde o deixamos entrar [grifo meu]". 

Em meu modo de ver, isto está em perfeita sintonia com a ideia que praticamos hoje, e também tem a ver com aquilo de que fala Goldsmith, em vários de seus livros, quando diz que precisamos nos tornar conscientes da Presença, em nós mesmos, em nós mesmas. Isto quer dizer que precisamos chegar ao ponto de encontrar em nós o desejo de ter - e de experimentar viver com - a Presença consciente de Deus. Viver, crer, pensar e agir "como se Deus existisse", para nós, em nós, conosco. Viver, crer, pensar e agir a partir da consciência da Presença d'Ele/d'Ela, do/a divino/a, em nós.

E é por isso que as práticas são extremamente importantes. Pois tomar consciência de que só podemos experimentar Deus se nos abrirmos à Presença d'Ele, ou d'Ela, é um passo gigantesco na direção do conhecimento de nós mesmos, de nós mesmas. E, por consequência, na direção de conhecer Deus. Porque só podemos conhecer Deus quando nos conhecemos por inteiro.
 
Deus está em tudo o que vejo, porque Deus está em minha mente.

Não há como fugir disso. Um dos salmos, no Antigo Testamento, já nos lembrava disso, referindo-se a Deus, e pensando em um Deus interno, dentro de nós e não fora. Numa versão livre, que foi musicada, o salmo diz assim: 

Tu me conheces quando estou sentado, Tu me conheces quando estou em pé. Vês claramente quando estou andando, quando repouso, Tu também me vês. Se pelas costas sinto que me abranges, também de frente sei que me percebes. Para ficar longe de Teu espírito, o que farei, aonde irei não sei.

Não há como fugir ou se esconder de Deus porque [Ele/Ela está na minha mente.]. Somente se pudéssemos nos esconder de nós mesmos/as [num processo que a psicologia chama de dissociação], o que só é possível enquanto acreditamos que as ilusões que projetamos podem ser verdadeiras. É para isso que a lição nos chama a atenção. Assim:

Hoje tentamos usar um tipo novo de "projeção". Não estamos tentando nos livrar do que não gostamos buscando vê-lo fora. Ao contrário, tentamos ver no mundo o que está no interior de nossas mentes e aquilo que queremos reconhecer que está aí. Deste modo, tentamos nos unir ao que vemos, em lugar de mantê-lo separado de nós. Esta é a diferença fundamental entre a visão e o modo como vês.

Como eu já disse outras vezes, tantas, é para dentro de nós mesmos/as que precisamos voltar nossa atenção. Ou, dizendo de outra forma, só a visão verdadeira pode nos mostrar que a ordem correta, o caminho, é crer para ver e não o contrário, como quis Tomé, segundo nos contam os evangelhos. Por isso, quando achamos que há alguma coisa para se mudar no mundo, temos de ter bem claro que ela só pode mudar a partir de nossos pensamentos. É só mudando nosso modo de pensar que o mundo que vemos -  que nos parece real e, por vezes, cruel e absurdo um verdadeiro inferno - pode mudar. 

Deus está em tudo o que vejo, porque Deus está em minha mente.

É só isso que precisamos praticar e aplicar a nossa vida para nos tornarmos capazes, de fato, de ver Deus em tudo e em todos. Joel Goldsmith em um de seus livros aconselha o seguinte: 

Instala-te no reino de Deus na primeira meia hora depois de acordares pela manhã. Decide-te a viver teu dia no esconderijo do Senhor, enquadrando-te na Sua lei.

Eu acrescentaria: e deixa que Ele/Ela te guie e oriente todas as tuas ações e pensamentos durante todo o teu dia. 

É basicamente isto que o restante da lição nos pede para fazermos.

Às práticas?

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Praticar para criar a consciência da Presença divina

 

LIÇÃO 29

Deus está em tudo o que vejo.

1. A ideia para hoje explica por que tu podes ver todo o propósito em todas as coisas. Ela explica por que nada está separado, por si mesmo ou em si mesmo. E explica por que nada do que vês significa coisa alguma. De fato, ela explica cada ideia que usamos até agora e também todas as subsequentes. A ideia de hoje é a base total para a visão.

2. É provável que aches esta ideia muito difícil de apreender a esta altura. Podes achá-la tola, irreverente, absurda, engraçada e até mesmo repreensível. Deus certamente não está em uma mesa, por exemplo, da forma como tu a vês. No entanto, enfatizamos ontem que a mesa compartilha o propósito do universo. E aquilo que compartilha o propósito do universo compartilha o propósito de seu Criador.

3. Tenta, então, hoje, começar a aprender como olhar para todas as coisas com amor, gratidão e receptividade. Tu não as vês agora. Queres saber o que há nelas? Nada é como te parece. Seu propósito sagrado está além de teu pequeno alcance. Quando a visão te mostrar a santidade que anima o mundo compreenderás perfeitamente a ideia de hoje. E não compreenderás como pudeste alguma vez achá-la difícil.

4. Nossos seis períodos de prática de dois minutos para hoje devem seguir um padrão agora familiar. Começa com a repetição da ideia para ti mesmo e, em seguida, aplica-a a sujeitos escolhidos aleatoriamente a tua volta, citando cada um de forma específica. Tenta evitar a tendência a uma seleção auto-direcionada, que pode ser particularmente tentadora em relação à ideia de hoje em razão de sua natureza completamente inusitada. Lembra-te de que qualquer ordem que estabeleças é igualmente estranha à realidade.

5. Por isso, tua lista de sujeitos deve ser tão livre de tua seleção pessoal quanto possível. Por exemplo, uma lista adequada poderia incluir: 

Deus está neste cabide.
Deus está nesta revista.
Deus está neste dedo.
Deus está nesta lâmpada.
Deus está naquele corpo.
Deus está naquela porta.
Deus está naquele cesto de lixo.

Além dos períodos de prática estabelecidos, repete a ideia para hoje pelo menos uma vez por hora, olhando lentamente a tua volta enquanto, sem pressa, dizes as palavras para ti mesmo. Pelo menos uma ou duas vezes, deves experimentar uma sensação de tranquilidade enquanto fazes isso. 

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 29

Voltemos mais uma vez à pergunta que deu início ao comentário a esta lição nos últimos anos.

Onde está Deus? 

Repetindo também o que eu disse em comentários anteriores para esta lição, pode-se dizer que as antigas lições de catecismo, para quem as teve, ensinavam que Deus está no Céu, na terra e em todos os lugares, não é mesmo? 

O que as lições se esqueciam de dizer a cada um, a cada uma, de nós é a razão para se acreditar que Deus esteja em todos os lugares. E podemos pensar, a partir do ensinamento do Curso, que o Deus Único, que pregam o cristianismo e o catolicismo, que seria o mesmo que Alá para os muçulmanos, talvez não seja de verdade o mesmo para cada um, cada uma, de nós. Talvez existam tantos deuses quantas são as pessoas no mundo. 

Assim como os mundos são, de certa forma, individuais - quer dizer, cada pessoa vive um mundo diferente em sua vida, o mesmo pode se dar, talvez, com a ideia de Deus, com o Deus que cada um vive e experimenta ao longo de sua vida, durante sua experiência de vida no corpo, na forma e nos sentidos. 

O que é algo bastante plausível, a se pensar no que a ideia da lição pede que pratiquemos. O que os antigos ensinamentos dos catequistas esqueciam de dizer, entre outras coisas, é que Deus só pode estar em todos os lugares se estiver dentro de cada um, de cada uma. Deus não só é um ou uma de nós, mas é também o que cada um, cada uma, de nós é, na verdade. 

Há até uma canção antiga, de 1995, "One of Us" [Um de nós], de Joan Osborne, que trata da questão, levando-nos com a letra a perguntar junto com ela, já no verso inicial: "E se Deus fosse um de nós...?"

Vejam, ouçam, a música, com a letra no vídeo, a partir do link abaixo:

https://youtu.be/5G5XzQN_SDM

Mas, continuemos. Quem sabe a lição que praticamos hoje possa nos devolver a consciência de nossa unidade ao divino? Vamos a ela como nos anos passados?

"Deus está em tudo o que vejo."

Se não vemos assim, é porque não vemos de fato. Construímos imagens. Acessamos memórias do passado e não somos capazes de perceber por que razão não compreendemos nada do que vemos, ou não sabemos para que serve coisa alguma. Ou não é disso que trataram as lições anteriores relacionadas à visão? Dizer: Eu estou decidido a ver, como o Curso sugeriu, é reconhecer de modo tácito que não vejo verdadeiramente.

A lição deste dia começa por dizer que:

A ideia para hoje explica por que tu podes ver todo o propósito em todas as coisas. Ela explica por que nada está separado, por si mesmo ou em si mesmo. E explica por que nada do que vês significa coisa alguma. De fato, ela explica cada ideia que usamos até agora e também todas as subsequentes. A ideia de hoje é a base total para a visão.

Afirmar que Deus está em tudo o que vejo não significa que já somos capazes de ver Deus em tudo, ou que em algum momento o seremos. Ou que compreendemos que só poderemos ver Deus em tudo quando o tivermos aceito em nós. Quando tivermos aceito Sua Presença como sendo a verdade do que somos. Significa, porém, que, se chegarmos a entender [não via intelecto, não via a lógica do mundo, mas pela aceitação da possibilidade de nossa própria divindade] a verdade do que dizemos, isso - ver que Deus está em tudo o que vemos - vai depender de nossa decisão de ver. E de ver de modo diferente daquele que vemos hoje.

Na verdade, como eu já disse antes, decidir que o que queremos, "acima de tudo", é ver as coisas de modo diferente é a única maneira de chegarmos à aplicação prática do fato de Deus estar em tudo. É só a partir de nossa decisão que seremos capazes de experimentar Deus, a Presença d'Ele, em tudo o que vemos.
 
Deus está em tudo o que vejo.

Pelo que aprendemos, nós, os que fomos criados nas tradições judaico-cristãs, das quais o catolicismo é uma,  Deus é onipotente, onisciente e onipresente. O que significa dizer que Ele pode tudo, sabe tudo e está em todos os lugares ao mesmo tempo. 

Como pode ser isso? 

Ora, pela lógica óbvia de que Deus está em cada um, cada uma, de nós e em todas as formas de vida que existem, com consciência de si mesmas ou não, podemos pensar que cada uma das formas de vida existentes, ou por existir, é parte da consciência de Deus e O completa. A consciência divina se faz de tudo o que sabemos e também daquilo que não sabemos que sabemos e até mesmo daquilo que não sabemos de fato, porque não temos acesso de forma consciente a tudo o que há para se saber sobre todas as diferentes formas de vida. 

Continuemos:

É provável que aches esta ideia muito difícil de apreender a esta altura. Podes achá-la tola, irreverente, absurda, engraçada e até mesmo repreensível. Deus certamente não está em uma mesa, por exemplo, da forma como tu a vês. No entanto, enfatizamos ontem que a mesa compartilha o propósito do universo. E aquilo que compartilha o propósito do universo compartilha o propósito de seu Criador.

Paremos um pouquinho para refletir. O que pensamos de Deus? Será que, de fato, existe um Deus? Acreditamos mesmo nisso? Ou será que Ele não existe? Foi apenas algo que inventaram para nos pôr medo, para que aceitássemos algumas das exigências e nos sujeitássemos ao poder dos que governam o mundo e querem que as coisas sejam de seu jeito. Será mesmo que, porque Deus nos deu, temos livre arbítrio? Somos capazes, de verdade, de escolher o que queremos, o que nos faz felizes e Deus aprova nossas escolhas? Ou as desaprova? Como imaginamos que Deus seja? Aquele velhinho de barbas brancas sentado em um trono sobre as nuvens a reger o universo inteiro? Longe, longe, muito distante de todos e de cada um, cada uma, de nós.

Deus está em tudo o que vejo.

Isso talvez não seja exatamente assim. Não como pensamos que seja. Joel Goldsmith, em um de seus livros fala a respeito de meditação, lembrando da necessidade do que ele chama de uma "preparação espiritual". "A primeira parte dessa preparação", diz ele, "é a prática de despertar pela manhã na compreensão consciente de sua [nossa] unidade com Deus".

Se não nos decidirmos a trazer Deus a nossa consciência, a nossa experiência, em nosso primeiro momento de vigília, podemos perder a oportunidade de ter Deus conosco em cada ocasião durante todo o dia. Podemos não ser capazes de perceber que Deus está em tudo o que vemos.

Como fazer isso? Vejamos o que nos diz a lição:

Tenta, então, hoje, começar a aprender como olhar para todas as coisas com amor, gratidão e receptividade. Tu não as vês agora. Queres saber o que há nelas? Nada é como te parece. Seu propósito sagrado está além de teu pequeno alcance. Quando a visão te mostrar a santidade que anima o mundo compreenderás perfeitamente a ideia de hoje. E não compreenderás como pudeste alguma vez achá-la difícil.

Deus está em tudo o que vejo.

Está? Talvez pensemos que, conforme aprendemos, Deus é onipresente, onisciente, onipotente e está sempre conosco. Mas acreditamos nisso? Não! Se acreditássemos, de fato, tudo nos pareceria absolutamente diferente, belo, maravilhoso, divino. Além disso, dizer que Deus está sempre conosco é, no dizer de Goldsmith, apenas um lugar-comum, se não temos consciência da Presença d'Ele em nós.

É por isso que Goldsmith diz: "É verdade que Deus é onipresente. É verdade que Deus está exatamente onde você está". Mas de que vale a onipresença de Deus para quem não tem consciência dela? 

Goldsmith diz também: "Certamente Deus estava lá [no lugar aonde aconteceu uma desgraça qualquer], mas Deus não é uma pessoa e Deus não pode olhar você aqui embaixo e dizer que sente o sofrimento que você está suportando. Deus está onipresente nos hospitais, nas prisões, nas frentes de batalha [e nos locais onde acontecem os incêndios, os desastres ou as catástrofes de que temos notícia todos os dias]. Deus é onipresente! Mas de que serve isto para alguém? De que serve isto para você? Somente isto: Deus está disponível em cada caso na medida de sua percepção consciente da presença de Deus".

Quer dizer, cada um de nós, na medida de sua sintonia com o divino interior, tem a capacidade de ver, de sentir e de experimentar a Presença a todo momento, se estiver atento.
 
Deus está em tudo o que vejo.

Sim, sim, sem dúvida. Mas é necessário que desenvolvamos o estado de consciência que vai permitir vermos em tudo e em todos e todas a Presença de Deus. As práticas diárias são um passo para o desenvolvimento dessa consciência. É preciso que voltemos nossa atenção para o movimento, um pequeno esforço, para treinarmos a consciência para "compreender a presença de Deus ao despertar pela manhã", como ensina Goldsmith. Para chamar, para permitir que Deus se apresente e para aceitar Sua Presença.

Além dos exemplos que a lição nos oferece para as práticas de hoje, podemos nos valer também de uma das sugestões de Goldsmith, que diz o seguinte [para ser usada como uma prece, uma afirmação de nosso desejo de sentir a Presença em nós e em tudo e todos que vemos]:

Assim como a onda é uma com o oceano, do mesmo modo eu sou um com Deus. Assim como o raio de sol é um com o sol, do mesmo modo eu sou um com Deus.

Às práticas?

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

As coisas vistas a partir dos sentidos nada significam

 

LIÇÃO 28

Acima de tudo quero ver as coisas de modo diferente.

1. Hoje damos, de fato, aplicação específica à ideia de ontem. Nestes períodos de prática, assumirás uma série de compromissos definidos. Não nos interessa agora se os cumprirás no futuro. Se ao menos estiveres disposto a assumi-los agora, deste início ao movimento para mantê-los. E nós ainda estamos no começo.

2. Podes te perguntar por que é importante dizer, por exemplo, "Acima de tudo quero ver esta mesa de modo diferente". Ela não é absolutamente importante em si mesma. Mas o que é por si mesma? E o que significa "em si mesma"? Tu vês muitas coisas separadas a tua volta, o que, de fato, significa que não estás vendo em absoluto. Tu vês ou não. Quando vires uma única coisa de modo diferente, verás todas as coisas de modo diferente. A luz que verás em qualquer uma delas é a mesma que verás em todas.

3. Quando dizes, "Acima de tudo quero ver esta mesa de modo diferente", estás assumindo um compromisso de retirar todas as ideias preconcebidas acerca da mesa e de abrir tua mente para o que ela é e para que ela serve. Tu não a estás definindo em termos passados. Estás perguntando o que ela é, em lugar de lhe dizer o que ela é. Não estás amarrando seu significado a tua experiência diminuta com mesas, nem estás limitando o propósito dela a tuas ideias pessoais insignificantes.

4. Tu não questionarás aquilo que já definiste. E a finalidade destes exercícios é fazer perguntas e receber respostas. Ao dizeres, "Acima de tudo quero ver esta mesa de modo diferente", estás te comprometendo a ver. Não é um compromisso exclusivo. É um compromisso que se aplica tanto à mesa quanto a qualquer outra coisa, nem mais nem menos.

5. Poderias, de fato, obter a visão simplesmente a partir dessa mesa, se estivesses disposto a retirar todas as tuas ideias particulares a respeito dela e a olhar para ela com uma mente completamente aberta. Ela tem algo para te mostrar; algo belo e puro e de valor infinito, cheio de felicidade e esperança. Escondido sob todas as tuas ideias a respeito dela está seu propósito verdadeiro, o propósito que ela compartilha com todo o universo.

6. Portanto, ao usares a mesa como um sujeito para aplicar a ideia para hoje, tu estás realmente pedindo para ver o propósito do universo. Farás este mesmo pedido a cada sujeito que usares nos períodos de prática. E assumes o compromisso com cada um deles de permitir que seu propósito te seja revelado, em lugar de colocar teu próprio julgamento sobre ele.

7. Teremos seis períodos de prática de dois minutos hoje, nos quais primeiro se declara a ideia de hoje e, em seguida, se aplica a ideia a qualquer coisa que vejas ao teu redor. Os sujeitos não só devem ser escolhidos aleatoriamente, mas deve-se atribuir a cada um a mesma sinceridade enquanto se aplica a ideia de hoje a ele, em uma tentativa de reconhecer o valor igual deles todos em sua contribuição para teu ver.

8. Como de costume, as aplicações devem incluir o nome do sujeito que, por acaso, teus olhos encontrarem e deves fixar teus olhos nele enquanto dizes:

Acima de tudo quero ver este _________ de modo diferente.

Cada aplicação deve ser feita bem devagar e tão refletidamente quanto possível. Não há pressa.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 28

Como já havíamos visto antes, é preciso que explicitemos nossa decisão de ver e que saibamos da necessidade de mudar a maneira com que olhamos para o mundo e para as coisas e pessoas todas do mundo. Para sermos, de fato, capazes de ver acima de tudo. E de, acima de tudo, vermos as coisas de modo diferente.

Aprendemos já que o significado e o valor de todas as coisas que vemos, e que percebemos também com os outros sentidos do corpo, não pode ser percebido quando olhamos para elas a partir dos filtros que nos oferece o ego, ou "o grande impostor". 

É por isso também que julgo ser interessante que nos disponhamos a comentar a respeito das lições que praticamos. Pois cada uma delas "pega" a cada um, a cada uma, de nós de um modo diferente. E se compartilharmos o modo com que vemos as práticas e aquilo que elas nos trazem há grande chance de que nossa experiência sirva para iluminar os caminhos de muitos e muitas dos/das que vão conosco. 

Agradeço, por isso, mais uma vez pelos comentários de Cida, Eliane, Nina, David, Lena, Murilo, Paula, Elza e por todos/as quantos/as já conseguiram postar seu comentário aqui ou que expressaram uma opinião ou dúvida via mensagem. Continuo, do mesmo modo, a agradecer a visita de todos e de todas que passam por aqui e não comentam.

De acordo com David Hawkins, que já citei aqui:

A prontidão para iniciar a jornada não pode ser forçada; e também não se pode criticar as pessoas se ela [a prontidão] ainda não aconteceu para elas. O nível de consciência tem de ter avançado até o estágio em que tal intenção seja significativa e atraente. Uma vez inspirado, um buscador com frequência irá além de todas as conveniências e estilos de vida costumeiros e sacrificará [no sentido de que ele será capaz de abandonar sem nenhum sacrifício qualquer apego] qualquer coisa que fique no caminho. 

Sempre podemos nos enganar ou nos deixar enganar pelo ego. O importante é que saibamos que qualquer erro tem sempre a possibilidade de correção, desde que não o transformemos em "pecado", algo que não existe para o Curso. E que não existe na verdade. A não ser na experiência ilusória de um mundo condenado por aqueles e aquelas que desde tempos remotos se decidiram a exercer um poder ilegítimo sobre seus semelhantes.

Dito isto, então, passemos a explorar juntos a lição e a ideia para as práticas de hoje.

"Acima de tudo quero ver as coisas de modo diferente."

O que pode significar para cada um e cada uma de nós esta afirmação, a afirmação desta ideia, que dá titulo à lição de que nos ocupamos e se oferece as nossas práticas? Pensemos por alguns momentos. Façamos uma pequena pausa. Vamos suspender por um instante os pensamentos e ficar apenas com a ideia: Acima de tudo quero ver as coisas de modo diferente.

Por quê? Para quê?

A que isso vai me levar? Não estou feliz assim como estou? Não estou satisfeito com minha vida da forma como a percebo e vivo?

Não!?

O que precisa mudar? As pessoas? As coisas? Os acontecimentos? O mundo? Eu?

Não é só a alegria que experimento em todas as situações por que passo? Não é apenas a paz de espírito que me guia em todas as circunstâncias em meus relacionamentos com as pessoas, coisas e acontecimentos do mundo? Não é a certeza de que já estou salvo/a e de que todos e todas nós também já estamos salvos/as, porque continuamos a ser como Deus nos criou?

Não!? 

O que preciso mudar?

A lição traz o seguinte, para começar:

Hoje damos, de fato, aplicação específica à ideia de ontem. Nestes períodos de prática, assumirás uma série de compromissos definidos. Não nos interessa agora se os cumprirás no futuro. Se ao menos estiveres disposto a assumi-los agora, deste início ao movimento para mantê-los. E nós ainda estamos no começo.

Podemos perceber que não há razão para eu (ou qualquer um ou qualquer uma de nós) me preocupar agora com o que vai acontecer depois - no futuro, um tempo que ainda não existe -, a partir de minha (nossa) tomada de decisão. Basta-me [e é o que basta também a cada um e a cada uma de nós], no momento, neste exato momento, estar disposto/a a assumir este compromisso:

Acima de tudo quero ver as coisas de modo diferente.

Existe algum motivo para eu querer mudar minha forma de ver, meu olhar sobre o mundo, sobre as pessoas, coisas e acontecimentos do, e no, mundo?

Sem dúvida, se pensar com um pouco mais de cuidado do que habitualmente, parece-me que poucas vezes experimento a alegria plena, a paz perfeita e completa - a certeza da salvação -, que são, no dizer do Curso, a Vontade de Deus para mim, assim como também para cada um e cada uma de nós. E para todos e todas nós. É diferente para algum/a de vocês? Vocês vivem a alegria e a paz e para a alegria e para a paz? Todos os dias? Os dias todos?

Então, posso concluir, meu modo de ver, em geral, me afasta da alegria. Impede-me de viver a apenas a paz.

Justifica-se, pois, o que a lição explica a seguir:

Podes te perguntar por que é importante dizer, por exemplo, "Acima de tudo quero ver esta mesa de modo diferente". Ela não é absolutamente importante em si mesma. Mas o que é por si mesma? E o que significa "em si mesma"? Tu vês muitas coisas separadas a tua volta, o que, de fato, significa que não estás vendo em absoluto. Tu vês ou não. Quando vires uma única coisa de modo diferente, verás todas as coisas de modo diferente. A luz que verás em qualquer uma delas é a mesma que verás em todas.

É por isso! Porque estou cego/a a maior parte do tempo. Não percebo o significado da unidade porque estou preso à crença em uma separação que, em realidade, não pode ser verdadeira. Já tive experiências da unidade. Já experimentei momentos em que tudo - aparentemente do nada - pareceu fazer sentido. E fez.

Como posso dizer que sei disso? Porque, sem sombra de dúvida, já vivi momentos de plena alegria. Esquecido/a de qualquer separação ou julgamento. E já naveguei pela vida ao sabor das ondas de uma paz de espírito que só se pode dever à certeza - naqueles momentos pelo menos - de que me entreguei à Vontade de Deus em mim, abandonando quaisquer preconceitos. Quem nunca?

Não estará aí uma boa razão para eu dizer:

Acima de tudo quero ver as coisas de modo diferente?

A lição nos oferece mais argumentos em favor de tal decisão:

Quando dizes, "Acima de tudo quero ver esta mesa de modo diferente", estás assumindo um compromisso de retirar todas as ideias preconcebidas acerca da mesa e de abrir tua mente para o que ela é e para que ela serve. Tu não a estás definindo em termos passados. Estás perguntando o que ela é, em lugar de lhe dizer o que ela é. Não estás amarrando seu significado a tua experiência diminuta com mesas, nem estás limitando o propósito dela a tuas ideias pessoais insignificantes.

Conforme o que as lições ensinaram até aqui, se prestamos atenção suficiente, isto é, toda a atenção de que somos capazes, são minhas ideias preconcebidas, ou aquilo que trago do passado, que me impedem de ver, não é certo?

Como vimos também, lembrando das primeiras lições que praticamos, dar nome às coisas é separar, é reforçar a crença num mundo de coisas, e pessoas, separadas umas das outras, que dificilmente encontram qualquer proximidade, que raramente são capazes de comunhão, de unidade.

Acima de tudo que ver as coisas de modo diferente.

A lição continua a explicitar por que razão é necessário que escolhamos mudar nossa forma de ver:

Tu não questionarás aquilo que já definiste. E a finalidade destes exercícios é fazer perguntas e receber respostas. Ao dizeres, "Acima de tudo quero ver esta mesa de modo diferente", estás te comprometendo a ver. Não é um compromisso exclusivo. É um compromisso que se aplica tanto à mesa quanto a qualquer outra coisa, nem mais nem menos.

Ora, definir é limitar, aprisionar a coisa definida num conceito, que, muitas vezes, consideramos imutável e definitivo. Não é assim que nos referimos às pessoas que "conhecemos": Fulano é assim, Beltrano é assado. Sicrana tem este e aquele problemas. Ela é incapaz de mudar. Não faz nenhum esforço para me entender. Ele não é capaz de ouvir. Homens são assim mesmo. Todos iguais. As mulheres são muito isto ou muito aquilo, volúveis, instáveis, inconstantes. E por aí a fora?

Vale lembrar de novo, como o Curso o fez alguns dias atrás, em relação a nosso modo de construir as imagens que povoam o mundo, e derivam de, isto é, têm origem, nos nossos pensamentos: "Isso não é ver. É fazer imagens". É separar. 

Acima de tudo quero ver as coisas de modo diferente.

Fiquemos atentos, atentas, à possibilidade de vermos de fato, a partir de nossa decisão de ver as coisas de modo diferente acima de tudo.

A lição abre um mundo inteiramente novo a nossos olhos, a nossos sentidos todos. Caso estejamos dispostos ao compromisso, e a mantê-lo, uma vez assumido, vamos ver se descortinar em nossa vida toda a beleza, toda a alegria e toda a paz, que estão escondidas de nossos olhos em cada uma das coisas sobre as quais pousamos nosso olhar.

Vamos respirar novos ares, aspirar perfumes e fragrâncias desconhecidos, sem lhes impor quaisquer julgamentos. Ouviremos as mais belas melodias no ar. Canções que nos falam diretamente ao coração, sem que pensemos em reduzi-las a nenhum conceito. Tocaremos coisas e pessoas com o prazer de tocar um objeto amado ou desejado por muito tempo como se fosse a vez primeira.

E provaremos aquilo que o mundo nos oferece experimentando como que pela primeira vez, a cada vez, todo o sabor do alimento e da bebida que se preparam para os deuses, ou para o filho de Deus. 

Às práticas?