terça-feira, 19 de março de 2024

É possível resolver um problema sem reconhecê-lo?

 

LIÇÃO 79

Que eu reconheça o problema para
que ele possa ser resolvido.

1. Um problema não pode ser resolvido se não souberes qual é ele. Mesmo que ele já esteja resolvido tu ainda terás o problema porque não reconhecerás que ele está resolvido. Esta é a situação do mundo. O problema da separação, que é verdadeiramente o único problema, já está resolvido. No entanto, a solução não é reconhecida porque o problema não é reconhecido.

2. Todos neste mundo parecem ter seus próprios problemas particulares. Mas eles são todos o mesmo e têm de ser reconhecidos como o mesmo se é para ser aceita a única solução que os resolve a todos. Quem pode perceber que um problema está resolvido se pensar que o problema é alguma outra coisa? Mesmo que a resposta lhe seja dada, ele não pode ver sua pertinência.

3. Esta é a posição na qual te encontras agora. Tu tens a resposta, mas ainda estás em dúvida a respeito de qual é o problema. Uma longa série de problemas diferentes parece te desafiar e assim que um é resolvido aparece o outro, e o seguinte. Parece não haver fim para eles. Não há nenhum momento em que te sintas completamente livre de problemas e em paz.

4. A tentação de considerar os problemas numerosos é a tentação de manter não resolvido o problema da separação. O mundo parece te presentear com um grande número de problemas, cada um pedindo uma resposta diferente. Esta percepção te coloca em uma posição para a qual teu modo de resolver problemas tem de ser precário e o fracasso inevitável.

5. Ninguém poderia resolver todos os problemas que o mundo parece ter. Eles parecem estar em tantos níveis, em formas tão variadas e apresentar conteúdos tão diversos, que te desafiam com uma situação impossível. O desânimo e a depressão são inevitáveis quando tu pensas a respeito deles. Alguns surgem de forma inesperada, exatamente quando pensavas ter resolvido os anteriores. Outros permanecem insolúveis sob uma nuvem de negação e se erguem para te assombrar de vez em quando, apenas para se esconderem mais uma vez, mas ainda sem solução.

6. Toda esta complexidade é apenas uma tentativa desesperada de não reconhecer o problema e, por isto, de não permitir que ele seja resolvido. Se pudesses reconhecer que teu único problema é a separação, não importa que forma ela assuma, poderias aceitar a resposta porque perceberias sua pertinência. Percebendo a constância subjacente a todos os problemas que parecem te desafiar, compreenderias que tens o meio para resolver todos eles. E utilizarias o meio, porque reconheces o problema.

7. Em nossos períodos de prática mais longos hoje vamos perguntar qual é o problema e qual é a resposta para ele. Não vamos pressupor que já sabemos. Tentaremos libertar nossas mentes de todos os muitos tipos diferentes de problemas que pensamos ter. Tentaremos perceber claramente que temos um só problema, que deixamos de reconhecer. Perguntaremos qual é ele e esperaremos pela resposta. Ela nos será dada. Em seguida, pediremos a solução para ele. E ela nos será dada.

8. Os exercícios para hoje serão bem-sucedidos na medida em que não insistires em definir o problema. Talvez não sejas bem-sucedido em abandonar todas as tuas ideias preconcebidas, mas isto não é necessário. Todo o necessário é alimentar alguma dúvida acerca da realidade de tua versão de quais são teus problemas. Estás tentando reconhecer que a resposta te foi dada pelo reconhecimento do problema, a fim de que o problema e a resposta possam ser reunidos e possas ficar em paz.

9. Os períodos de prática mais breves para hoje não serão determinados pelo tempo, mas pela necessidade. Verás muitos problemas hoje, cada um pedindo uma resposta. Nossos esforços serão orientados para o reconhecimento de que há apenas um problema e uma resposta. Neste reconhecimento todos os problemas se resolvem. Neste reconhecimento há paz.

10. Não te deixes enganar pelas formas dos problemas hoje. Sempre que qualquer dificuldade parecer surgir, dize a ti mesmo imediatamente:

Que eu reconheça este problema para que ele possa ser resolvido.

Em seguida, tenta suspender qualquer julgamento acerca do que é o problema. Se possível, fecha os olhos por um momento e pergunta qual é ele. Serás ouvido e receberás resposta.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a lição 79

Caras, caros,

Alguma, ou algum, de vocês já parou para pensar que não é possível se chegar à solução de um problema antes de ele ser reconhecido? Por exemplo, se a pessoa tem um problema em relação ao álcool e acha que sua relação com a bebida, ou com beber, é apenas uma das coisas corriqueiras, apesar de já ter passado por várias situações em que perdeu o controle, ou por situações em que se viu desorientada, ou sem saber o que fazer por estar completamente alcoolizada, e este comportamento se repete, esta pessoa está negando que tem um problema, está deixando de reconhecer, o que seria o primeiro passo para a resolução do problema. Isto vale para qualquer problema.

É com esta ideia que vamos praticar neste dia, para buscarmos consciência de que qualquer problema só pode ser resolvido a partir do momento em que o reconhecemos.

'Bora lá?


"Que eu reconheça o problema para que ele possa ser resolvido."

Vamos modificar um pouquinho, hoje, a forma de nos aproximarmos da lição e da ideia que ela traz para as nossas práticas. Na verdade, vamos refletir de um modo um pouco mais demorado a respeito do que no trouxe até aqui e de como fomos ensinados e ensinadas - sem perceber de modo consciente a mais das vezes -, a abandonar o contato como o espírito que nos anima. De que modo e por quais razões o mundo se mostra hoje a nós como algo a ser apenas explorado em proveito próprio. O que, sem sombra de dúvida, dá privilégios e boa vida a alguns, enquanto deixa na miséria e no abandono a maior parte da população do planeta. Onde está o problema? Como reconhecê-lo.

Chama-se Em defesa de Deus um dos livros que li, agora, já há mais dez anos, e que ainda hoje se mantém na memória pela pertinência e pela forma diferente de olhar para a situação do mundo de hoje - sem condená-lo, mas sem negar que o espírito foi, de certo modo, pela maioria de nós, seres humanos, relegado a um plano secundário. Em geral, em favor do consumismo, do imediatismo, do interesse individual e individualista, da inversão de valores - ou da troca de valores verdadeiros por coisas sem valor real ou duradouro -, da falta de ética e de moral, da exploração pura e simples dos que não têm pelos que têm, em nome do progresso e do desenvolvimento e da criação de riquezas materiais, valores daquilo que se chama capitalismo

Escrito por Karen Armstrong, ele, o livro, busca mostrar quais os caminhos que, tomados pelas religiões, a partir das escolhas humanas, nos afastaram da religião verdadeira ou, melhor dizendo, do sentimento de religiosidade intrínseco a nossa experiência humana - da espiritualidade -, como se pode ver pelos registros das primeiras manifestações encontradas pela pesquisa arqueológica, que dão conta de expressões de rituais que reconheciam uma Presença a que não se podia dar nome, e que ficava além da experiência cotidiana.

Falando de alguns dos grandes e importantes pensadores da humanidade, Karen diz no livro que a atividade filosófica de Sócrates, e de outros filósofos da Antiguidade, não era separada da religião. Isto é, a atividade dos filósofos estava intrinsecamente ligada à religião e à espiritualidade, sendo ela mesma - a filosofia -, pode-se dizer, a religião que se praticava então, uma vez que não existia, como hoje, nenhuma prática religiosa institucionalizada sob o patrocínio de uma "autoridade constituída, como o Papa e seus bispos. 

Sócrates não tinha pretensões a ser dono da verdade absoluta, nem se tinha em conta de sábio, ou qualquer coisa que o valha, e seus ensinamentos buscavam, pensando junto com os indivíduos que o procuravam, quase sempre muito mais dar elementos para que os indivíduos que iam até ele questionassem por si mesmos a forma, ou formas, como viam o mundo, a fim de que eles mesmos descobrissem a melhor maneira de resolver suas questões e de viver suas vidas. É a ele que se atribui a famosa frase: "Conhece-te a ti mesmo".

Uma historinha que ela conta a respeito dele, diz que no fim de sua vida, Sócrates, apesar de não pensar em si mesmo como um sábio, relembrou uma ocasião em que foi atacado por um importante político de Atenas e disse para si mesmo: "Sou mais sábio que esse homem; provavelmente, nenhum de nós sabe qualquer coisa que valha a pena, porém ele pensa que sabe algo - e não sabe -, enquanto eu não sei, nem penso que sei; portanto, provavelmente sou mais sábio que ele só porque não penso que sei o que não sei".

A ideia que a lição deste dia 19 de março nos apresenta mais uma vez para as práticas é, como eu disse em comentário anterior, de suma importância. Considerando-se que o Curso busca nos oferecer uma forma, um caminho, para se chegar ao autoconhecimento - ao "conhece-te a ti mesmo" de Sócrates, precisamos questionar verdadeiramente aquilo que sabemos ou que pensamos saber que sabemos. Tal como ele ensinava, é preciso que questionemos a forma, ou formas, pela qual vemos o mundo, para descobrir aonde está o problema, se é que vemos algum. Não estará porventura em nós mesmos, em nós mesmas? Em nosso modo de olhar para o mundo e para o que há nele, incluindo aí, tudo, todos e todas os que o habitam conosco?

É só reconhecendo o problema, como a lição ensina, que vamos poder, de fato, lidar com ele. Daí a necessidade de que nos dediquemos às práticas com toda a atenção e com todo o empenho de que somos capazes, dispostos e dispostas a reconhecer a necessidade de mudar, se, e quando, ela se apresentar. Prontos e prontas para fazer com alegria a mudança que se nos afigure necessária. Com isso, quem sabe?, seremos capazes de reconhecer que todos os problemas do mundo são um só e o mesmo: a crença na separação.

Se nos deixamos enganar pelo sistema de pensamento do ego - o falso eu que pensamos ser -, que tenta nos convencer de que há uma quantidade ilimitada de problemas para os quais devemos buscar solução, viver passa a ser um inferno, na medida em que nos vemos forçados e forçadas, de fato, a lidar com tantos problemas, mergulhando de corpo e mente neles, abandonando o espírito, por esquecê-lo, sem que a solução de um faça diminuir a quantidade de tantos outros que nos chegam a cada momento. 

Vejam, pois, parágrafo a parágrafo o que o Curso nos oferece como forma de iluminar as práticas da ideia para hoje. É vital que prestemos toda a atenção possível ao que ele diz, pois se, de alguma forma, continuamos a ver problemas se apresentarem a nossa experiência, multiplicando-se e se agravando dia após dia, isso só pode ser sinal de que ainda não tomamos a decisão que nos pedia Tara Singh lá nas primeiras lições. 

É só a partir da decisão de pôr em prática o que as lições oferecem que vamos poder reconhecer o problema aonde ele de fato está e perceber que ele já está resolvido. A tomada de decisão é que vai tornar possível nos fazer dizer com certeza que somos estudantes de Um Curso em Milagres. 

Apesar de parecer que o que o Curso oferece é apenas teoria, como bem podem pensar alguns entre nós - a maioria de nós até, quem sabe? -, isto não é a verdade a respeito do Curso. 

Não! Não e não! Tudo o que ele nos traz, se visto com olhos honestos e sinceros, abertos para ver de modo diferente, e ouvidos abertos para ouvir a verdade a nosso próprio respeito, é apenas prática. As lições, a aplicação das ideias no dia-a-dia em nossas vidas faz uma diferença absurda na vida de qualquer uma, ou de qualquer um, que em algum momento decida, de fato, pôr em prática o que o ensinamento oferece. 

A decisão de praticar diariamente não é nada mais nada menos do que a decisão de salvar-se e de, por extensão, salvar o mundo todo. Pois, ao tomar a decisão, a pessoa que a toma escolhe olhar para o mundo e ver tudo e todas as coisas e pessoas nele de modo diferente.

O foco da atenção muda e ela já não dá mais ouvidos ao apelo ensurdecedor do ego para olhar para os defeitos, problemas, diferenças, imperfeições, ou quaisquer sombras sobre a criação, ou sobre as criaturas. 

Não, o que se quer ver em tudo e em todos é apenas a luz. E quando qualquer uma, ou qualquer um, de nós for capaz, por ter tomado a decisão, de ver em tudo e em todos apenas a luz, este alguém está salvo. E, claro, o mundo todo também. Ela, ou ele, venceu o mundo. Reconheceu o problema para que ele fosse - e ele foi, de fato - resolvido.

Às práticas?

segunda-feira, 18 de março de 2024

Tudo o que causa mágoas deve ser deixado de lado

 

LIÇÃO 78

Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.

1. Talvez ainda não esteja bem claro para ti que cada decisão que tomas é uma decisão entre uma mágoa e um milagre. Cada mágoa se ergue como um escudo sombrio de ódio diante do milagre que ela quer esconder. E, quando tu o ergues diante de teus olhos, não verás o milagre que está além. No entanto, ele espera por ti na luz o tempo todo, mas, em seu lugar, tu vês as tuas mágoas.

2. Hoje vamos além das mágoas, para ver de preferência o milagre em lugar delas. Vamos inverter o modo que vês não permitindo que a vista se detenha antes de ver. Não esperaremos diante do escudo de ódio, mas o deporemos e, em silêncio, ergueremos suavemente os olhos para ver o Filho de Deus.

3. Ele espera por ti atrás de tuas mágoas e, quando tu as abandonares, ele aparecerá na luz resplandecente no lugar em que cada uma estava antes. Pois cada mágoa é um obstáculo à visão e, quando ela é suspensa, vês o Filho de Deus aonde ele está sempre. Ele se encontra na luz, mas tu estavas nas trevas. Cada mágoa tornou as trevas mais profundas e não podias ver.

4. Hoje tentaremos ver o Filho de Deus. Não nos permitiremos ficar cegos a ele; não olharemos para nossas mágoas. Assim se inverte o modo de ver do mundo, quando, longe do medo, ficamos alertas em favor da verdade. Selecionaremos uma pessoa que usas como alvo de tuas mágoas e abandonaremos as mágoas, e olharemos para ela. Alguém a quem, talvez, temas e até odeies; alguém que pensas amar e que te irritou; alguém a quem chamas de amigo, mas que às vezes percebes como complicado ou difícil de agradar, exigente, irritante ou infiel ao ideal que deveria aceitar com seu, de acordo com o papel que escolheste para ele.

5. Tu sabes a quem escolher; seu nome já passou por tua cabeça. Ele será aquele em quem pediremos que o Filho de Deus te seja mostrado. Por vê-lo além das mágoas que guardas contra ele, aprenderás que aquilo que estava escondido enquanto não o vias existe em todos e pode ser visto. Ele, que era inimigo, é mais do que amigo quando é libertado para assumir o papel sagrado que o Espírito Santo estabelece para ele. Deixa que ele seja o salvador para ti hoje. É este o papel dele no plano de Deus, teu Pai.

6. Nossos períodos de prática mais longos, hoje, o verão neste papel. Tentarás conservá-lo em tua mente, primeiro tal como o consideras agora. Vais rever seus defeitos, as dificuldades que tiveste com ele, a dor que ele te causou, sua negligência e todas as pequenas e as maiores feridas que ele provocou em ti. Considerarás o corpo dele com seus defeitos e qualidades também e pensarás em seus erros e até mesmo em seus "pecados".

7. Em seguida, vamos pedir Àquele Que conhece este Filho de Deus em sua realidade e verdade que possamos olhar para ele de modo diferente e ver nosso salvador resplandecendo à luz do perdão verdadeiro, dado a nós. Pedimos a Ele pelo Nome santo de Deus e de Seu Filho, tão santo quanto Ele Mesmo:

Permite que eu veja meu salvador neste que Tu designaste
como aquele a quem devo pedir que me conduza à luz santa
em que ele se encontra, para que eu possa me unir a ele.

Os olhos do corpo estão fechados e enquanto pensas naquele que te magoou, deixa que se revele a tua mente a luz nele, que está além de tuas mágoas.

8. Aquilo que pedes não pode ser negado. Teu salvador espera por isto há muito tempo. Ele quer ser livre e tornar tua a liberdade dele. O Espírito Santo se inclina dele para ti, não vendo nenhuma separação no Filho de Deus. E aquilo que vês por intermédio d'Ele libertará ambos. Fica muito calmo agora e olha para teu salvador resplandecente. Nenhuma mágoa sombria esconde a vista dele. Tu permitiste que o Espírito Santo revelasse por meio dele o papel que Deus Lhe deu, para que possas ser salvo.

9. Deus te agradece hoje por estes momentos de serenidade, nos quais abandonaste tuas imagens e olhaste para o milagre do amor que o Espírito Santo te mostrou nos lugar delas. O mundo e o Céu se unem em agradecimento a ti, pois nem sequer um Pensamento de Deus deixa de se regozijar quando tu és salvo e o mundo inteiro contigo.

10. Nós nos lembraremos disto ao longo do dia e assumiremos o papel que nos foi designado como parte do plano de Deus para a salvação, e não o nosso. A tentação desaparece quando permitimos que cada um que encontramos nos salve e nos recusamos a esconder sua luz atrás de nossas mágoas. Permite que o papel de salvador seja oferecido a cada um que encontrares, e àqueles do passado em quem pensares ou de quem lembrares, para que possas compartilhá-lo com eles. Para ambos, e também para todos os que não veem, pedimos:

Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 78

Caras, caros, 

Esta, abaixo, é a ideia para nossas práticas de hoje:

"Deixa os milagres substituírem todas as mágoas."

Eis aqui, mais uma vez, uma lição que nos dá a oportunidade de experimentarmos o direito que temos aos milagres. Ao mesmo tempo em que ela nos desafia a aceitarmos o milagre, o milagre que ela oferece é a substituição, pelos milagres, de todas as mágoas que nos impedem de ver a felicidade sem fim ao alcance de nossa decisão.

Esta lição ensina que sempre escolhemos entre uma mágoa e um milagre. De um podemos obter apenas a ilusão do mundo separado de Deus e mergulhado nas trevas. Do outro, abrem-se para nós as portas da alegria e da paz, que são a Vontade de Deus para seu filho.

A lição começa assim: 

Talvez ainda não esteja bem claro para ti que cada decisão que tomas é uma decisão entre uma mágoa e um milagre. Cada mágoa se ergue como um escudo sombrio de ódio diante do milagre que ela quer esconder. E, quando tu o ergues diante de teus olhos, não verás o milagre que está além. No entanto, ele espera por ti na luz o tempo todo, mas, em seu lugar, tu vês as tuas mágoas.

Hoje vamos além das mágoas, para ver de preferência o milagre em lugar delas. Vamos inverter o modo que vês não permitindo que a vista se detenha antes de ver. Não esperaremos diante do escudo de ódio, mas o deporemos e, em silêncio, ergueremos suavemente os olhos para ver o Filho de Deus.

Já aprendemos que as mágoas são ataques ao plano de Deus para a salvação. E já sabemos que a salvação é a alegria e a paz que os milagres nos oferecem. É preciso que pratiquemos para nos tornarmos capazes de abandonar as mágoas, que escondem o milagre e nos afastam do plano de Deus para a salvação.

Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.

Quem não trocaria uma mágoa por um milagre? É apenas o orgulho do ego que nos impede por vezes de reconhecer nosso direito aos milagres e que, por consequência, nos impede de vê-los e de recebê-los. Cada pessoa que se apresenta a nós a cada dia traz consigo a oportunidade de vermos o Filho de Deus, desde que estejamos abertos ao milagre que cada encontro reserva.

É isso que a lição nos quer ensinar, ela quer que saibamos ver o Filho de Deus, que se esconde por detrás de cada mágoa que guardamos.

Assim:

Ele espera por ti atrás de tuas mágoas e, quando tu as abandonares, ele aparecerá na luz resplandecente no lugar em que cada uma estava antes. Pois cada mágoa é um obstáculo à visão e, quando ela é suspensa, vês o Filho de Deus aonde ele está sempre. Ele se encontra na luz, mas tu estavas nas trevas. Cada mágoa tornou as trevas mais profundas e não podias ver.

Hoje tentaremos ver o Filho de Deus. Não nos permitiremos ficar cegos a ele; não olharemos para nossas mágoas. Assim se inverte o modo de ver do mundo, quando, longe do medo, ficamos alertas em favor da verdade. Selecionaremos uma pessoa que usas como alvo de tuas mágoas e abandonaremos as mágoas, e olharemos para ela. Alguém a quem, talvez, temas e até odeies; alguém que pensas amar e que te irritou; alguém a quem chamas de amigo, mas que às vezes percebes como complicado ou difícil de agradar, exigente, irritante ou infiel ao ideal que deveria aceitar com seu, de acordo com o papel que escolheste para ele.

Não são sempre as mesmas pessoas que escolhemos para nos queixarmos da vida? Não é sempre de Fulano, Fulana, ou de Sicrano, Sicrana, que guardamos mágoas? Não são ele ou ela que precisam mudar alguma coisa para atender a nosso padrão de qualidade de relacionamento? Será que ele não poderia deixar de ser tão babaca? Ou ela não poderia deixar de ser tão metida?

De quem falamos exatamente? Sabemos? Será que não estamos falando de um filho ou de uma filha de Deus, criados a Sua imagem e semelhança? Puros, inocentes e perfeitos. Ou será que Deus se enganou quando criou alguns de nós? Alguns vieram com defeito de criação?

Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.

É a lição de hoje que vai nos permitir abandonar as mágoas de uma vez por todas. Ela vai nos permitir libertar todos aqueles que mantemos sob o jugo de nosso julgamento.

Este precisa melhorar em tal setor. Esta precisa melhorar naquele. Este precisa falar menos. Esta precisa aprender a falar apenas quando lhe pedem. Este precisa aprender a escutar. Esta precisa aprender a se vangloriar menos. De quem estamos falando?

A lição diz:

Tu sabes a quem escolher; seu nome já passou por tua cabeça. Ele será aquele em quem pediremos que o Filho de Deus te seja mostrado. Por vê-lo além das mágoas que guardas contra ele, aprenderás que aquilo que estava escondido enquanto não o vias existe em todos e pode ser visto. Ele, que era inimigo, é mais do que amigo, quando é libertado para assumir o papel sagrado que o Espírito Santo estabelece para ele. Deixa que ele seja o salvador para ti hoje. É este o papel dele no plano de Deus, teu Pai.

Nossos períodos de prática mais longos, hoje, o verão neste papel. Tentarás conservá-lo em tua mente, primeiro tal como o consideras agora. Vais rever seus defeitos, as dificuldades que tiveste com ele, a dor que ele te causou, sua negligência e todas as pequenas e as maiores feridas que ele provocou em ti. Considerarás o corpo dele com seus defeitos e qualidades também e pensarás em seus erros e até mesmo em seus "pecados".

Que tal sermos honestos e libertar da prisão em que encarceramos todas as pessoas que passaram por nossa vida? Eis aí a oportunidade. A lição nos pede para escolhermos um, mas podemos estender o alvará de soltura a todos que mantemos prisioneiros de nossas mágoas.

Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.

Quando aceitamos os milagres para substituir as mágoas que guardamos deste ou daquele irmão, nós os libertamos para serem o que são na Verdade: filhos de Deus. E, ao libertá-los, nós também nos libertamos para reconhecer e aceitar que ainda somos como Deus nos criou.

Haverá alegria maior do que receber o milagre da liberdade e de estendê-lo a tudo e a todos no mundo?

É o que faremos a seguir, continuando a ouvir a orientação do exercício:

Em seguida, vamos pedir Àquele Que conhece este Filho de Deus em sua realidade e verdade que possamos olhar para ele de modo diferente e ver nosso salvador resplandecendo à luz do perdão verdadeiro, dado a nós. Pedimos a Ele pelo Nome santo de Deus e de Seu Filho, tão santo quanto Ele Mesmo:

Permite que eu veja meu salvador neste que Tu designaste
como aquele a quem devo pedir que me conduza à luz santa
em que ele se encontra, para que eu possa me unir a ele.

Os olhos do corpo estão fechados e enquanto pensas naquele que te magoou, deixa que se revele a tua mente a luz nele, que está além de tuas mágoas.

Aquilo que pedes não pode ser negado. Teu salvador espera por isto há muito tempo. Ele quer ser livre e tornar tua a liberdade dele. O Espírito Santo se inclina dele para ti, não vendo nenhuma separação no Filho de Deus. E aquilo que vês por intermédio d'Ele libertará ambos. Fica muito calmo agora e olha para teu salvador resplandecente. Nenhuma mágoa sombria esconde a vista dele. Tu permitiste que o Espírito Santo revelasse por meio dele o papel que Deus Lhe deu, para que possas ser salvo.

As práticas da lição de hoje vão nos ensinar a ver o Filho de Deus, em nós mesmos e em todos aqueles para quem olharmos ao longo do dia, porque vão nos permitir escolher o milagre em lugar de quaisquer mágoas que ainda alimentemos. Pois nosso pedido não pode ser negado. Quando escolhemos mudar, a mudança já foi realizada para nós. 

Elas vão permitir também que abandonemos as imagens falsas - frutos do julgamento - que fazemos de nossos irmãos e de todos aqueles com quem convivemos neste mundo, permitindo que cada um deles seja visto como nosso salvador, mostrando-nos a luz que se esconde - em nós mesmos e em cada um daqueles em quem pensarmos ou encontrarmos - por detrás de nossas mágoas. 

Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.

É isto e apenas isto que precisamos fazer hoje. Abrir-nos à Voz por Deus e deixar que Ele nos ensine a deixar de lado tudo o que pode causar mágoas, por ser apenas instrumento da ilusão. E Deus nos será grato, do mesmo modo que somos agradecidos a Ele, pela alegria de experimentar a liberdade que oferecemos a todos os nossos irmãos. 

Eis o que nos diz, por fim, a lição, para ajudar em nossas práticas:

Deus te agradece hoje por estes momentos de serenidade, nos quais abandonaste tuas imagens e olhaste para o milagre do amor que o Espírito Santo te mostrou nos lugar delas. O mundo e o Céu se unem em agradecimento a ti, pois nem sequer um Pensamento de Deus deixa de se regozijar quando tu és salvo e o mundo inteiro contigo.

Nós nos lembraremos disto ao longo do dia e assumiremos o papel que nos foi designado como parte do plano de Deus para a salvação, e não o nosso. A tentação desaparece quando permitimos que cada um que encontramos nos salve e nos recusamos a esconder sua luz atrás de nossas mágoas. Permite que o papel de salvador seja oferecido a cada um que encontrares, e àqueles do passado em quem pensares ou de quem lembrares, para que possas compartilhá-lo com eles. Para ambos, e também para todos os que não veem, pedimos:

Deixa os milagres substituírem todas as mágoas. 

Às práticas?


ADENDO (Vejam, por favor, observação ao fim do adendo):

Caras, caros, 
Cida, querida, (você ainda está conosco?)

Li seu comentário postado após o texto que explora a lição de 14 de março [Não há nenhuma vontade a não ser a de Deus.] e republicado no dia 15 de março, como comentário à lição: "A luz veio". Desculpe-me não ter dito nada a respeito antes, já que isso me parece ser uma questão crucial para você. Não foi possível fazê-lo antes de agora [na verdade o que você vai ler juntamente com as/os colegas que acompanham o blogue foi pensado e escrito ontem].

Pensei em lhe pedir seu endereço eletrônico - e-mail pessoal - para lhe responder, ou para tecer um comentário, ou compartilhar uma reflexão a respeito do que você diz de forma privada. Mas, como o Curso ensina que não existem pensamentos privados, resolvi comentar aqui mesmo. Até porque - quem sabe? - o que tenho para dizer pode ser útil a mais do que apenas a uma pessoa.

"Não há nenhuma vontade a não ser a de Deus." e "A luz veio.". São as lições de que falamos. 

Concordo com o que você diz, seu posicionamento, acerca da palavra "Deus". Acho que está correto. À maneira do catolicismo, mormente o "apostólico romano", Deus é algo inatingível, algo exterior a nós. Um rei, um imperador, um césar, alguém, um ser que, criado/inventado à semelhança do homem, como o foram os deuses da mitologia greco-romana e de outras mitologias de que temos conhecimento, governa o Universo com mãos férreas, punindo-nos e nos castigando, e nos condenando ao fogo do inferno - ao mármore do inferno, se preferirem - ao menor deslize.

Assim como a palavra "Deus", o Curso emprega outras palavras retiradas do léxico cristão, da terminologia católica. Por isso há lá no final do livro aquele capítulo intitulado "Esclarecimento de Termos", para que não nos deixemos enganar pelas palavras, para que arejemos todos os conceitos que trazemos arraigados em nós, por conta da educação judaico-cristã, quando é o caso. E, claro, para facilitar que nos livremos de quaisquer pré-conceitos/preconceitos em relação à linguagem de que se vale o Curso. 

Portanto, quando tivermos qualquer dúvida ou qualquer dificuldade em relação a algo que o Curso diz, é importante buscarmos lá, nos esclarecimentos de termos, o sentido em que a palavra é utilizada pelo Curso, para que ela não entre em choque com o que aprendemos, ou para que não seja contaminada pelo aprendizado anterior que tivemos dela.

É claro já, acredito, para todos quantos passeiam por aqui que o Deus do catolicismo, exterior a nós, não existe. É uma ideia enganadora que as igrejas-instituições constituídas por homens e mulheres sedentos de poder e de riquezas materiais, dinheiro, quiseram - e ainda querem - nos vender.

Como eu disse também, no comentário a uma lição recente, se não me engano, não existe um deus, nenhum, separado de nós. Assim, não há como dizer, deus e eu, deus e tu, ou deus e nós. Só existe Deus. E o que Ele/Ela é, Ele/Ela é em nós, conosco. Fora de nós não há nada. Assim como também não há nada, nem eu, nem tu, nem nós, fora de Deus.

Na verdade, como o taoísmo ensina, tudo o que se disser a respeito do Tao não é o Tao. Isso também se aplica ao Deus do Curso, demos a ele o nome que dermos.

Talvez seja mais fácil pensar num deus, numa energia criadora e regeneradora, num ser todo-poderoso, onipresente e onisciente, e sem forma, pensando, por exemplo - mas não só -, no vento, algo que não se pode ver, mas cuja presença se faz sentir. Às vezes, calma e tranquilamente, como num sopro, uma brisa leve, outras, como uma rajada de força avassaladora que varre céus e terra e mares.

Podemos pensar em deus ainda como a luz que nos permite ver, e que está presente em nós, e em tudo e em todos, mesmo naqueles ou naquelas de nós que não têm consciência disso.

Óbvio é que, com um deus internalizado, fica mais fácil [ou não] para cada um, e cada uma, de nós assumir a total e completa responsabilidade por sua vida. E pela vida de todos, todas e os que povoam este mundo, inclusive o que pensamos ser inanimado. E por tudo o que acontece a cada um, e a cada uma, de nós em sua vida individual e também por tudo o que acontece neste mundo que inventamos de modo coletivo e compartilhado para viver a experiência da forma e as percepções dos sentidos.

Perfeito, não?

Agora tratemos daquilo em que você diz querer/precisar se aprofundar. Todos nós também.

O Curso trata em algumas lições da questão da mágoa, que podemos considerar sinônimo de ressentimento, raiva, ódio ou qualquer outra emoção que nos leve a nos afastarmos uns dos outros, ou umas das outras. Isto é, qualquer emoção que venha a reforçar a crença na separação, que não tem nada a ver com o EU SOU O QUE SOU, que somos em Deus, com Ele/Ela.

O tema das mágoas aparece nas lições 68 (O amor não guarda mágoas.), 69 (Minhas mágoas escondem a luz do mundo em mim.), 72 (Guardar mágoas é um ataque ao plano de Deus para a salvação.) e nesta, 78 (Deixa que os milagres substituam todas as mágoas). Entre elas, há as lições 70 (Minha salvação vem de mim.), que traz consigo a forma de resolver as questões todas; as lições 71 (Só o plano de Deus para a salvação funcionará.), a 73 (Eu quero que haja luz.), a 74 (Não há nenhuma vontade a não ser a de Deus.), a 75 (A luz veio.) e as que seguem até esta e as seguintes, que tratam do reconhecimento do problema para ele poder resolvido e do reconhecimento de que, na verdade, todos os problemas já estão resolvidos. Todas elas nos oferecem instrumentos valiosos e poderosos para a cura de todas as mágoas. Para que nos libertemos da crença na separação, abandonando-a de uma vez por todas.

Bem, há uma frase atribuída a Shakespeare que penso já ter citado por aqui nalgum momento, que, de certa forma, resume a questão da mágoa, seja na forma de ressentimento, raiva, ódio ou de qualquer outra emoção que nos separe uns dos outros e do divino em nós mesmos.

Diz ele o seguinte, parafraseando, porque não tenho comigo a expressão original:

Ressentir-se de alguém é como tomar veneno e esperar que esse alguém morra.

Guimarães Rosa, em seu "Grande Sertão: Veredas", também fala de algo que aprendeu com Zé Bebelo a respeito de se ter raiva. O que ele diz é:

"... raiva mesmo nunca se deve tolerar de ter. Porque quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa [aquela de quem se sente raiva] passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente, e que isso era falta de soberania, e farta bobice e fato é."

O ponto crítico da mágoa, de qualquer forma que ela se apresente, seu ponto central está, como não poderia deixar de ser, no equívoco de pensarmos que alguma coisa, ou alguém, fora de nós pode nos magoar e ferir.

Mais, inadvertidamente, por equivocados, equivocadas, ou inconscientes momentaneamente de nossa absoluta e total responsabilidade por tudo o que vivemos, não fica claro muitas vezes que as mágoas ou o ressentimento que temos em relação a alguém, ou a alguma coisa, está de fato em acreditarmos que esse alguém, ou essa coisa, fez algo a nós com a intenção de nos prejudicar.

Escapa-nos à consciência, por uma das estratégias de defesa do ego, que o que estamos fazendo ao acusar alguém, ao culpar alguém, ao julgar alguém por alguma coisa que aconteceu a nós, estamos apenas acusando, culpando ou julgando a nós mesmos, a nós mesmas.

O primeiro tema da segunda parte do livro de exercícios do Curso trata do perdão. É: O que é o perdão?

Ele começa por dizer que:

"O perdão reconhece que o que pensaste que teu irmão fez a ti não ocorreu."

E basta!

Sei que o tema do abuso sexual é penoso para todas as pessoas que passaram por ele, mas se trouxermos à consciência a neutralidade do mundo e, por extensão, a do corpo, talvez fique mais fácil, mais leve, quem sabe?, entender que aquilo que o irmão fez a alguém, de fato, não aconteceu na realidade, apenas na ilusão, por um acordo que levou a "vítima" e o "carrasco" a partilharem a experiência que escolheram viver juntamente.

Dizer a uma pessoa que passou pela experiência de abuso sexual que ela "escolheu" passar por tal experiência sempre pode soar como acusação, o que em absoluto não é o que estou fazendo. Mas, quando realmente assumimos de forma consciente a responsabilidade por tudo o que acontece em nossas vidas, podemos voltar a episódios passados de nossa vida e perceber que, em função de crenças e medos que mantínhamos à época em que se desenrolou algum acontecimento traumático em nossa experiência, "aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido", como ensina a segunda das quatro leis espirituais que se aprende na Índia, tanto a respeito da experiência individual de cada um e de cada uma seu próprio mundo, qualquer que seja ele, quanto acerca da experiência coletiva que compartilhamos.

A mágoa - assim como a dor, o ressentimento, a raiva, a culpa, o ódio e o medo - só pode durar enquanto, de modo equivocado, julgamos as escolhas que fazemos ou fizemos, ou enquanto nos negarmos a aceitar a parte da responsabilidade que temos naquilo que se apresentou, ou se apresenta, a nossa vida.

Em função de tudo o que o ensinamento do Curso nos oferece, trazendo dia a dia uma lição a nossas práticas, se seguirmos ao pé da letra as orientações que ele dá, vamos ver o mundo cada dia mais se transformar em Céu.

É extremamente importante "não guardar mágoas", de acordo com as lições do Curso, porque são elas que nos tornam prisioneiros do passado, do mundo, do sistema de pensamento do ego.

Aquilo tudo que acontece em nossa vida, queiramos ou não, tenhamos consciência disso ou não, é sempre fruto de uma escolha que fizemos [por medo, por crenças equivocadas ou por quaisquer outros motivos] nalgum momento. Por isso quase nunca importa tanto o que aparentemente acontece, ou aconteceu, mas quase sempre importa mais o que o acontecido tem a nos revelar a respeito de nossas escolhas, de nosso sistema de crenças. O que o acontecido revela ser preciso mudar em nossa forma de pensar e de ver o mundo.

Um último ponto para finalizar este adendo extensíssimo - desculpem-me. A certa altura do texto, o Curso nos pede para respondermos à pergunta: quem é mais prisioneiro, aquele que está atrás das grades, ou seu carcereiro, que tem a missão de vigiar o prisioneiro pelo tempo que durar sua prisão?

Guardar mágoas, parece-me, nos torna carcereiros de nós mesmos, ou carcereiras de nós mesmas, aprisiona-nos à culpa que dá existência ao ego, ao julgamento que fazemos, via ego, de nossas escolhas, que resultam em experiências que, conscientemente, pensamos que não escolheríamos.

Mas, se elas se apresentam, o que fazer?

Até quando vamos manter o Ser em nós aprisionado por uma experiência ilusória vivida pelo corpo, que só tem valor para o ego?

Espero que esta longa reflexão possa ser útil para esclarecer alguma coisa com respeito ao que o Curso ensina sob as ideias que nos trazem as lições que tratam da questão das mágoas.

Abraço-as/os a todas/os amorosamente.

Paz e bem!

OBSERVAÇÃO:

Para os comentários das lições deste ano bissexto, estou me valendo, desde o dia 29 de fevereiro, de alguns dos comentários feitos em 2020, também bissexto. Assim, este adendo foi motivado pelo comentário feito pela nossa colega Cida, provavelmente em 2020. Reproduzo-o aqui por acreditar que ele ainda tem algo de novo a dizer, tanto para a Cida quanto para cada um e cada uma de nós. Obviamente vocês podem pular sua leitura se acharem que ele não é pertinente, ou não lhes diz nada a respeito de como praticar as lições do Curso. 

domingo, 17 de março de 2024

Nada há a pedir, se conscientes de nossa identidade

 

LIÇÃO 77

Eu tenho direito a milagres.

1. Tu tens direito a milagres em razão do que és. Receberás milagres em razão do que Deus é. E oferecerás milagres porque és um com Deus. Mais uma vez, quão simples é a salvação! Ela é simplesmente uma afirmação de tua Identidade verdadeira. É isto que celebraremos hoje.

2. Teu direito a milagres não está em tuas ilusões acerca de ti mesmo. Ele não depende de quaisquer poderes mágicos que atribuis a ti mesmo, nem de quaisquer rituais que inventas. Ele é inseparável da verdade daquilo que tu és. E inabalável naquilo que Deus, teu Pai, é. Ele foi assegurado em tua criação e garantido pelas leis de Deus.

3. Hoje, reivindicaremos os milagres que são teu direito, uma vez que te pertencem. Recebeste a promessa de plena liberação do mundo que fizeste. Recebeste a garantia de que o Reino de Deus está em ti e não pode ser perdido jamais. Não pedimos nada além daquilo que, na verdade, nos pertence. Hoje, porém, nós também nos certificaremos de que não vamos nos satisfazer com menos.

4. Começa os períodos de prática mais longos dizendo a ti mesmo de modo bem confiante que tens direito a milagres. Fechando os olhos, lembra-te de que pedes apenas aquilo que é legitimamente teu. Recorda-te também de que os milagres nunca são tirados de um e dados a outro e de que, ao reclamares teus direitos, estás defendendo os direitos de todos. Os milagres não obedecem às leis deste mundo. Eles decorrem simplesmente das leis de Deus.

5. Depois desta breve fase introdutória, espera tranquilamente pela certeza de que teu pedido é aceito como verdadeiro. Pedes a salvação do mundo e a tua própria. Pedes que te seja dado o meio pelo qual isto se realiza. Não podes deixar de ficar seguro disto. Pedes apenas que a Vontade de Deus seja feita.

6. Ao fazeres isto, de fato, não pedes nada. Declaras uma verdade que não pode ser negada. O Espírito Santo só pode garantir que teu pedido seja concedido. O fato de teres aceitado tem de ser verdade. Não há espaço para a dúvida e para a incerteza hoje. Estamos finalmente fazendo a pergunta verdadeira. A resposta é uma afirmação de uma verdade simples. Receberás a garantia que buscas.

7. Nossos períodos de prática mais breves serão frequentes e também serão dedicados a um lembrete de uma verdade simples. Dize a ti mesmo com frequência hoje: 

Eu tenho direito a milagres.

Pede-os sempre que surgir uma situação em que eles forem necessários. Vais reconhecer estas situações. E, uma vez que não estás contando contigo mesmo para achar o milagre, tens pleno direito de recebê-lo sempre que pedires.


8. Lembra-te, também, de não te satisfazeres com menos do que a resposta perfeita. Sê rápido para dizer a ti mesmo, caso sejas tentado:

Não trocarei milagres por mágoas. Quero só o que me pertence.
Deus estabelece os milagres como meu direito.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 77

Caras, caros,

A ideia que vamos praticar hoje trata de nos fazer lembrar da verdade do que somos, além das ilusões todas que o ego e seu sistema de pensamento buscam nos vender neste mundo. É ela:

"Eu tenho direito a milagres."

A lição deste dia nos convida mais uma vez à celebração do reconhecimento de nossa identidade verdadeira. É ela, nossa identidade verdadeira, que nos dá direito a milagres. E é dela que os milagres vêm.

Como diz Joel Goldsmith, "conhecer nossa verdadeira identidade é resolver todo o problema da, assim chamada, existência humana. Na verdade, não vivemos uma existência humana. Nossa existência é espiritual e divina, mas, por não conhecermos nossa verdadeira identidade, ela é preenchida com conflito e desarmonia", as características mais evidentes do humano.

É para voltarmos à harmonia e termos um vislumbre de uma vida sem conflitos que praticamos o que a lição nos pede para reconhecermos hoje:

Tu tens direito a milagres em razão do que és. Receberás milagres em razão do que Deus é. E oferecerás milagres porque és um com Deus. Mais uma vez, quão simples é a salvação! Ela é simplesmente uma afirmação de tua Identidade verdadeira. É isto que celebraremos hoje.

É o que somos verdadeiramente que nos dá direito a milagres. É do que Deus é, que é também o que somos, que os receberemos. E, assim como os recebemos, vamos poder oferecê-los. A partir de nossa unidade com Deus. A salvação é, portanto, apenas isto: o reconhecimento de nossa verdadeira identidade. 

Simples, não? 

Eu tenho direito a milagres.

Apesar de ser simples, parece não ser fácil. Pois, ao pensarmos viver uma existência humana, uma ilusão, criamos uma dualidade. Um modo de ver que nos separa daquilo que somos na verdade e que, aparentemente, nos separa de Deus e da unidade.

É disso que a lição trata ao dizer:

Teu direito a milagres não está em tuas ilusões acerca de ti mesmo. Ele não depende de quaisquer poderes mágicos que atribuis a ti mesmo, nem de quaisquer rituais que inventas. Ele é inseparável da verdade daquilo que tu és. E inabalável naquilo que Deus, teu Pai, é. Ele foi assegurado em tua criação e garantido pelas leis de Deus.

Nosso direito a milagres não tem nada a ver com a imagem que fazemos de nós mesmos e de nós mesmas. Não tem nada a ver também com magia, com bruxaria, com feitiçaria e tudo mais que lide com o que se costuma chamar de "o oculto". Deus não tem segredos. Tudo o que Ele tem nos pertence. Por isso também não há nada que tenhamos de esconder d'Ele. 

Eu tenho direito a milagres.

O desafio desta vez está em buscarmos reconhecer e reivindicar aquilo que é nosso direito em razão de nossa identidade verdadeira. A lição ensina como fazê-lo:

Hoje, reivindicaremos os milagres que são teu direito, uma vez que te pertencem. Recebeste a promessa de plena liberação do mundo que fizeste. Recebeste a garantia de que o Reino de Deus está em ti e não pode ser perdido jamais. Não pedimos nada além daquilo que, na verdade, nos pertence. Hoje, porém, nós também nos certificaremos de que não vamos nos satisfazer com menos.

O Curso, em seu texto, diz a certa altura que a questão não é a de que pedimos demais, ou que queiramos demais. Ao contrário, por não conhecermos nossa verdadeira identidade, pedimos muito pouco. Ou há alguém entre nós que acha que menos do que tudo não está bom? Este alguém está certo. Podemos querer tudo, e nada menos do que isso. Por ser nosso direito como extensões, pensamentos, de Deus.

Pois Deus é o tudo de tudo. E tudo pertence a Ele. E tudo o que pertence a Ele também nos pertence. É nosso direito de filhos. Por que nos satisfazermos com menos do que tudo? Aprendamos, com a lição, de que forma chegar àquilo que é nosso por direito:

Começa os períodos de prática mais longos dizendo a ti mesmo de modo bem confiante que tens direito a milagres. Fechando os olhos, lembra-te de que pedes apenas aquilo que é legitimamente teu. Recorda-te também de que os milagres nunca são tirados de um e dados a outro e de que, ao reclamares teus direitos, estás defendendo os direitos de todos. Os milagres não obedecem às leis deste mundo. Eles decorrem simplesmente das leis de Deus.

É isto! É esta ideia que pode nos devolver a alegria, a paz e a felicidade. É nela que podemos encontrar e realizar o plano de Deus para a salvação. É no reconhecimento de que temos direito a milagres, que reconhecemos e aceitamos nossa condição de filhos de Deus. É este reconhecimento que nos devolve à unidade com Deus e com tudo o que existe. 


Eu tenho direito a milagres. 

Voltando a Joel Goldsmith:

"Se eu sei que eu sou Eu e que esse Eu é um Ser infinito, nunca pode existir um pensamento de falta, de limitação, de conflito, de desarmonia, de ciúmes, de despeito ou de ânsia. Quando eu sei que eu sou Eu e que este Eu é a infinitude, a totalidade do ser de Deus manifestado, a Palavra transformada em carne [pelo menos enquanto vivo a ilusão da forma e dos sentidos], só então posso perceber que o que mantém e anima o Eu que sou é o mesmo Eu que é Deus." 

Continuemos a ouvir o que a lição diz:

Depois desta breve fase introdutória, espera tranquilamente pela certeza de que teu pedido é aceito como verdadeiro. Pedes a salvação do mundo e a tua própria. Pedes que te seja dado o meio pelo qual isto se realiza. Não podes deixar de ficar seguro disto. Pedes apenas que a Vontade de Deus seja feita.

Ao fazeres isto, de fato, não pedes nada. Declaras uma verdade que não pode ser negada. O Espírito Santo só pode garantir que teu pedido seja concedido. O fato de teres aceitado tem de ser verdade. Não há espaço para a dúvida e para a incerteza hoje. Estamos finalmente fazendo a pergunta verdadeira. A resposta é uma afirmação de uma verdade simples. Receberás a garantia que buscas.

Na verdade, com a consciência de nossa verdadeira identidade, não há nada a pedir. Até porque Deus realiza desde sempre todos os nossos desejos antes mesmos de os manifestarmos, quando temos consciência de Sua Presença e quando ansiamos pela unidade com Ele.

Nossa consciência da unidade com Deus e de Sua Presença é a garantia dos milagres. É a garantia de nosso direito a eles. 

Assim, a lição orienta para as práticas:

Nossos períodos de prática mais breves serão frequentes e também serão dedicados a um lembrete de uma verdade simples. Dize a ti mesmo com frequência hoje: 

Eu tenho direito a milagres.

Pede-os sempre que surgir uma situação em que eles forem necessários. Vais reconhecer estas situações. E, uma vez que não estás contando contigo mesmo para achar o milagre, tens pleno direito de recebê-lo sempre que pedires.

Lembra-te, também, de não te satisfazeres com menos do que a resposta perfeita. Sê rápido para dizer a ti mesmo, caso sejas tentado:

Não trocarei milagres por mágoas. Quero só o que me pertence.
Deus estabelece os milagres como meu direito.

A lição de hoje, praticada com atenção e honestidade mais uma vez, pode nos dar certeza suficiente para dizer, como Goldsmith:

A consciência [da Presença de Deus em mim] é minha provisão. Minha verdadeira vida, meu verdadeiro ser, [Deus] é minha provisão. Onde quer que eu esteja, é este Princípio que mantém o Eu, que sustenta o Eu [que sou e que é um com Deus]; e onde quer que eu esteja, tudo o que Deus é deve ser. Esta consciência de que Eu sou, esta Consciência do meu ser é a minha provisão, e Ela aparece exteriormente" sob a forma que for necessária à realização de minha experiência de vida.

Às práticas?