segunda-feira, 18 de maio de 2009

O que fazer diante da "morte"?

Oba! Vamos dar vivas à adesão do Cassio, oferecendo a ele nossas boas vindas e esperando que ele se sinta à vontade aqui, para compartilhar seus pensamentos, suas reflexões e experiências. Da mesma forma que o faz em seu comentário à lição de ontem, uma reflexão a respeito da "morte" de um cachorro, um ente querido, que esteve com eles [o casal e a família] na forma por 14 anos. O que se pode dizer a alguém que "perde" um ente querido?

Lembro-me com certa frequência de uma história que Anna Sharp nos contou várias vezes, sempre que surgia a necessidade de se falar a respeito da morte de alguém próximo de nós. Dizia Anna que um de seus maiores medos era o de que um de seus filhos morresse, até que, certa ocasião, atendeu a uma paciente, uma amiga, cujo filho tinha sido vítima fatal de um acidente de trânsito. Fora atropelado e morrera, aos 22 anos, na frente dela, da mãe. E o que esta mãe fez? Sentiu, chorou, sofreu, certamente, mas apenas em função do choque, porque, em seguida, passou a agradecer pelos 22 anos de felicidade e de alegria que a presença e o convívio com o filho lhe deram, certa de que a maior tristeza que fosse capaz de sentir não lhe traria o filho de volta nem lhe permitiria continuar vivendo como a vida merece ser vivida, com alegria, com prazer e, principalmente, com gratidão por tudo o que se nos apresenta à experiência.

Acho que o que precisamos aprender a respeito da morte é algo a que Guimarães Rosa se refere da seguinte forma: "Deus nos dá pessoas e coisas, para aprendermos a alegria... Depois, retoma coisas e pessoas para ver se já somos capazes da alegria sozinha... Essa - a alegria que Ele quer..." A "alegria sozinha" eu ousaria dizer é a alegria natural em nós, aquela que não depende de coisas, nem de pessoas. A "alegria sozinha" é aquela que não nos aprisiona e nem aprisiona as pessoas e as coisas. A alegria a que comumente estamos acostumados é uma alegria advinda como que de um vício, isto é, de um apego que, às vezes, chega às raias do irracional, quando achamos que já não somos capazes de viver sem aquela pessoa, sem aquela coisa, sem aquilo que é objeto de nosso apego.

É claro que aprendemos isso no mundo, do mundo e com o mundo, uma vez que é isso também que ensinamos a ele e a todos que andam por ele conosco, a partir de nossa experiência e das crenças que acumulamos ao longo do tempo. E é claro que apenas nalguns poucos momentos podemos perceber o erro a que nos induz o ensinamento do mundo. Um erro que, grande número de vezes, nos impede de aproveitar o que está conosco agora, no presente, por medo de que venha a faltar no futuro. Ou lastimando por não o ter encontrado há mais tempo. Como a lição de hoje sugere, a decisão pelo Céu é uma escolha individual, pessoal e intransferível, mas ela é fundamental para todos aqueles de nós que desejam viver a verdade que são. A verdade subjacente ao corpo, e que o transcende.

Irvin D. Yalon, autor do livro Quando Nietzsche chorou, diz em um de seus livros que "um de nossos principais modos de negação da morte é uma crença no especialismo pessoal, uma convicção de que somos livres da necessidade biológica e de que a vida não lida conosco da mesma maneira severa com que lida com todas as outras pessoas". Isso torna também bastante evidente o quanto gostaríamos, e gostamos, de negar a morte do corpo. Não fazemos nem de longe a menor ideia de quão fortemente gostaríamos de acreditar, de fato, que a morte não existe, mas, quase todos nós sabemos, ou intuimos, lá bem, bem, no fundo, que nenhum de nós acredita nisso de verdade. A não ser alguns iluminados, que, embora ainda vivam num corpo e ainda tenham um ego, já lograram alcançar um contato com a verdade que o conhecimento traz.

Creio que é este o maior poder que as ilusões exercem sobre nós, "o fato que, de tão real, parece verdadeiro". Entretanto, posso afiançar com toda certeza que Eros [o cachorrinho] não morreu. Que nenhum de nós morre. A transformação pela qual passam os corpos são as mesmas que determinam a queda das folhas das plantas no outono, o desabrochar das flores na primavera, a colheita dos frutos no inverno e no verão. Tudo o que os corpos podem nos oferecer é um instrumento para a comunicação da alegria. Assim, como alguns corpos desaparecem de nossas vistas porque viajaram para lugares distantes e deixaram de falar conosco, outros viajam para se tornar luz, para voltar à luz de onde todos nós viemos. Para voltar a ser a luz que todos nós somos. Assim, é claro que a dor que sentimos é "apenas" - o que não significa minimizá-la, ou dizer que ela não é devida e legítima - o apego a uma ideia nossa, da qual o corpo era a expressão concreta em contato conosco no dia a dia. Todavia, a ausência do corpo não impede que a ideia continue conosco e muito menos ainda impede que sejamos agradecidos pela luz, pela alegria que esteve presente com o corpo e que certamente continua presente, quem sabe até com maior resplendor, apesar da ausência aparente do corpo.

Obrigado por suas palavras de incentivo, Cassio. Um beijo na Vanice. Lembremo-nos sempre que Deus nos abençoa a todos o tempo inteiro e nos ilumina e nos guarda, sob a proteção de Seu Amor infinito. Bem-vindo ao mundo dos blogueiros. Aproveite. Fique à vontade.

Um comentário:

  1. Nossa, Mouss...
    Entendi tudo o que você falou, graças a Deus!
    Mas estou quase querendo mandar fazer umas camisetas como aquelas que lá no início do Casseta e Planeta eles fizeram sobre o Gerald Thomas, que dizia assim:
    " EU ENTENDI UMA PEÇA DO GERALD THOMAS!!!!!!!!!"
    Vou passar um e-mail para a Vanice (queridíssima) e Cássio querido, que bom ler seu comentário no blog. Bjs a todos

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