sexta-feira, 15 de maio de 2009

Aprendendo a baixar as defesas

A lição 135, para este dia 15 de maio, é a mais longa de todo o Livro de Exercícios. E não há como tratar dela, acredito, a não ser trabalhando com a ideia da forma que o livro propõe. Isto é, é necessário que entremos em contato com todas as palavras utilizadas no texto para perceber a inutilidade da defesa. Para perceber que não há necessidade alguma de nos defendermos de nada. Nunca. Ao contrário do que normalmente pensamos, quando nos colocamos na defensiva, preparando-nos para qualquer coisa que imaginemos esteja por acontecer, tudo o que fazemos é exatamente nos adiantar ao "pior", aumentando as probabilidades de que o que esperávamos de "ruim" aconteça, ou - o que podemos considerar "menos desejável" - contribuindo para diminuir as probabilidades de que tudo corra muito bem.

Ao escrever isto vem-me à lembrança uma passagem da novela Campo Geral, de Guimarães Rosa, que, de certa forma, trata também da necessidade da atenção constante a tudo o que se passa à volta de nós. O trecho narra, a partir da memória de Miguilim, personagem principal da 'estória', a sabedoria de Dito, seu irmão, "a respeito de se fazer promessa. O Dito tinha falado que em vez d'a gente só fazer promessa aos santos quando se estava em algum aperto, para cumprir o pagamento dela depois que tivesse sido atendido, ele achava que a gente podia fazer promessa e cumprir antes, e mesmo nem não precisava d'a gente saber para que ia servir o pagamento dessa promessa, que assim se estava fazendo... Mas a gente marcava e cumpria, e alguma coisa boa acontecia, ou alguma coisa ruim que estava por vir não vinha!"

Isso me parece ter muito a ver com a ideia da lição de hoje que é: Se me defendo, sou atacado. Acredito que a falta de atenção a nós mesmos, aos nossos pensamentos, às crenças que vamos interiorizando, às vezes, sem perceber, às informações que buscamos e permitimos que passem a fazer parte de nosso repertório do dia a dia, às palavras de pessoas que vivem conosco e das que conhecemos a quem damos ouvidos, tudo isso se soma ao que pensamos saber do mundo e determina a maneira pela qual decidimos fazer nossas escolhas. Tudo isso tem de ser pesado e medido por nossa consciência constantemente, sob pena de nos rendermos à ilusão.

Penso que, de acordo com o que revela o modo de pensar do Dito na historinha que transcrevi acima, pode-se dizer que viver no presente é viver uma promessa dia a dia, é cumpri-la sem a preocupação de limpar uma coisa passada, e apenas depois de se ter livrado do aperto, ou de evitar alguma coisa no futuro. É viver despreocupado de qualquer necessidade de se defender, porque esquecidos da possibilidade de atacar. Quando presto atenção ao Ser, a mim mesmo, ao que sou, na verdade, posso, parafraseando Clarice Lispector em uma crônica intitulada Se Eu Fosse Eu, dar tudo o que tenho ao mundo e entregar o futuro ao futuro. Pois, desta forma, e só desta forma, posso dizer como diz a lápide de Nikos Kazantzakis, o autor de Zorba, o Grego: "Não temo nada. Não espero nada. Sou livre".

2 comentários:

  1. Oi Moisa,
    sabe que essa licao de hj mexeu comigo, engracado q as vezes algumas licoes vem como uma resposta para umas perguntas q me faco.
    E tem uma frase na licao 135 q gostei muito, alem dessas q vc mencionou acima. "A mente que planeja esta, recusando-se a permitir a mudanca."
    Otimo dividir essa alegria em se sentir livre.
    beijo amigo

    ResponderExcluir
  2. É isso aí... umas mais do que outras nos "pegam", por assim dizer. Acho que isso é apenas um sinal de que há algo ali que precisa ser pensado, refletido, ponderado. Quem sabe uma crença que precisamos mudar?
    Mas a lição de hoje não é menos interessante que a de ontem. Uma ideia que o ego pode considerar absolutamente maluca.
    Veja aí.
    Obrigado por dividir conosco esta alegria.

    ResponderExcluir