terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Até quando nos deixaremos enganar pelo falso eu?


LIÇÃO 31

Eu não sou vítima* do mundo que vejo.

1. A ideia de hoje é a introdução de tua declaração de liberdade. Mais uma vez, a ideia deve ser aplicada tanto ao mundo que vês fora quanto ao mundo que vês dentro. Na aplicação da ideia, usaremos uma forma de prática que será utilizada cada vez mais, com modificações conforme indicado. Em geral, a forma inclui dois aspectos, um no qual aplicas a ideia de modo mais contínuo e o outro que consiste em aplicações frequentes da ideia ao longo do dia.

2. São necessários dois períodos de prática mais longos com a ideia para hoje, um pela manhã e um à noite. Recomenda-se de três a cinco minutos para cada um destes períodos. Durante este tempo, olha a tua volta lentamente enquanto repetes a ideia duas ou três vezes. Em seguida, fecha os olhos e aplica a mesma ideia a teu mundo interior. Escaparás de ambos ao mesmo tempo, pois o interior é a causa do exterior.

3. Enquanto examinas teu mundo exterior deixa simplesmente que quaisquer pensamentos que passem por tua mente cheguem a tua consciência, para considerar cada um por um momento e, então, ser substituído pelo seguinte. Tenta não estabelecer qualquer tipo de hierarquia entre eles. Observa-os virem e irem com a maior imparcialidade possível. Não te demores em nenhum em particular, mas tenta deixar a corrente seguir adiante regular e tranquilamente, sem qualquer envolvimento especial de tua parte. Ao sentares calmamente para observar teus pensamentos, repete a ideia de hoje para ti mesmo quantas vezes quiseres, mas sem nenhuma sensação de pressa.

4. Além disso, repete, para ti mesmo, a ideia para hoje com a maior frequência possível durante o dia. Lembra-te de que estás fazendo uma declaração de independência em nome de tua própria liberdade. E em tua liberdade está a liberdade do mundo.

5. A ideia para hoje também é particularmente útil para ser usada como uma resposta a qualquer forma de tentação que possa surgir. Ela é uma declaração de que não cederás à tentação para te colocares em cativeiro.


*

*NOTA DE TRADUÇÃO: A palavra victim, do original, também tem a acepção que permitiria traduzí-la por escravo. A frase ficaria, então, "Eu não sou escravo do mundo que vejo". Em minha opinião, este significado talvez seja até mais adequado para traduzir a ideia da lição de hoje, a se considerar o que dizem as instruções para as práticas quanto à declaração de independência que fazemos ao usar a ideia. Optei por manter a versão dada por Lillian em função do fato de ser comum em nossa experiência neste mundo o contato com pessoas que se julgam vítimas das circunstâncias que as cercam, por não terem aprendido ainda a assumir a responsabilidade pelas situações que seus pensamentos criam para suas vidas.

*

COMENTÁRIO:

Em geral, como eu disse no ano passado, quase todos nós gostamos de pensar que somos livres para escolher o destino que queremos para nossas vidas. Costumamos pensar que temos toda a liberdade para decidir que rumo seguir. E mesmo aqueles que dizem acreditar em um destino imutável ou na existência de um destino que é pré-traçado para a vida de todos e de cada um, no fundo, no fundo, gostariam de acreditar que são senhores de seu próprio destino.

A ideia que vamos praticar nesta segunda-feira, dia 31 de janeiro, trata exatamente de reforçar em nós a ideia da liberdade, a ideia do livre arbítrio que herdamos desde sempre por nossa condição de filhos de Deus. Trata de nos fazer perceber que só nós podemos decidir o tamanho da liberdade que queremos, da mesma forma que só nós mesmos podemos limitar essa liberdade, que, a partir da Vontade de Deus para nós, é ilimitada. 

Porém, como eu já disse antes, é interessante notar que, apesar de gostarmos da ideia que diz que somos livres, em geral,  temos muito medo de exercer esta liberdade. Ou será que algum de nós está em condições de dizer que sua vida segue na direção que sempre quis, sentindo-se inteiramente responsável por todas as escolhas e experiências que resultaram delas?

Quantos dentre nós ainda se sentem vítimas do mundo? Vítimas das circunstâncias de suas vidas? Escravos de algumas das pessoas com quem convivem? Dos patrões? Dos companheiros e companheiras? Dos colegas de escola, de universidade, de grupo, de religião? Dos pais e mães e irmãos? Da família? Das crenças a respeito do que herdamos geneticamente de nossos pais biológicos, e que acreditamos serem verdadeiras? Quantos não reclamam das condições que têm dizendo: - Ah, se eu tivesse nascido em outra família? Em outra época? Em outro lugar? Com outra situação econômica? 

Acho que vale a pena repetir uma segunda vez que utilizar a ideia ao longo do dia, com as práticas, de acordo com as orientações do Curso, vai nos permitir perceber o quanto estamos enganados. Ou o quanto nos deixamos enganar pelo "mundo", acreditando no ego que nos diz que não há como fugir do sofrimento neste mundo. Ou que não há como mudar o mundo. Ou que nós não somos capazes de mudar. Nem a nós mesmos, nem ao mundo. Ora, acreditar que não há possibilidade de mudança, nem para nós mesmos, nem para o mundo, não é nada mais do que acreditar em um destino imutável. É não acreditar no livre arbítrio.

Quantos de nós, e até quando, ainda querem se deixar enganar pelo falso eu?

5 comentários:

  1. Caros, caras,

    Vou buscar ampliar o alcance do comentário, e peço-lhes que me ajudem a fazê-lo, em função do seguinte:

    Além da observação que fiz em 2010 a respeito da tradução de "victim", no original, pela palavra "vitima" da língua portuguesa - observação que mantive nas postagens de 2011 e na deste ano -, ainda me deixava intrigado o fato de que o original traz "the victim" [a vítima]. Lembremo-nos de que "the" é a palavra, em inglês, que corresponde ao artigo definido que, na língua portuguesa, assume as formas "o", "a", "os", "as".

    E daí? - alguns dirão. E eu digo: - Ora, por que razão será que a "Voz" ditou o exercício, a lição, valendo-se do artigo definido? Haverá aí algo a que devemos ficar atentos? Algo que precisamos descobrir que aprendemos de forma equivocada para desaprender, a fim de ver o mundo e aquilo tudo que nos foi ensinada a seu respeito de modo diferente?

    Eis, então, que hoje, ao chegar à lição pela manhãzinha, me ocorreu o seguinte - e é para isso que gostaria de sua contribuição, isto é, que gostaria que pensassem comigo.

    Em geral, as pessoas que não se sabem e/ou não se consideram responsáveis pelas situações e experiências que se apresentam a suas vidas, tendem a acreditar que são "a vítima" dos acontecimentos. E trazem, em função disso, a crença subjacente de que estão sozinhas no mundo, abandonadas a si mesmas. Isto é, "a vítima" acredita que o que lhe acontece acontece apenas a ela e a ninguém mais. Seu sofrimento e sua dor são únicos e ninguém vai ser capaz de compreendê-la ou de ajudá-la porque ninguém jamais pode experimentar uma dor ou sofrimento tão profundos.

    ... continua

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  2. ... continuação.

    Ora, todos nós já ouvimos pessoas - vítimas - dizerem: - Acho que Deus se esqueceu de mim. Ou: - Parece que joguei pedras na cruz. Ou ainda: Acho que Deus [ou alguma outra pessoa que faz parte da experiência d'"a vítima"] me escolheu para Cristo. Mais: - Como Deus pode ser bom e amoroso e me fazer passar por este tipo de coisa?

    E aí está talvez aquilo para que devemos estar atentos - não só em relação a esta lição, é claro, mas a todas - porque revelador do quanto é matreiro e astuto o falso eu. É aí que ele revela sua pretensa onipotência para quem quiser, de fato, ver, e ver as coisas de modo diferente. Pois "a vítima" está se percebendo como a única pessoa que importa, separada de tudo e de todos, escolhida por Deus [que Deus?] para experimentar todas as formas de sofrimento e dor, sem saída possível, uma vez que Deus, em seu modo de pensar, além de onipresente, onisciente e onipresente, é um Deus vingativo e castigador. E ela, apesar de no fundo achar que poderia passar por uma experiência de vida mais animadora e mais feliz, aceitando o julgamento do ego para si mesma, não se sente nem merecedora da alegria, da felicidade e da paz, nem percebe o quanto deixou escondidas em si a força e o poder divinos, que são a herança de todos e de cada um de nós. Ao se ver como "a vítima" em um mundo cruel e injusto, ela não vê o(s) outro(s) e se ressente de todos os que, em seu modo de ver, não compactuam com sua percepção da vida.

    Por fim, a expressão, comum àqueles(as) que se põem na posição d'"a vítima", "foi Deus que quis assim" justifica a acomodação e o conformismo ou resignação com que recebem tudo o que se apresenta a sua experiência, esquecendo-se por completo de que, se "Deus criou o homem a sua imagem e semelhança", não vítimas, nem carrascos.

    O que vocês acham? Podemos alterar a ideia da lição e praticar nossa declaração de independência, como quer a instrução, dizendo: "Eu não sou 'a' vítima do mundo que vejo"?

    Abraço-os(as) a todos(as) amorosamente.

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  3. Desde cedo estou tentando comentar, mas estou pensando nisso tudo...
    Vou pensar mais um pouco e reler e reler para então comentar.
    Grata (pelo nó na cabeça...rs...)
    Bjs

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  4. Respostas
    1. Obrigado, querida.

      Vejo que deu certo sua tentativa de comentar. Obrigado por ficar conosco.

      Beijos.

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