sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O que "ver" significa para cada um de nós?


LIÇÃO 27

Acima de tudo eu quero ver.

1. A ideia de hoje exprime algo mais forte do que simples determinação. Ela dá prioridade à visão entre teus desejos. Podes te sentir hesitante quanto a usar a ideia, com base em que não tens certeza de que é isto que queres realmente. Isto não importa. O objetivo dos exercícios de hoje é fazer chegar mais perto o momento em que a ideia será inteiramente verdadeira.

2. Pode haver uma grande tentação em acreditares que se pede a ti algum tipo de sacrifício, quando dizes que queres ver acima de tudo. Se ficares inquieto em relação à falta de reservas pressuposta, acrescenta:

A visão não custa nada a ninguém.

Se o medo da perda ainda persistir, acrescenta ainda:

Ela só pode abençoar.

3. A ideia de hoje precisa de muitas repetições para o máximo aproveitamento. Ela deve ser usada pelo menos a cada meia hora, e mais se possível. Poderias tentar usá-la a cada quinze ou vinte minutos. Recomenda-se que, quando acordares ou pouco depois, estabelaças um intervalo de tempo definido para o uso da ideia e que tentes ser fiel a ele do início ao fim do dia. Não será difícil fazer isso mesmo se estiveres ocupado conversando ou ocupado de outra maneira no momento. Ainda assim, podes repetir uma frase curta para ti mesmo sem perturbar coisa alguma.

4. A questão verdadeira é quantas vezes tu te lembrarás? Quanto queres que a ideia de hoje seja verdadeira? Responde a uma destas perguntas e terás respondido à outra. É provável que percas várias aplicações e, talvez um número bastante grande delas. Não te incomodes com isto, mas tenta prosseguir em teu horário daí por diante. Se ao menos uma vez durante o dia sentires que foste totalmente sincero enquanto repetias a ideia de hoje, podes ter certeza de que poupaste muitos anos de esforço a ti mesmo.

*

COMENTÁRIO:

Só um desejo "ardente", no sentido daquele desejo que brota do mais profundo em nós mesmos, pode nos levar a estar à vontade no mundo. E estar à vontade no mundo significa estar de bem com a vida, significa entender "até os ossos" que nada do que o mundo nos mostra é permanente ou duradouro. Tudo o que vemos, inclusive os olhos que usamos para ver, vai perecer e, por assim dizer, virar pó. 

É deste entendimento que trata a ideia que vamos praticar nesta sexta-feira, dia 27 de janeiro. Isto é, as práticas de hoje vão nos mostrar de que forma precisamos nos comprometer com a decisão de ver. Em outras palavras elas vão nos mostrar que é preciso aprendermos que o que, de fato, queremos mais que tudo na vida é ver. Mas este aprender não é simplesmente ter em mente ou descobrir intelectualmente, e sim um aprender que exige que sejamos inteiramente absorvidos no processo. É este aprender que vai nos levar a ter contato com a verdadeira visão.

Vejamos pois, mais uma vez, o comentário feito a esta lição em anos anteriores. Creio que vale revisitá-lo, uma vez que ele traz um exemplo de vida de alguém [Meir Schneider] que perseguiu insistentemente o objetivo de ver, por ter sido, para efeitos legais, declarado cego ao nove anos de idade.

O que pensamos querer "acima de tudo"? Qual é nosso maior desejo? Qual é nossa maior aspiração? Será "ver"? Quantos de nós já pensaram a este respeito? Chegaram a alguma conclusão? Será que "ver" tem alguma relação com o que precisamos fazer para alcançar nossos objetivos? Quantos de nós nos lembramos de ser imensamente agradecidos pelo fato de sermos capazes de ver, apenas no sentido de ter a faculdade da visão? E em que medida esta faculdade nos auxilia ou atrapalha na tarefa de construir o mundo no qual queremos viver? Será que o "ver" a que se refere a ideia das práticas de hoje está relacionado apenas à capacidade física do corpo que acreditamos ser?

Meir Schneider nasceu praticamente cego e tem uma história maravilhosa a respeito de seu processo pessoal para desenvolver a capacidade de ver com os olhos do corpo, um processo que envolveu muito mais do que apenas suas capacidades físicas e que está descrito em seu livro Uma Lição de Vida. De acordo com ele, "fomos treinados para acreditar que nossos olhos só podem mudar para pior, e nunca podem melhorar depois de começarem a se deteriorar". Ele diz que isto só acontece porque a maioria de nós não sabe nada a respeito de como melhorar a visão.

Diz ainda que "melhorar a visão é um processo complexo, pois a visão, em si mesma, é um processo complexo. Nossos olhos - e, assim, nossas habilidades visuais - estão ligados, inexplicavelmente, com nossos corpos, nossas mentes e nossas emoções. Nossos olhos [como de resto todos os nossos sentidos, eu diria] atuam sobre todos os aspectos de nós próprios, e são, por sua vez, afetados por todos os aspectos de nossas vidas. Trabalhar com os olhos para melhorar a visão é, portanto, sempre um desafio. No processo, você pode defrontar-se com tensões físicas profundamente arraigadas, resistência mental, bloqueios emocionais e traumas. Ao enfrentar essas coisas, entretanto, muitas pessoas descobriram a força para vencê-las, e ao melhorar a visão mudaram suas vidas".

É claro que o exemplo de Meir, de trabalho com a visão orgânica, física, pode ser estendido de forma metafórica à visão em seu sentido mais amplo e abrangente. Cito-o apenas porque a ideia que trabalhamos no exercício de hoje, da mesma forma que o trabalho com o objetivo de melhorar a visão física [do corpo], vai exigir que deixemos de lado o que aprendemos do mundo a respeito de ver. E é claro que o mundo criado e construído a partir do sistema de pensamento do ego também busca nos treinar a acreditar que não há forma de melhorar nossa visão [o que poderia significar ver o mundo de modo diferente]. Isto não é verdade. E as práticas vão provar isto, se insistirmos nelas.

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