sábado, 7 de janeiro de 2012

Aprender algo é torná-lo parte do que somos

LIÇÃO 7

Eu vejo só o passado.

1. É particularmente difícil acreditar nesta ideia a princípio. Porém, ela é a base lógica para todas as anteriores.
Ela é a razão pela qual nada do que vês significa coisa alguma.
Ela é a razão pela qual dás a tudo o que vês todo o significado que tem para ti.
Ela é a razão pela qual não entendes nada do que vês.
Ela é a razão pela qual teus pensamentos não significam nada, e a razão pela qual eles são como as coisas que vês.
Ela é a razão pela qual tu nunca estás transtornado pelo motivo que imaginas.
Ela é a razão pela qual tu estás transtornado porque vês algo que não existe.

2. É muito difícil mudar ideias antigas a respeito do tempo, porque tudo aquilo em que acreditas está radicado no tempo e depende de não aprenderes estas ideias novas a respeito dele. No entanto, é justamente por isso que precisas de ideias novas acerca do tempo. Esta primeira ideia a respeito do tempo não é, de fato, tão estranha quanto pode parecer de início.

3. Olha para uma xícara, por exemplo. Tu vês uma xícara ou simplesmente revês tuas experiências passadas de pegar um xícara, de estar com sede, de beber de uma xícara, de sentir a borda de uma xícara contra teus lábios, de tomar o café da manhã e assim por diante? Tuas reações estéticas à xícara não são também baseadas em experiências passadas? De que outra forma saberias se esse tipo de xícara se quebraria ou não se a deixasses cair? O que sabes a respeito dessa xícara exceto aquilo que aprendeste no passado? Tu não tens nenhuma ideia do que essa xícara é, a não ser pelo teu aprendizado passado. Então, tu a vês realmente?

4. Olha ao teu redor. Isso é igualmente verdadeiro a respeito de qualquer coisa para a qual olhes. Reconhece isso aplicando a ideia de hoje indistintamente para o que quer que capte teu olhar. Por exemplo:

Eu vejo só o passado neste lápis.
Eu vejo só o passado neste sapato.
Eu vejo só o passado nesta mão.
Eu vejo só o passado naquele corpo.
Eu vejo só o passado naquele rosto.

5. Não te demores em nenhuma coisa em particular, mas lembra-te de não omitir nada de modo específico. Olha rapidamente para cada sujeito e, em seguida, passa para o seguinte. Três ou quatro períodos de prática, que durem aproximadamente um minuto cada, serão suficientes.

*

COMENTÁRIO:

Um poema, ou parte de um, de Daniel Lima talvez nos ajude a nos aproximarmos da ideia para as práticas deste sábado, dia 7 de janeiro, com um olhar mais tranquilo. Um olhar, quem sabe?, mais sereno, porque pontilhado pela certez de que aquilo que somos não depende do tempo.


Diz ele:


És imortal 
mas a vida começa agora.
Já começou agora desde sempre.
Amanhã é uma ilusão. A eternidade
é hoje. Ou nunca.


E podemos estender a reflexão perguntando a nós mesmos em que momentos da vida, de fato, fomos felizes. Em que momentos nos encontramos com a alegria plena e indikzível e a certeza de que nada do que aconteça vai nos impedir de ser aquilo que nascemos para ser?


Certamente a resposta não está no passado, uma vez que o passado se foi. E nós - o que somos - ainda estamos aqui. Seja aqui o lugar que for. Mas estaremos mesmo?


Ou estaremos olhando apenas para esta ideia, para esta lição, para esta tela de computador, pensando no que nos espera pelo dia, nos próximos dias? Ou estaremos comparando as impressões que a ideia nos desperta com aquelas do ano passado, ou de um tempo ainda mais distante - se é que isso pode significar alguma coisa - se é que lembramos delas, ou desses tempos?


Aprender algo tem de significar compreender. E compreender é aceitar. Só sabemos que aprendemos alguma coisa quando ela passa a ser parte do que somos. Depois que passou pelo filtro do amor em nós. Por isso, terminemos este comentário com mais um trecho de um poema de Daniel Lima, que talvez sirva para trazer um pouco mais de clareza àquilo de que estamos falando. Diz ele o seguinte:


Sei que é só meu o de dentro;
se é de fora não é meu,
pois tudo faz-se-me estranho 
se o amor não o torna eu.


Às práticas? 

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