segunda-feira, 23 de março de 2009

Todo engano é sempre autoengano.

Penso que devíamos incluir a ideia da necessidade de uma revisão periódica em todas as áreas de nossas vidas. Explico. Normalmente, para a maioria de nós, depois que "aprendemos" alguma coisa, ou concluímos um curso, uma etapa em nossa caminhada, consideramo-nos "prontos". Como se tivéssemos aprendido tudo o que havia para aprender a respeito do assunto ou área, ou como se aquilo que aprendemos pudesse ser definitivo, não fosse passível de mudança e, muitas vezes, dependendo da área a que se refere, passível de mudanças radicais. E este é apenas um dos muitos enganos a que nos induz o ego.

Esta introdução às ideias a serem revisadas hoje se deve ao comentário feito pela Paulo De Mico a uma das últimas lições que praticamos. Diz ela estar, mais uma vez, se remoendo por dentro por descobrir que volta aos mesmos erros e enganos, trapaças de si mesma. Como se "só" ela voltasse a tais erros e trapaças. Todos nós fazemos isso, Paula. Todos. E o fazemos o tempo inteiro. No entanto, não há razão para nos sentirmos frustrados, a não ser quando nos entregamos por completo ao jugo do ego, que nos aconselha a cultivar o orgulho e a onipotência. Só o ego pode se frustrar.

Na verdade, de acordo com o que o Curso ensina, a história só existe porque vivemos para repetir os erros. Os nossos, individuais, e todos os erros cometidos por todos os outros que percebemos no mundo inteiro, sem dúvida projeções daquilo que, às vezes, não temos coragem de enfrentar como criações próprias e, portanto, de nossa única responsabilidade. Todo engano é sempre autoengano. E o maior engano que podemos cometer é, acreditando no ego, achar que podemos mudar o mundo, que podemos fazer tudo sempre da maneira correta, como se houvesse uma. O fato de percebermos que repetimos um mesmo erro vezes e vezes seguidas não deve nos pôr tristes ou frustrados. É apenas um sinal de que nossa consciência está se abrindo. O sentimento adequado, pois, é o agradecimento.

Precisamos nos lembrar de que passamos a maior parte do tempo dormindo acordados, porque não dedicamos tempo suficiente a praticar a atenção necessária a nós mesmos. Ocupamo-nos sim, mais e mais, das coisas relacionadas à ilusão e reforçamos uma visão de mundo baseada no julgamento do ego de tudo e de todos. Porque, muitas vezes, temos medo de acordar e de não gostar do que podemos ver em nós mesmos. Mais uma preocupação boba oferecida pelo ego. Como se pudéssemos ser diferentes daquilo que somos de fato. Como se o Ser que somos pudesse, de alguma forma ser contaminado por quaisquer enganos a que o ego nos induz.

Em um livro que leio no momento, Joseph Campbell, logo após lembrar da orientação de Jesus para nos retirarmos para o nosso quarto, fechando as portas, quando quisermos rezar - uma metáfora para a necessidade de que nos voltemos para o interior de nós mesmos, deixando de lado tudo o que é aparentemente externo -, diz que devemos nos lembrar de que somos seres da eternidade que vivem no campo do tempo. E o campo do tempo é o campo da tristeza. Ele diz que "toda a vida é triste". E que, quando tentamos corrigir as tristezas [no ego], tudo o que fazemos é mudá-las de lugar, colocá-las em outro lugar. A vida é triste [para a percepção do ego]. Como você vive então com isso? Você precisa perceber claramente o divino dentro de si mesmo. Fazendo isso, você se desprende e, ao mesmo tempo, volta a se prender. E, para usar as palavras dele, "você - e eis aqui a fórmula maravilhosa - participa com alegria das tristezas do mundo". Você participa da brincadeira. Uma brincadeira na qual não existem vítimas, apenas pessoas que se dispõem a brincar. "Parar de viver o pesadelo", respondendo à questão da Paula, nada mais é do que entrar para valer na brincadeira, com toda a disposição e alegria de que somos capazes. Pois não há como "parar de viver", porque a vida é eterna e a morte não existe.

Para isso continuamos com nosso programa de exercícios. Para isso revisamos neste dia 23 de março, na lição 82, as ideias das lições 63 e 64.

(63) A luz do mundo leva paz a todas as mentes por intermédio de meu perdão.
(64) Que eu não me esqueça de minha função.

O modo de fazer os exercícios é o mesmo indicado para o início do período de revisão.

5 comentários:

  1. Ok Moisés
    Continuo firme! Vamos revisar, então! Gostaria de dizer à Paula: "Bem vinda ao clube dos que se sentem assim" e que só a prática diária pode ajudar a diminuir esta frustação (do ego) que vai e volta. Vamos em frente! Obrigada a vocês.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado por comentar, Nina. Obrigado, Paula.
    É, como diz a Nina, a prática diária da atenção que pode nos pôr cada vez mais em contato com a verdade do que somos. É para isso que servem os exercícios. Que bom podermos partilhar de alguma forma nossas dúvidas e aprendizados. Os dons que recebemos, mesmo quando não temos certeza do que eles são, devem ser repartidos. Para o ensinamento do Curso, "dar e receber são a mesma coisa". É só no mundo ilusório do ego que podemos pensar em reter alguma coisa, reservá-la apenas para nós mesmos. Só o ego acredita que pode possuir sem dividir.
    Vamos lá, então, vamos dividir nossas impressões, vamos compartilhar nossas dúvidas e nossos entendimentos.
    Aproveito para dar as boas vindas à Isolda, que me parece estar chegando agora. Bem-vinda!
    Aproveite!

    ResponderExcluir
  3. Obrigada Moisés, e Nina

    Puxa, gostei muito dos seus comentários!
    Eu estava me sentindo única "sofredora" do mundo, amei oque voces me falaram....

    Beijos

    Paula De Mico

    ResponderExcluir
  4. ...muito bom ler isso! às vezes tb me sinto péssima por cair sempre nos mesmos erros..me sinto uma idiota... parece o falso o estudo.
    Fico achando tudo uma bela hipocrisia, se a gente só fala mais não atua corretamente. Mas sei lá..um dia a gente acabará conseguindo..tem que desapegar dos resultados..afinal, temos que nos perdoar sempre, né??

    ResponderExcluir
  5. Acho que, na verdade, a expressão mais adequada não é desapegar-se dos resultados, mas, sim, prestar atenção aos resultados, pois eles são os indicadores mais confiáveis do modo que estamos pensando. Isto é, são os resultados que temos que nos confirmam se estamos no caminho certo [aquele em direção à alegria perfeita, lembra?] ou se nos desviamos. Quanto ao perdão, é verdade! Precisamos nos perdoar sempre e sempre.
    Obrigado por compartilhar, Edna. Apareça sempre!

    ResponderExcluir