segunda-feira, 9 de março de 2009

O amor não guarda mágoas

Sou sempre relutante em citar frases, ou atribuí-las a algum autor conhecido, quando não tenho certeza de que a fonte é confiável. E a internet está cheia de exemplos de citações de autores que nem ao menos sonharam dizer o que lhes é atribuído. E a maioria das pessoas nem se dá ao trabalho de verificar se a fonte é verdadeira ou não. Isso normalmente gera dois efeitos diferentes.

O primeiro é o que chamo de efeito "bola de neve", que aumenta a obra de determinado autor a um ponto bem distante daquele para o qual ela foi pensada e a coloca bem longe de qualquer possibilidade de controle, no sentido de que seus leitores tomam contato com uma obra que não lhes diz respeito, nem é expressão daquilo que verdadeiramente pensam. Há inumeros exemplos disso na rede hoje em dia. E há autores que se manifestam, às vezes, preocupados em desfazer alguns dos enganos a que seus leitores podem ser induzidos. Outros nem chegam a tomar conhecimento dos apêndices apócrifos que foram adicionados a sua obra. Ou porque já não estão entre nós, ou porque quem lhes administra a obra não soube do acontecido. Há ainda leitores que têm o cuidado de alertar para o fato de que determinadas informações que circulam pela rede não são verdadeiras.

O segundo é o que se pode chamar de "efeito telefone sem fio". Lembram daquela brincandeira que se fazia em grupo, onde se dizia alguma coisa ao ouvido de alguém num círculo ou numa linha para se descobrir, ao final, que o que tínhamos dito se transformou em algo absolutamente diferente daquilo que dissemos no início? Para se confirmar que nem sempre o que se diz é o que se entende. Ou dito de outra forma, cada um de nós ouve apenas aquilo que quer ouvir. Ou ainda para citar Shakespeare: "O diabo é capaz de citar as Escrituras para alcançar seu objetivo".

Bem, mas digo isso tudo apenas porque a lição 68, para este dia 9 de março, me lembrou de uma frase, atribuída a Shakespeare, para a qual quis obter confirmação, sem resultado positivo. A frase em questão diz: "Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra". Uma pesquisa rápida não foi suficiente para confirmar Shakespeare como o autor da frase, que tem uma versão levemente diferente: "Guardar ressentimento é tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra", atribuída a ninguém menos que Albert Einstein. Assim fiquei com a dúvida aumentada e com a possibilidade de pesquisa enormemente ampliada. Isto é, além de consultar toda a obra de Shakespeare, preciso consultar também tudo o que se escreveu a respeito do Einstein. Um trabalho e tanto, não?

Mas isso não nos importa neste momento. É preciso apenas voltar nossa atenção para a ideia da lição de hoje que é a seguinte: O amor não guarda nenhuma mágoa. Não é possível que nenhum de nós chegue ao conhecimento do Ser que é, se guardar mágoas, se guardar ressentimentos de qualquer natureza contra qualquer um de seus semelhantes. A lição de hoje nos ensina que guardar uma mágoa qualquer é esquecer quem somos. É ver-nos, a nós mesmos, e aos outros apenas como corpos. É permitir que o ego governe nossa mente e "condenar o corpo à morte".

A frase que originou minha dúvida, ao iniciar esta reflexão, tem, pois, sua utilidade aqui, para nos fazer reconhecer por inteiro qual é o efeito preciso que guardar mágoas traz a nossa mente. Guardar ressentimentos parece nos separar de nossa Fonte, tornando-nos distintos d'Ela. Ou seja, somos autorizados pelo ego a pensar que podemos tomar o veneno porque queremos que o outro morra. Esquecemo-nos de que fomos criados pelo amor, iguais a ele mesmo, que não pode senão estender-se, dividindo-se apenas para se multiplicar. Nunca para se separar ou para ser diferente de seu Criador.

Por isso, o exercício de hoje nos convida a pensar a respeito de todos os efeitos de guardar mágoas. Quais sejam: o de reforçar a impressão de separação, o da negação de que fomos criados pelo amor, o da transformação de Deus em um Criador amedrontador, o do experimentar a culpa e o do esquecimento do que somos. Além disso, a lição de hoje oferece uma forma prática de redefinir o outro, transformando-o em parte de nós, para nos livrar da ideia de que estamos sozinhos em todo o universo, em função de nosso julgamento equivocado de nós mesmos. Resta, então, decidir apenas ver em tudo a expressão do amor, fonte de tudo, para esquecermos todas as mágoas. Para acordarmos para o Ser que somos. Frutos do amor.

Um comentário:

  1. É isso aí, Mouss!
    Esta lição é linda!
    O teu comentário também. E esta citação sobre o veneno, seja lá quem for o autor é alguém que sabia das coisas, não?
    Thaks!

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