terça-feira, 30 de novembro de 2010

Aprendendo a perdoar e a abandonar o mundo

LIÇÃO 334

Reivindico, hoje, as dádivas que o perdão dá.

1. Não vou esperar outro dia para achar os tesouros que meu Pai me oferece. Todas as ilusões são vãs e os sonhos desaparecem, mesmo porque se baseiam em percepções falsas. Permite que hoje eu não aceite dádivas tão mesquinhas novamente. A Voz de Deus oferece a paz de Deus a todos que ouvem e escolhem seguí-Lo. Esta é minha escolha hoje. E, assim, vou encontrar os tesouros que Deus me dá.

2. Busco apenas o eterno. Pois Teu Filho não pode se satisfazer com nada menos do que isso. O que, então, pode servir de consolo para ele, a não ser aquilo que Tu ofereces a sua mente confusa e coração amedrontado, para lhe dar segurança e lhe trazer paz? Quero ver meu irmão sem pecado hoje. Esta é Tua Vontade para mim, pois deste modo verei minha inocência.

*

COMENTÁRIO:

Perdoar o mundo é o mesmo que abandoná-lo, abrir mão dele para ganhá-lo por inteiro, à luz da percepção verdadeira, sabendo que ele não vai durar, que ele não é eterno e não tem senão o valor que damos a ele.

Perdoar o mundo é esquecer o passado. É entregar o mundo e seu futuro a seu próprio destino, sem qualquer pretensão de lhe ditar modos e comportamentos.

Perdoar o mundo é reconhecer que ele não tem nada que queiramos realmente, dando a ele apenas o valor que lhe é devido, sabendo-o passageiro e mutável, reconhecendo a diversidade apenas como aspectos da mesma ilusão, que o cria e constrói a partir de pensamentos baseados na crença na ideia da separação.

Vejam de que maneira Guimarães Rosa nos apresenta a compreensão disto, a partir da percepção do Menino, em um trecho de uma das estórias de seu livro Primeiras Estórias:

"E, vindo outro dia, não no não-estar-mais-dormindo e não-estar-ainda-acordado, o Menino recebia uma claridade de juízo - feito um assopro - doce, solta. Quase como assistir às certezas lembradas por um outro; era que nem uma espécie de cinema de desconhecidos pensamentos; feito ele estivesse podendo copiar no espírito ideias de gente muito grande. Tanto, que, por aí, desapareciam, esfiapadas.

"Mas naquele raiar, ele sabia e achava: que a gente nunca podia apreciar, direito, mesmo as coisas bonitas ou boas, que aconteciam. Às vezes, porque sobrevinham depressa e inesperadamente, a gente nem estando arrumado. Ou esperadas, e então não tinham gosto de tão boas, eram só um arremedo grosseiro. Ou porque as outras coisas, as ruins, prosseguiam também, de lado e do outro, não deixando limpo lugar. Ou porque faltavam ainda outras coisas, acontecidas em diferentes ocasiões, mas que careciam de formar junto com aquelas, para o completo. Ou porque, mesmo enquanto estavam acontecendo, a gente já sabia que elas já estavam caminhando para se acabar roídas pelas horas, desmanchadas..."

Perdoar o mundo é compreender isto, eu diria, e voltar-se para o eterno apenas. O que podemos fazer a partir das práticas da ideia que o Curso nos oferece nesta terça-feira, dia 30 de novembro. Pois o Filho de Deus "... não pode se satisfazer com nada menos do que isso".

2 comentários:

  1. oiii Mosss...
    Eu sempre acho que perdoo, mas no fundo, no fundo, sempre fica um sentimento.
    Mas se a gente so tem que perdoar nos mesmos, isso teria que ser mais facil nao?
    Porque nao eh Moises?? Me responda please!!!
    Moises, quando a gente reconhece que as coisas se apresentam para gente do jeito que nos escolhemos, e essa "apresentacao" nao eh feliz, oq devemos fazer? Apenas entregar? Como mudar? Eu to tentando, mas cada vez que as coisas se apresentam com sofrimento eu percebo que nao estou sabendo escolher. Sinto uma frustacao, tao grande, mas tao grande, que fico perdida.
    Saudadesss bjsssssssssss

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  2. Oi, Duda, querida...

    Que bom que você ainda está conosco.

    Bem... a respeito de todas as suas perguntas...

    Na verdade, só temos, sim, de perdoar a nós mesmos, porque nós nos julgamos e julgamos a criação, que somos nós. O que o Curso busca nos ensinar - e o perdão é parte central do ensinamento - é a não julgarmos.

    Já no primeiro parágrafo do texto que lemos no encontro de ontem à noite, páginas 131 a 135 [VI. Da vigilância à paz], o Curso nos diz que embora só possamos amar a Filiação como um só, é possível que a vejamos fragmentada - como, de fato, pensamos que a vemos pela percepção. Mas o mais importante é o que ele diz a seguir. Isto é, que apesar de a percebermos fragmentada, é impossível "ver alguma coisa em uma parte dela" sem a atribuir ao todo.

    Isso explica porque o ataque [o julgamento] nunca é restrito e o porquê da necessidade de abandonarmos por completo o ataque [julgamento]. Dito de outra maneira, isto quer dizer que quando pensamos mal de alguém achamos que nosso pensamento atinge somente aquele alguém. Um equívoco. O pensamento atinge toda a criação, pois a separação, que pensamos existir ao olharmos para todas as coisas e vê-las fragmentadas, não existe.

    Por isso, se faz necessária a vigilância. O famoso "Orai e vigiai". Enquanto não aprendermos a olhar para tudo, absolutamente tudo com olhos amorosos, isto é, deixando de julgar qualquer coisa, precisamos exercer uma vigilância constante e permanente sobre nossos pensamentos. São eles que nos apresentam as experiências, as "realidades", as situações que escolhemos e vamos viver.

    Como comentei ontem, referindo-me ao livro "A cientista que curou seu próprio cérebro", a certa altura, a escritora Jill Bolte Taylor lança a pergunta: Se a felicidade é uma escolha, então porque alguém escolheria outra coisa que não a felicidade?

    E a resposta é que, em geral, muitos de nós não percebemos que temos a possibilidade de escolher e, por isso, não exercitamos a capacidade da escolha [a vigilância].

    Muitos ainda pensamos ser produtos de nossos cérebros e não temos ideia de que é possível opinar a respeito do modo pelo qual reagimos às emoções que surgem a partir das experiências, das coisas e das pessoas que se apresentam.

    Podemos até perceber intelectualmente que temos capacidade de mudar os pensamentos, mas não somos capazes de, na maioria das vezes, imaginar que podemos exercer influência sobre o modo como percebemos e experimentamos nossas emoções. Diz ela que, "ninguém jamais nos disse que são necessários apenas noventa segundos para sermos capturados pela bioquímica e para, em seguida, escolhermos nos libertar", dos pensamentos que desencadeiam as emoções que provocam as sensações que nos afastam da alegria, da felicidade, da paz e da unidade.

    Desculpe-me pela resposta tão longa, mas há ainda uma coisa a dizer em relação a isto e está relacionada - se você não lembrar pode buscar aqui mesmo no blogue no box da pesquisa - às quatro leis da espiritualidades que se ensina na Índia.

    O primeiro passo em relação a tudo o que se apresenta em nossa vida é agradecer, ser grato por qualquer situação, coisa ou pessoa, antes de decidir o que fazer com elas. Em seguida olhamos para a situação e nos perguntamos, como diz Ken Wilber, se o que vemos apenas nos informa, isto é, traz mais alguma informação a nossa experiência. Se a resposta for afirmativa é porque estamos olhando para a situação, coisa ou pessoa de maneira correta. Se, por outro lado, o que vemos nos afetam isto é, nos aborrece, irrita, perturba, nos deixa tristes, magoados, feridos, ou nos oferece qualquer outra sensação que nos afaste da paz ou da alegria, é porqúe estamos olhando de maneira equivocada e precisamos olhar para a situação, a coisa ou a pessoa de modo diferente.

    Por fim, ainda com base no que falamos ontem no grupo de estudos e no livro de que falei acima, Jill diz que a dor, às vezes, é inevitável, mas o sofrimento é sempre uma escolha.

    Saudade também!

    Obrigado por comentar.

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