sábado, 9 de janeiro de 2010

Praticar o "lembrar-se de si"

LIÇÃO 9
Eu não vejo nada tal como é agora.

1. Esta ideia, obviamente, resulta das duas anteriores. Mas, embora possas ser capaz de aceitá-la intelectualmente, é improvável que ela signifique alguma coisa para ti por enquanto. Contudo, neste ponto a compreensão não é necessária. De fato, o reconhecimento de que não compreendes é um pré-requisito para desfazer tuas ideias falsas. Estes exercícios se ocupam da prática, não da compreensão. Tu não precisas praticar aquilo que já compreendes. Na verdade, visar à compreensão e pressupor que já a tens seria andar em círculos.

2. É difícil para a mente não treinada acreditar que aquilo que ela parece retratar não existe. Esta ideia pode ser bastante assustadora e pode encontrar resistência ativa sob inúmeras formas. No entanto, isso não impede sua aplicação. Não se pede nada mais do que isso para estes exercícios ou quaisquer outros. Cada pequeno passo afastará um pouco as trevas e a compreensão finalmente virá para iluminar cada canto da mente que tenha ficado livre dos escombros que o escureciam.

3. Estes exercícios, para os quais três ou quatro períodos de prática são suficientes, envolvem olhar ao redor de ti e aplicar a ideia do dia a qualquer coisa que vejas, lembrando-te da necessidade de aplicação que não faça distinções e da regra essencial de não excluíres nada. Por exemplo:

Eu não vejo esta máquina de escrever tal como ela é agora.
Eu não vejo este telefone tal como ele é agora.
Eu não vejo este braço tal como ele é agora.

4. Começa com as coisas mais próximas de ti e depois estende o alcance para fora:

Eu não vejo aquele cabide de casacos* tal como ele é agora.
Eu não vejo aquela porta tal como ela é agora.
Eu não vejo aquele rosto tal como ele é agora.

5. Salienta-se mais uma vez que, embora não se deva tentar uma inclusão total, tem-se de evitar qualquer exclusão específica. Certifica-te de que és honesto para contigo mesmo ao fazer esta distinção. Podes ser tentanto a escondê-la.

*A nota de Lillian na primeira tradução diz que nos Estados Unidos o cabide de casacos é um objeto bem visível, colocado ao lado das portas para que os casacos de inverno sejam pendurados. Diz ainda que este exemplo não cabe nos países tropicais e pode ser substituído por outro objeto qualquer que esteja ao teu redor. Observemos, porém, que temos um objeto similar que ainda é usado em algumas casas em algumas regiões do país, que é o "mancebo", um tipo de cabide que serve para se pendurar chapéus e outros objetos.

*

COMENTÁRIO:

A partir do contato com a ideia de que só vemos o passado, na lição 7, fica mais ou menos evidente que, nas condições normais em que vivemos, habitualmente distraídos de nós mesmos e de praticamente tudo o que nos rodeia, não somos capazes de ver nada tal como se apresenta no momento presente. Agora.

É o exercício da atenção, o "lembrar-se de si", de que falava Gurdjieff, que pode nos permitir vislumbres do presente e, em "instantes santos", o contato com o divino, com o que somos de fato. E, a partir disso, uma ligação com a Fonte de tudo o que existe.

Praticar este exercício, portanto, é buscar lembrar durante a maior parte do tempo possível que, de fato, não sabemos nada de nada, que nossa mente vê apenas coisas que já não existem. Porque está preocupada somente com pensamentos do passado.

2 comentários:

  1. Boa tarde Moisés...

    Seu trabalho é tão valioso q merece toda a divulgação possível...
    Tomei a liberdade de incluir o link do seu blog sob o títulos : "Acompanhamento diário do livro de exercícios", no meu blog.

    http://despertandonaluz.blogspot.com/

    Ficarei feliz c/ sua visita ao meu espaço.

    Paz e luz no seu caminhar.

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