quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Para abandonar os medos do destino dos corpos

LIÇÃO 294

Meu corpo é uma coisa inteiramente neutra.

1. Eu sou um Filho de Deus. E posso ser outra coisa também? Deus criou o mortal e o perecível? Que utilidade tem para o Filho amado de Deus aquilo que tem de morrer? E, não obstante, uma coisa neutra não percebe a morte, pois não se investe pensamentos de medo aí, tampouco se coloca um arremedo de amor sobre ela. Sua neutralidade a protege enquanto tiver uma utilidade. E, mais tarde, ela é abandonada. Ela não está doente, nem velha, nem ferida. Ela só não tem mais função, é desnecessária e é dispensada. Permite que eu não a veja como mais do que isso hoje, útil por algum tempo e própria para atender a uma necessidade, para manter sua utilidade enquanto puder ser útil e para ser substituída então por um bem maior.

2. Pai, meu corpo não pode ser Teu Filho. E aquilo que não é criado não pode ser pecador nem inocente; nem bom nem mau. Permite, então, que eu use este sonho para ajudar em Teu plano, a fim de que despertemos de todos os sonhos que fizemos.

*

COMENTÁRIO:

Em um dos grupos de estudos do UCEM das segundas-feiras, fizemos, nesta última, a leitura do texto intitulado O corpo como meio ou fim. Um texto que nos ensina a olhar para o corpo como apenas aquilo que de fato ele tem de ser - e é, na verdade - um instrumento de aprendizado, que só deve ser utilizado como um veículo de informação, de acordo com o ensinamento.

O texto nos revela que, se resolvermos acreditar, a partir da orientação do sistema de pensamento do ego, que o corpo é um fim em si mesmo, isto é, que somos o corpo e que ele é um instrumento de ataque, vamos acreditar também que "o corpo não é... a fonte de sua própria saúde". Isso vai servir para que acreditemos ainda que não somos invulneráveis.

Mas o texto afirma mais que:

"A condição do corpo depende apenas de tua interpretação da função dele. [E que] As funções são parte de ser, uma vez que elas nascem dele [de se ser], mas a relação [entre função, isto é entre 'fazer' e 'ser'] não é recíproca. [Porque] O todo define, sim, a parte, mas a parte não define o todo. No entanto, conhecer em parte é conhecer inteiramente em razão da diferença fundamental entre conhecimento e percepção. Para a percepção o todo se constrói de partes que podem ser separadas e rearranjadas em conjuntos diferentes. Mas o conhecimento não muda nunca, por isso seu conjunto é permanente. A ideia de relação entre a parte e o todo só tem significado no nível da percepção, no qual é possível a mudança. Em outra situação, não há nenhuma diferença entre a parte e o todo" [T-8.VIII.1:8-15].

É exatamente disto que trata a ideia para nossas práticas desta quinta, 20 de outubro. Não podemos embarcar na visão equivocada do ego e acreditar que o corpo tem uma função diferente ou maior do que a de ser um veículo de comunicação. Precisamos aprender a abandonar quaisquer medos que tenhamos do destino que está reservado aos corpos, como a quaisquer veículos de comunicação.

O "corpo é uma coisa inteiramente neutra" e ninguém pode querer nos ensinar a temer sua perda. É preciso, pois, que sejamos capazes de decidir, a partir do aprendizado da verdadeira função dos corpos, como nos ensina mais uma vez o jagunço Riobaldo, que:

"... enquanto houver no mundo um vivente medroso, um menino tremor, todos perigam - o contagioso. Mas ninguém tem a licença de fazer medo nos outros, ninguém tenha. O maior direito que é meu - o que quero e sobrequero -: é que ninguém tem o direito de fazer medo em mim." 

3 comentários:

  1. Olá, Carmen, querida.

    Obrigado novamente por suas palavras tão generosas.

    Olá, Nina, obrigado também por suas manifestações e contribuições tão frequentes.

    Olá, Emanuel... Bem-vindo de novo a este espaço. Obrigado mais uma vez por se juntar a nós [Para quem não sabe Emanuel é meu filho mais velho].

    Olá, Rosana Zanholo. Obrigado por se juntar a nós. Bem-vinda.

    Atendendo ao pedido de que publicasse os trechos a que me referi no encontro de terça-feira no grupo de estudos, aí vai.

    Um dos textos era de Carol Gilligan, do livro "O Nascimento do Prazer" e se referia ao fato de nossa experiência coletiva se dar no seio de uma sociedade de cultura eminentemente patriarcal. Este fato acarreta uma definição dos papéis do masculino e do feminino, que nem sempre é visível ou perceptível de forma consciente. E que, como se pode ver, traz muitos problemas para os relacionamentos humanos.

    Gilligan descreve este fato desta forma: "A masculinidade costuma trazer implícita uma capacidade de ficar só e renunciar a relacionamentos, ao passo que a feminilidade sugere a conotação de uma disposição a renunciar a si mesma pelo bem dos relacionamentos. No entanto, as duas estratégias (a renúcia a relacionamentos para manutenção da própria voz e o emudecimento da voz para manutenção de relacionamentos) acarretam uma perda da voz e da capacidade de relacionar-se".

    O outro texto era de um matemático, George Specer Brown, falando sobre a lei da complementaridade no prefácio de seu livro "Laws of Form" [As Leis da Forma]. O incrível é notar o quanto não sabemos, algo bem difícil de ser reconhecido pelo ego.

    Pois bem, a matemática, pode nos ajudar a reconhecer o quanto é ilusório o mundo que vemos a partir da percepção egóica.

    Brown diz o seguinte: "Não há lei matemática mais poderosa do que a lei da complementaridade. Uma coisa é definida por seu complemento, isto é, por aquilo que ela não é. E seu complemento é definido por seu não-complemento, isto é pela própria coisa, mas desta vez imaginada de forma diferente, como tendo saído de si mesma, para se ver como um objeto, isto é, 'objetivamente', e em seguida voltado a si mesma na condição de sujeito de seu objeto, isto é, 'subjetivamente' mais uma vez.

    "Deste modo somos o que vemos, embora o que vemos pareça (e seja) o que não somos".

    Paz e bem!

    ResponderExcluir
  2. Legal, Moisés, mas agora relendo pensei...que coisa complicada!!
    Quero ouvir o que o Salviano vai dizer disso, rs...Vou enviar para ele.
    Depois vou reler montes de vezes...
    Grata
    Nina

    ResponderExcluir
  3. Só parece complicado, Nina.

    Ler e reler um monte de vezes vai fazer clarear, com certeza.

    Quanto ao que o Salviano vai dizer, já podemos esperar que ele fale do chá, da quantidade e da qualidade, que bebeu o matemático para sair com uma dessas, rsrsrs...

    Obrigado por comentar.

    ResponderExcluir