sábado, 16 de outubro de 2010

"Cada um de nós compõe a sua história."

LIÇÃO 289

O passado acabou. Não pode me tocar.

1. A menos que o passado esteja acabado em minha mente, o mundo real tem de se esconder de minha vista. Pois não estou olhando para lugar algum de fato; vendo apenas o que não existe. Como posso perceber o mundo que o perdão oferece, então? Fez-se o passado para esconder esse mundo, pois esse é o mundo que só se pode ver agora. Ele não tem nenhum passado. Pois o que se pode perdoar senão o passado, que, se for perdoado, desaparece.

2. Pai, permite que eu não olhe para um passado que não existe. Pois Tu me ofereces Teu Próprio substituto em um mundo presente, que o passado deixa intocado e livre de pecado. Eis aqui o fim da culpa. E aqui estou pronto para Teu passo final. Devo perdir-Te que esperes mais para que Teu Filho encontre a graça que Tu planejaste para ser o fim de todos os seus sonhos e de toda a sua dor?

*

COMENTÁRIO:

A ideia que praticamos neste sábado, dia 16 de outubro, estende e complementa a da lição de ontem, tornando-a mais geral e abrangente. Mais ou menos como nos informa, e quer que aprendamos, a introdução a estes exercícios.

Vejamos: "O propósito do livro de exercícios é o de treinar tua mente de forma sistemática para uma percepção diferente de todos e de tudo no mundo. Os exercícios são planejados para te ajudar a generalizar as lições de modo que compreendas que cada uma delas é igualmente aplicável a todos e a tudo o que vês" [LE-in.4].

Há algum tempo ouvi, em um diálogo de um filme a que assisti, o seguinte: "A história de nossa vida, afinal, não é nossa vida. É apenas nossa história".

E por que me lembrei disto? Porque, se pensarmos bem, prestando bastante atenção ao fato de que cada um vê o mundo a partir de uma ótica muito particular, intransferível, veremos, compreenderemos até, e seremos capazes de juntar a ideia das práticas de hoje a esta frase do filme. E mais, aplicar a ideia a todos e a tudo.

Por exemplo: lembremo-nos de um trecho de uma das músicas de Almir Sater, que diz: "Cada um de nós compõe a sua história e cada ser, em si, carrega o dom de ser capaz, e ser feliz". A música se chama Tocando em frente e acho que vale a pena ouví-la com atenção. Abaixo um dos muitos link para uma das versões que se pode encontrar na web.

http://www.youtube.com/watch?v=ncHhIxr_jc4

Ora, se "cada um de nós compõe a sua história" e "carrega o dom de ser capaz, e ser feliz", para que precisamos do passado?

No fim-de-semana do feriado prolongado - 9 e 10 de outubro - estivemos num segundo encontro de família, em Curitiba. Um encontro de filhos, netos, bisnetos, trinetos e parentes de meus avós pelo lado materno. Um encontro que reuniu cerca de setenta pessoas para compartilhar histórias, comidas e bebidas. Para dividir a alegria de saber-se vivo, para repartir o amor e a gratidão para com todos que, de um modo ou de outro, fizeram e continuam a fazer parte e a construir a história de nossas vidas. Um encontro marcado pela alegria e pelo amor, por mais estranho e incrível que pareça.

Porém, em que família humana não casos de mágoas, de ressentimentos por coisas que aconteceram há muitos e muitos anos? Ou por coisas que ainda estão acontecendo? Em que família não há uma série de dramas pessoais, encenados por uns e outros, que precisam ser trabalhados, trazidos à consciência e superados para que a história possa seguir em frente?

Como seria, pois, um encontro desse tipo, se apenas um dos participantes se apresentasse para reavivar, em si mesmo ou nos outros, feridas, mágoas e dores, presentes ou passadas? É óbvio que o resultado não seria outro senão o da divisão, da separação e do desamor. Tudo o que não se quer em um encontro como este. O que não aconteceu em nosso caso, graças a Deus.

Tudo o que passou não existe mais. E precisamos, mais do que apenas aprender, ser gratos por isto. Daí a razão para que o Curso nos ofereça a ideia de hoje para as práticas. Porque enquanto não abandonarmos o passado, vamos carregá-lo como um fardo sobre nossos ombros. E não seremos capazes de "compreender a marcha, ir tocando em frente", lembrando ainda da música.

Perdoem-me pelo comentário tão longo, com conversas a respeito de filmes, músicas e encontros de família. Assuntos, assim, aparentemente tão desencontrados. Não posso, porém, em função disto, deixar de pensar nele, no jagunço Riobaldo, que, a certa altura da "estória", alerta seu interlocutor para seu jeito de contar, dizendo que:

"A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa... Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras, de recente data."

Faz sentido?

4 comentários:

  1. oi Mouss... eu adoro quando voce fala de musica, filmes e familia, alias eu vi as fotos desse encontro no face do Ema, achei tudo simplesmente lindo, aquela casa/fazenda (nao sei bem), mto linda e aconchegante, tinha uma faixa que dizia "Bem vindo ao 2 encontro da familia Salles & Sales", mto churrasco, chimarrao, musica, a Cleide lindissima, os seu filhos reunidos, nossa eu achei td tao lindo, me senti la, uma paz, uma alegria, mto abencoado esse encontro!! Parabens!!!
    Obrigada por compartilhar essa alegria!!
    Eu peco a Deus e ao Espirito Santo para me guiar por um caminho feliz!!Porque muito pouco eu sei, eu nada sei ...
    Bjsss

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  2. Ola, Moises,
    Muitas vesses quando ligo para a minha mae, ela faz muita referencia ao passado, e coisas que a fez "sofrer". Em uma de nossas ultimas conversas foi exatamente isso. Ela chorou muito, revivendo um fato "sonhado". Fiquei calma a o escuta-la. Ela continou... e so senti uma necessidade de - ouvi-la. Entao ao final perguntei a ela: Qual eh a importancia que este acontecimento teve no passado, e qual eh seu verdadeiro significado hoje? Por que essa "necessidade" de voltar a esses fatos hoje? Porque que eh que voce quer vivencia-los hoje? Que gratificacao, complemento, sentimento, isso lhe traz? Sei que essas perguntas nao so estavam sendo feitas a ela como tambem para mim, pois sei a minha responsabilidade hoje em relacao ao que se passa com o meu irmao, eh algo que criei, entao porque continuo querendo viver essas memorias.Qual eh a parte da licao que ainda tenho que redescobrir?
    Entao acredito que so eh vivendo o hoje, olhando as experiencias pelo o que elas sao, absorvendo cada instante, estando realmente presente e vendo, aceitando o nosso compromisso eh quando nao teremos mais esta " necessidades de voltar ao passado".
    Entao tenho que lembrar amim e ao meu irmao:
    " O passado acabou. Nao pode me tocar."
    Como eh que algo que nao existe, nunca teve existencia, nunca tera, pode nos fazer ser tao limitados?... Eh so olhar o vazio, e ver quanta bobagem criamos... sorrir, sorrir com agradecimento, pois tudo eh parte deste sonho e so cabe a nos " compreender a marcha, ir tocando em frente".
    Bjs. Luz

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  3. Oi, Duda, querida...

    Obrigado por suas palavras, por seu carinho e por participar de nossas conversas, enriquecendo nossa experiência ao dividir conosco suas impressões, dúvidas e entendimentos.

    Lembe-se de que não há necessidade de pedir nada a Deus, nem ao Espírito Santo, basta reconhecer que já temos tudo e que tudo está a nossa disposição para usarmos como melhor nos aprouver.

    Basta querermos e escolhermos fazer tudo de acordo com a orientação do Espírito Santo de Deus em nós para que nosso caminho seja pontilhado de alegria, de paz, de amor e de felicidade.

    Isto é "compreender a marcha [e] ir tocando em frente". Não esquecendo de agradecer por tudo o que se apresenta. Sempre. A todo momento.

    Beijos, querida.

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  4. Viva, viva, Sania, que legal ter você de volta por aqui...

    Pois é como você diz: "como é que algo que não existe pode nos fazer ser tão limitados"? Na verdade não é "o algo que não existe", uma vez que quando nós o vemos, ou o trazemos à mente, ele passa a existir. É nossa escolha de ver de modo diferente que pode produzir a mudança necessária. A mudança que vai nos devolver a posse de nosso próprio destino. Que só nós mesmos podemos governar, mesmo neste mundo.

    A questão é que, na maior parte do tempo, estamos distraídos de nós mesmos. Isto é, vivemos com o "piloto automático" ligado e deixamos as coisas "rolarem" por si sós, sem nos darmos conta de que, ao fazê-lo, estamos abrindo mão de nosso privilégio de escolher o que queremos. Passamos, assim, a acreditar que, de fato, existe algo fora de nós e que este algo pode influenciar nossa vida.

    Em geral, é nosso apego às coisas do mundo e do tempo que nos impede de ver, que nos impede de exercer nossa capacidade de escolha. E, iludidos pelo mundo de ilusão do ego, nos acreditamos fracos, impotentes. E permitimos que as lembranças de um tempo que já passou, o passado, continue a nos influenciar e a provocar todas as emoções que sentimos ao vivenciar uma situação qualquer.

    Quando trazemos o passado à mente, tudo o que vivemos lá se torna presente mais uma vez e, se deixarmos, vamos experimentar de novo todo o sofrimento, toda a dor, toda a raiva e toda a gama de sensações que tivemos na ocasião.

    No entanto, como o Curso diz, "isso não precisa ser assim". Para olhar para o mundo e para as coisas do mundo de forma diferente, é preciso, sim, "compreender a marcha [e] ir tocando em frente". Sem se deixar enredar por quaisquer emoções e sensações que nos desviem da alegria, do amor e da paz.

    Obrigado por dividir suas questões, experiência e entendimentos conosco.

    Paz e bem!

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