domingo, 19 de dezembro de 2010

Que sabemos, pois, do amor de Deus?

LIÇÃO 353

Meus olhos, minha língua, minhas mãos, meus pés têm
Uma única finalidade hoje: serem oferecidos a Cristo
Para serem usados para abençoar o mundo com milagres.

1. Pai, hoje dou tudo o que é meu a Cristo, para ser usado de qualquer maneira que sirva melhor ao objetivo que compartilho com Ele. Nada é só meu, pois Ele e eu temos um objetivo comum. Assim, o aprendizado quase chega ao fim estabelecido para ele. Trabalho com Ele mais um instante para atender a Seu objetivo. Em seguida me abandono em minha Identidade e reconheço que Cristo não é senão o meu Ser.

*

COMENTÁRIO:

A ideia que praticamos neste domingo, dia 19 de dezembro, está relacionada ao que chamamos de amor. Está relacionada também ao que o ensinamento chama de entrega, que se pode considerar a única forma verdadeira de amor. Isto é, entregar-se à vida, ao Ser, ao Espírito Santo, a Deus, é viver, de fato, na prática, o que sabemos e falamos do amor na teoria.

Vamos, pois, falar um pouquinho deste amor e aproveitar para comentar a contribuição dada por nossa querida colega Dani em 17 de dezembro, referindo-se ao comentário e à lição 350, do dia 16 de dezembro. Em sua primeira carta aos Coríntios, São Paulo se refere ao amor da seguinte forma [estou usando uma versão do Novo Testamento que faz parte de uma publicação intitulada A Bíblia na Linguagem de Hoje]:

"Eu posso falar as línguas dos homens, e até a dos anjos, mas se não tiver amor, o que eu falo será como o barulho do gongo ou o som do sino. Posso ter o dom de anuncia mensagens inspiradas, ter todo o conhecimento, entender todos os segredos, e ter toda a fé necessária para tirar as montanhas de seus lugares; mas se não tiver amor, eu não serei nada. Posso dar tudo o que tenho, e até entregar o meu corpo para ser queimado; mas se eu não tiver amor, isso não me adianta nada.

"O amor é paciente e bondoso. O amor não é ciumento, nem orgulhoso, nem vaidoso. Não é grosseiro, nem egoísta. Não se irrita, nem fica magoado. O amor não se alegra com o mal dos outros, e sim com a verdade. O amor nunca desanima, mas suporta tudo com fé, esperança e paciência.

"O amor é eterno. Há mensagens inspiradas, mas durarão pouco. Existem dons de falar em línguas estranhas, mas acabarão logo. Há conhecimento, mas terminará também. Porque nossos dons de conhecimento e nossas mensagens inspiradas existem somente  em parte [isto é, separadas]. Mas quando vier o que é perfeito, então desaparecerá o que existe em parte [isto é, a separação desaparecerá e só ficará a unidade da perfeição].

"Quando eu era menino, a minha maneira de falar, de sentir e de pensar era de menino. Agora que já sou homem, não tenho mais essas maneiras se menino. O que agora vemos é como uma imagem confusa num espelho, mas depois veremos face a face. Agora conheço somente em parte, mas depois conhecerei completamente, assim como sou conhecido por Deus.

"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor. Porém o maior destes é o amor."

Na verdade, nós nos acostumamos a uma visão romântica do amor, que o apresenta como alguma coisa cheia de contradições, algo que, diferentemento do Amor de Deus, do qual nada sabemos, traz consigo o oposto de si mesmo, como se pode ver no famoso Soneto de Camões, musicado juntamento com trechos do carta de aos Corintios, por Renato Russo há alguns anos. Diz Camões:

Amor é fogo que arde sem se ver;/ É ferida que dói e não se sente; / É um contentamento descontente;/ É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer; / É um solitário andar por entre a gente;/ É nunca contentar-se de contente;/ É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;/ É servir a quem vence, o vencedor;/ É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor/ Nos corações humanos amizade,/ Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

É claro que falamos como homens e mulheres, tanto nós, quanto São Paulo e Camões. E nem de longe temos uma pálida ideia do que seja viver no amor, ou talvez a experimentemos vez ou outra em algum "instante santo", ao nos percebermos livres da percepção, entregues por completo àquele estado que se pode chamar de comunhão. Um estado que a maioria de nós é capaz de lembrar de ter experimentado (mesmo que apenas por um instante) "a sensação de que tudo no mundo estava exatamente como deveria estar".

Nesse estado somos o "Eu sou", o Inominável, o Indizível, pois estamos entregues ao Ser, ao divino em nós, ao Amor que é eterno e que dura para sempre. Nesse estado entendemos o que o ensinamento quer dizer quando diz "tu não precisas fazer nada".

Por fim, para não estender mais este comentário tão longo [desculpem-me], resta lembrar, a partir do comentário da Dani, o que se diz a respeito da sabedoria de Shakespeare, que cunhou a expressão "Ser ou não ser? - eis a questão". Há quase que uma unanimidade em se considerar o escritor inglês um iluminado, dada sua tão profunda compreensão do drama humano nesta existência tão ilusória, mas que se apresenta quase que como a única realidade que somos capazes de perceber durante a maior parte de nossas vidas.

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