sábado, 29 de outubro de 2011

Aprender a virtude de seguir a harmonia da Via


LIÇÃO 302

Onde havia trevas eu vejo a luz.

1. Pai, nossos olhos se abrem enfim. Teu mundo sagrado nos espera, uma vez que nossa visão é devolvida finalmente e podemos ver. Pensávamos que sofríamos. Mas tínhamos nos esquecido do Filho que Tu criaste. Agora vemos que as trevas são a nossa própria imaginação, e que a luz existe para olharmos para ela. A visão de Cristo transforma as trevas em luz, pois o medo tem de desaparecer quando o amor chega. Permite que eu perdoe Teu mundo sagrado hoje, a fim de eu poder olhar para a santidade dele e compreender que ela apenas reflete minha própria santidade.

2. Nosso Amor nos espera enquanto seguimos em direção a Ele e anda ao nosso lado indicando o caminho. Ele não falha em nada. É Ele o Fim que buscamos e é Ele o Meio pelo qual vamos a Ele.

*

COMENTÁRIO:

A ideia para as práticas deste sábado, dia 29 de outubro, remete mais uma vez à oração de São Francisco, de que falamos há pouco, conforme eu disse no ano passado. Não lhes parece? Em particular, se pusermos atenção, daquela parte em que ele diz "onde houver trevas que eu leve a luz".

É o que me parece e, como já disse antes, certamente poderíamos usar a oração para ampliar e estender o alcance da ideia de hoje, usando-a sempre nos momentos em que nos parecer que "as trevas" da mágoa, da dor, do ressentimento, da raiva e do desamor estiverem a ponto de se apresentar em nosso dia. Pois, se formos capazes de ver a luz  e de trazê-la à consciência, compartilhando-a com o mundo, para substituir as trevas, será porque decerto já aprendemos, de algum modo, em alguns momentos, a ser uma presença de luz no mundo. Ou ainda não?

Repetindo parte do comentário do ano passado, é preciso que tomemos consciência de que continuaremos a andar nas trevas, enquanto ainda nos debatermos com todas as atividades e ideia mundanas, envolvendo-nos e nos deixando envolver pelos equívocos que nos mostram as ilusões que resultam de nossa percepção. Enquanto reagirmos às interpretações do que vemos, em lugar de olhar calmamente para aquilo que se apresenta, seja ele o que for, reconhecendo-o como resultado de uma escolha que nós mesmos fizemos, acolhendo-o, aceitando-o e agradecendo por se ter apresentado da forma que se apresentou, ainda estaremos andando nas trevas. Isto equivale a dizer que ainda não sabemos diferenciar aquilo, em nós, que responde à Voz do Espírito Santo daquilo que responde à voz equivocada do falso eu. E que escolhemos ouvir a voz do falso eu em lugar de dar ouvidos à Voz por Deus.


Não sabemos nada. E muitas vezes - a maioria delas - nos esquecemos de que há Algo em nós que é o que somos verdadeiramente. E que é a partir deste Algo que podemos tomar as decisões que vão nos levar em direção da alegria e da paz. Se escolhermos ouví-Lo sempre, em lugar de dar ouvidos ao falso eu. Ou, como diz Francis Utéza, em livro que leio no momento, apoiando-se na sabedoria do Tao: "Pretender dar o tom... é ir contra a virtude que consiste em seguir a harmonia da Via, apoiando-se nela para ser seu agente. O verdadeiro poder consiste no desaparecimento do eu, e não em sua exaltação". 


Para que possamos mudar este estado em nós mesmos, lembremo-nos de praticar no silêncio, abrindo-nos para a Voz por Deus. Podemos nos valer, para reforçar a ideia que praticamos, da Oração de São Francisco, como já falei acima e podemos também utilizar uma oração de Thomas Merton, que me parece trazer em si as palavras certas para a manifestação concreta daquilo que é, no fundo, o maior anseio que trazemos.


Ela diz:


Esta será a minha solidão: estar separado de mim mesmo para que seja capaz de amar somente a Ti, para amar-Te tanto assim, que já não percebo que eu esteja amando algo. Pois uma tal percepção implica a consciência de um eu separado de Ti. Eu não desejo mais ser eu mesmo, mas encontrar a mim mesmo transformado em Ti, de modo que não ha eu mesmo mas somente Tu. Isto é, quando serei o que Tu quiseste fazer de mim desde toda a eternidade: não eu mesmo, mas Amor. Deste modo se cumprirá em mim, conforme Tu queres que seja cumprida, Tua razão para a criação do mundo e de mim dentro dele.

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