quarta-feira, 9 de março de 2011

Aprendendo a questionar tudo o tempo inteiro

LIÇÃO 68

O amor não guarda mágoas.

1. Tu, que foste criado pelo amor igual a ele mesmo, não podes guardar mágoas e conhecer teu Ser. Guardar uma mágoa é esquecer quem és. Guardar uma mágoa é ver a ti mesmo como um corpo. Guardar uma mágoa é permitir que o ego governe tua mente e condenar o corpo à morte. Talvez ainda não percebas inteiramente de forma clara o que exatamente guardar mágoas faz a tua mente. Guardar mágoas parece separar-te de tua Fonte e te tornar diferente d'Ele. Faz-te acreditar que Ele é igual ao que te tornaste, pois ninguém pode pensar em seu Criador como diferente de si mesmo.

2. Excluído de teu Ser, que permanece ciente de Sua semelhança a Seu Criador, teu Ser parece dormir, enquanto a parte de tua mente que tece ilusões em seu sono parece estar desperta. Tudo isso pode surgir de guardar mágoas? Oh, sim! Pois aquele que guarda mágoas nega que foi criado pelo amor, e seu Criador se torna assustador para ele em seu sonho de ódio. Quem pode sonhar com o ódio e não ter medo de Deus?

3. É tão certo que aqueles que guardam mágoas redefinirão Deus a sua própria imagem, quanto é certo que Deus os criou iguais a Si Mesmo e os definiu como parte de Si. É tão certo que aqueles que guardam mágoas sentirão culpa, quanto é certo que aqueles que perdoam acharão paz. É tão certo que aqueles que guardam mágoas se esquecerão de quem são, quanto é certo que aqueles que perdoam se lembrarão.

4. Não estarias disposto a abandonar tuas mágoas, se acreditasses que isso é verdade? Talvez não imagines que podes abandonar tuas mágoas. Isto, no entanto, é simplesmente uma questão de motivação. Hoje tentaremos descobrir como te sentirias sem elas. Se fores bem-sucedido, mesmo que por muito pouco, nunca mais haverá um problema de motivação novamente.

5. Começa o período de prática mais longo de hoje pela busca em tua mente daqueles contra quem guardas o que consideras serem tuas principais mágoas. Será bem fácil achar algumas delas. Em seguida, pensa nas mágoas aparentemente sem importância que guardas contra aqueles de quem gostas ou mesmo pensas amar. Bem depressa ficará claro que não há ninguém contra quem não nutras algum tipo de mágoa. Isto te deixa sozinho em todo o universo em tua percepção de ti mesmo.

6. Decide-te agora a ver todas essas pessoas como amigas. Dize a todas elas, pensando em cada uma por vez ao fazê-lo:

Quero te ver como meu amigo, para poder me lembrar
de que és parte de mim e vir a conhecer a mim mesmo.

Passa o tempo restante do período de prática pensando em ti mesmo como perfeitamente em paz com todos e com tudo, a salvo em um mundo que te protege e te ama, ao qual amas de forma recíproca. Tenta sentir a segurança te envolvendo, pairando sobre ti e te sustentando. Tenta acreditar, ainda que por pouco tempo, que nada pode te ferir de forma alguma. No final do período de prática, dize a ti mesmo:

O amor não guarda mágoas. Quando eu abandonar todas
as minhas mágoas, saberei que estou em perfeita segurança.

7. Os períodos de prática mais breves devem incluir uma rápida aplicação da ideia desta forma, toda vez que surgir algum pensamento de mágoa contra alguém, fisicamente presente ou não:

O amor não guarda mágoas. Que eu não traia meu Ser.

Além disso, repete a ideia várias vezes por hora desta forma:

O amor não guarda mágoas. Quero despertar para meu Ser
deixando de lado todas as mágoas e acordando n'Ele.

*

COMENTÁRIO:

Como disse no ano passado ao comentar esta lição, a ideia para as práticas nesta quarta-feira de cinzas, dia 9 de março, nos leva a refletir a respeito do auto-engano em que queremos nos esconder e com o qual pensamos proteger nossa sanidade, quando dizemos não guardar mágoas de ninguém, como se fôssemos capazes de viver em perfeita paz e harmonia com tudo e com todos no mundo. Ilusão de onipotência do ego, que busca se mostrar superior a, ou melhor do que, outros egos com quem repartimos nosso estar-no-mundo.

Isso seria maravilhoso, se acreditássemos ser possível viver assim no mundo. Porém, em geral, não vemos nenhuma possibilidade de tal modo de viver e desconfiamos de qualquer um que aparentemente não fique magoado quando alguém lhe prega uma peça ou faz qualquer coisa com a intenção de magoá-lo.

Estamos tão acostumados a reagir às pessoas, coisas e situações no mundo, que nos esquecemos de que o que conta verdadeiramente é a ação que deriva de nossa profunda reflexão acerca da melhor maneira de lidar com determinado acontecimento quando é preciso que tomemos alguma atitude ou decisão a respeito de algo que pode afetar o rumo de nossa vida e de todos que participam de nosso convívio.

Um livro que leio no momento fala de Sócrates, o grande filósofo grego, que não se deixava enganar pela ideia de saber alguma coisa. Afirmava a todos o tempo todo, melhor dizendo, insistia em afirmar a todos que o procuravam que não sabia nada e que nada tinha a ensinar. Tudo o que ele fazia era questionar-se e questionar a tudo o tempo inteiro, instando a que todos fizessem o mesmo, levando-os à conclusão de que tudo o que pensavam saber era apenas ilusão.

Seu preceito era o de que não há certezas sobre as quais nos basearmos. Pois, quando pensamos ter certeza de algo, nossa tendência natural é a de que nos acomodarmos. Acomodados deixamos de prestar atenção às coisas verdadeiramente importantes para nos ocuparmos apenas da ilusão de que há algo a que valha a pena se apegar no mundo, de que o mundo contém algum valor que possa durar para sempre. 

Cultivar uma atitude como a de Sócrates, que permite que se duvide de tudo, é a que pode nos impedir de guardar mágoas, como diz a ideia que praticamos hoje. Pois tal atitude vai nos permirtir perceber que há sempre algo de que reclamar, sempre existe algo de que podemos nos queixar na vida, em algum momento. Isto é, há sempre alguma coisa que ficaria melhor, em nosso entender, se passasse por esta ou aquela modificação. Mas será que são as coisas que têm de mudar? As coisas não são todas neutras? O próprio mundo não é neutro?

Como disse também no ano passado, sempre temos em mente uma necessidade de mudança em uma ou outra pessoa dentre aquelas com quem convivemos. Ou alguém consegue se lembrar de alguma pessoa com quem convive a quem aceita inteiramente como é o tempo inteiro? Sem julgá-la, ou a nenhum de seus atos, comportamentos e atitudes. Sem uma pontinha de mágoa por alguma coisa que ela lhe fez em algum momento?

É importante, pois, mais uma vez, que dediquemos toda a atenção possível às práticas da ideia de hoje da forma que o exercício sugere. Para aprendermos de que forma vai ser possível descobrir um jeito de mudar nosso modo de ver, para mudar nossa percepção, entregando-a aos cuidados do Espírito Santo, para que Ele nos ensine a ver de modo diferente.

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