sábado, 12 de maio de 2018

Se quisermos ser livres, precisamos liberar o mundo


LIÇÃO 132

Libero o mundo de tudo o que eu pensava que ele fosse.

1. O que mantém o mundo preso a não ser tuas crenças? E o que pode salvar o mundo exceto teu Ser? A crença é, de fato, poderosa. Os pensamentos que tens são poderosos e os efeitos das ilusões são tão fortes quanto a verdade. Um louco imagina que o mundo que ele vê é real e não duvida dele. Ele também não pode ser influenciado pelo questionamento dos efeitos de seus pensamentos. É só quando se coloca em questão a fonte de seus pensamentos que a esperança de liberdade finalmente vem para ele.

2. No entanto, consegue-se a salvação com facilidade, pois todos são livres para mudar sua maneira de pensar e todos os seus pensamentos mudam com ela. Nisto, desloca-se a fonte dos pensamento, pois mudar a maneira de pensar significa que mudaste a fonte de todas as ideias que tens ou tiveste alguma vez ou que ainda terás. Tu libertas o passado daquilo que pensavas antes. Tu libertas o futuro de todos os pensamentos antigos de busca daquilo que não queres achar.

3. Agora, o único tempo que sobra é o presente. Aqui, no presente, o mundo se liberta. Pois, quando permites que o passado desapareça e liberas o futuro de teus medos antigos, achas a saída e a dás ao mundo. Tu escravizas o mundo com todos os teus medos, tuas dúvidas e sofrimentos, tuas dores e lágrimas; e todos os teus pesares exercem pressão sobre ele e o mantêm prisioneiro de tuas crenças. A morte o surpreende em todos os lugares, porque conservas pensamentos cruéis de morte em tua mente.

4. O mundo em si mesmo não é nada. Tua mente tem de dar significado a ele. E o que vês sobre ele são teus desejos traduzidos de modo que possas olhar para eles e pensar que são reais. Talvez tu penses que não fizeste o mundo, mas que vieste contra a vontade para aquilo que já estava feito, dificilmente esperando que teus pensamentos lhe dessem significado. Entretanto, na verdade, encontraste exatamente aquilo que procuravas quando chegaste.

5. Não há nenhum mundo separado daquilo que desejas e nisto está tua liberação suprema. Muda simplesmente tua forma de pensar a respeito do que queres ver e todo o mundo tem de mudar em consequência disto. As ideias não deixam sua fonte. Se quiseres compreender a lição para hoje, tens de ter em mente este tema fundamental, que se afirma várias vezes no texto. Não é o orgulho que te diz que fizeste o mundo que vês e que ele muda na medida em que mudas tua maneira de pensar.

6. Mas é o orgulho que sustenta que vens a um mundo bem distinto de ti mesmo, refratário àquilo que pensas e bem distante daquilo que te aventuras a pensar que ele é. Não há nenhum mundo! É esta a ideia básica que o curso tenta te ensinar. Nem todos estão prontos para aceitá-la e cada um tem de ir tão longe quanto pode se permitir ser conduzido ao longo da estrada em direção à verdade. Ele recuará e irá ainda mais longe ou talvez dê um passo atrás por algum tempo e, depois, volte mais uma vez.

7. Mas a cura é a dádiva para aqueles que estão preparados para aprender que não há nenhum mundo e que podem aceitar a lição agora. A prontidão deles lhe levará a lição de alguma forma que podem compreender e reconhecer. Alguns a veem de repente à beira da morte e se levantam para ensiná-la. Outros a encontram na experiência que não é deste mundo, que lhes mostra que o mundo não existe porque o que veem tem de ser a verdade e, não obstante, contradiz claramente o mundo.

8. E alguns a encontrarão neste curso e nos exercícios que fazemos hoje. A ideia de hoje é verdadeira porque o mundo não existe. E, se ele é, de fato, tua própria fantasia, então podes liberá-lo de todas as coisas que já pensaste que ele era simplesmente substituindo todos os pensamentos que lhe deram estas aparências. Os doentes se curam quando abandonam todos os pensamentos de doença e os mortos ressuscitam quando permites que pensamentos de vida substituam todos os pensamentos de morte que já tiveste.

9. Uma lição anterior repetida uma vez tem de ser enfatizada novamente, pois ela contém o alicerce inabalável para a ideia de hoje. Tu és como Deus te criou. Não existe nenhum lugar aonde possas sofrer e nenhum tempo que possa trazer alteração a tua condição eterna. Como pode existir um mundo de tempo e espaço, se continuas a ser como Deus te criou?

10. O que a lição de hoje é a não ser outro modo de dizer que conhecer teu Ser é a salvação do mundo? Libertar o mundo de todo tipo de dor é apenas mudar tua forma de pensar a teu próprio respeito. Não há nenhum mundo independente de tuas ideias porque as ideias não deixam sua fonte e tu manténs o mundo no interior de tua mente em pensamento.

11. Porém, se tu és como Deus te criou, não podes pensar separado d'Ele, nem criar nada que não compartilhe Sua intemporalidade e Amor. O amor e a intemporalidade são inseparáveis de mundo que vês? O mundo que vês cria como Deus? A menos que o faça, ele não é real e não pode existir em absoluto. Se tu és real, o mundo que vês é falso, pois a criação de Deus é diferente do mundo em todos os aspectos. E como foste criado a partir dos Pensamentos d'Ele, também foram teus pensamentos que criaram o mundo e que têm de libertá-lo a fim de que possas conhecer os Pensamentos que compartilhas com Deus.

12. Libera o mundo! Tuas criações verdadeiras esperam por esta liberação para te dar a paternidade, não de ilusões , mas como Deus na verdade. Deus compartilha Sua Paternidade contigo que és Seu Filho, pois Ele não faz nenhuma distinção entre aquilo que é Ele Mesmo e aquilo que também é Ele Mesmo. Aquilo que Ele criou não está separado d'Ele e em nenhum lugar o Pai termina e o Filho começa como algo separado d'Ele.

13. Não há nenhum mundo porque ele é um pensamento separado de Deus e feito para separar o Pai e o Filho e separar uma parte do Próprio Deus e, assim, destruir Sua Integridade. Um mundo que venha desta ideia pode ser real? Pode existir em algum lugar? Nega as ilusões, mas aceita a verdade. Nega que és uma sombra depositada por um breve instante sobre um mundo agonizante. Libera tua mente e olharás para um mundo livre.

14. Nosso objetivo, hoje, é libertar o mundo de todos os pensamentos inúteis que já tivemos a respeito dele e a respeito de todas as coisas vivas que vemos nele. Elas não podem existir. Nem nós. Pois nós estamos no lar que nosso Pai estabeleceu para nós juntamente com elas. E nós, que somos como Ele nos criou, queremos liberar o mundo de cada uma de nossas ilusões neste dia, para podermos ser livres.

15. Começa os períodos de quinze minutos em que praticamos duas vezes hoje com isto:

Eu, que continuo a ser como Deus me criou quero liberar o mundo
de tudo o que pensei que ele fosse. Pois eu sou real porque o mundo
não é e quero conhecer minha própria realidade.

Em seguida, descansa simplesmente, atento mas sem nenhum esforço, e deixa que tua mente mude em paz, para que o mundo seja libertado junto contigo.

16. Não precisas perceber de forma clara que a cura vem tanto para muitos irmãos do outro lado do mundo quanto para aqueles que vês por perto, à medida que irradias estes pensamentos para abençoar o mundo. Mas sentirás teu próprio alívio, embora ainda não possas compreender por completo que nunca poderias ser liberado sozinho.

17. Ao longo do dia, aumenta a liberdade enviada por tuas ideias a todo o mundo e, sempre que fores tentado a negar o poder da simples mudança de tua maneira de pensar, dize:

Eu libero o mundo de tudo o que pensei que ele fosse
e escolho minha própria realidade em vez disto.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 132

"Libero o mundo de tudo o que eu pensava que ele fosse."

Eis aqui, mais uma vez, a lição que pode nos salvar - a cada um de nós - e salvar o mundo inteiro ao mesmo tempo, se praticada, aprendida e aplicada. Aliás, conforme eu já disse várias outras vezes e como todos nós sabemos, o Curso afirma que qualquer uma das ideias que ele oferece, se praticada, aprendida e aplicada é suficiente para a salvação de cada um de nós e, por extensão, para a salvação de todos. Esta, particularmente, pode fazer que se abram mais rapidamente todas as portas de cada uma das prisões que inventamos para viver.

Pois, ela começa por perguntar:

O que mantém o mundo preso a não ser tuas crenças? E o que pode salvar o mundo exceto teu Ser? A crença é, de fato, poderosa. Os pensamentos que tens são poderosos e os efeitos das ilusões são tão fortes quanto a verdade. Um louco imagina que o mundo que ele vê é real e não duvida dele. Ele também não pode ser influenciado pelo questionamento dos efeitos de seus pensamentos. É só quando se coloca em questão a fonte de seus pensamentos que a esperança de liberdade finalmente vem para ele.

Esta é uma das lições mais poderosas que já praticamos. Ela leva a nos perguntarmos o que nos impede de ser livres. O que nos prende ao mundo a não ser o apego às crenças que desenvolvemos, a ideias às quais nos aferramos, aos valores que damos às coisas do mundo e aos juízos [julgamentos] que fazemos de nós mesmos, do mundo, das pessoas e de tudo o que aparentemente vemos nele?
 
Libero o mundo de tudo o que eu pensava que ele fosse.

É isto que precisamos aprender a fazer: liberar o mundo de tudo aquilo que pensamos que ele é a cada instante e cada vez mais. Pois não é o mundo que nos mantém prisioneiros. Na verdade, nós é que o aprisionamos e, por consequência, nos fazemos prisioneiros dele e de tudo o que há nele, em função de um julgamento que não queremos abandonar. Achamo-nos sabedores da verdade e de tudo o que é preciso fazer para que o mundo seja um lugar melhor para se viver. Mas não fazemos nenhum movimento para ser a mudança que queremos ver no mundo. Será que sabemos, então, o que é melhor para ele? Não será isso pura onipotência egoica? 

Elio D'Anna diz: "o mundo é assim [como é, ou como o vês], porque tu és assim, e não o contrário". 

Isto é, é nossa forma de pensar e de ver o mundo, de pensar e de ver a nós mesmos que materializa o mundo de ilusões que vemos, porque cada um o vê de um modo diferente. Quer dizer, há tantos mundos quanto são as pessoas que pensam viver nele. Daí o Curso afirmar: "não há mundo". Só aquele que cada um de nós traz dentro de si mesmo.

A lição continua:

No entanto, consegue-se a salvação com facilidade, pois todos são livres para mudar sua maneira de pensar e todos os seus pensamentos mudam com ela. Nisto, desloca-se a fonte dos pensamento, pois mudar a maneira de pensar significa que mudaste a fonte de todas as ideias que tens, ou tiveste alguma vez, ou que ainda terás. Tu libertas o passado daquilo que pensavas antes. Tu libertas o futuro de todos os pensamentos antigos de busca daquilo que não queres achar.

Agora, o único tempo que sobra é o presente. Aqui, no presente, o mundo se liberta. Pois, quando permites que o passado desapareça e liberas o futuro de teus medos antigos, achas a saída e a dás ao mundo. Tu escravizas o mundo com todos os teus medos, tuas dúvidas e sofrimentos, tuas dores e lágrimas; e todos os teus pesares exercem pressão sobre ele e o mantêm prisioneiro de tuas crenças. A morte o surpreende em todos os lugares, porque conservas pensamentos cruéis de morte em tua mente.

Precisamos, de fato, aprender a liberar o mundo de tudo aquilo que pensamos a respeito dele. Precisamos dar a liberdade a ele para podermos ser livres e viver em mundo livre. Tudo o que precisamos aprender está aqui, na ideia desta lição, que praticamos hoje. Nela está toda a salvação. A nossa - de cada um - e a do mundo inteiro. Ou pensam que existe uma forma melhor de salvar o mundo do que livrá-lo dos pensamentos julgadores de qualquer tipo que impusemos a ele? Ao liberar o mundo, fico livre. Pois nada mais me prende a ele. E nem eu o mantenho mais aprisionado em minha percepção equivocada.
 
Libero o mundo de tudo o que eu pensava que ele fosse.

Com isso, aprendo que:

O mundo em si mesmo não é nada. Tua mente tem de dar significado a ele. E o que vês sobre ele são teus desejos traduzidos de modo que possas olhar para eles e pensar que são reais. Talvez tu penses que não fizeste o mundo, mas que vieste contra a vontade para aquilo que já estava feito, dificilmente esperando que teus pensamentos lhe dessem significado. Entretanto, na verdade, encontraste exatamente aquilo que procuravas quando chegaste.

Não há nenhum mundo separado daquilo que desejas e nisto está tua liberação suprema. Muda simplesmente tua forma de pensar a respeito do que queres ver e todo o mundo tem de mudar em consequência disto. As ideias não deixam sua fonte. Se quiseres compreender a lição para hoje, tens de ter em mente este tema fundamental, que se afirma várias vezes no texto. Não é o orgulho que te diz que fizeste o mundo que vês e que ele muda na medida em que mudas tua maneira de pensar.

Mas é o orgulho que sustenta que vens a um mundo bem distinto de ti mesmo, refratário àquilo que pensas e bem distante daquilo que te aventuras a pensar que ele é. Não há nenhum mundo! É esta a ideia básica que o curso tenta te ensinar. Nem todos estão prontos para aceitá-la e cada um tem de ir tão longe quanto pode se permitir ser conduzido ao longo da estrada em direção à verdade. Ele recuará e irá ainda mais longe ou talvez dê um passo atrás por algum tempo e, depois, volte mais uma vez.

Não é maravilhoso descobrir que podes mudar o mundo a teu bel prazer? Podes torná-lo um lugar para viveres "o sonho feliz", em vez deste lugar em que aparentemente só se constroem pesadelos de dor, culpa, violência, sofrimento e morte. 

E o que precisas fazer? 

Abandonar o orgulho que sustenta que vens a um mundo bem distinto de ti mesmo, refratário àquilo que pensas e bem distante daquilo que te aventuras a pensar que ele é

É o ego quem tenta te fazer acreditar que é humildade acreditar que não tens nenhum poder sobre o mundo e que teus pensamentos não o alteram, nem o podem mudar de forma alguma.
 
Libero o mundo de tudo o que eu pensava que ele fosse.

Não há razão alguma para manteres o mundo aprisionado. Isto não te traz nenhum benefício. Ao contrário, isto te afasta da alegria, que é a Vontade de Deus para ti. Porque, como o Curso pergunta: quem é mais prisioneiro, a pessoa que está atrás das grades, ou seu carcereiro?

Libera o mundo, praticando a ideia de hoje da maneira que a lição orienta que o faças. Isto vai te dar a liberdade. Isto vai permitir que sejas aquilo que quiseres e que és, sem receio algum de qualquer coisa, sem medo do que ninguém possa dizer a teu respeito. Isto é, as práticas de liberar o mundo, vão fazer com que te libertes para ser expressão e manifestação do divino em ti. Viverás o Céu na terra. Experimentarás a alegria e a paz perfeitas e completas que são a Vontade de Deus para ti, e para todos nós.

Isto é cura. 

Às práticas?

*

ADENDO:

Jornada num tempo sem tempo (ou viagem de volta no tempo?)

2017. Maio, dia 12: De Villafranca del Bierzo a Vega de Valcarce (18 km)

Uma observação ainda relativa à caminhada de ontem. Em Fuentes Nuevas, reencontrei Edward, o americano que encontremos Lincoln e eu no segundo dia. Ontem, ele caminhava com um grupo de pessoas. Nós nos reencontramos depois, no albergue San Nicolás.

Saio de Villafranca quinze minutos depois das sete. Chovia e chovia. Sem café. Vi Marcel um pouco a minha frente, logo que sai do povoado. Ele andava rápido e logo sumiu. Pensei em fazer uma parada no primeiro povoado, Pereje, mas chovia demais. Era meio que impossível parar. 

No segundo povoada, Trabadelo, dei uma breve parada apenas para ajustar a mochila que começava a me incomodar. E chovia, chovia, e chovia.

Ao consultar o guia, percebi que faltavam apenas oito quilômetros para Vega de Valcarce. Decidi ir em frente, então. E chovia.

Por volta das dez horas, pareceu que ia haver uma trégua. Não. Só chuva e mais chuva e mais chuva. Passavam um pouquinho das dez e meia quando cheguei a Vega. Muito cedo. Tudo estava ainda "cerrado".  Parei num restaurante que oferecia acomodações. Fechado. Segui. Outro um pouco adiante. "Cerrado", só após as doze horas, me diz a pessoa que está à porta.

E chove.

Vejo placas indicando de uma pensão: Pension Fernandes. As placas dizem estar "Abierto". Vou para lá. "Cerrado". Mas há um cabeleireiro ao lado e uma moça me socorre. Liga para a dona da pensão que diz a ela para me fazer entrar pela cozinha e esperar por ela, que já vem, chega em cinco minutos.

Espero. Inteiramente molhado, para variar. Bebo água. Muita água. Aí ela chega: Tania. E me pede para aguardar que ela vai arrumar um quarto. Depois de algum tempo de espera, ela me chama. Faz o meu registro, cobra e me indica o quarto de número 5.

Estou molhado, cansado e com frio. Tiro toda a roupa molhada. Vou para o banho. Depois de me aquecer, de  roupas secas, vou ver os estragos da chuvarada. Tenho de pôr tudo para secar. Espero que seque. Depois de espalhar tudo o que há para secar, é hora de sair para acabar com o jejum. Parece que sou o único peregrino que vai ficar por aqui. 

Pergunto a Tania onde posso comer e ela me indica o "Las Rocas". Chego lá vinte minutos depois do meio dia. E descubro que a cozinha só abre à uma e meia. Peço uma "caña" - cerveja - e resolvo esperar. No balcão do bar. 

Chegam alguns fregueses, locais, deduzo, porque o proprietário já serve a cada um um tipo de bebida diferente sem que eles precisem pedir. Aí, entra outro local e pede uma "caña" e pergunta quanto custa a bebida de todos, inclusive a minha. O dono conversa com ele, tentando dissuadi-lo, mas ele não se rende e paga a bebida para todos, inclusive para mim.

E puxa conversa. Diz que nós, peregrinos, somos bem-vindos. Conta que fez o Caminho em 1989. E não havia albergues, então. Pedia-se às pessoas nos povoados se se podia dormir em um canto qualquer aqui e ali. As pessoas ofereciam comida, leite. Havia muito mais cuidado com o peregrino, muito mais "cariño".

Hoje em dia, diz ele, "money, money, money". É claro que cada um faz seu caminho desde que é plantado como uma pequena semente no ovário de sua mãe. E há muitos caminhos. Reclama que, entre todos os povos que fazem o Caminho, só os indianos não vêm. A gente vai até a Índia ver o Taj Mahal e descobrir caminhos por lá. Um ponto turístico. Uma beleza. E os convida para virem ver a beleza de Compostela. Quê? Bueno! Dá de ombros. 

O proprietário do local sai. Para buscar o filho na escola, descubro depois. Pago as "cañas" - pedira outras enquanto conversava com o espanhol. Aí, a mulher do proprietário, que ficou atendendo no lugar dele, me diz que posso sentar à mesa. E escolher o que quero comer. Já estamos no horário de começar o serviço de almoço. Também aqui há o menu do peregrino. Escolho uma salada - maravilhosa - e uma "ternera a la plancha" - um bife de carne de gado grelhado muito bom. E a sobremesa: "tarta de queso". Delícia. Vinho e água...

Volto à pensão.

Há um recado de Anna no whatsapp dizendo que ela e Natália tencionam parar aqui também e querem que eu verifique se há lugar para elas. Desço e pergunto a Tania, que confirma e faz a reserva. Confirmo para Anna. Elas estão perto, a cerca de pouco mais de quatro quilômetros. Almoçam em Ambasmestas, o último povoado antes de Vega.

Volto ao quarto e apago. Durmo quase duas horas, o que é um perigo para o sono da noite. Acordo com Anna perguntando via whatsapp se já sei onde vou ficar n'O Cebreiro amanhã.

Elas já chegaram. Ela vem falar comigo. Diz que Natália capotou. Estão ambas muito cansadas. A chuva. Pergunta se eu já não pensei em desistir. Minto que não, mas hoje mesmo pensei nisso. E depois pensei: - Puxa, já andei mais de 600 quilômetros, vou desistir agora, faltando tão pouco?

Conversamos um pouquinho mais e ela diz que vai aproveitar que o banheiro está livre para tomar um banho.

Saio para ver se acho um lugar para comprar sacos plásticos para embalar algumas coisas e protegê-las da chuva dentro da mochila, mas recomeça a chover. E não há nada a vista.

Há ainda que lembrar que, logo depois de Trabadelo, eu vinha atrás de um grupo de pessoas, meio que seguindo com eles e descobri que eles estavam indo na direção errada. Fizemos uma subida de quase 500 metros e tivemos de voltar.

Enfim, depois da tarde inteira sem fazer praticamente nada, toca dormir. Desci por alguns instantes para ver se havia horário para o café e conheci mais um brasileiro - Rogério, de Santos, que está fazendo o caminho junto com sua mulher, Silvana. Ele tirou 30 dias de férias. E tem de voltar dia 21. Começou em St. Jean, dia 26, mas pulou a parte de Burgos até León. Disse que eles têm feito cerca de 30 quilômetros por dia, em função do curto prazo que têm para finalizar. Ele me ofereceu e meio que me fez comer um sanduíche que pão e queijo que havia comprado. Sua mulher dorme porque está muito cansada e com os pés cheios de bolhas.

Despeço-me e lhe desejo uma boa noite e uma boa caminhada amanhã.



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