sexta-feira, 25 de maio de 2018

Abrir a porta ao contato com a verdade do que somos


LIÇÃO 145

Minha mente contém só o que penso com Deus.

(129) Além deste mundo há um mundo que eu quero.

(130) É impossível ver dois mundos.

*

COMENTÁRIO: 

Antes de nos debruçarmos sobre as ideias para a revisão de hoje, antes da exploração de cada uma delas, vamos voltar nossa atenção mais uma vez por alguns instantes para uma questão a respeito da dor e de sua realidade, postada há dois anos por nosso colega e companheiro de jornada, David, ao comentar a respeito da lição 142 e da anterior, e de seus comentários. 

Óbvio é que, para a maioria de nós, estudantes do Curso, como o próprio David reconhece, quase todas as nossas experiências dizem respeito na maior parte do tempo à ilusão de que vivemos num mundo [se não estivermos vivendo a experiência de um "instante santo", se não estivermos no aqui e agora, inteiramente imersos no momento presente]. Neste mundo que, se pensarmos bem, só pode ser ilusório, uma vez que ele não bate em praticamente nenhuma de suas características com qualquer mundo em que viva qualquer uma das cerca de 8 bilhões de pessoas que o dividem conosco. Ou haverá algo comum no mundo que pensamos viver com qualquer outro mundo em que viva algum de nossos semelhantes, nossos contemporâneos, hoje? Com o mundo em que vive David, por exemplo? 

Numa tentativa de resposta, o que posso dizer é que a experiência da dor, David, como toda e qualquer outra experiência que se apresenta em nossa vida é também uma escolha que fazemos. Seja ela uma dor física, em função de uma doença, ou de um acidente, seja ela uma dor psicológica, uma angústia, uma depressão, ou outra qualquer do gênero. 

É claro que ela é "real", por assim dizer, para quem a sente. No entanto, se já aprendemos que somos nós que criamos e construímos o mundo e as experiências que queremos viver nele, certamente seremos capazes de assumir 100% da responsabilidade por tudo o que acontece em nossa vida. É isso que pode nos dar a possibilidade de fazer escolhas diferentes, quando os resultados das que fizemos nos afastam da alegria, que é nossa condição natural. 

Então, David e colegas, a dor pode acontecer e ser inevitável em algum momento em nossa vida. Porém, não podemos nos identificar com ela, podemos escolher não transformá-la em sofrimento, acreditando em sua terrível realidade e nos deixando abater por ela. Ela, na verdade, não tem nunca nenhum poder, a não ser aquele que damos a ela. 

Ramana Maharshi, que faz parte mais uma vez deste comentário logo abaixo, passou os últimos longos anos de sua vida no corpo, acometido de uma doença que causaria uma dor insuportável dia após dia a qualquer ser humano comum, não desperto. No entanto, pelo que dizem os que o conheceram e escreveram sobre ele ao longo dos anos, ele nunca se queixou em momento algum. Espero que estas observações lhe sirvam de algum auxílio, David, e fique à vontade para continuar a conversa, se achar necessário. 

Vamos, então, à exploração da nossa lição de hoje. Mantenho o título dado à postagem no ano passado, por julgar que ele é pertinente com a questão do David.


Explorando a LIÇÃO 145

"Minha mente contém só o que penso com Deus."

Além deste mundo há um mundo que eu quero.

É impossível ver dois mundos.

As ideias que revisamos hoje são a sequência natural das ideias da revisão de ontem. Abrem nova porta para entrarmos em contato com a verdade a respeito do que vemos a partir da percepção do corpo e dos sentidos. Permitem que nos debrucemos sobre nossas escolhas para refletir a respeito do que nos mantém presos a este mundo. O que há nele que ainda queiramos? A que estamos apegados? 

São as práticas com estas duas ideias que podem explicar e nos fazer ver a razão pela qual não há nada que, de fato, queiramos neste mundo. Ele não é verdadeiro. Pelo menos não da maneira como o percebemos.

Elas também servem para assegurar que não nos sintamos perdidos em um mundo que é apenas fruto de uma ilusão da percepção equivocada. Uma percepção que tem por ponto de partida a crença na possibilidade de uma existência separada daquilo que somos verdadeiramente e, por consequência, separada de Deus e apartada de todas as manifestações d'Ele.

A segunda das ideia de nossa revisão de hoje, ao garantir que não é possível ver dois mundos, nos assegura a existência de apenas um mundo verdadeiro: aquele que está além do que vemos na ilusão e que é o que queremos.

E, mais uma vez - para nos lembrarmos -, o que o Curso nos pede não é que desistamos deste mundo, mas que o troquemos por um mundo muito mais satisfatório, mais pleno de alegria. Um mundo que pode nos oferecer a paz. Para tanto, basta escolhermos mudar nossa forma de pensar a respeito deste mundo que vemos. Como todos já aprendemos, não há nada a mudar fora de nós. Só dentro.

Precisamos nos lembrar também de que o mundo que vemos apenas reflete nossa forma de pensar, que, por sua vez, é influenciada por nossas crenças, para se tornar o reflexo de nossa escolha do que queremos ver. É só a partir de um ponto de vista equivocado que podemos pensar em mundo no qual possam existir o ódio e o amor ao mesmo tempo.

As práticas ensejam a mudança na forma de pensar, de que precisamos para limpar nossa consciência do auto-engano a que nos induz o sistema de pensamento do falso eu, em que este mundo de ilusões se baseia.

Às práticas, pois! 

DUAS OBSERVAÇÕES:

Se tudo correu como planejado em minha caminhada a Santiago, devo estar chegando a Compostela hoje, que é o dia de meu aniversário, quer dizer a data em que se comemora minha chegada a este mundo de ilusões. Será que vai ser possível fazer um comentário qualquer desde lá?

Espero que sim.

A segunda observação é uma sugestão: quem puder - e quiser, é claro - procure ver o comentário de nossa colega, Cida, feito a esta lição no ano passado. Como um exemplo do que é possível fazer com a dor.

*

ADENDO:

Jornada num tempo sem tempo (ou viagem de volta no tempo?)

2017. Maio, dia 25: Santiago de Compostela

Como se pode ver, em relação à primeira das observações acima, deu certo! Duplamente! Cheguei a Santiago, pela primeira vez, como relatado antes, no dia 19. E, no dia 24, ontem, pela segunda vez, para comemorar meu aniversário de 65 anos, em Santiago. Hoje!

Acordo cedo, para variar. E saio da "Pensión" por volta das sete e meia. Vou até a frente da Catedral e vejo a chegada de alguns peregrinos, enquanto espero por Lincoln, Azevedo e seus amigos. Uma vez que ele havia dito que só chegaria por volta das nove e meia, resolvo tomar o café-da-manhã num bar próximo que está abrindo.

Volto, logo depois, para a frente - na verdade os fundos - da Catedral, que é o caminho que fazem os peregrinos. Duas mulheres me chamam a atenção. Percebo que são brasileiras quando comentam a necessidade de sair do lugar em que estavam sentadas porque passa um caminhão lavando a rua.

Elas mudam de lado e eu também. Após a passagem do caminhão, elas voltam ao ponto inicial aonde batia sol. Ainda está um pouco frio à sombra.

Em seguida, um homem aparece com seus apetrechos para fazer o papel de estátua de Gandhi. Prepara tudo a meu lado, alonga por algum tempo e se posta na passagem. Peço a uma delas para tirar um foto minha ao lado do "Gandhi estátua" e ouço a outra chamá-la de Isabel. Pergunto, então: - Você é Isabel, esposa de Lincoln?

Era. Aí nos apresentamos. A outra se chama Lila, e é mulher de Délio, um dos amigos que Lincoln e Azevedo esperaram e encontraram, conforme combinado, em Ponferrada para fazerem juntos o restante do Caminho. O último do quarteto se chama Gladston.

Quando, após a foto, a "estátua" comenta que aquele era seu trabalho, e que era preciso pôr uma moeda em seu cestinho logo à frente  - o que eu estava me preparando para fazer - e ouve que somos brasileiros, arremata que era comum que brasileiros não pagassem pela foto. Gandhi era um português-alemão, nascido na Alemanha.

Mais tarde um pouquinho, por volta das dez, chegam Lincoln, Délio, Azevedo e Gladston. Encaminham-se para a escada do prédio em frente à saída da Catedral, que é onde nos encontramos, e Lincoln recebe um banho de água mineral. O acordo entre eles era que o banho fosse de vinho, mas como logo após a missa ele e Isabel viajam para Portugal - Porto - Lisboa - Faro -, onde vão encontrar a filha, optaram pela água.

Em seguida, vamos para a fila da Compostelana. Consigo lá comprar a passagem de trem para Madri, para amanhã às 12:10 horas, com escala - troca de trem - em Orense. A previsão de chegada a Madri é às 17:54 horas. 

Feitos todos os trâmites, os quatro com a posse devida de sua Compostelana, vamos de novo assistir à missa do peregrino. Igreja lotada, com direito a Coral, bota-fumeiro e, de novo, a bênção.

Não consegui, conforme o combinado, encontrar Lincoln, Isabel e Délio e Lila na saída da missa. Creio que, devido ao tempo escasso deles, eles devem ter saído direto para o hotel, onde uma taxista conhecida deles, que os levaria diretamente ao Porto, já devia estar esperando.

Fomos, então, almoçar apenas nós três: Gladston, Azevedo e eu.

Uma delícia de almoço. Pago por eles, como presente de aniversário. Obrigadíssimo. 

Ao sair do restaurante, passamos pelos Correios, onde Gladston tinha ficado de pegar sua mochila, antes de eles irem para o hotel. Aí, eu acabei comprando uma caixa-padrão para acondicionar os bastões. Despedimo-nos, eles seguiram para o hotel, que não era longe. Combinamos de nos encontrar no mesmo ponto do encontro da manhã, entre seis e meia e sete horas.

Volto, mais uma vez, à pensão. Escovar os dentes, arrumar algumas coisas, se bem que não adianta tentar arrumar nada, a não ser na hora de ir para a estação de trens.

Descanso um pouco e saio de novo, por volta das cinco e meia. Vou até as lojas. Compro mais algumas medalhinhas, pulseirinhas, enquanto espero o tempo passar. Volto ao ponto de encontro. Ainda não chegaram. Sigo pela rua olhando as vitrines das lojas. Não encontro nada que possa agradar a meu filho, Victor.

Desço de volta ao ponto de encontro. Estão lá. Já tinha feito algumas compras, mas querem voltar a uma loja em que passaram anteriormente aonde acharam que tudo era mais barato. Vamos. Compro uns colares com o símbolo do Caminho e mais um copinho para cachaça, para um amigo.

Na sequência paramos num bar, Gladston e eu, enquanto Azevedo vai até o hotel deixar as sacolas com as compras que eles fizeram. Uma canã, duas cañas! Azevedo volta. Uma caña para ele. E vamos atrás de um restaurante para jantar.

Gladston quer uma coisa leve. Entramos num. A opção foi uma mariscada. Leve? Azevedo optou por uma "racione" de "pulpo a Gallega".

Após o jantar, já quase dez horas, voltamos à praça Campo das Estrelas (que, na verdade não é o Campo Stellae. É a denominação de um prédio ligado à Igreja, ou ao museu, ou à Universidade de Santiago, não sei). A praça Campo das Estrelas fica em outro ponto da cidade, de acordo com o mapa.

Na praça Quintana (?) rola um show de uma banda galega. Muito boa. Está no fim. Assim que a banda sai, entra uma segunda. Uma banda a cujo ensaio, ou passagem de som, assisti à tarde. Fantástica. Maravilhoso. Um showzaço para encerrar as festividades que comemoraram meus 65 anos.

Aí, a despedida. E 'bora pra vida.

Vou dormir perto da uma e meia da madrugada.

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