quarta-feira, 9 de maio de 2018

A meta a se escolher é viver a sintonia com o divino


LIÇÃO 129

Além deste mundo há um mundo que eu quero.

1. Esta é a ideia que se segue à que praticamos ontem. Tu não podes te limitar à ideia de que o mundo é inútil, pois, a menos que vejas que há alguma coisa mais para se esperar, só ficarás deprimido. Nossa ênfase não está na desistência do mundo, mas na troca dele por aquilo que é muito mais satisfatório, pleno de alegria e capaz de te oferecer paz. Pensas que este mundo pode te oferecer isto?

2. Talvez valha a pena pensar mais uma vez por um breve momento a respeito do valor deste mundo. Talvez admitas que não há nenhuma perda em se abandonar toda a ideia de valor aqui. O mundo que vês é, de fato, impiedoso, instável, cruel, indiferente a ti, rápido na vingança e implacável em seu ódio. Ele só dá para tirar e afastar todas as coisas que te foram caras por algum tempo. Não se encontra o amor duradouro, pois não há nenhum aqui. Este é o mundo do tempo, aonde todas as coisas acabam.

3. Será uma perda achar, em lugar deste, um mundo no qual seja impossível perder; em que o amor dure para sempre e a vingança não tenha nenhum significado? Será perda encontrar todas as coisas que realmente queres e saber que elas não têm fim e que continuarão a ser exatamente como as queres ao longo do tempo? Não obstante, até mesmo elas serão finalmente trocadas por aquilo de que não podemos falar, pois tu vais, daí, a um lugar onde as palavras falham por completo, na direção de um silêncio no qual não se fala uma língua e, contudo, compreende-se com certeza.

4. A comunicação, precisa e clara como o dia, permanece ilimitada por toda a eternidade. E o Próprio Deus fala a Seu Filho, da mesma forma que Seu Filho fala com Ele. A linguagem d'Eles não tem palavras, porque o que Eles dizem não pode ser representado por meio de símbolos. O conhecimento d'Eles é direto e totalmente compartilhado e totalmente uno. Quão distante disto estás, tu, que permaneces preso a este mundo. E, todavia, quão próximo estás, quando o trocas pelo mundo que queres.

5. Agora o último passo é certo; agora, estás a um instante da intemporalidade. Aqui só podes olhar para frente, nunca para trás, para ver de novo o mundo que não queres. Eis aqui o mundo que vem para tomar o lugar dele, quando libertas tua mente das ninharias que o mundo apresenta para te manter prisioneiro. Não dês valor a elas e elas desaparecerão. Valoriza-as e elas te parecerão reais.

6. A escolha é esta. Que perda pode haver para ti em escolher não valorizar o nada? Este mundo não tem nada que realmente queiras, mas aquilo que escolhes em seu lugar tu, de fato, queres! Deixa que ele te seja dado hoje. Ele espera apenas por tua escolha para tomar o lugar de todas as coisas que buscas mas não queres.

7. Pratica tua vontade para fazer esta troca dez minutos pela manhã e à noite, e mais uma vez no intervalo entre uma e outra. Começa com isto:

Além deste mundo há um mundo que eu quero. Escolho ver aquele
mundo em vez deste, pois aqui não há nada que eu realmente queira.

Em seguida, fecha os olhos sobre o mundo que vês e na escuridão silenciosa observa as luzes que não são deste mundo se acenderem uma a uma, até que o lugar onde uma começa e a outra termina perca todo o significado enquanto elas se fundem numa só.

8. Hoje, as luzes do Céu se inclinam em tua direção, para brilhar sobre tuas pálpebras enquanto descansas além do mundo da escuridão. Eis aqui a luz que teus olhos não podem ver. E, no entanto, tua mente pode vê-la com clareza e pode compreender. Hoje te é dado um dia de graça e nós agradecemos. Percebemos claramente neste dia que o que temias perder era apenas a perda.

9. Agora, de fato, compreendemos que não existe perda. Pois, finalmente, vimos o oposto dela e estamos gratos porque a escolha foi feita. Lembra-te de tua decisão a cada hora e reserva um instante para confirmar tua escolha, deixando de lado quaisquer pensamentos que tenhas e dando ênfase, por um breve instante, apenas a isto:

O mundo que vejo não tem nada que eu queira.
Além deste mundo há um mundo que eu quero.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 129

"Além deste mundo há um mundo que eu quero."

É quase que bastante óbvio pensar, como eu já disse antes e como o Curso ensina, que, se este mundo não tem nada que eu queira, tem de haver um mundo que pode me dar o que quero. Um mundo que eu queira. É assim que vamos começar a lição de hoje:

Esta é a ideia que se segue à que praticamos ontem. Tu não podes te limitar à ideia de que o mundo é inútil, pois, a menos que vejas que há alguma coisa mais para se esperar, só ficarás deprimido. Nossa ênfase não está na desistência do mundo, mas na troca dele por aquilo que é muito mais satisfatório, pleno de alegria e capaz de te oferecer paz. Pensas que este mundo pode te oferecer isto?

É também, talvez, quase óbvio, para alguns e/ou algumas de nós, que se este mundo pudesse oferecer aquilo que queremos, não viveríamos as insatisfações, as incertezas, as dúvidas e os sobressaltos que ele nos oferece. Não viveríamos com medo do que pode acontecer no próximo instante, daqui a pouco, amanhã ou no futuro. Aliás, se pensássemos que este mundo pode nos dar qualquer coisa que queiramos, nós o viveríamos no presente. Saberíamos deixar de levar em consideração quaisquer coisas acontecidas no passado e não nos preocuparíamos com nada do que pudesse vir a acontecer de agora em diante. 

Pois, na verdade, a partir do que se pode ler no "A Escola dos Deuses", de Elio D'Anna, livro que já mencionei aqui, e que li no ano passado, aquilo que vemos à volta de nós... a aparente realidade externa a nós é sempre o passado, como o Curso também afirma. [Lembram das lições iniciais? Há uma, a sétima, que nos ensina e nos leva a praticar a ideia: "Eu só vejo o passado".] Aquilo a que chamamos de presente, na realidade, não é uma transmissão ao vivo. Aquilo que vemos e tocamos, os eventos que podemos jurar que acontecem neste exato momento são estados registrados tempos atrás. Para poderem acontecer, receberam nosso consentimento em outra dimensão no mundo do ser, em nossos estados. São frutos de uma escolha que fizemos no tempo. Uma escolha que se materializa, como projeção de nossos pensamentos, também no tempo, que, na verdade, não existe.

A lição continua:

Talvez valha a pena pensar mais uma vez por um breve momento a respeito do valor deste mundo. Talvez admitas que não há nenhuma perda em se abandonar toda a ideia de valor aqui. O mundo que vês é, de fato, impiedoso, instável, cruel, indiferente a ti, rápido na vingança e implacável em seu ódio. Ele só dá para tirar e afastar todas as coisas que te foram caras por algum tempo. Não se encontra o amor duradouro, pois não há nenhum aqui. Este é o mundo do tempo, aonde todas as coisas acabam.

Sabemos disso o tempo todo, mesmo que o neguemos a maior parte de tempo. Independente do apego que temos a certas coisas ou pessoas do mundo, ou mesmo a ideias, sabemos que tudo aqui é transitório e não vai durar. É por isso que a ideia para as práticas de hoje nos traz a possibilidade de estendermos o alcance de nossos anseios para além daquilo que é passageiro. Uma ideia que nos leva ao contato - ou à possibilidade dele -, nem que apenas por um breve instante, com aquilo que somos na verdade, em Deus. 

Como o Curso diz a respeito do mundo e do que pensamos experimentar nele, e como também podemos ler em Elio D'Anna e em muitos outros autores e mestres comprometidos com a verdade, estendendo a ideia de que falava acima, os fatos e acontecimentos são estados de ser solidificados, tornados visíveis pelo tempo. Enquanto os assistimos e somos envolvidos por eles, podemos acreditar que eles estão se verificando diante de nossos olhos, podemos ter a ilusão de que são novos e de que acontecem pela primeira vez; na realidade, são apenas a projeção de um estado de ser de nosso passado, que se repete com apenas algumas pequenas variações. 

Além deste mundo há um mundo que eu quero.

Apesar de nossa experiência de vida estar aparentemente ligada a este mundo das formas, que vemos, e que mudam conforme muda nosso olhar, a lição de hoje nos convida a praticar a ideia da existência de um mundo que se situa além deste que vemos. Mais: que é esse mundo, o real e verdadeiro, que ainda não somos capazes de ver, o que, de verdade, queremos.

E pergunta:

Será uma perda achar, em lugar deste, um mundo no qual seja impossível perder; em que o amor dure para sempre e a vingança não tenha nenhum significado? Será perda encontrar todas as coisas que realmente queres e saber que elas não têm fim e que continuarão a ser exatamente como as queres ao longo do tempo? Não obstante, até mesmo elas serão finalmente trocadas por aquilo de que não podemos falar, pois tu vais, daí, a um lugar onde as palavras falham por completo, na direção de um silêncio no qual não se fala uma língua e, contudo, compreende-se com certeza. 

O que de fato te prende a este mundo? Há nele alguma coisa, pessoa ou ideia, sem a qual absolutamente não podes viver? Pensa um pouco. Reflete um pouco. Já passaste pela experiência de acreditar que determinada coisa era imprescindível e já não a tens. Ou pela experiência de crer, em algum momento de tua vida, que não seria possível viver sem a companhia daquela pessoa, e já não convives com ela. 

Além deste mundo há um mundo que eu quero.

E nele:

A comunicação, precisa e clara como o dia, permanece ilimitada por toda a eternidade. E o Próprio Deus fala a Seu Filho, da mesma forma que Seu Filho fala com Ele. A linguagem d'Eles não tem palavras, porque o que Eles dizem não pode ser representado por meio de símbolos. O conhecimento d'Eles é direto e totalmente compartilhado e totalmente uno. Quão distante disto estás, tu, que permaneces preso a este mundo. E, todavia, quão próximo estás, quando o trocas pelo mundo que queres.

Mas como fazer esta troca? De acordo com o Curso, não precisas fazer nada. Basta que te rendas à Presença de Deus em tua vida, reconhecendo-a em ti, em tudo e em todos. Abandonando todas as coisas que exigem a presença de um "eu" separado de todos os outros. Abandonando toda ideia de "meu", "minha", abrindo-te às dádivas que Deus te dá e que são verdadeiramente dadas porque são eternas. "Fazendo" como Joel Goldsmith, que declara em um de seus livros: "Eu não penso em minha vida; eu observo Deus em ação".

Precisas tomar a decisão. Precisas estabelecer a meta de viver a verdade em sintonia com o divino, a partir da sintonia com o Espírito Santo em ti. E, mais do que apenas estabelecer a meta, vivê-la.  

Tomada a decisão

Agora... 

... o último passo é certo; agora, estás a um instante da intemporalidade. Aqui só podes olhar para frente, nunca para trás, para ver de novo o mundo que não queres. Eis aqui o mundo que vem para tomar o lugar dele, quando libertas tua mente das ninharias que o mundo apresenta para te manter prisioneiro. Não dês valor a elas e elas desaparecerão. Valoriza-as e elas te parecerão reais.

É isto que basta: a tomada de decisão. Lembra-te, porém, de que a decisão tem de ser tomada a cada passo, a cada instante, a cada fração de segundo e a cada segundo, a cada minuto e tem ser renovada o tempo todo,

Isto é o que nos oferecem as práticas, a oportunidade de renovar a tomada de decisão dia a dia, passo a passo, sem desistir jamais de viver o mundo que queremos, em lugar deste mundo que não oferece nada do que queremos.

Sigamos, pois, o restante das orientações que a lição reserva para nossas práticas, certos de que a ideia hoje vai nos fazer entender melhor as experiências por que passamos. Principalmente se já formos capazes de entender que todas elas sempre se apresentam a partir de uma escolha que fazemos ou fizemos, individual ou conjuntamente. Uma escolha que sempre podemos mudar, quando e se aceitamos a responsabilidade pela experiência que o mundo nos apresenta, acolhendo-a e sendo gratos por ela se ter apresentado da maneira que for.

Aprendamos, portanto, com as práticas deste dia a agradecer por tudo o que recebemos e por tudo o que vivemos, para alcançar a certeza de que "todas as coisas cooperam para o bem". E de "que tudo está [sempre, em qualquer momento em que olhamos para o mundo] absolutamente certo da forma como está". Nem poderia ser diferente. Se ainda não somos capazes de ver assim, é porque ainda não aprendemos a escolher de modo diferente, a olhar para o mundo de modo diferente. Acima de tudo, porque ainda acreditamos que há, ou que pode haver, alguma coisa de valor neste mundo. 

Às práticas?


*

Um adendo e uma pequena reflexão a respeito dele:

Num dos anos passados, nossa colega Cida Guimarães, compartilhou o seguinte como comentário [dei uma pequenina editada] a esta lição:

Esse mundo que eu quero tem cores, perfume, harmonia, é manifestado na multiplicidade da Natureza. Para sintonizar nele é preciso "purificar", limpá-lo de todas as toxidades impostas por uma vida distante do que é natural. Um bom começo é cuidarmos com carinho da nossa alimentação. O curso diz que há um "Deus" no nosso interior. Então, vamos nos alimentar oferecendo para Ele tudo que é saudável, vivo e simples. Tudo que ele mesmo nos oferece: frutas, verduras, legumes e sementes. Deixar de intoxicar nosso "Deus" com alimentos cheios de agrotóxicos, industrializados, com açúcar e gordura, alcool, etc. Nossas células, livres de tudo isso, têm possibilidade de voltar a funcionar divinamente e de nos ajudar a encontrar o caminho de volta. Conectar-nos com o belo da Natureza, com sua simplicidade e seus mistérios. Cultivar uma planta, acompanhando o seu crescimento, da semente até o desabrochar da plantinha. São caminhos concretos que nos levam para estágios mágicos da vida verdadeira. O divino está aí a cada momento. Vamos nos pôr em sintonia com essa dimensão sempre. 


*

Preciso aqui, antes de entrar na reflexão que quero que façamos, lembrar a vocês que os comentário são sempre bem-vindos, pois são eles que nos oferecem a sempre nova possibilidade de entrarmos em contato com partes de nós com as quais ainda não estamos familiarizados e que podem revelar - e muitas vezes revelam, de fato - crenças que temos e que nos limitam.

Vamos refletir por uns momentos na descrição do mundo que nossa querida Cida diz querer:

É um mundo que tem cores, perfume, harmonia e se manifesta pela multiplicidade e, por que não dizer?, pela diversidade da natureza. Será desse mundo que a lição fala? Ou esse mundo descrito por ela não será apenas uma versão do Paraíso na terra?

O Curso nos pede que questionemos todas as nossas crenças. Pede que sejamos capazes de questionar tudo aquilo que o mundo nos ensinou e continua a ensinar. Daí este exercício.

Como diz Joel Goldsmith em um de seus livros, é fácil para nós pensar que abandonar o julgamento significa deixar de olhar para o que reputamos feio, nocivo, ruim, mau, tóxico e outros adjetivos quaisquer que queiramos dar às coisas que se nos apresentam à experiência. Mais difícil, diz ele, é perceber que as coisas que reputamos boas, agradáveis, gostosas, também são apenas frutos do julgamento.

O Curso ensina que o mundo, este mundo, e tudo o que há nele, é neutro. Então, não há razão para atribuirmos valores - bons ou maus, ou quaisquer outros - a nada que esteja nele. Porque tudo o que há nele não é real. Ou dito de outra forma, não há nada de real nele. Ele, o mundo que vemos fora, é apenas aparência, ilusão. Projeção daquilo que trazemos dentro.

Indo a mais um ponto da descrição de Cida, e finalizando para não me alongar demais, todos nós somos capazes de entender, ou penso que somos, que uma alimentação natural é melhor para o corpo. E aí é que mora o perigo, isto é, aí que está o revelador da crença por trás desta afirmação. Há aí a revelação da crença de que somos o corpo, não é mesmo?

É claro que, na medida em que nos valemos do corpo como o veículo de comunicação de que fala o Curso, será, talvez - mas apenas talvez - mais inteligente dar ao corpo uma alimentação saudável. Mas o que é saudável para um pode não ser para outro. E se pensarmos na variedade de formas de vida que há na Terra, podemos bem entender que o alimento de uma não é adequado para outra. E que muitas formas de vida utilizam outras como alimento. O ser humano não é diferente. A maioria pelo menos não. 

Há algum mal em se cuidar do corpo? Não, claro que não. Pois o que somos não é o corpo. Por outro lado, haverá algum mal em se descuidar do corpo? A resposta obviamente tem de ser também um não. 

Então, aonde eu quero chegar? Não quero chegar a lugar nenhum. Só estou ponderando que aquilo que dizemos e que é revelador de nossas crenças precisa ser olhado sempre com atenção. 

Não sei se o mundo que Cida descreve é o mundo que queremos, nem mesmo sei se ela, de fato, acredita que ele é o mundo que ela quer. Ou se ela acredita que o mundo real e verdadeiro seja mesmo assim. Este exercício de reflexão é apenas uma forma de provocar o questionamento. 

Uma vez que, como o Curso nos pede para praticar numa de suas lições, "eu sou espírito", haverá mesmo uma natureza harmônica no mundo que queremos? Haverá necessidade de alimentação saudável ou não? Haverá corpos?

Pensemos, pois.

*

ADENDO:

2017. Maio, dia 9: De Astorga a Foncebadón (25,6km)

Saio de Astorga por volta das oito horas, considerando uma parada para um café básico num restaurante/bar logo que passo pela Catedral, que está no caminho de saída e na direção que devo andar. Tomo um suco de laranja, como um torrada com geleia de morango e um "americano" - café grande sem leite. Vejo que há uma brasileira comendo ovos fritos e que sai antes de mim. Não a conheço, mas não falo com ela. 

Uma saída normal, tranquila. Logo à frente encontro Jonathan e Pedro, seu pai, com mais outras duas pessoas, Helena, uma moça, e um rapaz cujo nome não peguei. Jonathan me pergunta até onde tenciono ir. Quando lhe responde que pretendo parar em Foncebadón, ele me recomenda um albergue cujo nome não anoto, mas que - descubro ao chegar - não existe.

Até Rabanal de Camino anda-se bem, apesar de se subir dos 868 metros de altitude de Astorga aos 1150 metros de Rabanal, o terreno é plano e não se sente tanto a subida. O tempo está nublado, com sol, mas não faz calor.

Os últimos quase seis quilômetros até Foncebadón, porém, são de suar o bigode. Uma subida de praticamente 300 metros. Demoro mais de hora e meia para fazê-la. Chego a Foncebadón, que está a 1440 metros de altitude, por volta das 14 horas. Procuro o tal albergue indicado e nada. Nem nas placas ele aparece. Jonathan havia desaconselhado o municipal porque é frio, disse, e não tem calefação.

Encaminho-me, então, na direção do albergue "La Cruz de Ferro", onde encontro Marcelo. Faço meu registro com Pedro, o "hospitalero", vou para a área das camas e escolho a parte de baixo de um beliche num dos cantos da acomodação: o último. 

Vou, em seguida, para o banho. Após o banho, saio para falar com Marcelo, que chama, pelo telefone, António, que está, com Mayara, no albergue municipal.

Antes de sair de Rabanal, encontrei com Paulo e Nicole. Ele me disseram que tinham reservado mesa para um jantar no restaurante medieval: Gaia, que há em Foncebadón. Digo que tudo bem. Também topo.

Marcelo e eu tomamos uma cerveja, acompanhada por um pacote de grãos torrados que estavam comigo há algum tempo. António chega. Conversamos um pouco. Falamos do jantar, Marcelo também está dentro da reserva. António diz que vai ter de jantar no albergue, porque os peregrinos que estão lá, ele inclusive, ficaram de ajudar a preparar a refeição.

Saímos, então, Marcelo e eu, para explorar Foncebadón, uma cidade deserta até alguns anos atrás, conforme se pode ler nos relatos mais antigos dos peregrinos que fizeram o Caminho. Óbvio que não há muito para se ver, passamos por um restaurante-hotel, que é onde Paulo e Nicole vão ficar. Encontramos um grupo de italianos, que já são conhecidos e que brincam comigo me perguntando se amanhã vou até Sarria, o que implicaria andar mais de 100 quilômetros num dia. 

Hoje em dia, Foncebadón foi revitalizada para atender os peregrinos - fico sabendo disso no jantar. Um grupo de empresários simpatizantes do Caminho, resolveram investir para isso. Aí, construíram-se novos restaurantes, albergues, hotéis e a parada aqui ficou mais agradável, porque, em função da altitude, o lugar é frio e inóspito.

No caminho, passamos por uma área em que há animais: cavalos, burros, carneiros e ovelhas. Umas moças brincam com as ovelhas. Tiramos fotos e continuamos. Encontramos Paulo e Nicole e voltamos ao restaurante onde vamos jantar. Já é hora. Podemos entrar. Somos oito à mesa: Nicole e Vanessa - outra alemã, que conheci com Chris e Adam hoje no primeiro ponto de parada no caminho, quando os encontrei -, Chris, Adam, Marcelo, Paulo, Marcel - um suíço que é militar e músico e tooca instrumentos de sopro: flauta, sax, trompete - e eu. Jonas devia jantar conosco mas dormiu.

Pedimos os pratos, que são enormes, mas peregrino precisa se alimentar bem. Há uma árdua caminhada a nossa espera amanhã. Vejam aí, uma foto nossa no restaurante:

Depois do jantar, satisfeitos, voltamos ao albergue para o sono dos justos.

Há que registrar ainda que lá encontramos Andrea, uma chilena com quem já havíamos cruzado, uma vez. Casada com um argentino, ela vive na Flórida. Ela é muito divertida, extrovertida, fala muito e muito alto. Diz que há muitos brasileiros no caminho.

Ela escolhe um beliche ao lado do meu e diz que vai me avisar se eu roncar à noite.


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