quinta-feira, 24 de maio de 2018

Neste mundo, nada pode satisfazer o desejo do céu


LIÇÃO 144

Minha mente contém só o que penso com Deus.

(127) Não há nenhum amor a não ser o de Deus.

(128) O mundo que vejo não tem nada que eu queira.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 144

"Minha mente contém só o que penso com Deus."

Não há nenhum amor a não ser o de Deus.

O mundo que vejo não tem nada que eu queira.

Revisamos hoje, mais uma vez, duas ideias que, com as práticas, devem servir para reforçar em nossa consciência o fato de que todo amor vem de Deus e o aprendizado de que não há nenhum amor a não ser o d'Ele. Isto é, a partir desta ideia, tudo aquilo que aparentemente não vem d'Ele é ilusão, não existe e não é amor.

A segunda das ideias que praticamos nos convida a reconhecer que o mundo que vemos não tem nada que, de fato, queiramos. Pois, quando paramos para refletir, podemos perceber claramente que, na verdade, tudo o que vemos no mundo é passageiro, é efêmero, e não pode e nem vai durar.

Como também sabemos que nossos anseios mais profundos sempre nos levam em direção ao duradouro, ao eterno, as duas ideias que praticamos servem ainda para ajudar a abrir nossos sentidos, nossas mentes e nossos corações à Voz por Deus, que nos fala interiormente de nosso desejo mais profundo pelo Céu. 

Pois tudo aquilo que passa e pode mudar para atender a nossos desejos, que variam como variam as marés, ou mudam tantas vezes quanto mudamos de roupas todos os dias, não pode, de fato, nos satisfazer. Isto é bastante claro quando pensamos nas coisas todas que já obtivemos e que deixaram de nos interessar depois que foram obtidas, depois de as conseguirmos. Não lhes parece, pois, que isto é uma confirmação de que nada no mundo ou deste mundo pode satisfazer nosso desejo de Céu? Seja Céu o que for para cada um de nós.

Sugiro, pois, que pratiquemos com disposição para nos abrirmos ao amor de Deus em nós, que é a única coisa que existe de verdade. Para aprendermos a renunciar ao mundo, abrindo-nos, deste modo, à eternidade do que somos em Deus, com Ele.

Pois não há como negar a verdade da afirmação de que tudo passa neste mundo. Nada daquilo que vemos dura para sempre. Nem nossos corpos, que também são ideias que fazemos de nós, e não têm realidade em si mesmos, nem nosso olhar, pois, em muitas ocasiões, ao olharmos para uma mesma coisa repetidas vezes, a coisa muda. Mesmo os corpos, que achamos (de modo equivocado) que é o que somos, mudam a cada respiração, a cada interação com outros corpos. 

É por isso que vale praticar com afinco as ideias desta revisão. Elas nos dão mais uma vez a oportunidade de escolher o desapego das coisas do mundo, mesmo que por vezes algumas delas nos pareçam por demais valiosas.

Tudo o que vale realmente é o que somos, além do que pensamos a respeito de nós mesmos, que é apenas uma ideia falsa, uma vez que não somos nem de longe a imagem que fazemos de nós mesmos.

Tudo o que fazemos no mundo é sonhar. 

E como diz Ramana Maharshi: 

"Não há nenhuma diferença entre o estado do sonho e o estado de vigília, exceto que o sonho é curto e a vigília longa. Ambos são o resultado da mente."

Às práticas?

*

ADENDO:

Jornada num tempo sem tempo (ou viagem de volta no tempo?)

2017. Maio, dia 24: De Fisterra a Santiago de Compostela (90 km - de ônibus)

Acordo cedo. Antes da sete. Preciso tempo para arrumar tudo na mochila antes de ir para a estação. Certo!

Chego na estação cerca de meia hora antes, mas já há uma fila de peregrinos. Entro no ônibus e em questão de minutos ele fica lotado. Quem não conseguiu lugar vai ter de esperar o próximo, dez minutos antes do meio-dia. Uau. "O sertão é uma espera enorme". 

A viagem é tranquila. Guardei as botas e calcei os tênis novos. Meus pés e minha coluna doem durante a viagem. Menos de uma hora e meia e estou de volta a Santiago. Vou a pé na direção da Catedral, qual um  peregrino. É renovada a emoção de vê-la, a despeito dos andaimes e tapumes. Sento em uma das laterais, à espera de que algum conhecido passe. Lincoln, talvez, como tinha ficado combinado. 

Nada! Aí vou atrás de algum lugar para ficar. Encontro uma pensão bem perto da Catedral. Duas noites, hoje e amanhã, por 40 euros. Feito. Acertado o registro, subo ao quarto e deixo minhas coisas.

Depois vou até a praça, que é o ponto de encontro dos peregrinos. Nada! Vou até a fila para a retirada da Compostelana. Nada. 

Ao meio-dia, assisti mais uma missa do peregrino, com direito a "bota-fumeiro" e tudo novamente. Em seguida, visitei a tumba do Apóstolo. Tétrico. Ao procurar a saída, dou de cara com Tomiko, a japonesa do primeiro dia, que eu só tinha encontrado uma vez depois num trecho um pouco adiante de Pamplona.

Foi uma grande emoção revê-la. Da parte dela também, pois ela me abraçou com tanta alegria, com tanto carinho e tão espontaneamente, que uma amiga que estava com ela se emocionou a ponto de chorar ao nos ver tão emocionados. Ela tinha chegado há dois dias. Disse a ela que eu já havia passado por ali e que estava voltando da caminhada a Muxia e a Fisterra. Ela disse também pretender ir até lá. Aí nos despedimos, sem despedida. Coisas do caminho.

Um pouco mais tarde, vou em busca de um mapa e de informações sobre as passagens de trens para Madri. em seguida procuro um lugar para almoçar. Paro num restaurante/bar acima das escadarias que dão para o Campo das Estrelas e como uma "paella de mariscos".

Uma vez que o restaurante tem internet com bom sinal, falo com uns e outros e descubro que Lincoln e Azevedo só vão chegar, com os amigos, amanhã por volta das nove e meia. Combino de esperá-los.

Está um calor do cão.

Volto então à pensão para uma "siesta", porque ninguém é de ferro, não? Durmo mais de duas horas. Acordo e me ponho de novo à procura do mapa, que esqueci no restaurante. Agora é a hora de ver/comprar as lembrancinhas...

Na loja oficial da Catedral, tudo muito caro, exceto um livro de receitas da "cocina gallega". Encontro uma loja que vende vários tipos de medalhinhas, mas decido ver se acho uma loja para comprar roupas primeiro. Quero ver se consigo vestir algo diferente do figurino mais ou menos padrão dos peregrinos.

Vou, guiando-me pelo mapa, na direção da Renfe e saio do "Casco Antiguo", na Santiago moderna, outra cidade grande. Ando, ando, ando, e nada. Depois de muito andar, encontro uma loja mas acabo não comprando nada. As calças são todas de modelo justo, justíssimo.

É notável perceber, fora do perímetro da Catedral, que Santiago é uma cidade com vida pulsante, nas ruas, nas praças, nas lojas, bares e restaurantes. Uma vida que aparentemente não está relacionada aos peregrinos ou à peregrinação. Apesar de eu acreditar que, de modo indireto, aqui tudo gira em torno dos peregrinos.

Vou a loja das medalhas. Compro algumas, em número que acho suficiente. Aí já é hora de jantar. Sinto-me um pouco cansado da comidas do menu do peregrino. Opto por um restaurante de comida italiana. Ótimo. Se não o melhor "spaghetti al pesto" que já comi, um dos melhores. Mas com certeza o mais caro. Com direito a cerveja, água, pão e "postre". Valeu cada centavo de euro.

Volto na direção do Campo das Estrelas - uma das praças vizinhas à Catedral. Paro em mais uma lojinha de lembranças. E encontro aí tudo o que eu precisava. 

No Campo das Estrelas vai começar o show "Luis Brea y el miedo". Sento-me na escadaria e assisto a um trecho do espetáculo. Lindo. Mas já passa das dez horas. Hora de peregrino que tem de acordar cedo dormir. 

Apesar de a caminhada se ter encerrado, no sentido de que não há mais, no momento, nenhuma distância de vários quilômetros a ser percorrida a pé, o peregrino e a peregrinação, porém, continuam a existir.

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