quarta-feira, 25 de abril de 2018

Só os equívocos da percepção podem mostrar erros


LIÇÃO 115

Para revisão pela manhã e à noite:

1. (99) A salvação é minha única função aqui.

Minha função aqui é perdoar o mundo por todos os
erros que faço. Pois, deste modo, sou liberado deles
com todo o mundo.

2. (100) Meu papel é essencial ao plano de Deus para a salvação.

Eu sou essencial ao plano de Deus para a salvação
do mundo. Pois Ele me deu Seu plano para que eu
possa salvar mundo.

3. Para a hora:
A salvação é minha única função aqui.

Para a meia hora:
Meu papel é essencial ao plano para salvação.


*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 115

Convido-os, hoje, mais uma vez, como já fiz antes aqui, noutras vezes, a se lembrarem do que diz Eckhart Tolle, a respeito da magnitude de nossa importância - a importância que cada um de nós tem. Diz ele, "você está aqui para possibilitar que o propósito divino do universo se revele. Veja como você é importante!"

Não há desculpas nem justificativas para qualquer um de nós se sentir pequeno ou incapaz. Pois como o Curso diz: "O amor descansa na certeza. Só a incerteza pode ser defensiva. E toda incerteza é dúvida acerca de si mesmo".

Todas as dádivas de Deus estão à disposição de todos e de cada um de nós. Cabe, pois, a cada um de nós - se quisermos viver a experiência da alegria que é a condição natural do filho de Deus - ser a manifestação do divino para mostrar ao mundo o propósito divino do universo.

Por isso, as ideias que revisamos hoje nos oferecem nova chance de aprender que nossa única função neste mundo é a salvação. Alguém acredita que haja um papel mais importante do que este? É claro que não. E, se alguém acha que não tem as condições necessárias para cumprir este papel, está enganado. Redondamente. Está se auto-enganando e se deixando enganar pelo sistema de pensamento do falso eu, a quem o Curso chama de ego, ou de "o grande impostor", e que é apenas uma ideia ilusória que temos de nós. Uma ideia que nem de longe tem a ver com o que somos na verdade.

Na verdade, sabemos, à luz do ensinamento, que o ego não quer que nos acreditemos essenciais ao plano de Deus para a salvação. Ele também não quer que nos saibamos capazes de perdoar o mundo, porque é só a partir da orientação dele - do ego, o falso eu - que podemos condenar o mundo, aprisionando-o numa condição e numa imagem que, de fato, não tem nada a ver com o mundo real, e dando, assim, ao ego, uma realidade que ele não tem.

É por isso que precisamos reconhecer e aceitar nossa a responsabilidade pelo perdão do mundo e de tudo o que há nele, deixando de dar ouvidos ao ego. Pois, quando aprendemos a reconhecer que todos os erros do mundo são apenas equívocos de nossa percepção, pois só estes equívocos é que podem mostrar quaisquer erros, podemos perdoá-lo, pelo perdão que damos a nós mesmos e a nossa própria percepção. E nos salvamos. E salvamos o mundo inteiro, por consequência e extensão, conforme eu disse há pouco em um dos comentários anteriores.

Simples assim! 

Às práticas?

*

ADENDO:

Jornada num tempo sem tempo (ou viagem de volta no tempo?)

2017. Abril, dia 25: De Azofra a Grañon (22km)

Saímos, Alexandre e eu, de Azofra antes das sete. Tina e Márcio que também fizeram sua parada lá saíram mais cedo ainda. Ainda estava escuro.

Logo após sairmos, o caminho bifurca e - problema - não encontramos sinais. Paramos. Duas peregrinas esperaram por nós para ver se sabíamos em que direção seguir.

Alexandre apontou na direção de uma cidade cujas luzes se via à frente, à esquerda de onde estávamos, argumentando que era a única direção lógica a seguir, pois à direita estava tudo escuro, não havia uma única luz à vista. Também não víamos nenhum outro peregrino.

Tocamos em frente. As mulheres voltaram. Lembram da orientação dos que conhecem o caminho? Se você não encontrar nenhuma indicação em quinze minutos de caminhada, volte.

Alexandre, apesar de nenhum sinal à vista, insistiu em seguir porque a cidadezinha estava muito próxima: "impossível não haver indicação". Não havia. Perdemo-nos.

Chegamos a Alesanco, uma cidadezinha a três quilômetros de Azofra, que não faz parte do roteiro do Caminho de Santiago. No máximo funciona como um desvio.

Buscamos informações. Encontramos um caminhoneiro, que disse, após uma consulta a seu GPS, ser necessário que voltássemos à direita pela estrada em que nos encontrávamos, andar cerca de dois quilômetros e entrar à esquerda perto da Autopista. Aí já estaríamos de volta ao caminho.

Fomos! Chovia! Deu certo. Dois quilômetros depois chegamos ao ponto em que os peregrinos atravessavam a pista da via em que estávamos para seguir à esquerda na direção dos outros pontos.

Na sequência do caminho, passa-se por Cirueña, um povoado, em que, um pouco antes, há um Clube de Golfe. A impressão que se tem é de que se trata de uma cidade abandonada, ou de uma cidade utilizada apenas para férias em determinados períodos.

Após Cirueña, chega-se a Santo Domingo de La Calzada, que tem uma catedral histórica maravilhosa. Paga-se três euros para visitá-la. Fiz a visita. 

Eis aí uma foto de parte da fachada da igreja:



Além de tudo o que se vê dentro da igreja, há um ponto para o qual vale a pena chamar a atenção. É um espaço, acima das cabeças em que há um galinheiro, com um galo e uma galinha vivos. Os animais são substituídos de tempo em tempo. Reza a lenda que se, ao você se aproximar de onde eles estão, o galo cantar você vai fazer o seu caminho sem incidentes. 

Há também a história acerca da razão pela qual o galo está ali. Conta-se que em certa ocasião, um casal de peregrinos franceses, acompanhado por seu filho, um rapaz de rara beleza, se hospedou em um hotel da cidade. A camareira do hotel se apaixonou pelo rapaz e tentou seduzi-lo. Não teve sucesso. Ela decidiu, então, se vingar e escondeu um objeto do hotel entre os pertences do jovem. Acusado de roubo, ele foi julgado sumariamente e enforcado. Seus pais prosseguiram na peregrinação. Em Santiago, pediram ao Apóstolo por seu filho, para que sua inocência fosse provada e sua vida devolvida.

Ao voltarem para sua cidade de origem, pararam em Santo Domingo e foram até a árvore onde seu filho ainda permanecia pendurado na forca. Espantados, verificaram que o rapaz ainda vivia.

Imediatamente, foram até o juiz que almoçava um frango frito. Ao lhe contarem que seu filho ainda estava vivo, o magistrado disse que só acreditaria na inocência dele e o libertaria se aquele frango que comia voltasse a cantar.

Num instante o frango assado pulou no prato e começou a cantar. Desde então, para lembrar este milagre de Santiago, há sempre um galo na Catedral.

Saindo de Santo Domingo, em pouco mais de uma hora chega-se a Grañon.

Aqui vivi uma experiência incrível. Já lhes conto.

O Albergue em que fomos recebidos e nos registramos é um albergue "parroquial", como tantos que existem no caminho. Ele não tem uma taxa a ser paga pelo peregrino, que contribui com um donativo. O albergue se localiza numa das laterais da igreja de Grañon, em dois andares meio que numa espécie de sótão. Oferece jantar e café da manhã.

Como ainda é cedo, após me registrar procuro um lugar para comer alguma coisa. Chove um pouquinho. Não há bares com mesas nas ruas. Encontro ao lado da igreja o Bar Sindicato e pergunto se há algo para comer. Sim, há. Uma "ensalada mixta y lomos y vegetales".

No bar, mais de uma dezena de homens de pé. Dois ou três mais jovens, os outros todos aparentando ter mais de 60 anos. Um senhor, sentado, lê o jornal e bebe algo que parece vinho, mas não é. Os outros todos também bebem algo de pé encostados no balcão em dois grupos.

Os "hospitaleros" no albergue são Julio, um espanhol de Bilbao, e Fernando, um português. Recebem os peregrinos com uma água com limão. Maravilhosa. Oferecem a ceia-jantar e o café da manhã em troca de donativos. Não têm ainda o selo do Caminho. O albergue tem um número grande de colchonetes que se distribuem aos peregrinos e são dispostos no chão em cima de uma das laterais da igreja, no último andar e logo abaixo no final da subida pelas escadas.

Após a missa, às sete horas, com a bênção do peregrino, Julio e Fernando preparam o jantar, que é servido às oito horas. Após o jantar somos convidados para uma reflexão de cerca de cinco ou dez minutos.

O jantar foi ótimo. Uma espécie de sopa de legumes feita com sete quilos de abobrinha, alho porró, pimentão verde, cebola, grão-de-bico e dez por cento disto de carne de porco. Uma salada mista em seguida e arroz doce de sobremesa. Água e vinho.

Depois do jantar, Julio e Fernando nos convidam a segui-los por entre um corredor que vai sendo iluminado por velas que são distribuídas entre os peregrinos que vão se postando à medida que chegam em uma espécie de círculo. Estamos no alto do coro da igreja. Um coordenador diz algumas palavras a respeito da igreja e das tentativas que estão fazendo para recuperá-la. E pede-se que cada um dos presentes diga algo de si e das razões por que está no caminho. Também pode ser uma música, um poema ou o que quer que o peregrino ou peregrina queira dizer.

Vamos nos apresentando, de uma forma que mexe com todos. Aí, uma moça canta, um trecho de uma música clássica com uma voz maravilhosa que ecoa naquela igreja a atinge a todos de forma diferente, provocando muitas emoções diferentes. Quando chega minha vez, me apresento e também canto à capela o "canto de um povo de um lugar", que é o que me ocorre no momento.

Finda a apresentação de todos, voltamos à sala onde jantamos e todos se preparam para descansar. Todos, imagino, plenos de sentimentos de alegria e de paz, provocados pela magia do que vivemos. E, como eu, penso que à espera do que nos aguarda ao longo do caminho que recomeça amanhã.

Um comentário: