domingo, 15 de julho de 2012

"A mente que não compreende é o Buda."



LIÇÃO 197

Só posso ganhar a minha gratidão.

1. Eis aqui o segundo passo que damos para libertar nossa mente da crença em uma força externa contrária a tua. Fazes esforços de bondade e de perdão. No entanto, tu os transformas em ataque novamente, a menos que encontres gratidão externa e agradecimentos generosos. Tuas doações têm de ser recebidas com reverência a fim de que não sejam retiradas. E, assim, pensas que as dádivas de Deus, na melhor das hipóteses, são empréstimos; na pior, enganos que te privariam de defesas para garantir que quando Ele atacar não deixe de matar.

2. Quão facilmente aqueles que não sabem o que seus pensamentos podem fazer confundem Deus e culpa. Nega tua força e a fraqueza tem de se tornar a salvação para ti. Vê a ti mesmo como prisioneiro e as grades se tornam teu lar. E também não deixarás a prisão ou reivindicarás tua força até que culpa e salvação não sejam vistas como uma só e que liberdade e salvação sejam vistas como unidas, com a força a seu lado para ser buscada e reclamada, e encontrada e plenamente reconhecida.

3. O mundo tem de te agradecer quando lhe ofereces a liberação de tuas ilusões. Contudo, teus agradecimentos também te pertencem, pois a liberaão do mundo só pode refletir a tua. Tua gratidão é tudo o que tuas dádivas pedem, para serem uma oferenda duradoura de um coração agradecido, livre do inferno para sempre. É isto que queres desfazer tomando de volta tuas dádivas porque não foram reconhecidas? És tu quem as reverencia e lhes dá os agradecimentos devidos, pois és tu quem recebe as dádivas.

4. Não importa se outro considera tuas dádivas indignas. Em sua mente, há uma parte que se junta a tua para te agradecer. Não importa se tuas dádivas parecem perdidas e inúteis. Elas são recebidas aonde são dadas. Em tua gratidão elas são aceitas universalmente e reconhecidas com gratidão pelo Coração do Próprio Deus. E tuas as tomarias de volta se Ele as aceitou com gratidão?

5. Deus abençoa toda dádiva que Lhe dás e toda dádiva é dada a Ele, porque ela só pode ser dada a ti mesmo. E aquilo que pertence a Deus tem de ser d'Ele Mesmo. No entanto, nunca perceberás claramente que as dádivas d'Ele são certas, eternas, imutáveis, infinitas, que dão eternamente, estendendo amor e somando-se a tua alegria sem fim, enquanto perdoares apenas para atacar mais uma vez.

6. Retira as dádivas que dás e pensarás que aquilo que te foi dado foi retirado de ti. Mas aprende a deixar que o perdão afaste os pecados que pensas ver fora de ti mesmo e não poderás jamais pensar que as dádivas de Deus são apenas emprestadas por algum tempo antes que Ele as tome de volta novamente na morte. Pois a morte, então não fará nenhum sentido para ti.

7. E, com o fim desta crença, o medo acaba para sempre. Agradece a teu Ser por isto, pois Ele é grato a Deus e Ele agradece por ti a Si Mesmo. Cristo ainda virá a todos que vivem, pois todos têm de viver e se mover n'Ele. O Ser que Ele é está seguro em seu Pai, porque a Vontade d'Eles é a Mesma. A gratidão d'Eles a tudo o que Eles criaram não tem fim, pois a gratidão continua a ser uma parte do amor.

8. Graças sejam dadas a ti, o Filho santo de Deus. Pois da forma pela qual foste criado, conténs todas as coisas em teu Ser. E tua ainda és como Deus te criou. E também não podes turvar a luz de tua perfeição. O Coração de Deus está assentado em teu coração. Ele gosta de ti porque tu és Ele Mesmo. Toda a gratidão te pertence, em razão do que és.

9. Dá graças do mesmo que recebes. Liberta-te de toda ingratidão a qualquer pessoa que torna teu Ser completo. E ninguém fica fora deste Ser. Dá graças por todos os incontáveis canais que estendem este Ser. Tudo o que fazes é dado a Ele. Tudo o que pensas só podem ser os Pensamentos d'Ele, ao compartilhar com Ele os Pensamentos santos de Deus. Conquista agora a gratidão que negaste a ti mesmo quando esqueceste a função que Deus te deu. Mas não penses nunca que Ele deixa de dar graças a ti alguma vez.

*

COMENTÁRIO:

Vocês conhecem aquele ditado: "quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece"? Pois é verdadeiro. Quanto mais voltamos nossa atenção para práticas que visem a nos livrar de alguma coisa como indesejável, sem reconhecê-la, aceitá-la, acolhê-lha e agradecer por ela, tanto mais reforçamos a probabilidade de que ela continue a se apresentar a nossa experiência.

Mas acredito que o ditado também serve se encarado de forma afirmativa. Isto é, quanto mais voltamos a atenção para aquelas coisas que queremos alcançar, a partir da entrega de tudo e de todos ao espírito, tanto mais as coisas e pessoas que se apresentam vêm reforçar o aprendizado, ressaltando um ponto aqui, outro ali. Para nos mostrar sempre de forma mais clara aquilo que precisamos aprender.

Por essa razão apenas, porque me parece que o que eu queria dizer a respeito desta lição é exatamente o que disse antes, vou reprisar mais uma vez o comentário feito para esta lição nos dois últimos anos, com algumas pequenas modificações. Aí vai:

Vale a pena lembrar aqui o poema que trata da possibilidade de uma relação livre do engaiolamento que, em geral, buscamos em todas as relações, com tudo e com todos. O poema que citei algumas lições atrás [nos dois últimos anos]:

Eu sou eu. 
Você é você. 
Eu não estou neste mundo para atender
as suas expectativas.
E você não está no mundo para atender
as minhas expectativas.
Eu faço a minha coisa.
Você faz a sua.
E quando nos encontramos
É muito bom.

É para isto que lição deste domingo, dia 15 de julho, chama nossa atenção. Lembrando-nos de outra lição que diz: "tudo o que dou dou a mim mesmo", a ideia de hoje remete ao pensamento de que "só posso ganhar minha própria gratidão". Isto quer dizer que tudo o que vivo tem de ser vivido apenas para minha própria satisfação, para minha própria alegria e para minha própria salvação.

Num dos volumes da trilogia Conversando com Deus, falando pelas palavras de Neale Donald Walsch, Deus afirma que a única responsabilidade que qualquer pessoa tem é apenas para consigo mesma. Isto é egoísmo? Para o sistema de pensamento do ego, talvez. Porém, se pensarmos bem, veremos que não. Pois tudo começa em nós mesmos e é só em nós mesmos que pode terminar. Em cada um de nós. Para o bem ou para o mal.

Lembro-me de ler em um de seus livros, Uma Sabedoria Incomum, se não me engano, que, após uma palestra de Krishnamurti, Fritjof Capra foi se aconselhar com ele a respeito da questão para a qual ansiava por uma resposta. Sua questão era: "Como posso ser um cientista e ainda assim seguir seu conselho para interromper o pensamento e libertar-me do conhecido?"

Capra conta que Krishnamurti, sem hesitar, respondeu a sua pergunta em dez segundos, e de um modo que resolveu completamente seu problema. A resposta foi: "Primeiro você é um ser humano e depois um cientista. Antes você tem de se tornar livre, e essa liberdade não pode ser atingida por meio do pensamento. Ela é atingida pela meditação - a compreensão da totalidade da vida, em que cessam todas as formas de fragmentação". 

Resumindo, vivemos para aprender a, ou lembrar de, ser o que somos. Isto aprendido, só podemos viver para o que somos, para o Ser. As práticas das lições são o equivalente da meditação neste nosso mundo de pressas e prazos e atribulações e medos e inseguranças. Elas nos proporcionam alguns intantes a cada dia para nos voltarmos para o divino em nós mesmos em busca da "compreensão da totalidade da vida", livres de pensamentos e de expectativas, livres de "todas as formas de fragmentação". Pois, voltando a algo a que já me referi antes, ficar livre dos pensamentos é alcançar aquele estado de espírito no qual abandonamos todos os esforços para compreender a vida a partir do intelecto.

Pois, de acordo com D. T. Suzuki, "a mente que não compreende é o Buda; não existe outra".

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