sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A visão verdadeira. Observações

Machado de Assis, em algum ponto do romance Dom Casmurro, fala o seguinte de um dos personagens principais do livro: "...veio abrindo a alma toda, desde a porta da rua até o fundo do quintal. A alma da gente, como sabes, é uma casa assim disposta, não raro com janelas para todos os lados, muita luz e ar puro. Também as há fechadas e escuras, sem janelas, ou com poucas e gradeadas, à semelhança de conventos e prisões. Outrossim, capelas e bazares, simples alpendres ou paços suntuosos".
Pode-se pensar, a partir deste trecho do grande autor brasileiro, que existem diferentes formas de alma. Mas, falando, por assim dizer, de forma mais específica das variações dos estados de espírito das pessoas a que nos referimos numa conversa, ou mesmo quando pensamos a respeito de alguém, a alma, de que fala Machado, aqui, tem a ver com a percepção, com nosso modo de ver as pessoas e o mundo. Como quando dizemos que alguém é uma santa alma. Ou uma alma boa.
E isso, me parece, também tem a ver com a lição deste dia 30 de janeiro, que amplia e aprofunda a ideia da lição de ontem. Ela diz: Deus está em tudo o que vejo porque Deus está em minha mente.
Mais do que lógico e muito mais do que óbvio, Deus pode estar em tudo o que vejo se estiver em minha mente, uma vez que é a partir dela que vejo/crio o mundo e tudo o que existe nele. Daí a necessidade da maior atenção à ideia proposta pelo UCEM hoje. Porque passamos a maior parte de nosso tempo em um estado que se pode classificar de "automático". Estamos tão habituados às atividades rotineiras que já não pensamos a respeito delas. Já não lhes prestamos a mínima atenção.
Quem sabe o preço que pagamos por esta falta de atenção? Quem já experimentou refletir acerca de coisas que passaram e ficou com a sensação de ter perdido grande parte de sua vida, porque imerso em um estado de falta de vontade própria, qual robô, que se limita a cumprir seu programa sem questioná-lo, sem entender nem por que nem para que o faz?
E, quando olhamos para um mundo aparentemente sem Deus, não será porque nos esquecemos de incluí-lo no mundo?
Há, agora, para a maioria de nós, uma nuvem bloqueando a visão verdadeira. Aquela que nos põe em contato com a unidade de que somos parte e complemento. A visão que pode dar - e dá - sentido a tudo o que se apresenta a nós. A visão que não depende apenas dos olhos do corpo e nem é limitada por eles. A visão que não está limitada ao espaço e à distância. A visão que independe de tempo e de lugar. A visão que nos devolve a nós mesmos. E a Deus, seja qual for o nome que damos a Ele.
Oxalá tenhamos coragem para pensar a este respeito e para nos decidirmos a olhar para o mundo de modo diferente.

*

Observações (mais algumas): é sempre bom e conveniente lembrar que imaginei e continuo a imaginar este espaço apenas como uma forma de lembrar dos ensinamentos do UCEM, e de seus exercícios, a quem quer que se interesse pelo assunto. Nem por um momento me passou pela cabeça a ideia de substituir o que o próprio texto diz. Por isso espero quem quer que acesse este blog saiba que considero o contato direto com o livro insubstituível. É ele quem traz todas as orientações acerca da forma como o exercício do dia deve ser feito. É ele que pode nos ajudar a nos organizarmos quanto à melhor maneira de incluir os exercícios em nossas atividades diárias. Este espaço, portanto, não traz um roteiro para se fazer a lição. Traz apenas ideias que, de alguma forma, podem estar ligadas à ideia que o UCEM apresenta no dia. E que podem, às vezes, não corresponder ao modo de pensar de muitos. Espero, por isso, que ninguém se assuste se alguma afirmação parecer contrariar o que alguém pensa a respeito do tema de que se fala. Por essa razão existe o espaço para os comentários. Fiquem à vontade, por favor. Sintam-se em casa.

2 comentários:

  1. Interessante, para mim, ler este texto exatamente hoje... Tive a oportunidade de assessorar uma familia estrangeira em seu processo de instalaçao na nova casa e cidade. Eu mesma, nao estava convencida de que fosse um trabalho necessario... até parar para observar os detalhes que impediam a esta familia se instalar, ter sua casa funcionando, na zona de conforto. Por conta deles, olhei para mim e para o piloto automatico que ligo toda vez que o despertador toca e, apos as 24h do dia, deixei de observar os detalhes que permeiam todas minhas atividades e, principalmente, aquelas que geram o que nao gosto ou nao me agrada...Prestar atencao nos detalhes e refletir... Perceber, com uma frequencia maior Deus nos detalhes. E com isso, tentar o que o exercicio propoe, olhar o mundo de maneira diferente.

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  2. É isso aí, Sylvia. Às vezes, um detalhe aparentemente insignificante para nós, no automático, um gesto que deixamos de fazer, no automático, uma resposta que deixamos de dar, no automático, faz toda a diferença para quem está a nossa volta. E nossa atenção a tudo, mesmo ao mais pequeno gesto, ou a falta dela, pode criar uma situação da mais absoluta alegria ou um grande constragimento. A escolha é sempre nossa, individualmente.
    Obrigado por comentar e partilhar sua experiência.

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