LIÇÃO 203
Eu não sou um corpo. Sou livre.
Pois ainda sou como Deus me criou.
1. (183) Invoco o Nome de Deus e o meu próprio nome.
O Nome de Deus é minha liberação de todo pensamento de mal e de pecado, porque é meu próprio nome assim como o d'Ele.
Eu não sou um corpo. Sou livre.
Pois ainda sou como Deus me criou.
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COMENTÁRIO:
Explorando a LIÇÃO 203
Caras, caros,
Lembram-se de que já me referi no passado - e bem mais do que só uma vez - a um livro de Thomas Keating, intitulado A condição humana? Acho que vale a pena relembrar o que eu disse que ele tinha a nos ensinar nas ocasiões em que falei dele. E, com certeza, em sintonia com o que o Curso quer que aprendamos, a partir das práticas com a ideia desta lição que revisamos hoje, bem como com as práticas de todos os dias.
A certa altura de seu livro, falei naquela oportunidade, repito agora, Keating diz que quem está envolvido em uma prática espiritual precisa de orientação e que "nem todo guia espiritual que aparece pode oferecê-la. O mais importante é a fidelidade à prática diária de uma forma contemplativa de oração" [o grifo é meu]. Não é isso o que lhes parece que são os exercícios?
O autor diz que a prática diária, à medida que buscamos nos lembrar de quem somos, na verdade, em Deus, "gradativamente nos expõe ao inconsciente em um ritmo com que podemos lidar, e [nos] coloca... sob a orientação do Espírito Santo [em nós, sempre no interior de nós mesmos e de mós mesmas. Lembrem-se de que não há nada fora.]. O amor divino prepara-nos, então, para receber o máximo que Deus [em nós] pode comunicar de sua luz interior". Lembrando-nos sempre de que o máximo que podemos receber em dado momento é diferente para cada um e cada uma nós.
Assim, resta lembrar que a ideia que praticamos hoje chama a atenção para o fato de que, ao invocar o Nome de Deus, reconhecemos que "o mesmo amor incondicional, que se move em Deus, está se movendo em nós pela Graça, suplantando o ego humano com o divino 'Eu'", para que possamos começar a "manifestar na vida diária, não nossos falsos egos e preconceitos, mas a ternura infinita de Deus, o interesse de Deus por cada coisa viva", de acordo com Keating.
E, ainda de acordo com o que ele diz, "enquanto nos identificarmos com algum papel ou pessoa, não estaremos livres para manifestar a pureza da presença de Deus. Parte da vida é um processo de abandonar qualquer papel, embora digno, com que você se identifica. Ele [o papel com o qual você se identifica] não é você. Suas emoções não são você. Seu corpo não é você. Se você não é nada disso, que é você", então?
Lembrem-se, lembremo-nos, da lição 189, por que passamos há pouco. Lá, no sétimo parágrafo, o Curso aconselha a nos aquietarmos, a abandonarmos tudo o que já nos aconteceu no passado, inclusive o próprio Curso, para podermos ir a Deus de mãos livres, de mente aberta [ir metaforicamente apenas porque, na verdade, o que fazemos ao deixar tudo para trás, é tão somente permitir que sejam removidos os obstáculos que interpusemos entre o divino, que somos, e o "eu" que construímos e que acreditamos egoicamente ser]. Porque nada do que já experimentamos antes pode nos levar a nós mesmos, ou a nós mesmas. Só podemos chegar a nós mesmos e a nós mesmas, e, por extensão, a Deus, agora. E no silêncio.
Numa entrevista recente, publicado no jornal El País, o filósofo George Steiner diz o seguinte, e que tem a ver com isso de falo acima:
"... há algo que me preocupa: os jovens [eu diria que não só os jovens] já não têm tempo... de ter tempo. Nunca a aceleração mecânica das rotinas da vida foi tão forte quanto hoje. E é preciso se ter tempo para buscar tempo. E outra coisa: não há que se ter medo do silêncio. O medo das crianças do silêncio me dá medo. Só o silêncio nos ensina a encontrar o essencial em nós mesmos."
Ora, o que pode ser o essencial em nós mesmos e em nós mesmas? O mundo e seu sistema de pensamento, o mundo e seus ruídos, a estática que não nos permite ouvir a voz interior durante muito mais do que uns poucos segundos, tudo isso serve apenas para nos distrairmos de nós. Para voltarmos a atenção para tudo aquilo que o mundo quer que compremos [Davi Kopenawa, um xamã yanomami, que publicou, recentemente, em parceria com o antropólogo Bruce Albert, o livro "A Queda do Céu", chama-nos, a nós, os civilizados, aos não-indígenas, de "o povo da mercadoria"], para a perpetuação da existência do ego e de todas as diferenças que o ego quer nos fazer acreditar que nos separam uns e umas dos outros e das outras, mas que, mais do que nos separar uns e umas dos outros e das outras, nos separam de Deus, de nós mesmos e de nós mesmas. A diversidade, a diferença, é parte do que somos. O próprio Curso ensina que somos incompletos sem todos aqueles e aquelas que povoam o mundo conosco.
Tudo isso pode desaparecer se buscarmos alguns momentos de silêncio dia a dia. Se reservarmos um pouco de tempo para aquilo que é essencial em nós: nós mesmos, nós mesmas. O divino em nós. Isso vai permitir que os obstáculos que o ego quer interpor entre Deus e nós sejam removidos. Pouco a pouco. E quanto mais tempo escolhermos dedicar ao silêncio tanto mais fácil ficará ouvir a Voz por Deus em nossos dias. Tanto mais fácil será perceber a luz que trazemos interiormente e que tem de se irradiar para iluminar o mundo e tudo o que há nele, ainda que apenas aparentemente.
Quer dizer, o ego só aparece quando nos esquecemos de trazer a ele a Luz do divino que sabemos em nós. Quando permitimos que seus ruídos sejam ouvidos e nos distraiam a atenção. Daí a necessidade da atenção, da vigilância, para que não nos deixemos enganar pelo ensinamento do mundo, para que não nos deixemos tentar a dar valor àquilo que não tem valor, como ensina uma das lições por que já passamos.
E, para terminar este comentário da mesma forma que fiz no passado, chamo sua atenção para o seguinte: "se nós [ainda] não tivermos experimentado a nós mesmos [ou a nós mesmas] como amor incondicional, temos mais trabalho a fazer - porque isso [amor incondicional] é o que realmente somos".
Às práticas, pois!
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