sábado, 7 de setembro de 2013

É possível uma doutrina de salvação sem Deus?


LIÇÃO 250

Que eu não me veja como limitado.

1. Que hoje eu veja o Filho de Deus e testemunhe sua glória. Que eu não tente ocultar a luz sagrada nele para ver sua força diminuída e reduzida à fragilidade; nem perceba nele as falhas com as quais eu atacaria sua soberania.

2. Ele é Teu Filho, meu Pai. E hoje quero ver sua bondade em lugar de minhas ilusões. Ele é o que sou e do modo que o vejo também vejo a mim mesmo. Hoje quero ver verdadeiramente para que neste dia eu possa enfim me identificar com ele.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 250

Ao reler o cometário feito a esta lição no ano passado, surgiu uma dúvida. A pergunta que intitulava a postagem - e que vou manter - desta lição no ano passado era a seguinte: É possível uma doutrina de salvação sem Deus? E o comentário, a exploração da ideia que vamos praticar hoje, buscava dar uma resposta a esta pergunta.

Mas a dúvida que me aparece agora está, de fato, relacionada à resposta mesma que eu dei. Vejam abaixo de onde se origina a pergunta e, na sequência, a tentativa de respondê-la. E me digam, por favor, o que vocês acham da questão. E, óbvio, da forma como ela foi respondida.

Um livro de Luc Ferry, que leio [isto foi no ano passado] no momento, propõe uma definição nova para a Filosofia, a partir do que ela foi e do que deve continuar sendo, de acordo com o autor.

Assim, em seu modo de ver e dizer, a Filosofia é "... uma doutrina da salvação sem Deus, uma resposta à questão da vida boa, que não passa por um 'ser supremo' nem pela fé, mas por um esforço próprio de pensamento e pela razão. Uma exigência de lucidez, em suma, como condição última para a serenidade, compreendida em seu sentido mais simples e forte: uma vitória - sem dúvida sempre relativa e frágil - sobre o medo, o medo da morte em particular, que sob diversas formas, igualmente insidiosas, nos impede de viver bem."

Ora, uma doutrina da salvação sem Deus tem de ser uma doutrina que leva em consideração apenas o modo de ver do falso eu, o ego do Curso, tomando em conta apenas o que se vive neste mundo, abandonando de vez a perspectiva de uma vida diferente desta que vivemos nos sentidos. 

A questão, acredito, é que viver a vida boa, de que falavam os filósofos desde a Antiguidade, já é muito difícil com Deus, como será buscar vivê-la sem Ele? 

Em última instância sabemos que Deus é apenas uma ideia e, a se acreditar no que ensinaram todos os mestres e sábios, Ele é o que nós somos e nós somos o que Ele é, exatamente como o Curso ensina. Por que, então, abrir mão da ideia de que somos ilimitados, em Deus [porque somos o que Ele é] quando vivemos a experiência de mundo a partir do que somos? Por que não buscar viver em comunhão com a ideia de que todos os limites que pensamos existir são sempre auto-impostos?

Os problemas que precisamos enfrentar neste mundo não têm nada a ver com Deus, quer acreditemos n'Ele, quer não. E, de acordo com o Curso, não é preciso fazer nada. Basta ser. Quando cedemos à influência do modo de pensar do falso eu, enganamo-nos e inventamos um mundo que não existe, porque o vemos a partir do filtro do julgamento. 

A visão verdadeira vai nos mostrar que o mundo que vemos com os sentidos não existe. Melhor dizendo, a visão vai mostrar que o mundo que vemos é apenas projeção daquilo que trazemos dentro de nós mesmos. E, se o que vemos não nos leva a viver a vida boa, não nos coloca em contato com a alegria perfeita e completa, cabe a quem mudar, então? 

Talvez a resposta para a dúvida que surgiu esteja na seguinte historinha, que pode conciliar tanto o modo de ver e dizer de Luc Ferry, quanto o modo que convida a ver o mundo a partir da ideia da existência de um Deus, que não cabe em palavras, mas cuja Presença garante que somos muito mais do que apenas corpos.

"Em um dos majestosos banquetes da corte, cada um se sentava obedecendo à ordem, esperando a entrada do Rei. Entrou, então, um homem simples, maltrapilho, e escolheu um lugar acima de todos os outros. Sua ousadia irritou o primeiro ministro que ordenou que o recém-chegado se identificasse. Era um ministro? Não. Mais. Era o Rei? Não. Mais. 'Então você é Deus?' - perguntou o primeiro ministro. 'Eu estou acima disso também', respondeu o homem. 'Não existe nada acima de Deus', retorquiu o primeiro ministro. 'Esse nada', foi a resposta, 'sou eu'.

E, então, às práticas?

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