quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Acreditamo-nos capazes de críticas "construtivas"?


LIÇÃO 268

Que todas as coisas sejam exatamente como são.

1. Que eu não seja Teu crítico hoje, Senhor, e julgue contra Tí*. Que eu não tente me intrometer em Tua criação para distorcê-la em formas doentias. Que eu me disponha a retirar meus desejos de sua unidade e a permitir, deste modo, que ela seja tal qual Tu a criaste. Pois assim serei capaz de reconhecer meu Ser da forma que Tu me criaste. Fui criado no amor e permanecerei para sempre no amor. O que pode me assustar, se eu permitir que todas as coisas sejam exatamente como são?

2. Que nossa visão não seja blasfema hoje e que nossos ouvidos também não deem atenção a línguas mentirosas. Só a realidade está livre da dor. Só a realidade está livre da perda. Só a realidade é totalmente segura. E é só isto que buscamos hoje.

*Nota da tradução: No original esta primeira frase diz: Let me not be Your critic, Lord, today, and judge against You. Na tradução de Lillian Paes a frase ficou assim:Senhor, que eu não seja o Teu crítico, hoje, e nem julgue contra Ti. Apesar de não haver especificamente um elemento indicador do que a levou a incluir a partícula "nem" em sua tradução, pode-se pensar que a inferência foi um elemento oculto que deveria/poderia aparecer subentendido após a terceira vírgula do original, que deixaria a frase com a seguinte forma: Let me not be Your critic, Lord, today, and [let me not] judge against You. Em meu modo de ver, minha tradução abole este elemento subentendido sem prejudicar o entendimento do sentido da frase original, porque se eu me colocar na condição de crítico do Senhor, é forçoso que eu julgue contra Ele, que é o que não quero fazer, de acordo com a primeira parte da frase. Ora, se na primeira parte da oração eu peço para não ser crítico, o fato de a segunda obedecer à lógica que resultaria do fato de eu ser um crítico, que seria julgar contra o Senhor, não impede o leitor de perceber que, apesar de a frase dizer "e julgue contra Ti", no final o sentido é o de que da mesma forma que não quero ser crítico, não quero julgar. Alguém quer fazer alguma observação a respeito?
*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 268

Disse, nos dois últimos anos, que a ideia que praticamos hoje traz consigo de maneira bem clara a fórmula para se viver neste mundo, sem dor, sem perda, em segurança e em paz e com alegria. E qual é esta fórmula? Simplesmente abrir mão de qualquer desejo de exercer algum controle sobre as coisas, sobre quaisquer coisas. 

Em geral, temos a tendência a olhar para as críticas que fazemos e reputá-las "construtivas". Ou temos mesmo a ideia de que é necessário que sejamos críticos em relação a tudo e a todos, como se isso, por si só, fosse o que nos levaria a uma consciência maior, ou como se isso - o ser capaz de ser crítico - fosse um requisito que facilitaria nossas escolhas.

Ser crítico e exercer a atividade de crítico, parece-me, no entanto, ser uma grande, uma enorme falácia, um engano, e na mais das vezes, um auto-engano. Algo de que a pessoa se vale para poder "descer a lenha" naquilo de que não gosta, naqueles que fazem algo contrário àquilo que ele pensa ser o "certo".

À luz do que nos ensina o Curso, precisamos aprender que tudo é neutro no mundo, inclusive o próprio mundo, e que qualquer valor que vemos em alguma coisa foi atribuído por nós mesmos a partir daquilo que trazemos interiormente. Para o bem ou para o mal. Tanto é assim que o Curso ensina que "tudo está absolutamente certo exatamente da maneira como está".

O que nos autoriza, então a pensar que sabemos mais do que quem quer que seja? O que pode nos levar a acreditar que somos capazes de ditar as melhores formas de viver para nós mesmos, para uns e outros e para a humanidade toda, a não ser o enorme auto-engano da onipotência do ego?


Voltemos mais uma vez, então, a uma lição anterior, da primeira parte do livro de exercícios. Vamos perceber lá que ela já nos ensinava a dar o passo que a lição de hoje pede para darmos: Libero o mundo de tudo o que pensava que ele fosse [Lição 132]. Aprendemos?

Repito, então, o que já disse noutros comentários: enquanto, escorados na pretensa força e no pretenso conhecimento do falso eu, o ego de que o Curso fala, com quem nos identificamos, acreditarmos que podemos, de algum modo, ter controle sobre qualquer coisa que não apenas sobre nossos próprios pensamentos vamos continuar a viver no auto-engano. Aliás, também é auto-engano acreditar, como o ego quer que pensemos, que não podemos controlar nossos pensamentos.

Se refletirmos bem, se meditarmos bem, se prestarmos bastante atenção e olharmos de forma amorosa e desprovida de julgamento ou preconceito para tudo o que vemos no mundo, há alguma coisa que acreditamos poder mudar e fazer melhor? 


Será que somos capazes de mudar qualquer coisa que não apenas nossa forma de olhar, para aprendermos, como quer o Curso, a olhar para tudo de forma diferente? Será que somos, ou nos julgamos poderosos a ponto de pensar: - Se eu fosse Deus, faria isso e aquilo de forma diferente? E de acreditar que seríamos capazes de fazer melhor do que Ele?

Quem assistiu ao filme "O Efeito Borboleta" [o primeiro] há de se lembrar de que qualquer mudança que o protagonista introduzia em uma experiência, que ele julgava ser necessário mudar, gerava um resultado que ele não podia sequer imaginar. Um resultado muitas vezes "pior" do que aquele da situação que ele tentava modificar.

Imagino que, com certeza, se estivermos atentos, despertos, isto se aplica a tudo na vida. Um exemplo pode ser o da pupa [a lagarta] presa no casulo aguardando o instante para rompê-lo e se transformar em uma linda borboleta. Se resolvêssemos ajudá-la, poupar-lhe o esforço aparentemente grande para um ser tão frágil e pequeno, qual seria o resultado? O que já sabemos. Poupá-la do esforço que cabe apenas a ela fazer só iria trazer ao mundo uma borboleta sem força suficiente nas asas para ser capaz de voar.

Há uma lição, a 21, entre outras, que também nos ensina o que fazer quando, por qualquer razão, não vemos só "a bondade da criação" em tudo o que vemos. Ela diz: Estou decidido a ver as coisas de modo diferente. Ou ainda a lição 28: Acima de tudo quero ver as coisas de modo diferente. Porque, na verdade, ainda não vemos, cegos por todos os preconceitos que atulham nossas cabeças.

Para o ensinamento do Curso, mais do que olhar com os olhos do corpo e depositar sobre o objeto que nosso olhar capta o reflexo de nosso pensamentos passados a respeito dele, ver é comungar, é alcançar a comunicação perfeita com o objeto visto, sem separação, alcançar a unidade com ele e com Deus, sendo também o objeto. Pois para Deus, ou para a ideia de Deus, todas as coisas são neutras e todas desempenham uma função igualmente importante para a realização de Seu plano para a salvação do mundo, o único que funcionará, para nos lembrarmos de outra das lições da primeira parte do livro.

Quando aprendermos a abrir mão de quaisquer tentativas de controlar qualquer coisa, entenderemos a orientação do divino em nós mesmos que nos diz: "Deixa que o espírito tome conta de tudo".

É isto que praticamos hoje.


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