quinta-feira, 8 de março de 2012

Quem é capaz da aceitação incondicional do outro?


LIÇÃO 68

O amor não guarda mágoas.

1. Tu, que foste criado pelo amor igual a ele mesmo, não podes guardar mágoas e conhecer teu Ser. Guardar uma mágoa é esquecer quem és. Guardar uma mágoa é ver a ti mesmo como um corpo. Guardar uma mágoa é permitir que o ego governe tua mente e condenar o corpo à morte. Talvez ainda não percebas inteiramente de forma clara o que exatamente guardar mágoas faz a tua mente. Guardar mágoas parece separar-te de tua Fonte e te tornar diferente d'Ele. Faz-te acreditar que Ele é igual ao que te tornaste, pois ninguém pode pensar em seu Criador como diferente de si mesmo.

2. Excluído de teu Ser, que permanece ciente de Sua semelhança a Seu Criador, teu Ser parece dormir, enquanto a parte de tua mente que tece ilusões em seu sono parece estar desperta. Tudo isso pode surgir de guardar mágoas? Oh, sim! Pois aquele que guarda mágoas nega que foi criado pelo amor, e seu Criador se torna assustador para ele em seu sonho de ódio. Quem pode sonhar com o ódio e não ter medo de Deus?

3. É tão certo que aqueles que guardam mágoas redefinirão Deus a sua própria imagem, quanto é certo que Deus os criou iguais a Si Mesmo e os definiu como parte de Si. É tão certo que aqueles que guardam mágoas sentirão culpa, quanto é certo que aqueles que perdoam acharão paz. É tão certo que aqueles que guardam mágoas se esquecerão de quem são, quanto é certo que aqueles que perdoam se lembrarão.

4. Não estarias disposto a abandonar tuas mágoas, se acreditasses que isso é verdade? Talvez não imagines que podes abandonar tuas mágoas. Isto, no entanto, é simplesmente uma questão de motivação. Hoje tentaremos descobrir como te sentirias sem elas. Se fores bem-sucedido, mesmo que por muito pouco, nunca mais haverá um problema de motivação novamente.

5. Começa o período de prática mais longo de hoje pela busca em tua mente daqueles contra quem guardas o que consideras serem tuas principais mágoas. Será bem fácil achar algumas delas. Em seguida, pensa nas mágoas aparentemente sem importância que guardas contra aqueles de quem gostas ou mesmo pensas amar. Bem depressa ficará claro que não há ninguém contra quem não nutras algum tipo de mágoa. Isto te deixa sozinho em todo o universo em tua percepção de ti mesmo.

6. Decide-te agora a ver todas essas pessoas como amigas. Dize a todas elas, pensando em cada uma por vez ao fazê-lo:

Quero te ver como meu amigo, para poder me lembrar
de que és parte de mim e vir a conhecer a mim mesmo.

Passa o tempo restante do período de prática pensando em ti mesmo como perfeitamente em paz com todos e com tudo, a salvo em um mundo que te protege e te ama, ao qual amas de forma recíproca. Tenta sentir a segurança te envolvendo, pairando sobre ti e te sustentando. Tenta acreditar, ainda que por pouco tempo, que nada pode te ferir de forma alguma. No final do período de prática, dize a ti mesmo:

O amor não guarda mágoas. Quando eu abandonar todas
as minhas mágoas, saberei que estou em perfeita segurança.

7. Os períodos de prática mais breves devem incluir uma rápida aplicação da ideia desta forma, toda vez que surgir algum pensamento de mágoa contra alguém, fisicamente presente ou não:

O amor não guarda mágoas. Que eu não traia meu Ser.

Além disso, repete a ideia várias vezes por hora desta forma:

O amor não guarda mágoas. Quero despertar para meu Ser
deixando de lado todas as mágoas e acordando n'Ele.

*

COMENTÁRIO:

Nesta quinta-feira, dia 8 de março, a ideia que vamos praticar tem de nos levar a refletir a respeito do auto-engano em que queremos nos esconder e com o qual pensamos proteger nossa sanidade, quando dizemos não guardar mágoas de ninguém, como se fôssemos capazes de viver em perfeita paz e harmonia com tudo e com todos no mundo, conforme eu disse também nos dois comentários anteriores para esta lição. Pura ilusão de onipotência do ego, que busca se mostrar superior a, ou melhor do que, outros egos com quem repartimos nosso estar-no-mundo.

É claro que, voltando ao comentário anterior mais uma vez, isso seria maravilhoso. Isso seria viver o Céu na terra, se, de fato, acreditássemos ser possível viver assim no mundo. Porém, de modo geral, não vemos nenhuma possibilidade de tal forma de viver e desconfiamos de qualquer um que aparentemente não fique magoado quando alguém lhe prega uma peça ou faz qualquer coisa com a intenção, declarada ou não, de magoá-lo.

Estamos tão acostumados a reagir às pessoas, coisas e situações no mundo, que nos esquecemos de que o que conta verdadeiramente é a ação que deriva de nossa profunda reflexão acerca da melhor maneira de lidar com determinado acontecimento quando é preciso que tomemos alguma atitude ou decisão a respeito de alguma coisa que pode afetar o rumo de nossa vida e da vida de todos que participam de nosso convívio.

Lembram-se de que falei de Sócrates no ano passado? Sócrates, o grande filósofo grego, que não se deixava enganar pela ideia de saber alguma coisa. Que afirmava a todos o tempo todo, melhor dizendo, insistia em afirmar a todos que o procuravam que não sabia nada e que nada tinha a ensinar. Tudo o que ele fazia era questionar-se e questionar a tudo o tempo inteiro, instando a que todos fizessem o mesmo, levando-os à conclusão de que tudo o que pensavam saber era apenas ilusão. Nada mais em total sintonia com o que o Curso ensina, uma vez que tudo, ou quase tudo, que fazemos é comparar ilusões, escolher entre ilusões, com muito poucos vislumbres da verdade, do que é real.

O preceito de Sócrates, como eu disse então, era o de que não há certezas sobre as quais nos basearmos. Pois, quando pensamos ter certeza de algo, nossa tendência natural é a de nos acomodarmos. Acomodados, deixamos de prestar atenção às coisas verdadeiramente importantes para nos ocuparmos apenas da ilusão de que há algo a que valha a pena se apegar no mundo, de que o mundo contém algum valor que possa durar para sempre. 

Cultivar uma atitude como a de Sócrates, que permite que se duvide de tudo, é a que pode nos impedir de guardar mágoas, como diz a ideia que praticamos hoje. Pois tal atitude vai nos fazer perceber que há sempre algo de que reclamar, sempre existe algo de que podemos nos queixar na vida, em algum momento. Isto é, há sempre alguma coisa que ficaria melhor, em nosso (?) entender, se passasse por esta ou aquela modificação. Mas será que são as coisas, as pessoas, o mundo, que têm de mudar? As coisas não são todas neutras? O próprio mundo não é neutro?

Além do que sugere Sócrates, podemos nos valer do ensinamento do Maharshi e nos perguntarmos, sempre que tivermos em mente uma necessidade de mudança em uma ou outra pessoa dentre aquelas com quem convivemos, quem é que está vendo essa necessidade? Quem é este "eu", este "nós"?  Ou será que alguém consegue se lembrar de alguma pessoa com quem convive a quem aceita inteiramente como é o tempo inteiro? Sem julgá-la, ou a nenhum de seus atos, comportamentos e atitudes. Sem uma pontinha de mágoa por alguma coisa que ela lhe fez em algum momento?

É importante, pois, mais uma vez, que dediquemos toda a atenção possível às práticas da ideia de hoje da forma que o exercício sugere. Para aprendermos de que forma vai ser possível descobrir um jeito de mudar nosso modo de ver, para mudar nossa percepção, entregando-a aos cuidados do Espírito Santo, para que Ele nos ensine a ver de modo diferente.


Às práticas, pois!

2 comentários:

  1. UAU, Moisés !!!!
    ARRASOU, hein?
    Este teu comentário bem no dia Internacional da Mulher, "rainhas das mágoas" em geral...
    SOCORRO!
    Muito bom mesmo!
    Este é um daqueles que vale imprimir e reler muitas e muitas vezes.
    Super obrigada!
    Bjs

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  2. Pois é, Nina...

    Ao postar, ou programar a postagem, me enganei e pensei que ela ia ser publicada no dia 9 e aí nem me lembrei do Dia Internacional da Mulher.

    De qualquer modo, aproveito para deixar aqui um beijo a todas as mulheres que visitam este espaço, esperando que ela possa ser de alguma ajuda para que elas também se decidam pela única função que Deus dá a todos e a cada um de nós: salvar o mundo.

    Aceitar esta função não depende de se ser homem ou mulher. Basta aceitar aquilo que o Curso ensina como a verdade a respeito de nós mesmos: ainda somos como Deus nos criou. Homens ou mulheres.

    E mais do que tudo precisamos nos lembrar de que a aparência está ligada apenas à forma e a forma não é o que somos, na verdade. A forma não é duradoura e tanto homens quanto mulheres vão abandonar a casca que habitam em algum momento. Por que, então, se preocupar com um estereótipo do divino que é o que a forma nos oferece?

    Lembremo-nos de que o Curso nos ensina a pensar que este mundo não contém nada que realmente queiramos. Isto é, tudo aquilo que valorizamos aqui acaba por nos aprisionar e, em lugar, de usar o poder que Deus nos dá, acabamos entregando o poder divino em nós ao falso eu, ao ego, que não nos ama, porque é incapaz do amor.

    Obrigado por sua generosidade ao comentar e obrigado por comentar e por estar aqui conosco.

    Um ótimo dia para ti e para todas as mulheres do mundo.

    Beijos.

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