LIÇÃO 78
Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.
1. Talvez ainda não esteja bem claro para ti que cada decisão que tomas é uma decisão entre uma mágoa e um milagre. Cada mágoa se ergue como um escudo sombrio de ódio diante do milagre que ela quer esconder. E, quando tu o ergues diante de teus olhos, não verás o milagre que está além. No entanto, ele espera por ti na luz o tempo todo, mas, em seu lugar, tu vês as tuas mágoas.
2. Hoje vamos além das mágoas, para ver de preferência o milagre em lugar delas. Vamos inverter o modo que vês não permitindo que a vista se detenha antes de ver. Não esperaremos diante do escudo de ódio, mas o deporemos e, em silêncio, ergueremos suavemente os olhos para ver o Filho de Deus.
3. Ele espera por ti atrás de tuas mágoas e, quando tu as abandonares, ele aparecerá na luz resplandecente no lugar em que cada uma estava antes. Pois cada mágoa é um obstáculo à visão e, quando ela é suspensa, vês o Filho de Deus aonde ele está sempre. Ele se encontra na luz, mas tu estavas nas trevas. Cada mágoa tornou as trevas mais profundas e não podias ver.
4. Hoje tentaremos ver o Filho de Deus. Não nos permitiremos ficar cegos a ele; não olharemos para nossas mágoas. Assim se inverte o modo de ver do mundo, quando, longe do medo, ficamos alertas em favor da verdade. Selecionaremos uma pessoa que usas como alvo de tuas mágoas e abandonaremos as mágoas, e olharemos para ela. Alguém a quem, talvez, temas e até odeies; alguém que pensas amar e que te irritou; alguém a quem chamas de amigo, mas que às vezes percebes como complicado ou difícil de agradar, exigente, irritante ou infiel ao ideal que deveria aceitar com seu, de acordo com o papel que escolheste para ele.
5. Tu sabes a quem escolher; seu nome já passou por tua cabeça. Ele será aquele em quem pediremos que o Filho de Deus te seja mostrado. Por vê-lo além das mágoas que guardas contra ele, aprenderás que aquilo que estava escondido enquanto não o vias existe em todos e pode ser visto. Ele, que era inimigo, é mais do que amigo quando é libertado para assumir o papel sagrado que o Espírito Santo estabelece para ele. Deixa que ele seja o salvador para ti hoje. É este o papel dele no plano de Deus, teu Pai.
6. Nossos períodos de prática mais longos, hoje, o verão neste papel. Tentarás conservá-lo em tua mente, primeiro tal como o consideras agora. Vais rever seus defeitos, as dificuldades que tiveste com ele, a dor que ele te causou, sua negligência e todas as pequenas e as maiores feridas que ele provocou em ti. Considerarás o corpo dele com seus defeitos e qualidades também e pensarás em seus erros e até mesmo em seus "pecados".
7. Em seguida, vamos pedir Àquele Que conhece este Filho de Deus em sua realidade e verdade que possamos olhar para ele de modo diferente e ver nosso salvador resplandecendo à luz do perdão verdadeiro, dado a nós. Pedimos a Ele pelo Nome santo de Deus e de Seu Filho, tão santo quanto Ele Mesmo:
Permite que eu veja meu salvador neste que Tu designaste
como aquele a quem devo pedir que me conduza à luz santa
em que ele se encontra, para que eu possa me unir a ele.
Os olhos do corpo estão fechados e enquanto pensas naquele que te magoou, deixa que se revele a tua mente a luz nele, que está além de tuas mágoas.
8. Aquilo que pedes não pode ser negado. Teu salvador espera por isto há muito tempo. Ele quer ser livre e tornar tua a liberdade dele. O Espírito Santo se inclina dele para ti, não vendo nenhuma separação no Filho de Deus. E aquilo que vês por intermédio d'Ele libertará ambos. Fica muito calmo agora e olha para teu salvador resplandecente. Nenhuma mágoa sombria esconde a vista dele. Tu permitiste que o Espírito Santo revelasse por meio dele o papel que Deus Lhe deu, para que possas ser salvo.
9. Deus te agradece hoje por estes momentos de serenidade, nos quais abandonaste tuas imagens e olhaste para o milagre do amor que o Espírito Santo te mostrou nos lugar delas. O mundo e o Céu se unem em agradecimento a ti, pois nem sequer um Pensamento de Deus deixa de se regozijar quando tu és salvo e o mundo inteiro contigo.
10. Nós nos lembraremos disto ao longo do dia e assumiremos o papel que nos foi designado como parte do plano de Deus para a salvação, e não o nosso. A tentação desaparece quando permitimos que cada um que encontramos nos salve e nos recusamos a esconder sua luz atrás de nossas mágoas. Permite que o papel de salvador seja oferecido a cada um que encontrares, e àqueles do passado em quem pensares ou de quem lembrares, para que possas compartilhá-lo com eles. Para ambos, e também para todos os que não veem, pedimos:
Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.
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COMENTÁRIO:
Explorando a LIÇÃO 78
"Deixa os milagres substituírem todas as mágoas."
Eis aqui, mais uma vez, a lição que nos dá, na prática, a oportunidade de experimentarmos o direito que temos aos milagres. Ao mesmo tempo em que ela nos desafia a aceitarmos o milagre, ela o oferece como substituição de todas as mágoas, que nos impedem de ver a felicidade sem fim ao alcance de nossa decisão.
Esta lição ensina que sempre escolhemos entre uma mágoa e um milagre. Da escolha de um podemos obter apenas a ilusão do mundo separado de Deus e mergulhado nas trevas. Da escolha do outro, abrem-se para nós as portas da alegria e da paz, que são a Vontade de Deus para seu filho.
A lição começa assim:
Talvez ainda não esteja bem claro para ti que cada decisão que tomas é uma decisão entre uma mágoa e um milagre. Cada mágoa se ergue como um escudo sombrio de ódio diante do milagre que ela quer esconder. E, quando tu o ergues diante de teus olhos, não verás o milagre que está além. No entanto, ele espera por ti na luz o tempo todo, mas, em seu lugar, tu vês as tuas mágoas.
Hoje vamos além das mágoas, para ver de preferência o milagre em lugar delas. Vamos inverter o modo que vês não permitindo que a vista se detenha antes de ver. Não esperaremos diante do escudo de ódio, mas o deporemos e, em silêncio, ergueremos suavemente os olhos para ver o Filho de Deus.
Já aprendemos que as mágoas são ataques ao plano de Deus para a salvação. E já sabemos que a salvação é a alegria e a paz que os milagres nos oferecem. É preciso que pratiquemos para nos tornarmos capazes de abandonar as mágoas, que escondem o milagre e nos afastam do plano de Deus para a salvação.
Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.
Quem não quer trocar suas mágoas por um milagre? O ego, é claro. Sempre e tão somente o ego. Pois é apenas o orgulho do ego que nos impede por vezes de reconhecer nosso direito aos milagres, e que, por consequência, nos impede de vê-los e de recebê-los. Cada pessoa que se apresenta a nós a cada dia traz consigo a oportunidade de vermos o Filho de Deus, desde que estejamos abertos ao milagre que cada encontro reserva.
É isso que a lição nos quer ensinar, ela quer que saibamos ver o Filho de Deus, que se esconde por detrás de cada mágoa que guardamos.
Assim:
Ele espera por ti atrás de tuas mágoas e, quando tu as abandonares, ele aparecerá na luz resplandecente no lugar em que cada uma estava antes. Pois cada mágoa é um obstáculo à visão e, quando ela é suspensa, vês o Filho de Deus aonde ele está sempre. Ele se encontra na luz, mas tu estavas nas trevas. Cada mágoa tornou as trevas mais profundas e não podias ver.
Hoje tentaremos ver o Filho de Deus. Não nos permitiremos ficar cegos a ele; não olharemos para nossas mágoas. Assim se inverte o modo de ver do mundo, quando, longe do medo, ficamos alertas em favor da verdade. Selecionaremos uma pessoa que usas como alvo de tuas mágoas e abandonaremos as mágoas, e olharemos para ela. Alguém a quem, talvez, temas e até odeies; alguém que pensas amar e que te irritou; alguém a quem chamas de amigo, mas que às vezes percebes como complicado ou difícil de agradar, exigente, irritante ou infiel ao ideal que deveria aceitar com seu, de acordo com o papel que escolheste para ele.
Não são sempre as mesmas pessoas que escolhemos para nos queixarmos da vida? Não é sempre de Fulano, Fulana, ou de Sicrano, Sicrana, que guardamos mágoas? Não são ele ou ela que precisam mudar alguma coisa para atender a nosso padrão de qualidade de/no relacionamento? Será que ele não poderia deixar de ser tão babaca? Ou ela não poderia deixar de ser tão metida?
De quem falamos exatamente? Sabemos? Será que não estamos falando de um filho ou de uma filha de Deus, criados a Sua imagem e semelhança? Puros, inocentes e perfeitos. Ou será que Deus se enganou quando criou alguns de nós? Alguns vieram com defeito de criação?
Pausa para uma reflexão pertinente:
Quantos e quantas de nós, insatisfeitos e insatisfeitas com o estado de coisas que o país vive, por conta da pessoa que ocupa o cargo máximo na hierarquia do governo - e das pessoas que o apoiam e comungam de suas ideias - já nos deixamos levar pela raiva, pelo ódio, e desejamos que alguma coisa de ruim aconteça a ele e a todas as pessoas que o apoiam? Quantos e quantas de nós já não pensamos que Deus se enganou ao criar este tipo de pessoa? Quantos e quantas de nós já não cedemos aos anseios do ego e nos proclamamos inimigos deste Filho de Deus, taxando-o de filho do diabo? De insensato, de perverso? De encarnação da maldade, de genocida e de tantos outros adjetivos de que se vale o ego para seus julgamentos?
Será que é assim procedendo que vamos manifestar a luz do mundo? Será que é assim que vamos semear o perdão? O que será que temos de aprender com Jair Bolsonaro a respeito de nós mesmos, de nós mesmas? O que precisamos perdoar em nós mesmos e em nós mesmas para que a luz do mundo que trazemos em nós chegue também a ele e a todas as pessoas que se alinham ao modo de pensar dele? Será que julgando-o e o condenando, vamos ser capazes de criar um mundo de paz e de luz? Um mundo perdoado? Será que julgando-o e o condenando e desejando a ele todo o mal que alguém (no ego) pode desejar a alguém, estamos assumindo nosso lugar de direito na criação de um mundo de alegria e de paz completas e perfeitas, que é a Vontade de Deus para todos e todas nós?
Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.
É a lição de hoje que vai nos permitir abandonar as mágoas de uma vez por todas. Ela vai nos permitir libertar, se de fato quisermos viver a liberdade, todos aqueles e aquelas que mantemos sob o jugo de nosso julgamento.
Este precisa melhorar em tal setor. Esta precisa melhorar naquele. Este precisa falar menos. Esta precisa aprender a falar apenas quando lhe pedem. Este precisa aprender a escutar. Esta precisa aprender a se vangloriar menos. Jair Bolsonaro, seus filhos, seus apoiadores e suas apoiadoras precisam aprender a olhar com compaixão para os brasileiros e brasileiras. Mas... e nossa compaixão? De quem estamos falando, quando falamos deste ou daquele, desta ou daquela? Temos firme em nós a lembrança de que todas as pessoas que povoam nosso mundo são espelhos que nos mostram, muitas vezes, coisa que não queremos ver em nós?
A lição diz:
Tu sabes a quem escolher; seu nome já passou por tua cabeça. Ele será aquele em quem pediremos que o Filho de Deus te seja mostrado. Por vê-lo além das mágoas que guardas contra ele, aprenderás que aquilo que estava escondido enquanto não o vias existe em todos e pode ser visto. Ele, que era inimigo, é mais do que amigo, quando é libertado para assumir o papel sagrado que o Espírito Santo estabelece para ele. Deixa que ele seja o salvador para ti hoje. É este o papel dele no plano de Deus, teu Pai.
Nossos períodos de prática mais longos, hoje, o verão neste papel. Tentarás conservá-lo em tua mente, primeiro tal como o consideras agora. Vais rever seus defeitos, as dificuldades que tiveste com ele, a dor que ele te causou, sua negligência e todas as pequenas e as maiores feridas que ele provocou em ti. Considerarás o corpo dele com seus defeitos e qualidades também e pensarás em seus erros e até mesmo em seus "pecados".
Que tal sermos honestos e libertar da prisão em que encarceramos todas as pessoas que passaram, as que passam e as que ainda vão passar, por nossa vida? Eis aí a oportunidade. A lição nos pede para escolhermos um, mas podemos estender o alvará de soltura a todos que mantemos prisioneiros de nossas mágoas.
Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.
Quando aceitamos os milagres para substituir as mágoas que guardamos deste ou daquele irmão, nós os libertamos para serem o que são na Verdade: filhos de Deus. E, ao libertá-los, nós também nos libertamos para reconhecer e aceitar que ainda somos como Deus nos criou.
Haverá alegria maior do que receber o milagre da liberdade e de estendê-lo a tudo e a todos no mundo?
É o que faremos a seguir, continuando a ouvir a orientação do exercício:
Em seguida, vamos pedir Àquele Que conhece este Filho de Deus em sua realidade e verdade que possamos olhar para ele de modo diferente e ver nosso salvador resplandecendo à luz do perdão verdadeiro, dado a nós. Pedimos a Ele pelo Nome santo de Deus e de Seu Filho, tão santo quanto Ele Mesmo:
Permite que eu veja meu salvador neste que Tu designaste
como aquele a quem devo pedir que me conduza à luz santa
em que ele se encontra, para que eu possa me unir a ele.
Os olhos do corpo estão fechados e enquanto pensas naquele que te magoou, deixa que se revele a tua mente a luz nele, que está além de tuas mágoas.
Aquilo que pedes não pode ser negado. Teu salvador espera por isto há muito tempo. Ele quer ser livre e tornar tua a liberdade dele. O Espírito Santo se inclina dele para ti, não vendo nenhuma separação no Filho de Deus. E aquilo que vês por intermédio d'Ele libertará ambos. Fica muito calmo agora e olha para teu salvador resplandecente. Nenhuma mágoa sombria esconde a vista dele. Tu permitiste que o Espírito Santo revelasse por meio dele o papel que Deus Lhe deu, para que possas ser salvo.
As práticas da lição de hoje vão nos ensinar a ver o Filho de Deus, em nós mesmos e em todos aqueles para quem olharmos ao longo do dia, porque vão nos permitir escolher o milagre em lugar de quaisquer mágoas que ainda alimentemos. Pois nosso pedido não pode ser negado. Quando escolhemos mudar, a mudança já foi realizada para nós.
Elas vão permitir também que abandonemos as imagens falsas - frutos do julgamento - que fazemos de nossos irmãos e irmãs e de todos aqueles e de todas aquelas com quem convivemos neste mundo, permitindo que cada um deles - e cada uma delas - seja visto/a como nosso(a) salvador(a), mostrando-nos a luz que se esconde - em nós mesmos/as e em cada um(a) daqueles(as) em quem pensarmos ou encontrarmos - por detrás de nossas mágoas.
Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.
É isto e apenas isto que precisamos fazer hoje. Abrir-nos à Voz por Deus e deixar que Ele nos ensine a deixar de lado tudo o que pode causar mágoas, por ser apenas instrumento da ilusão. E Deus nos será grato, do mesmo modo que somos agradecidos a Ele, pela alegria de experimentar a liberdade que oferecemos a todos os nossos irmãos e irmãs.
Eis o que nos diz, por fim, a lição, para ajudar em nossas práticas:
Deus te agradece hoje por estes momentos de serenidade, nos quais abandonaste tuas imagens e olhaste para o milagre do amor que o Espírito Santo te mostrou nos lugar delas. O mundo e o Céu se unem em agradecimento a ti, pois nem sequer um Pensamento de Deus deixa de se regozijar quando tu és salvo e o mundo inteiro contigo.
Nós nos lembraremos disto ao longo do dia e assumiremos o papel que nos foi designado como parte do plano de Deus para a salvação, e não o nosso. A tentação desaparece quando permitimos que cada um que encontramos nos salve e nos recusamos a esconder sua luz atrás de nossas mágoas. Permite que o papel de salvador seja oferecido a cada um que encontrares, e àqueles do passado em quem pensares ou de quem lembrares, para que possas compartilhá-lo com eles. Para ambos, e também para todos os que não veem, pedimos:
Deixa os milagres substituírem todas as mágoas.
Às práticas?
ADENDO:
Caras, caros, este adendo foi acrescentado ao comentário dos últimos anos após os comentários de nossa colega, Cida, postados em 14 e 15 de março de 2016. Caso alguém tenha interesse em lê-los é só acessar a lição e seu comentário conforme a postagem daquele ano. Repito-o por considerá-lo pertinente ainda.
Cida, querida,
Li seu comentário postado após o texto que explora a lição de 14 de março [Não há nenhuma vontade a não ser a de Deus.] e republicado no dia 15 de março, como comentário à lição: "A luz veio". Desculpe-me não ter dito nada a respeito antes, já que isso me parece ser uma questão crucial para você. Não foi possível fazê-lo antes de agora [na verdade o que você vai ler juntamente com as/os colegas que acompanham o blogue foi pensado e escrito ontem].
Pensei em lhe pedir seu endereço eletrônico - e-mail pessoal - para lhe responder, ou para tecer um comentário, ou compartilhar uma reflexão a respeito do que você diz de forma privada. Mas, como o Curso ensina que não existem pensamentos privados, resolvi comentar aqui mesmo. Até porque - quem sabe? - o que tenho para dizer pode ser útil a mais do que apenas a uma pessoa, você no caso.
"Não há nenhuma vontade a não ser a de Deus." e "A luz veio.". São as lições de que falamos.
Concordo com o que você diz, seu posicionamento, acerca da palavra "Deus". Acho que está correto. À maneira do catolicismo, mormente o "apostólico romano", Deus é algo inatingível, algo exterior a nós. Um rei, um imperador, um césar, alguém, um ser que, criado/inventado à semelhança do homem, como o foram os deuses da mitologia greco-romana, e de várias outras mitologias, governa o Universo com mãos férreas, punindo-nos e nos castigando, e nos condenando ao fogo do inferno - ao mármore do inferno, se preferirem - ao menor deslize.
Assim como a palavra "Deus", o Curso emprega outras palavras retiradas do léxico cristão, da terminologia católica. Por isso há lá no final do livro aquele capítulo intitulado "Esclarecimento de Termos", para que não nos deixemos enganar pelas palavras, para que arejemos todos os conceitos que trazemos arraigados em nós, por conta da educação judaico-cristã, quando é o caso. E, claro, para facilitar que nos livremos de quaisquer pré-conceitos/preconceitos em relação à linguagem de que se vale o Curso.
Portanto, quando tivermos qualquer dúvida ou qualquer dificuldade em relação a algo que o Curso diz, é importante buscarmos lá, nos esclarecimentos de termos, o sentido em que a palavra é utilizada pelo Curso, para que ela não entre em choque com o que aprendemos, ou para que não seja contaminada pelo aprendizado anterior que tivemos dela.
É claro já, acredito, para todos quantos passeiam por aqui que o Deus do catolicismo, exterior a nós, não existe. É uma ideia enganadora que as igrejas-instituições constituídas por homens e mulheres sedentos de poder quiseram - e ainda querem - nos vender.
Como eu disse também, no comentário a uma lição recente, se não me engano, não existe um deus, nenhum deus, separado de nós. Assim, não há como dizer, deus e eu, deus e tu, ou deus e nós. Só existe Deus. E o que Ele/Ela é, Ele/Ela é em nós, conosco. Fora de nós não há nada. Assim como também não há nada, nem eu, nem tu, nem nós, fora de Deus.
Na verdade, como o taoísmo ensina, tudo o que se disser a respeito do Tao não é o Tao. Isso também se aplica do Deus do Curso, ou a Deus Deus, demos a ele/ela o nome que dermos.
Talvez seja mais fácil pensar num deus, numa energia criadora e regeneradora, num ser todo-poderoso, onipresente e onisciente, e sem forma, pensando, por exemplo, mas não só, no vento, algo que não se pode ver, mas cuja presença se faz sentir. Às vezes, calma e tranquilamente, como num sopro, uma brisa leve, outras, como uma rajada de força avassaladora que varre céus e terra e mares.
Podemos pensar em deus ainda como a luz que nos permite ver, e que está presente em tudo e em todos, mesmo naqueles que não têm consciência disso.
Óbvio é que, com um deus internalizado, fica mais fácil [ou não] para cada um de nós assumir a total e completa responsabilidade por sua vida. E pela vida de todos os que povoam este mundo. E por tudo o que acontece a cada um de nós em sua vida individual e também por tudo o que acontece [pelo menos tudo aquilo que por alguma razão nos chega à consciência] neste mundo que inventamos de modo coletivo e compartilhado para viver a experiência da forma e as percepções dos sentidos.
Perfeito, não?
Agora tratemos daquilo em que você diz querer/precisar se aprofundar. Todos nós também.
O Curso trata em algumas lições da questão da mágoa, que podemos considerar sinônimo de ressentimento, raiva, ódio ou qualquer outra emoção que nos leve a nos afastarmos uns dos outros. Isto é, qualquer emoção que venha a reforçar a crença na separação, que não tem nada a ver com o EU SOU O QUE SOU, que somos em Deus, com Ele/Ela.
O tema das mágoas aparece nas lições 68 (O amor não guarda mágoas.), 69 (Minhas mágoas escondem a luz do mundo em mim.), 72 (Guardar mágoas é um ataque ao plano de Deus para a salvação.) e nesta, 78 (Deixa que os milagres substituam todas as mágoas). Entre elas, há as lições 70 (Minha salvação vem de mim.), que traz consigo a forma de resolver as questões todas; as lições 71 (Só o plano de Deus para a salvação funcionará.), a 73 (Eu quero que haja luz.), a 74 (Não há nenhuma vontade a não ser a de Deus.), a 75 (A luz veio.) e as que seguem até esta e as seguintes, que tratam do reconhecimento do problema para ele poder resolvido e do reconhecimento de que, na verdade, todos os problemas já estão resolvidos. Todas elas nos oferecem instrumentos valiosos e poderosos para a cura de todas as mágoas. Para que nos libertemos da crença na separação, abandonando-a de uma vez por todas.
Bem, há uma frase atribuída a Shakespeare que penso já ter citado por aqui nalgum momento, que, de certa forma, resume a questão da mágoa, seja na forma de ressentimento, raiva, ódio ou de qualquer outra emoção que nos separe uns dos outros e do divino em nós mesmos.
Diz ele o seguinte, parafraseando, porque não tenho comigo a expressão original:
Ressentir-se de alguém é como tomar veneno e esperar que esse alguém morra.
Guimarães Rosa, em seu Grande Sertão: Veredas, também fala de algo que aprendeu com Zé Bebelo a respeito de se ter raiva. O que ele diz é:
"... raiva mesmo nunca se deve tolerar de ter. Porque quando se curte raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar que essa própria pessoa [aquela de quem se sente raiva] passe durante o tempo governando a ideia e o sentir da gente, e que isso era falta de soberania, e farta bobice e fato é."
O ponto crítico da mágoa, de qualquer forma que ela se apresente, seu ponto central, está, como não poderia deixar de ser, no equívoco de pensarmos que alguma coisa, ou alguém, fora de nós pode nos magoar e ferir.
Mais: inadvertidamente, por equivocados, ou inconscientes momentaneamente de nossa absoluta e total responsabilidade por tudo o que vivemos, não fica claro muitas vezes que as mágoas ou o ressentimento que temos em relação a alguém, ou a alguma coisa, está de fato em acreditarmos que esse alguém, ou essa coisa, fez algo a nós com a intenção de nos prejudicar.
Escapa-nos à consciência, por uma das estratégias de defesa do ego, que o que estamos fazendo ao acusar alguém, ao culpar alguém, ao julgar alguém por alguma coisa que aconteceu a nós, estamos apenas acusando, culpando ou julgando a nós mesmos.
O primeiro tema da segunda parte do livro de exercícios do Curso trata do perdão. É: O que é o perdão?
Ele começa por dizer que:
"O perdão reconhece que o que pensaste que teu irmão fez a ti não ocorreu."
E basta!
Sei que o tema do abuso sexual é penoso para os/as que passaram por ele, mas se trouxermos à consciência a neutralidade do mundo e, por extensão, a do corpo, talvez fique mais fácil, mais leve, quem sabe?, entender que aquilo que o irmão fez a alguém, de fato, não aconteceu na realidade, apenas na ilusão, por um acordo [claro que um acordo inconsciente na grande maioria das vezes] que levou a "vítima" e o "carrasco" a partilharem a experiência que escolheram viver juntamente.
Dizer a uma pessoa que passou pela experiência de abuso sexual que ela "escolheu" passar por tal experiência sempre pode soar como acusação, o que em absoluto não é o que estou fazendo. Mas, quando realmente assumimos de forma consciente a responsabilidade por tudo o que acontece em nossas vidas, podemos voltar a episódios passados de nossa vida e perceber que, em função de crenças e medos que mantínhamos à época em que se desenrolou algum acontecimento traumático em nossa experiência, "aconteceu a única coisa que poderia ter acontecido", como ensina a segunda das quatro leis espirituais que se aprende na Índia, tanto a respeito da experiência individual de cada um seu próprio mundo, qualquer que seja ele, quanto acerca da experiência coletiva que compartilhamos.
A mágoa - assim como a dor, o ressentimento, a raiva, a culpa, o ódio e o medo - só pode durar enquanto, de modo equivocado, julgamos as escolhas que fazemos ou fizemos, ou enquanto nos negarmos a aceitar a parte da responsabilidade que temos naquilo que se apresenta a nossa vida.
Em função de tudo o que o ensinamento do Curso nos oferece, trazendo dia a dia uma lição a nossas práticas, se seguirmos ao pé da letra as orientações que ele dá, vamos ver o mundo cada dia mais se transformar em Céu.
É extremamente importante "não guardar mágoas", de acordo com as lições do Curso, porque são elas que nos tornam prisioneiros do passado, do mundo, do sistema de pensamento do ego.
Aquilo tudo que acontece em nossa vida, queiramos ou não, tenhamos consciência disso ou não, é sempre fruto de uma escolha que fizemos nalgum momento. Por isso quase nunca importa tanto o que aparentemente acontece, ou aconteceu, mas quase sempre importa mais o que o acontecido tem a nos revelar a respeito de nossas escolhas, de nosso sistema de crenças. O que o acontecido revela ser preciso mudar em nossa forma de pensar e de ver o mundo.
Guardar mágoas, parece-me, nos torna carcereiros de nós mesmos, aprisiona-nos à culpa que dá existência ao ego, ao julgamento que fazemos, via ego, de nossas escolhas, que resultam em experiências que, conscientemente, pensamos que não escolheríamos.
Mas, se elas se apresentam, o que fazer?
Até quando vamos manter o Ser em nós aprisionado por uma experiência ilusória vivida pelo corpo que só tem valor para o ego?
Espero que esta longa reflexão possa ser útil para esclarecer alguma coisa com respeito ao que o Curso ensina, à luz das ideias que nos trazem as lições que tratam da questão das mágoas.
Abraço-as/os a todas/os amorosamente.
Paz e bem!
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