domingo, 6 de março de 2022

Há que se questionar tudo, e fazer novas perguntas

 

LIÇÃO 65

Minha única função é a que Deus me deu.

1. A ideia para hoje reafirma teu compromisso com a salvação. Ela também te lembra de que não tens nenhuma função diferente desta. Estes dois pensamentos são obviamente necessários para um compromisso total. A salvação não pode ser o único objetivo que manténs, enquanto ainda nutrires outros. A completa aceitação da salvação como tua única função envolve necessariamente duas fases; o reconhecimento da salvação como tua única função e o abandono de todas as outras metas que inventas para ti mesmo.

2. Esta é a única maneira pela qual podes assumir teu lugar legítimo entre os salvadores do mundo. Esta é a única maneira a partir da qual podes dizer com propriedade: "Minha única função é a que Deus me deu". Esta é a única maneira pela qual podes achar a paz de espírito.

3. Hoje, e nos próximos dias, reserva de dez a quinze minutos para um período de prática mais longo, no qual tentas compreender e aceitar o que a ideia para o dia, de fato, significa. A ideia de hoje te oferece saída para tudo o que consideras serem tuas dificuldades. Ela coloca em tuas próprias mãos a chave da porta para a felicidade, que fechas para ti mesmo. Ela te dá a resposta para toda busca que fazes desde que o tempo teve início.

4. Tenta, se possível, empreender os períodos prolongados de prática diária mais ou menos no mesmo horário a cada dia. Tenta também definir este horário com antecedência e, então, ser tão fiel a ele quanto possível. O objetivo disto é organizar teu dia de forma que reserves tempo para Deus tanto quanto para os objetivos e metas corriqueiros que buscarás. Isto é parte do treinamento disciplinar de longo alcance de que tua mente necessita, a fim de que o Espírito Santo possa usá-la de modo coerente para o objetivo que Ele compartilha contigo.

5. Nos períodos de prática mais longos, começa pela revisão da ideia para o dia. Em seguida, fecha os olhos, repete a ideia para ti mesmo mais uma vez e observa a tua mente com bastante cuidado para captar quaisquer pensamentos que passem por ela. Em primeiro lugar, não faças nenhuma tentativa de te concentrares apenas nos pensamentos afins à ideia para o dia. Em lugar disso, tenta descobrir cada pensamento que surgir para se opor a ela. Observa cada um enquanto ele chega a ti, com o menor envolvimento ou interesse possível, descartando-os um a um, ao dizeres a ti mesmo:

Este pensamento reflete uma meta que
me impede de aceitar minha única função.

6. Depois de algum tempo, será mais difícil achar pensamentos de intromissão. Experimenta, porém, continuar por cerca de um minuto mais, para tentar captar alguns dos pensamentos vãos que escaparam a tua atenção antes, mas não te canses nem recorras a um esforço indevido para fazê-lo. Em seguida, dize a ti mesmo:

Que minha função verdadeira seja escrita
para mim neste espaço em branco.

Não é necessário que uses exatamente estas palavras, mas tenta obter a sensação de estar disposto a deixar que tuas ilusões de metas sejam substituídas pela verdade.

7. Finalmente, repete a ideia para hoje mais uma vez e dedica o tempo restante do período de prática a tentar concentrar tua atenção na importância dela para ti, no alívio que sua aceitação te trará ao resolver teus conflitos de uma vez por todas, e no quanto queres realmente a salvação apesar de tuas próprias ideias tolas em contrário.

8. Nos períodos de práticas mais breves, que devem ser empreendidos ao menos uma vez por hora, utiliza esta forma para a aplicação da ideia de hoje:

Minha função é a que Deus me deu.
Eu não quero e não tenho nenhuma outra.

Fecha os olhos algumas vezes ao praticar isto e outras mantém-nos abertos e olha a tua volta. É o que vês que mudará por completo quando aceitares inteiramente a ideia de hoje.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 65

"Minha única função é a que Deus me deu."

Tomara soubéssemos de verdade isso que a lição nos diz e aceitássemos o desafio que é reconhecer que não temos nenhuma outra função que não aquela que nos é dada por Deus. Mesmo que ainda não saibamos qual é ela, mesmo que não a compreendamos, quando formos apresentados a ela. E, com certeza, mais dia, menos dia, seremos.

Qual é, pois, esta função?

Há que se mergulhar o mais profundamente possível no silêncio, em direção ao mais íntimo em nós mesmos, para chegar à aceitação de que só seremos de fato felizes quando nos decidirmos a assumir o papel que nos cabe na salvação do mundo. E qual é este papel?

Vejamos como a lição diz isso:

A ideia para hoje reafirma teu compromisso com a salvação. Ela também te lembra de que não tens nenhuma função diferente desta. Estes dois pensamentos são obviamente necessários para um compromisso total. A salvação não pode ser o único objetivo que manténs, enquanto ainda nutrires outros. A completa aceitação da salvação como tua única função envolve necessariamente duas fases; o reconhecimento da salvação como tua única função e o abandono de todas as outras metas que inventas para ti mesmo.

Isto equivale a dizer que tudo o que fazemos com um objetivo diferente - isto é, pensando que podemos ter um objetivo diferente - do da salvação é apenas um tipo de distração. Uma distração que visa a adiar o momento de tomarmos a decisão pelo Céu. No entanto, como o Curso ensina: enquanto não escolheres o Céu, estás no inferno e no sofrimento. 

No fundo, no fundo, no mais íntimo de nós mesmos, cada um de nós sabe de que forma vai chegar à salvação. De que modo vai ser capaz de levá-la a tudo e a todos no mundo. Porque nenhum de nós é feliz, ou vive apenas a alegria de ser, enquanto não está fazendo o movimento que o/a põe na sintonia do divino. Aquela sintonia que nos permite conhecer nossa função. E cumpri-la.

Minha única função é a que Deus me deu.

É exatamente isso que a lição diz a seguir:

Esta é a única maneira pela qual podes assumir teu lugar legítimo entre os salvadores do mundo. Esta é a única maneira a partir da qual podes dizer com propriedade: "Minha única função é a que Deus me deu". Esta é a única maneira pela qual podes achar a paz de espírito.

Se reconhecemos e aceitamos que a Vontade de Deus para nós é a mesma que nossa vontade para nós mesmos, ou para nós mesmas, não há como negar que é na alegria que encontramos a paz de espírito. E só podemos achar a alegria duradoura quando vivemos, se não na certeza, na confiança de que o plano de Deus para a salvação é o único que pode dar certo e que, é claro, todos e cada um e cada uma de nós somos partes importantes nesse plano.

Tanto é assim que há um ponto no texto em que lemos: o Próprio Deus é incompleto sem mim.

Minha única função é a que Deus me deu.

Repetindo o que eu já disse outras vezes, não é a busca de respostas que vai nos levar à meta. O que precisamos fazer, na verdade, é aprender a fazer as perguntas certas. Nova perguntas. Aprender a fazer aquelas perguntas que nos ofereçam os desafios necessários para que nos movamos em direção à tomada de decisão. Aprender a fazer novas perguntas a cada instante, questionando tudo o que o mundo e seu sistema de pensamento nos oferece como resposta. E mais do que apenas isso, aprender a esperar para ouvir a resposta no silêncio. Porque, como o Curso ensina também, é muito fácil distinguir se a voz que ouvimos é a do ego ou é a Voz por Deus: o ego sempre fala primeiro. Há que se ir mais fundo então, se quisermos de fato ouvir a Voz por Deus.

Já pensaram o que aconteceria, se não tivéssemos nenhuma pergunta mais a fazer?

É por isso que o Curso ensina, como lembrou Tara Singh, que não é necessário compreender. Mas há que se praticar. Há que se buscar aplicar as ideias que as lições nos oferecem. É a aplicação delas em cada momento de nossa vida, em cada situação, em cada novo encontro com as pessoas, que vai nos convencer a olhar de modo diferente para tudo e para todos.

É como a lição diz, por exemplo:

... A ideia de hoje te oferece saída para tudo o que consideras serem tuas dificuldades. Ela coloca em tuas próprias mãos a chave da porta para a felicidade, que fechas para ti mesmo. Ela te dá a resposta para toda busca que fazes desde que o tempo teve início.

Mas isso vai depender de aceitares o que de fato significa a ideia para as práticas deste dia. Vai depender também de estares disposto a seguir o restante das orientações que o Curso dá para as práticas e de te comprometeres honesta e sinceramente a lembrar de aplicar a ideia ao teu dia.

Minha única função é a que Deus me deu.

As práticas com esta ideia podem fazer com que nos demos conta de que, em geral, nossas ações e pensamentos no mundo não são nada mais do que um modo de esconder de nós mesmos quem de fato somos. De esconder de nós mesmos que sabemos qual é nossa função. De que sabemos o que nos dá a alegria plena e verdadeira, mas que não temos coragem, de fazer o que é preciso fazer para viver a partir da decisão de cumprir nossa função no mundo, por nos julgarmos de um modo ou de outro. 

Nesta brincadeira de pensar e agir no mundo como se ele de fato existisse e tivesse algum valor, somos levados a crer que há alguma coisa que precisa ser mudada. Algo que pode ser melhorado. Às vezes, em nós mesmos/as, às vezes, nas outras pessoas, esquecendo-nos a maior parte do tempo de que nós também somos as outras pessoas e elas são nós também. Muitas vezes achamos que há algo que pode ser melhorado no mundo. Mas quem, a não ser o ego, pode imaginar que é possível melhorar a Criação?

E quem, a não ser o ego, quer compreender o mundo e buscar respostas para os acontecimentos e situações? Só o ego, cuja atividade é apenas a de disfarçar aquilo que vemos para nos convencer a acreditar que há alguma coisa de valor no mundo, quer compreender. Só o ego acredita que há algo de valor neste mundo. Algo que possamos querer. Algo fora de nós mesmos que possa nos levar a alegria, que possa nos dar a paz. Mas, lembremo-nos, não há nada fora.

O que acontece na maioria das vezes é que, ao embarcarmos em uma linha de pensamento, buscando soluções para problemas que enfrentamos pessoalmente ou que pensamos que outras pessoas enfrentam, não percebemos que é esta mesma linha de pensamento em que embarcamos que nos impede de manter presente a ideia que a lição nos pede para praticarmos hoje. Como ela mesmo diz para refletirmos a respeito de determinados pensamentos, quando nos pomos a observá-los: 

Este pensamento reflete uma meta 
que me impede de aceitar minha única função.

Não é assim que se apresentam a nós muitos dos problemas com que temos de lidar? Não é assim que eles se perpetuam em nossa experiência, como se não houvesse uma forma de viver que não envolvesse lidar com milhares de problemas diferentes. Todos são o mesmo. E derivam do único problema que, de fato, precisamos resolver: a crença na separação. 

Thomas Merton, em um livro publicado postumamente, intitulado "A experiência interior", diz o seguinte: 

"Uma das estranhas leis da vida contemplativa [esta vida que leva em conta a necessidade do contato diário com o divino e com as coisas do espírito em nós] é que nela você não se senta para resolver problemas, você simplesmente os suporta até que, de algum modo, se resolvam sozinhos, ou até que a própria vida os resolva para você. Normalmente, a solução consiste em descobrir que os problemas só existiam por estarem inseparavelmente ligados a nosso próprio eu exterior e ilusório [o ego, a imagem de nós mesmos que construímos a partir da crença na separação]. Assim, a solução da maioria desses problemas vem com a dissolução desse falso eu."

E isso se dá - a dissolução do falso eu - com a busca da consciência da Presença de Deus em nós. Ele é o Único Poder. Não há nada fora d'Ele, assim como não há nada fora de nós. Tudo aquilo para que olhamos é apenas a materialização de nossos pensamentos como que numa tela de cinema. E o melhor de tudo é que o filme a que assistimos só pode ter um final para todos nós à luz da consciência do divino: a alegria completa e perfeita.

Para tanto, basta que aceitemos e pratiquemos e apliquemos a ideia da lição de hoje: 

Minha única função é a que Deus me deu. 

Às práticas?

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