quinta-feira, 26 de setembro de 2019

Algum dia vamos entender a Vontade de Deus?


5. O que é o corpo?

1. O corpo é uma cerca que o Filho de Deus imagina ter construído para separar partes de seu Ser de outras partes. É dentro desta cerca que ele pensa viver para morrer quando ela enfraquecer e se deteriorar. Pois dentro desta cerca ele pensa estar a salvo do amor. Identificando-se com sua segurança, ele percebe a si mesmo como aquilo que sua segurança é. De que outra forma ele poderia ter certeza de que permanece no interior do corpo e de que mantém o amor do lado de fora?

2. O corpo não permanecerá. Mas ele vê isto como segurança em dobro. Pois a impermanência do Filho de Deus é "prova" de que suas cercas funcionam e cumprem a tarefa que sua mente atribui a elas. Pois, se sua unidade ainda permanecesse intocada, quem poderia atacar e quem poderia ser atacado? Quem poderia ser vitorioso? Quem poderia ser sua presa? Quem poderia ser vítima? Quem o assassino? E, se ele não morresse, que "prova" haveria de que o Filho de Deus pode ser destruído?

3. O corpo é sonho. Igual a outros sonhos, algumas vezes ele parece retratar a felicidade, mas pode bem repentinamente retroceder para o medo, onde nascem todos os sonhos. Pois só o amor cria na verdade e a verdade nunca pode ter medo. Criado para ser medroso, o corpo tem de servir ao propósito que lhe foi dado. Mas nós podemos mudar o propósito a que o corpo obedecerá mudando o que pensamos acerca de sua finalidade.

4. O corpo é o meio pelo qual o Filho de Deus volta à sanidade. Ainda que ele tenha sido feito para prendê-lo no inferno de forma irremediável, apesar de a meta do Céu ter sido trocada pela busca do inferno. O Filho de Deus estende sua mão para alcançar seu irmão e para ajudá-lo a caminhar pela estrada junto com ele. O corpo se torna sagrado imediatamente. Agora ele serve para curar a mente à qual ele tinha feito para matar.

5. Tu te identificarás com aquilo que pensas que te deixará seguro. Seja isso o que for, acreditarás que é um contigo. Tua segurança está na verdade, e não em mentiras. O amor é tua segurança. O medo não existe. Identifica-te com o amor e estás seguro. Identifica-te com o amor e estás em casa. Identifica-te com o amor e encontras teu Ser.


*

LIÇÃO 269

Minha visão vai além para ver a face de Cristo.

1. Peço Tua bênção sobre minha visão hoje. Ela é o instrumento que Tu escolheste para vir a ser o modo de me mostrar meus erros e de olhar para além deles. Cabe a mim encontrar uma nova percepção a partir do Guia que Tu me deste e, a partir das lições d'Ele, ultrapassar a percepção e voltar à verdade. Peço a ilusão que transcende todas as que inventei. Hoje escolho ver um mundo perdoado, no qual todos me mostram a face de Cristo e me ensinam que aquilo para que olho me pertence, que não existe nada a não ser Teu Filho santo.

2. Hoje, de fato, nossa visão é abençoada. Compartilhamos uma só visão, quando olhamos para a face d'Aquele Cujo Ser é o nosso. Somos um por causa d'Ele Que é o Filho de Deus, d'Ele Que é nossa própria Identidade.



*

COMENTÁRIO:


Explorando a LIÇÃO 269

Antes de entrar no comentário à lição, vou novamente registrar e agradecer a nossa colega Cida Guimarães por um comentário feito por ela, em anos passados, após nossas práticas com a ideia da lição 266: Meu Ser sagrado vive em ti, Filho de Deus


Contou-nos ela, na ocasião, que estivera fora do Brasil, distante das práticas e do contato com blogue, prática diária que passou a retomar aos poucos.

Uma vez que ela ainda está conosco, quero agradecer a ela, exatamente por isto, por estar conosco e se dar ao trabalho de compartilhar suas vivências. Quanto ao aprendizado que ela disse ter tido fora do país, e que considerou bastante significativo, foi o fato de não ter tido preocupações ou medos sobre a realidade brasileira, por ter ficado sem saber dos acontecimentos por aqui. O que, pode-se dizer, é apenas a confirmação de que não existe nada fora, como o Curso ensina. 

Na verdade, "a realidade brasileira", ou qualquer outra "realidade" deste mundo, é apenas mais um dos aspectos da ilusão que nos oferece o mundo, que construímos, individual e/ou conjuntamente, em nossas mentes. A Realidade é una e diz respeito ao Ser sagrado que somos e de que fazemos parte na unidade. Não existem aspectos separados por indivíduos ou nações, a não ser na ilusão. Assim, é muito claro que ao nos afastarmos momentaneamente de uma situação para colocar nossa atenção em outra, a situação de que nos afastamos desaparece, pois já não ocupa espaço em nossa mente.

O outro ponto de que Cida falava em seu comentário é também passível de ser visto a partir do ensinamento do Curso como a confirmação da ideia para as práticas de sábado. O Ser sagrado de cada um de nós vive no Filho de Deus, em nós mesmos. Ou não seria sagrado. Ou não seríamos como Deus nos criou. É também muito claro que quando nos pomos em contato com a natureza e nos deixamos levar, ou fluir, por seu ritmo, estamos simplesmente deixando que tudo seja exatamente como é, ou seja, estamos praticando liberar o mundo de tudo o que pensávamos que ele fosse. Daí, só podem surgir paz e alegria. 

Por outro lado, quando nos deixamos absorver pela estática e pelo burburinho de gentes e gentes nos espaços urbanos [e nos espaços das redes sociais também, é claro] que têm pressa, precisamos fazer um grande esforço para não sucumbir aos enganos do ego, do falso eu, e embarcar no julgamento.

Assim, é como Cida dizia, a integração de vivências diversas exige que nos desapeguemos de nossas preferências - que são sempre do ego -, para ampliar nossa visão e perceber que é só a ilusão que nos cerca e que, por isso, é preciso que nos voltemos sempre e cada vez mais para dentro de nos mesmos na busca do equilíbrio e da visão crística, que só o Ser sagrado em nós nos pode oferecer.

E outra vez agradeço a Cida por estar conosco, acompanhando nossas práticas, e por fazer parte de nosso convívio.

Dito isto, então, acho que vale a pena repetir ainda uma mais vez o comentário feito anteriormente para a lição deste dia. É uma forma de estender e ampliar o alcance da reflexão da ideia para as práticas. Assim, como o fiz em anos passados, em lugar de um comentário feito por mim, vou dividir de novo com vocês um pequeno capítulo que traduzi do livro "Christ in You" [O Cristo em ti], de autor anônimo, publicado pela primeira vez em 1909, de que já falei outras vezes. 

Como já disse antes também, cada um dos capítulos do livro é uma lição. Esta em particular, acredito, pode ser de grande auxílio para o aprendizado da mudança de percepção. Ela trata dos processos que os pensamentos desencadeiam, o que nos permite aprender que precisamos prestar mais atenção a eles ["Orai e vigiai."], se de fato quisermos aprender a olhar e a ver em todos a face de Cristo.

A lição/capítulo se intitula A vontade de Deus e diz o seguinte:

Quanto tempo demora para entendermos a vontade de Deus!

Com frequência usas a expressão: "eu me decidi". Esta expressão tem um significado muito forte, se parares para refletir a respeito dela, pois naquele processo mesmo começas a trazer para a manifestação o desejo da mente. Desta forma dizes: "Percebo uma condição errada em minha mente, em minha mentalidade, em minhas circunstâncias; vou me decidir que isto desapareça". Mentalmente pões em movimento as forças visíveis e invisíveis do universo para realizar tua vontade.

Vês, é impossível viver de forma desatenta ou leviana no plano espiritual e estas lições seriam inúteis para qualquer um que não tenha despertado para a verdadeira consciência espiritual, a consciência da humanidade divina, o Eu Sou. De que forma a vontade de Deus pode se exprimir a não ser pela vida, pela humanidade nos corações e mentes de seres que existem n'Ele Mesmo? Sabe, portanto, que a vontade de Deus opera em ti mesmo.

Como é, então, que as coisas que queremos e desejamos não vêm a nós, podes perguntar.

Porque no mais fundo em todos os teus desejos, pensamentos e propósitos existe, por assim dizer, uma propensão oculta, o pensamento dentro do pensamento, o desejo dentro do desejo, e aquilo que tu mais desejas verdadeiramente está sempre na raiz de todas as tuas impressões passageiras e humores do momento. Não sentes muitas vezes que a própria coisa que desejas não é para teu bem permanente? Bem, essa mesma ideia vaga, essa leve sugestão, é do teu Ser que está fazendo tua vida. Dentro de ti mesmo, tu conheces a verdadeira qualidade, as experiências verdadeiras melhor indicadas para teu bem mais elevado. Quando fazes uso integral desta sugestão sutil por detrás de todo o teu sistema de pensamento, tu estás em unidade com a vontade de Deus, que é tua própria vontade. Esta é a voz do espírito, presta atenção a seus sussurros. Não peques contra o Espírito Santo*, ou perderás teus olhos e teus ouvidos e te tornarás cego e surdo*.

No plano dos sentidos isto é mais desastroso, porque tu estás exatamente aonde estás para cumprir a vontade de Deus. Ela é tua comida e bebida. Esta voz interior é tão delicada e tão sutil que tens de permanecer bem tranquilo e humilde, se quiseres ouvi-la. Deixa que Jesus [não a pessoa, mas o Cristo] fale contigo mais e mais, lê os Evangelhos até seres guiado mais e mais na direção de eliminar o véu que te esconde de teu Ser verdadeiro. Eu só respondi a tua pergunta, mas espero falar contigo de novo a respeito deste assunto.

Paz, Graça Celestial. Deus vive em ti, Ele é tua vida.


*NOTA: 


Uma observação apenas em relação a esta frase. Este texto foi publicado pela primeira vez em 1909/1910. Em meu modo de ver, de acordo com o ensinamento do Curso, "pecar contra o Espírito Santo" significa apenas fazer o que fazemos diariamente ao não darmos ouvidos a esta voz interior em nós mesmos [talvez possa se dizer que pecado é sinônimo de inconsciência, de falta de atenção], o que traz como resultado toda a insatisfação que vemos no mundo, a partir de nossa própria insatisfação, por estarmos a maior parte do tempo em transe, isto é, cegos e surdos. 

OBSERVAÇÃO:

Desculpem-me um texto tão longo, mas não posso, mais uma vez, me furtar a repetir aqui também - porque se refere à ideia que praticamos hoje - uma pergunta feita há já algum tempo por uma de nossas colegas de grupo de estudos: o grupo que frequentei por muitos anos. Pergunta feita de longe, pois ela estava em viagem pelos países do Leste Europeu quando lhe surgiu a dúvida. Publico aqui também a resposta que dei a ela na ocasião. Abreviando tudo ao máximo para não me alongar demais. 

A pergunta:

Nós que participamos do [grupo de estudos do] curso temos muitos propósitos em comum; certo que são vários e que com muito esforço tentamos dia a dia nos corrigir. Agora, o que eu quero aprender é como lidar com pessoas que não têm nenhum objetivo de mudar ou mesmo achar que nunca têm equívocos e que sempre estão certas. Existe uma resposta para isso ou o silêncio e a aceitação total do outro é que vale? 

A resposta:


Se você estiver bem lembrada do que o Curso ensina, "não existe nada fora". Isto quer dizer que "o outro" [ou os outros] não existe, a não ser como uma projeção de uma parte minha que ainda não reconheci, não acolhi, aceitei, em mim e não agradeci por ela se ter apresentado.

O fato de termos problemas em nossos relacionamentos é revelador apenas da necessidade de que atentemos à orientação do Curso e tomemos a decisão de olhar para o mundo [que, aliás, só existe também como projeção de tudo aquilo que trazemos dentro de nós] de modo diferente.

O que o Curso quer nos ensinar quando nos aconselha a perdoar o mundo é apenas isto: se o mundo se está apresentando de alguma forma que não nos deixa felizes, que nos afasta da alegria, é porque o estamos olhando com os olhos do falso eu, do ego. Isto é, estamos oferecendo ao mundo um julgamento de nós mesmos, considerando-nos culpados por alguma coisa, mesmo que não vejamos isto de forma consciente. É por isto que o Curso diz: "perdoa e verás de modo diferente".

Assim, em resposta a sua pergunta, que você já respondeu para si mesma, mas que o ego [o falso eu] em você parece não querer aceitar ainda, a resposta para isso é, sim, "o silêncio e a aceitação total do outro" [uma visão que vai além para ver no outro, e, por consequência, em nós mesmos, a face de Cristo], uma vez que aceitar o outro não é nada mais do que aceitar um aspecto de você mesma que você ainda não reconhece, não aceita, e pelo qual você [seu ego] ainda não é capaz de demonstrar  gratidão. 

OBSERVAÇÃO 2: 

Num dos encontros posteriores das pessoas do grupo de estudos, àquela ocasião, a mesma pessoa repetiu a pergunta de modo diferente. Daí esta segunda observação repetida aqui novamente.

Voltei e volto a repetir, reafirmando a resposta dada acima, também de modo diferente. Isto é, o fato de aprendermos, ou não, que não há nada fora, nos autoriza a pensar que, como afirma Neale Donald Walsch, em sua trilogia Conversando com Deus, nenhum de nós tem nenhuma responsabilidade para com ninguém a não ser para consigo mesmo. 

Ou dizendo ainda de modo diferente, se nossos órgãos dos sentidos, olhos, ouvidos, nariz, boca e corpo como órgãos táteis, estão atentos apenas ao que está acontecendo aparentemente fora de nós, eles estão forçosamente fechados para o espírito em nós, quer dizer, não estão sendo usados pelo espírito que nos ensina que somos todos um.

Tratemos, pois, de nos voltarmos para dentro de nós para analisar e refletir a respeito daquilo que me/nos incomoda. Será que é algo que vejo/vemos no outro, ou será que é algo que não aceito, ou não quero aceitar, em mim/nós mesmo(s)? 

O que digo, e que é exatamente o que quero dizer em relação a isto, é que enquanto repetirmos os mesmos comportamentos e tivermos as mesmas perguntas, estamos dando a clara indicação de que, no fundo, no fundo, no mais íntimo de nós mesmos, ainda não tomamos a decisão que pode nos fazer ver tudo e todos de modo diferente, e abandonar o julgamento [aquele que faço dos outros, do mundo e que no fundo revelam o quanto eu mesmo me julgo, sem perceber que meu julgamento de mim mesmo não é real, porque estou julgando apenas uma imagem que criei de mim mesmo, o falso eu, que acredito ser, mas que não é nem de longe o que sou, na verdade], e perceber claramente que o mundo é neutro. E que o valor que ele, e tudo nele, tem aparentemente é só aquele que eu mesmo atribuo a ele. 


Na verdade, parece-me, que a pessoa que tem sempre o mesmo comportamento e repete as mesmas perguntas não quer, de fato, aprender com o ensinamento. Parece-me que a dificuldade maior que a pessoa tem é ouvir, e ouvir-se, mesmo em pensamento, sem cair no julgamento de si mesma, o que a leva a julgar o(s) outro(s) e o mundo inteiro. Ela quer - e isso não é possível - que o(s) outro(s) mude(m), que o mundo mude, sem se dar ao trabalho de fazer qualquer mudança em seu modo de pensar e agir no mundo. 

Caso haja ainda qualquer dúvida para alguém em relação à pergunta feita e respondida nestas observações, talvez valha a pena olhar com vagar e atenção o comentário feito para a lição de ontem. Lá, além do que está dito aqui, estão todas as respostas possíveis para as perguntas que fazemos e que envolvem a ideia de efetuar uma mudança no mundo, ou em alguém no mundo, ou alguma coisa no mundo. Se todas as coisas são perfeitas exatamente do modo que são, quem há-de querer mudar qualquer coisa, a não ser o ego?

Às práticas? 


OBSERVAÇÃO 3:


Uma última observação que alonga ainda mais o comentário, mas que não posso me furtar a fazer, para que reflitamos acerca da maneira como nos posicionamos no mundo em relação àqueles e aquelas que convivem conosco, que pensamos conhecer bem, que mal conhecemos, de quem ouvimos falar, mas que de alguma forma compõem nosso universo, aquele que nós mesmos escolhemos construir e manter.

Ao voltar para casa depois de almoçar, no domingo, passei por três meninas, moças, que vinham em direção contrária a minha, conversando.

O que ouço de uma delas às outras duas:

"O pior é que ela se acha bonita. Isso não é demência?"

Pus-me a pensar nos comentários que fazemos a respeito deste, desta, daquele ou daquela, em determinados momentos. Será que os/as estamos vendo com o olhar crístico. Estamos vendo nas pessoas que passam por nossas vidas um ser divino e amoroso a quem devemos ser agradecidos por ter tanto a nos ensinar a nosso próprio respeito, ou estamos jogando sobre elas o nosso julgamento de nós mesmos?

Pensemos!

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