quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Deixemos o espírito em nós tomar conta de tudo


5. O que é o corpo?

1. O corpo é uma cerca que o Filho de Deus imagina ter construído para separar partes de seu Ser de outras partes. É dentro desta cerca que ele pensa viver para morrer quando ela enfraquecer e se deteriorar. Pois dentro desta cerca ele pensa estar a salvo do amor. Identificando-se com sua segurança, ele percebe a si mesmo como aquilo que sua segurança é. De que outra forma ele poderia ter certeza de que permanece no interior do corpo e de que mantém o amor do lado de fora?

2. O corpo não permanecerá. Mas ele vê isto como segurança em dobro. Pois a impermanência do Filho de Deus é "prova" de que suas cercas funcionam e cumprem a tarefa que sua mente atribui a elas. Pois, se sua unidade ainda permanecesse intocada, quem poderia atacar e quem poderia ser atacado? Quem poderia ser vitorioso? Quem poderia ser sua presa? Quem poderia ser vítima? Quem o assassino? E, se ele não morresse, que "prova" haveria de que o Filho de Deus pode ser destruído?

3. O corpo é sonho. Igual a outros sonhos, algumas vezes ele parece retratar a felicidade, mas pode bem repentinamente retroceder para o medo, onde nascem todos os sonhos. Pois só o amor cria na verdade e a verdade nunca pode ter medo. Criado para ser medroso, o corpo tem de servir ao propósito que lhe foi dado. Mas nós podemos mudar o propósito a que o corpo obedecerá mudando o que pensamos acerca de sua finalidade.

4. O corpo é o meio pelo qual o Filho de Deus volta à sanidade. Ainda que ele tenha sido feito para prendê-lo no inferno de forma irremediável, apesar de a meta do Céu ter sido trocada pela busca do inferno. O Filho de Deus estende sua mão para alcançar seu irmão e para ajudá-lo a caminhar pela estrada junto com ele. O corpo se torna sagrado imediatamente. Agora ele serve para curar a mente à qual ele tinha feito para matar.

5. Tu te identificarás com aquilo que pensas que te deixará seguro. Seja isso o que for, acreditarás que é um contigo. Tua segurança está na verdade, e não em mentiras. O amor é tua segurança. O medo não existe. Identifica-te com o amor e estás seguro. Identifica-te com o amor e estás em casa. Identifica-te com o amor e encontras teu Ser.


*

LIÇÃO 268

Que todas as coisas sejam exatamente como são.

1. Que eu não seja Teu crítico hoje, Senhor, e julgue contra Tí*. Que eu não tente me intrometer em Tua criação para distorcê-la em formas doentias. Que eu me disponha a retirar meus desejos de sua unidade e a permitir, deste modo, que ela seja tal qual Tu a criaste. Pois assim serei capaz de reconhecer meu Ser da forma que Tu me criaste. Fui criado no amor e permanecerei para sempre no amor. O que pode me assustar, se eu permitir que todas as coisas sejam exatamente como são?

2. Que nossa visão não seja blasfema hoje e que nossos ouvidos também não deem atenção a línguas mentirosas. Só a realidade está livre da dor. Só a realidade está livre da perda. Só a realidade é totalmente segura. E é só isto que buscamos hoje.

*Nota da tradução: No original esta primeira frase diz: Let me not be Your critic, Lord, today, and judge against You. Na tradução de Lillian Paes a frase ficou assim:Senhor, que eu não seja o Teu crítico, hoje, e nem julgue contra Ti. Apesar de não haver especificamente um elemento indicador do que a levou a incluir a partícula "nem" em sua tradução, pode-se pensar que a inferência foi um elemento oculto que deveria/poderia aparecer subentendido após a terceira vírgula do original, que deixaria a frase com a seguinte forma: Let me not be Your critic, Lord, today, and [let me not] judge against You. Em meu modo de ver, minha tradução abole este elemento subentendido sem prejudicar o entendimento do sentido da frase original, porque se eu me colocar na condição de crítico do Senhor, é forçoso que eu julgue contra Ele, que é o que não quero fazer, de acordo com a primeira parte da frase. Ora, se na primeira parte da oração eu peço para não ser crítico, o fato de a segunda obedecer à lógica que resultaria do fato de eu ser um crítico, que seria julgar contra o Senhor, não impede o leitor de perceber que, apesar de a frase dizer "e julgue contra Ti", no final o sentido é o de que da mesma forma que não quero ser crítico, não quero julgar. Alguém quer fazer alguma observação a respeito?


*

COMENTÁRIO:


Explorando a LIÇÃO 268

Repetindo:

Eu lhes disse, em anos anteriores, que a ideia que praticamos hoje traz consigo de maneira bem clara a fórmula para se viver neste mundo, sem dor, sem perda, em segurança e em paz e com alegria. E qual é esta fórmula? Abrir mão simplesmente de qualquer desejo por qualquer coisa do mundo como se ela [qualquer uma delas] tivesse algum valor e, ao mesmo tempo, abrir mão de tentar exercer algum controle sobre as coisas do - e no - mundo, sobre quaisquer coisas. 

Em geral, temos a tendência a olhar para as críticas que fazemos e reputá-las "construtivas". Ou temos mesmo a ideia de que é necessário que sejamos críticos em relação a tudo e a todos, como se isso, por si só, fosse o que nos levaria a uma consciência maior, ou como se isso - a capacidade de ser crítico - fosse um requisito que facilitaria nossas escolhas.

Ser crítico e exercer a atividade de crítico, parece-me, no entanto, ser uma grande, uma enorme falácia, um engano, e na mais das vezes, um auto-engano. Algo de que a pessoa se vale para poder "descer a lenha" naquilo de que não gosta, naqueles que fazem algo contrário àquilo que a pessoa pensa ser o "certo" [mas não só isto necessariamente].

À luz do que nos ensina o Curso, precisamos aprender que tudo no mundo é neutro, o próprio mundo inclusive, e que qualquer valor que vemos em alguma coisa só pode ter sido atribuído a essa coisa por nós mesmos, a partir daquilo que trazemos interiormente, daquilo que julgamos ser de valor. Para o bem ou para o mal [que também são julgamentos, e que interferem com a vista do mundo e das coisas todas do mundo dentro da visão de neutralidade]. Tanto é assim que o Curso ensina que "tudo está absolutamente certo exatamente da maneira como está". 

Mas isto é algo extremamente difícil para o ego engolir.

Entretanto, se pensarmos bem, o que nos autoriza a pensar, então, que sabemos mais do que quem quer que seja? O que pode nos levar a acreditar que somos capazes de ditar as melhores formas de viver para nós mesmos, para uns e outros e para a humanidade toda, a não ser o enorme auto-engano da onipotência do ego?

Voltemos mais uma vez, então, a uma lição anterior, da primeira parte do livro de exercícios. Vamos perceber lá que ela já nos ensinava a dar o passo que a lição de hoje pede para darmos novamente, se ainda não o demos, então: Libero o mundo de tudo o que pensava que ele fosse [Lição 132]. Aprendemos?

Repito, pois, de novo e de novo, o que já disse noutros comentários: enquanto, escorados na pretensa força e no pretenso conhecimento do falso eu - o ego de que o Curso fala, e com quem nos identificamos -, e, de algum modo, não sei qual, acreditarmos poder ter controle sobre qualquer coisa, que não apenas sobre nossos próprios pensamentos, vamos continuar a viver no auto-engano. 


Aliás, também é auto-engano acreditar, como o ego quer que pensemos, que não podemos controlar nossos pensamentos.

Se refletirmos bem, se meditarmos bem, se prestarmos bastante atenção e olharmos de forma amorosa e desprovida de julgamento ou preconceito para tudo o que vemos no mundo, há alguma coisa que acreditamos poder mudar e fazer melhor? 


Será que somos capazes de mudar qualquer coisa que não apenas nossa forma de olhar, para aprendermos, como quer o Curso, a olhar para tudo de forma diferente? Será que somos, ou nos julgamos poderosos a ponto de pensar: - Se eu fosse Deus, faria isso e aquilo de forma diferente? E de acreditar que seríamos capazes de fazer melhor do que Ele?

Quem assistiu ao filme "O Efeito Borboleta" [o primeiro] há de se lembrar de que qualquer mudança que o protagonista introduzia em uma experiência, que ele julgava ser necessário mudar, gerava um resultado que ele não podia sequer imaginar. Um resultado muitas vezes "pior" do que aquele da situação que ele tentava modificar.

Imagino que, com certeza, se estivermos atentos, despertos, isto se aplica a tudo na vida. Um exemplo pode ser o da pupa [a lagarta] presa no casulo aguardando o instante para rompê-lo e se transformar em uma linda borboleta. Se resolvêssemos ajudá-la, abrindo o casulo para ela, para poupar-lhe o esforço, aparentemente grande para um ser tão frágil e pequeno, qual seria o resultado? O que já sabemos. Poupá-la do esforço que cabe apenas a ela fazer só iria trazer ao mundo uma borboleta sem força suficiente nas asas para voar.

Há uma lição, a 21, entre outras, que também nos ensina o que fazer quando, por qualquer razão, não vemos só "a bondade da criação" em tudo o que vemos. Ela diz: Estou decidido a ver as coisas de modo diferente. Ou ainda a lição 28: Acima de tudo quero ver as coisas de modo diferente. Porque, na verdade, ainda não vemos, cegos por todos os preconceitos que atulham nossas cabeças.

Para o ensinamento do Curso, mais do que olhar com os olhos do corpo e depositar sobre o objeto que nosso olhar capta o reflexo de nossos pensamentos passados a respeito dele, ver é comungar, é alcançar a comunicação perfeita com o objeto visto, sem separação, alcançar a unidade com ele e com Deus, sendo também o objeto. Pois para Deus, ou para a ideia de Deus, todas as coisas são neutras e todas desempenham uma função igualmente importante para a realização de Seu plano para a salvação do mundo, o único que funcionará, para nos lembrarmos de outra das lições da primeira parte do livro.

Quando aprendermos a abrir mão de quaisquer tentativas de controlar qualquer coisa, entenderemos a orientação do divino em nós mesmos que nos diz: "Deixa que o espírito em ti tome conta de tudo".

É isto que praticamos hoje, mais uma vez.


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