segunda-feira, 23 de setembro de 2019

"A gente vive... é para se desiludir, desmisturar." GR


5. O que é o corpo?

1. O corpo é uma cerca que o Filho de Deus imagina ter construído para separar partes de seu Ser de outras partes. É dentro desta cerca que ele pensa viver para morrer quando ela enfraquecer e se deteriorar. Pois dentro desta cerca ele pensa estar a salvo do amor. Identificando-se com sua segurança, ele percebe a si mesmo como aquilo que sua segurança é. De que outra forma ele poderia ter certeza de que permanece no interior do corpo e de que mantém o amor do lado de fora?

2. O corpo não permanecerá. Mas ele vê isto como segurança em dobro. Pois a impermanência do Filho de Deus é "prova" de que suas cercas funcionam e cumprem a tarefa que sua mente atribui a elas. Pois, se sua unidade ainda permanecesse intocada, quem poderia atacar e quem poderia ser atacado? Quem poderia ser vitorioso? Quem poderia ser sua presa? Quem poderia ser vítima? Quem o assassino? E, se ele não morresse, que "prova" haveria de que o Filho de Deus pode ser destruído?

3. O corpo é sonho. Igual a outros sonhos, algumas vezes ele parece retratar a felicidade, mas pode bem repentinamente retroceder para o medo, onde nascem todos os sonhos. Pois só o amor cria na verdade e a verdade nunca pode ter medo. Criado para ser medroso, o corpo tem de servir ao propósito que lhe foi dado. Mas nós podemos mudar o propósito a que o corpo obedecerá mudando o que pensamos acerca de sua finalidade.

4. O corpo é o meio pelo qual o Filho de Deus volta à sanidade. Ainda que ele tenha sido feito para prendê-lo no inferno de forma irremediável, apesar de a meta do Céu ter sido trocada pela busca do inferno. O Filho de Deus estende sua mão para alcançar seu irmão e para ajudá-lo a caminhar pela estrada junto com ele. O corpo se torna sagrado imediatamente. Agora ele serve para curar a mente à qual ele tinha feito para matar.

5. Tu te identificarás com aquilo que pensas que te deixará seguro. Seja isso o que for, acreditarás que é um contigo. Tua segurança está na verdade, e não em mentiras. O amor é tua segurança. O medo não existe. Identifica-te com o amor e estás seguro. Identifica-te com o amor e estás em casa. Identifica-te com o amor e encontras teu Ser.


*

LIÇÃO 266

Meu Ser sagrado vive em ti, Filho de Deus.

1. Pai, Tu me deste todos os Teus Filhos para serem meus salvadores, meus conselheiros visíveis; os portadores da Tua Voz santa para mim. Tu estás refletido neles e, neles, Cristo olha para mim desde o meu Ser. Que Teu Filho não se esqueça de Teu Nome santo. Que Teu Filho não se esqueça de sua Fonte santa. Que Teu Filho não se esqueça de que o Nome dele é o Teu.

2. Neste dia entramos no Paraíso, invocando o Nome de Deus e nosso próprio nome, reconhecendo nosso Ser em cada um de nós; unidos no Amor santo de Deus. Quantos salvadores Deus nos deu! Como podemos perder o caminho para Ele, quando Ele enche o mundo com aqueles que O indicam e nos dá a visão para olhar para eles?

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 266

A ideia que vamos praticar mais uma vez hoje, do ponto de vista da percepção dos sentidos do corpo, não faz nenhum sentido. Isto é, ela se refere a algo que o ego - o falso eu - tem muito medo que venhamos a descobrir, ou lembrar, acerca de nós mesmos, o que o deixaria sem chão.

O que somos na verdade é o Ser sagrado, que vive em Deus e em Seu Filho, que é o que somos e é o que Deus é. Mas para entrar em contato com esta verdade é preciso que nos afastemos do mundo. É preciso que olhemos para o mundo de um ponto de vista que não se baseie nas impressões da percepção do corpo e que nos mostre que há, em tudo e em todos, alguma coisa além da forma que o olhos veem.

Isto tem a ver com a ideia de modificar a percepção, de mudar o modo de ver, conforme nos ensina o Curso com suas lições, ou como vimos no comentário de ontem. Tem a ver com chegar ao ponto de saber que não há nada no mundo, por mais real que nos pareça, que não passe de ilusão, se vocês tiverem em mente o que falamos a este respeito também no comentário às lições de ontem e de anteontem. 

Mudar o modo de ver é curar a percepção. É escolher a percepção correta do Espírito Santo, substituindo a percepção do ego e dos sentidos por ela. Trabalhamos com isto na primeira parte do livro de exercícios, cujas ideias buscavam nos ensinar um modo de desaprender aquilo que o mundo ensina. 

Mas também podemos, nesta segunda parte, sem sombra de dúvida, nos valer das ideias da primeira como forma de alcançar a percepção correta, que é o que o Curso se propõe a nos ensinar agora. Assim, eis aqui, de novo, parte do comentário feito antes a esta lição:

Não há nada a temer [Lição 48]. Nestes tempos aparentemente muito conturbados que vivemos, em que todos os veículos de comunicação - ou a maioria deles - escolheram nos contar quase que apenas aquelas notícias que confirmam a ideia de - e reforçam a crença na - separação, e nos aconselham a ter medo até do vizinho ao lado, de nossos companheiros ou companheiras, de nossos irmãos ou irmãs e de nossas famílias, ou de nossa própria sombra, precisamos recorrer com frequência a esta lição. Ela figura, em meu modo de ver, entre as mais importantes do Curso, no que diz respeito à meta da primeira parte do livro de exercícios: o desaprender daquilo que o mundo nos ensina, como eu disse acima.

Há uma espécie de sintonia - e não poderia ser diferente - entre a ideia da lição 48 e esta que praticamos hoje. Pois, se prestarmos bastante atenção, perceberemos que, de fato, não há razão alguma para se temer nenhuma das pessoas que aparentemente povoam este nosso mundo. A ideia de hoje nos ensina a olhar para todos e para cada um e ver neles o nosso salvador. Todos têm a função de nossos "conselheiros visíveis". Seja qual for a forma com que se apresentem. Seja qual for a mensagem que nos tragam.

Se olharmos bem para cada uma das pessoas que se apresenta em nossa vida, seremos capazes de identificar nela o Filho de Deus, a menos que estejamos nos sentindo separados d'Ele, o que significa que não estamos experimentando o Ser em nós mesmos, que estamos apenas distraídos de nós mesmos.

E, mais uma vez, não há como não lembrar, nem como deixar de voltar às falas do jagunço Riobaldo, do livro Grande Sertão: Veredas. Ouçam o que ele diz a certa altura:

"Pensar mal é fácil, porque esta vida é embrejada. A gente vive, eu acho, é mesmo para se desiludir e desmisturar. A senvergonhice reina, tão leve e leve pertencidamente, que por primeiro não se crê no sincero sem maldade."

Não é mesmo o caso de se buscar praticar com mais afinco? 

Às práticas?

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