sábado, 8 de novembro de 2014

Não podemos acreditar na percepção dos sentidos


LIÇÃO 312

Vejo todas as coisas como quero que sejam.

1. A percepção vem depois do julgamento. Depois de julgar, vemos então aquilo que queremos ver. Pois a vista serve simplesmente para nos oferecer o que queremos. É impossível não ver aquilo que queremos ver e deixar de ver aquilo que escolhemos ver. Com quanta certeza, então, o mundo real tem de vir saudar a visão sagrada de qualquer pessoa que adota o propósito do Espírito Santo como sua meta para a visão. Porque ela não pode deixar de olhar para aquilo que Cristo quer que veja e de compartilhar o Amor de Cristo por aquilo que vê.

2. Não tenho nenhum objetivo hoje a não ser o de olhar para um mundo liberado, livre de todos os julgamentos que fiz. Pai, esta é Tua Vontade para mim hoje e, por isso, ela tem de ser também a minha meta.

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COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 312

Repetindo em parte os últimos comentários feitos para esta mesma lição, continuo a acreditar que a esta altura do aprendizado já sabemos fazer algumas ligações entre as ideias que o Curso nos apresenta para as práticas e algumas das razões por que resistimos, se ainda apresentamos algum tipo de resistência, ao ensinamento. 

Acredito também que já aprendemos a identificar algumas das razões para que as experiências que vivemos se deem da forma que se dão. Não poderia ser diferente com as práticas da ideia de hoje. Ela é naturalmente uma extensão daquela que praticamos ontem. E ambas são essenciais para nos ajudar a pôr em xeque os motivos que nos levam a ver o mundo do modo que vemos. E também as razões para acreditarmos que há algo de real no que vemos.

Se vocês estiverem atentos, hão de ver que há uma estreita ligação entre a ideia que praticamos hoje e uma lição das mais importantes da primeira parte do livro de exercícios: a 132, lembram? Libero o mundo de tudo o que eu pensava que fosse. Além disso, é claro, ela está diretamente relacionada à ideia da lição de ontem: Julgo todas as coisas como quero que sejam. 

Poderia ser diferente? 

Não, não mesmo! A não ser que continuássemos no auto-engano de acreditar que existe alguma coisa fora de nós. Ou que existe uma vontade diferente da Deus. Ou que existe algo fora de Deus.

É por esta razão: a de que não há nada fora de nós, que precisamos ter sempre muito cuidado com aquilo que pensamos, com aquilo que ouvimos, com aquilo que dizemos e com aquilo que aceitamos para fazer parte de nossa experiência, de nossa vida. O tempo inteiro. "Orai e vigiai".

Wayne Dyer, em um de seus livros, nos alerta para atentarmos a nosso diálogo interior. Pois, diz ele, um dos maiores obstáculos a impedir que nos coloquemos em sintonia com o espírito são os nossos pensamentos. E Eckhart Tolle, em seu livro, O Poder do Agora, conforme já citei outras vezes antes, diz que precisamos nos lembrar de que não somos os nossos pensamentos. Nós temos pensamentos. Diz ele, também, que um dos grandes medos que temos em relação aos pensamentos é o mendo de que, acreditamos, se pararmos de pensar vamos morrer. Isso não é verdade. Se aprendermos a parar os pensamentos, o que vai acontecer é que vamos entrar em contato com aquilo que somos verdadeiramente.

Assim a ideia para as práticas de hoje, estendendo a de ontem, chama nossa atenção para o fato de que aquilo que vivemos - e que aparentemente vem de fora - é apenas o resultado dos pensamentos e decisões que tomamos internamente. É por isso que precisamos parar e pensar, por exemplo, na forma pela qual somos tratados por aquelas pessoas com quem convivemos. Pois tudo o que elas fazem é apenas aplicar a nós aquilo que nós mesmos aplicamos. Isto é, o modo com que os outros nos tratam tem absolutamente tudo a ver com o modo com que nos tratamos. Porque aquilo que pensamos se expande, mesmo quando pensamos a respeito daquilo que nos aborrece, mesmo quando pensamos acerca daquilo que não queremos em nossa vida.

Este comentário, mais uma vez, tem muito a ver com os que fiz para esta mesma lição em anos anteriores. Tem a ver também com o momento que estamos vivendo, tanto nas práticas, quanto em nossas experiências neste mundo. É por isso que é preciso trazer à mente mais uma vez aquela parte do texto de que já falei algumas vezes, que está no capítulo 26 e que tem por título: VI. O amigo indicado

É essa parte do texto que vai nos mostrar que, ao acreditar em qualquer medida na percepção que nos oferecem os sentidos, só podemos estar todos errados, pois não se pode acreditar que nada do vemos neste mundo pode ser alguma coisa diferente de ilusão. Na verdade, não há como acreditar que alguma coisa fora de nós exista. Nada no mundo, nem dinheiro, nem poder, nem prestígio, por exemplo, pode fazer com que o mundo venha a ser de alguma forma um lugar mais fácil de se viver. Tudo o que se pode fazer aqui é melhorar o sonho, torná-lo, talvez, feliz. Mas, mantendo-se a consciência de que o mundo é sonho.

Repito, pois, uma vez mais, a partir daqui o comentário dos anos anteriores. 

Notar, perceber, entender, trazer à consciência, aceitar e reconhecer que "A percepção vem depois do julgamento" (grifo meu) é IMPORTANTÍSSIMO. Aqui, na compreensão disto, está a chave para se entender as razões pelas quais nossas experiências se apresentam a nós desta ou daquela forma. É nosso julgamento que determina a percepção que vamos ter. 

Como o Curso diz em outro momento: "A percepção é um espelho, não um fato". Vejam bem: "Depois de julgar, vemos então aquilo que queremos ver". Pois a visão dos olhos do corpo, ou a percepção de qualquer de nossos sentidos, só nos oferece aquilo que queremos, aquilo que escolhemos ver, tocar, cheirar, ouvir ou saborear, provar. O mesmo acontece em relação ao que escolhemos sentir a partir da percepção. A experiência se apresenta, nós a interpretamos [em nosso julgamento, damos um significado à neutralidade dela] e decidimos sofrer, sentir dor, raiva, medo, culpa, mágoa, e assim por diante.

Lembram-se das primeiras lições que nos diziam que nada do que vemos tem qualquer significado? Ou que somos nós quem damos significado a tudo que vemos? Ou que não entendemos nada do que vemos? Ou ainda aquela que nos garante que nunca estamos transtornados, aborrecidos, magoados ou preocupados pela razão que imaginamos, pois só nos aborrecemos ou preocupamos com ideias que vêm do passado, um tempo que não existe?

Na verdade, o Curso nos ensina também que não somos capazes de ver as coisas - ou pessoas - para as quais olhamos como elas são no momento em que dirigimos nosso olhar para elas, pois nossos pensamentos não têm qualquer significado e só vemos o passado. Porque julgamos para poder ver o que queremos. Nossos pensamentos são julgamentos que fazemos e transformam muitas vezes o que vemos em "uma forma de vingança".

Bem feito! Não é assim que reagimos quando alguém vem nos contar que lhe aconteceu alguma coisa acerca da qual já o(a) havíamos alertado? E quantas vezes "torcemos" para que alguém, que não nos quis ouvir, se dê mal para provar que estávamos certos?  Quantas vezes pedimos uma prova concreta para um pensamento que sabemos correto, mas no qual não queremos acreditar porque vai de encontro [isto é, contraria] à crença que queremos manter, sabendo que "o concreto" é apenas mais uma forma de ilusão que materializamos?

Daí o Curso nos perguntar a certa altura se queremos ser felizes ou ter razão. Não é possível ter os dois. Aliás, é preciso aprendermos a abrir mão de todas as certezas que não venham do Amor. Precisamos aprender a abrir mão do mundo inteiro para ganhar o mundo. Precisamos nos entregar por inteiro ao espírito, se quisermos, de fato, encontrar a paz de espírito por que ansiamos e que só o Amor de Deus, em nós mesmos, pode nos dar. 

E acrescento uma historinha que li recentemente, acerca do "abrir mão do mundo". Diz ela:

... Era uma vez um grande rei, bonitão, comilão, que gostava de se divertir, tinha 365 mulheres em seu harém. Um dia, foi a um mosteiro e viu um eremita: "Que grande sacrifício você está fazendo!" disse-lhe, e olhou para ele com misericórdia. "Seu sacrifício é maior, meu rei", respondeu o eremita. "Como assim?" "Porque eu reneguei o mundo efêmero, enquanto você renegou o eterno". 

Às práticas?

Um comentário: