sexta-feira, 1 de junho de 2012

Abrindo-nos para transcender os símbolos



LIÇÃO 153

Minha segurança está em ser sem defesas.

1. Tu, que te sentes ameaçado por este mundo inconstante, pelas viradas da sorte nele e por suas brincadeiras cruéis, seus relacionamentos breves e todas as "dádivas" que ele apenas te empresta para tomar de volta mais uma vez, presta bastante atenção nesta lição. O mundo não oferece segurança. Ele se baseia no ataque e todas as suas "dádivas" com aparência de segurança são logros enganadores. Ele ataca e em seguida ataca novamente. Aonde o perigo ameaça desta forma, nenhuma paz de espírito é possível.

2. O mundo só dá origem à defensiva. Pois a ameaça gera raiva, a raiva faz o ataque parecer razoável, francamente provocado e justificado em nome da defesa própria. Porém, a defensiva é uma dupla ameaça. Pois ela evidencia a fraqueza e funda um sistema de defesa que não pode funcionar. Com isto os fracos ficam ainda mais debilitados, pois há traição fora e uma traição ainda maior no interior. Agora a mente está confusa e não sabe para onde se voltar para achar saída para suas fantasias.

3. É como se ela estivesse amarrada no interior de um círculo, no qual outro círculo a prendesse e mais um dentro daquele, até que não se pudesse mais ter esperança ou obter saída. Ataque, defesa; defesa, ataque se tornam os círculos das horas e dos dias que amarram a mente com pesadas fitas de aço revestidas de ferro, que retrocedem apenas para começar outra vez. Parece não haver nenhuma trégua, nem fim, para o aperto sempre mais firme da prisão imposta sobre a mente.

4. As defesas são o preço mais alto que o ego quer cobrar. Nelas reside a loucura sob uma forma tão inflexível que a esperança de sanidade parece ser apenas um sonho inútil, além do possível. A sensação de ameaça que o mundo encoraja é muito mais profunda e fica tão mais distante do delírio e da violência do que podes imaginar, que não fazes nenhuma ideia de toda a destruição que ela produz.

5. Tu és escravo dela. Tu não sabes o que fazer por medo dela. Tu, que sentes seus aperto férreo sobre teu coração, não compreendes o quanto ela te força a sacrificar. Tu não percebes de forma clara o que fazes para sabotar a santa paz de Deus com tua defensiva. Pois vês o Filho de Deus apenas como uma vítima à qual atacar com as fantasias, os sonhos e as ilusões que ele inventa; mas indefeso na presença delas, apenas carente de defesa por meio de mais fantasias ainda e de sonhos, pelos quais as ilusões de sua segurança o consolam.

6. A não-defensiva é força. Isto atesta o reconhecimento do Cristo em ti. Talvez lembres que o texto afirma que sempre se faz a escolha entre a força do Cristo e tua própria fraqueza, vista separada d'Ele. A não-defensiva não pode ser atacada nunca, porque ela reconhece uma força tão grande que o ataque se torna loucura, ou uma brincadeira tola que uma criança cansada poderia brincar, quando estivesse sonolenta demais para se lembrar do que quer.

7. A defensiva é fraqueza. Ela declara que negas o Cristo e vens a temer a raiva de Seu Pai. O que pode te salvar agora de teu delírio de um deus irado, cuja imagem assustadora acreditas ver em ação em todos os males do mundo? O que senão ilusões poderiam te defender agora, se é apenas contra ilusões que lutas?

8. Não participaremos de tais jogos infantis hoje. Pois nosso objetivo verdadeiro é salvar o mundo e não queremos trocar a alegria infinita que nossa função nos oferece por tolices. Não queremos permitir que nossa felicidade escape porque um fragmento de um sonho inútil passou por acaso por nossas mentes e porque confundimos as figuras nele com o Filho de Deus, seu instante minúsculo pela eternidade.

9. Hoje olhamos para além dos sonhos e reconhecemos que não precisamos de nenhuma defesa porque fomos criados inatacáveis, sem qualquer pensamento ou desejo ou sonho no qual o ataque tenha qualquer significado. Agora não podemos ter medo, pois deixamos para trás todos os pensamentos assustadores. E estamos seguros na não-defensiva, calmamente convictos de nossa segurança, certos da salvação, certos de que realizaremos o objetivo escolhido, à medida que nosso ministério estende sua bênção sagrada pelo mundo.

10. Fica quieto por um instante e, em silêncio, pensa quão santo é teu propósito, com que segurança descansas, intocável em sua luz. Os ministros de Deus escolhem que a verdade esteja com eles. Quem é mais santo do que eles? Quem pode ter mais certeza de que sua felicidade está inteiramente assegurada? E quem poderia estar mais fortemente protegido? Que defesa poderia ser necessárias àqueles que estão entre os escolhidos de Deus por escolha d'Ele e também pela deles mesmos?

11. É a função dos ministros de Deus ajudar seus irmãos a escolherem como eles escolhem. Deus escolhe a todos, mas poucos chegam a perceber claramente que a Vontade d'Ele é apenas a deles mesmos. E, enquanto deixares de ensinar o que aprendes, a salvação espera e as trevas mantêm o mundo em uma prisão horrível. E também não aprenderás que a luz veio a ti e que tua saída se completou com sucesso. Pois não verás a luz até que a ofereças a todos os teus irmãos. Quando eles a receberem de tuas mãos, então a reconhecerás como tua.

12. Pode-se pensar na salvação como uma brincadeira que crianças felizes brincam. Ela foi planejada por Aquele Que ama Suas crianças e Que quer substituir seus brinquedos assustadores por jogos felizes, que lhes ensinem que o jogo do medo acabou. O jogo d'Ele educa na felicidade porque não há perdedor. Cada um dos que jogam tem de ganhar e na vitória dele garante-se o ganho de todos. O jogo do medo é posto de lado com alegria, quando as crianças chegam a ver os benefícios que a salvação traz.

13. Tu, que brincas que estás perdido para ter esperança, abandonado por teu Pai, deixado só, aterrorizado, em um mundo assustador, enlouquecido pelo pecado e pela culpa, fica feliz agora. Este jogo acabou. Agora começa um tempo de paz, no qual guardamos os brinquedos de culpa e trancamos para sempre nossos pensamentos fantásticos e infantis de pecado fora das mentes puras e santas das crianças do Céu e do Filho de Deus.

14. Paramos por mais um instante apenas para jogar nosso jogo final e feliz sobre esta terra. E, em seguida, vamos assumir nosso lugar legítimo aonde habita a verdade e onde os jogos não têm significado. Assim termina a novela. Deixa que este dia traga o último capítulo para mais perto do mundo, para que todos possam aprender que a fábula que ele lê a respeito de um destino aterrorizante, da derrota de todas as suas esperanças, sua defesa lamentável contra uma vingança da qual não se pode fugir, é apenas sua própria fantasia no delírio. Os ministros de Deus chegam para despertá-lo dos sonhos sombrios que esta novela suscita em sua memória confusa, perplexa com este conto mentiroso. Enfim, o Filho de Deus pode sorrir, ao aprender que ele não é verdadeiro.

15. Hoje praticamos de uma forma que vamos manter por algum tempo. Começaremos cada dia dando nossa atenção à ideia diária durante o maior tempo possível. Cinco minutos, agora, são o mínimo que oferecemos no preparo para um dia no qual a salvação é a única meta que temos. Melhor seriam dez; quinze, melhor ainda. E, à medida que a confusão deixa de surgir para nos afastar de nosso objetivo, descobriremos que meia hora é um tempo demasiado curto para se passar com Deus. Tampouco estaremos dispostos a oferece menos à noite, com gratidão e alegria.

16. Cada hora amplia nossa paz crescente, quando nos lembramos de ser fiéis à Vontade que compartilhamos com Deus. Às vezes, talvez, um minuto, até menos, será o máximo que poderemos oferecer ao soar de cada hora. Algumas vezes esqueceremos. Noutras as atividades do mundo nos impedirão e não seremos capazes de nos afastar por alguns momentos para voltar nossos pensamentos para Deus.

17. No entanto, quando pudermos, manteremos nossa confiança como ministros de Deus, lembrando-nos a cada hora de nossa missão e do Seu Amor. E nos sentaremos calmamente e esperaremos por Ele e ouviremos Sua Voz, e aprenderemos o que Ele quer que aprendamos na hora que ainda está por vir, enquanto O agradecemos por todas as dádivas que Ele nos deu na que passou.

18. Com o tempo, com a prática, nunca deixarás de pensar n'Ele e de ouvir Sua Voz amorosa orientando teus passos por caminhos suaves, onde caminharás na verdadeira não-defensiva. Pois saberás que o Céu vai contigo. E também não queres manter tua mente afastada d'Ele nem por um momento, embora passes teu tempo oferecendo a salvação ao mundo. Pensas que Ele não tornará isto possível para ti, que escolheste executar o plano d'Ele para a salvação do mundo e para a tua?

19. Nosso tema hoje é nossa não-defensiva. Nós nos cobrimos com ele enquanto nos preparamos para enfrentar o dia. Levantamo-nos fortes em Cristo e deixamos nossa fraqueza desaparecer, enquanto nos lembramos de que a força d'Ele habita em nós. Nós nos lembraremos de que Ele permanece ao nosso lado ao longo do dia e nunca deixa nossa fraqueza sem o apoio de Sua força. Invocamos a força d'Ele cada vez que sentirmos a ameaça de nossas defesas minarem nossa convicção a respeito de nosso objetivo. Pararemos por um instante, enquanto Ele nos diz: "Eu estou aqui".

20. Agora tua prática começará a assumir a dedicação do amor, para te auxiliar a impedir tua mente de se desviar de seu objetivo. Não tenhas medo nem fiques apreensivo. Não pode haver nenhuma dúvida de que alcançarás tua meta final. Os ministros de Deus não podem fracassar nunca, porque o amor e a força e a paz que brilham a partir deles para todos os seus irmão vêm d'Ele. Estas são as dádivas d'Ele para ti. Tudo o que precisas oferecer a Ele, em retribuição, é a não-defensiva. Tu simplesmente abandonas aquilo que nunca foi real, para olhar para o Cristo e ver Sua inocência.


*

COMENTÁRIO:

Nos comentários anteriores para esta lição em anos passado expus um pouco da dificuldade de traduzir a ideia original da língua inglesa para o Português, comentário que continua válido, pensando na proposição feita no sentido de rever/revisar a tradução do Livro de Exercícios feita pela querida Lillian Paes, como forma de auxiliar no processo de facilitar o entendimento da mensagem que nos traz o Curso. Repito, pois, aqui o comentário, para chamar mais uma vez a atenção para a necessidade de que não nos fixemos nas palavras, deixando que aquilo que há por trás delas, aquilo para que nos encaminha o coração, sem o filtro do intelecto, seja o guia de nossos caminhos. Nossas práticas.

Importante, eu dizia, é pensar  a respeito daquilo a que me referi nos ditos comentários. Aquilo que tem a ver com a falta de sentido do mundo. Melhor dizendo, com a oportunidade que o Curso nos dá de perceber que só nós mesmos é que damos significado, ou sentido, a tudo que vemos/percebemos no mundo. E que, pensando-se nisso, é bem possível e lógico chegar-se à conclusão de que existem tantos mundo quantas são as pessoas nele, parafraseando Miguel Torga em seu livro A Criação do Mundo. Isto equivale a dizer que não há como julgar nada nem ninguém no mundo, uma vez que só posso ver "meu" mundo particular e não sei nada do mundo de todos os "outros" que o povoam.

Ao final do comentário feito em 2010 - e repetido em 2011 e hoje, lembro-me de lhes ter chamado a atenção para o fato de o Curso insistir de forma constante para que percebamos claramente que a mensagem que ele nos oferece se vale dos símbolos a que estamos acostumados apenas para nos ensinar a irmos além deles. Isto é, como forma de nos ensinar a transcender os símbolos.

Daí não ser nunca um sinal de sabedoria nos aferrarmos a uma ideia, ou ao sentido que damos a uma palavra em particular, como se ela fosse a portadora da salvação, ou o instrumento por meio do qual o milagre se realiza. A salvação, de fato, só pode acontecer a partir da entrega, que exige que nos despojemos de todas as defesas [ideias e palavras] que inventamos para perigos que só existem em nossa imaginação. 

E só se pode fazer a entrega, quanto entramos em contato, sem ideias e sem palavras [símbolos], com aquilo que somos. E que é indizível. Na verdade, conforme o UCEM afirma, este Curso é um caminho, entre vários outros, que pode nos levar à salvação, desde que estejamos dispostos a transcender os símbolos, buscando o auto-conhecimento no interior de nós mesmos, buscando mergulhar o mais profundamente possível em nós mesmos, abandonando por completo quaisquer significados que o mundo dê aos símbolos, inclusive aqueles significados que nós, no mundo, influenciados por ele e por nossas circunstâncias, damos aos símbolos, quaisquer que sejam eles. 

Por que, então, repetindo também a pergunta que finalizava os comentários anteriores, não aproveitarmos a ideia da lição desta sexta-feira, dia 1º de junho, para entregar nossas defesas, abrindo a guarda por completo e aceitando toda e qualquer experiência que venha a nós a partir de nosso contato com o espírito - o divino - em nós mesmos, que é a verdade do que somos?

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