sábado, 31 de agosto de 2024

Não há perigo em nenhum lugar, em momento algum

 

3. O que é o mundo?

1. O mundo é percepção equivocada. Ele nasce do erro e não abandona sua fonte. Ele não continuará a existir quando o pensamento que lhe deu origem deixar de ser apreciado. Quando a ideia de separação se transformar em um pensamento de perdão verdadeiro, o mundo será visto sob outra luz; e uma luz que leva à verdade, na qual o mundo inteiro tem de desaparecer e todos os seus erros sumirem. Como consequência disto, sua fonte desaparece e seus efeitos também.

2. O mundo foi feito como um ataque a Deus. Ele simboliza o medo. E o que é o medo exceto ausência de amor? Desta forma o mundo tinha por objetivo ser um lugar aonde Deus não pudesse entrar, e onde Seu Filho pudesse estar separado d'Ele. A percepção nasceu aqui, pois o conhecimento não poderia produzir tais pensamentos insanos. Mas os olhos enganam e os ouvidos escutam de forma errada. Então, os erros se tornam bem possíveis, pois a certeza desaparece.

3. Em seu lugar nasceram os mecanismos da ilusão. E, agora, eles partem para encontrar o que lhes cabe buscar. Seu objetivo é servir à finalidade para a qual o mundo foi feito para testemunhar e tornar verdadeira. Eles veem, em suas ilusões, apenas uma base sólida na qual a verdade existe, mantida ao lado das mentiras. Porém, tudo o que elas informam é só ilusão que é mantida ao lado da verdade.

4. Do mesmo modo que a vista foi feita para conduzir para longe da verdade, ela pode ser reorientada. Os sons se tornam o chamado por Deus e toda percepção pode receber uma nova finalidade d'Aquele a Quem Deus nomeou Salvador do mundo. Segue Sua luz e vê o mundo da forma que Ele vê. Ouve só a Voz d'Ele em tudo o que fala a ti. E deixa Ele te dar a paz e a certeza que jogaste fora, mas que o Céu preserva n'Ele para ti.

5. Não nos acomodemos até que o mundo se junte a nossa percepção transformada. Não nos demos por satisfeitos até que o perdão se torne total. E não tentemos mudar nossa função. Temos de salvar o mundo. Pois nós, que o fizemos, temos de vê-lo pelos olhos de Cristo, para que aquilo que foi feito para morrer possa ser devolvido à vida eterna.

*

LIÇÃO 244

Eu não corro perigo em nenhum lugar do mundo.

1. Teu Filho está seguro em qualquer lugar que esteja, porque Tu estás lá com ele. Ele só precisa chamar Teu Nome e se lembrará de sua segurança e de Teu Amor, pois são uma coisa só. Como ele pode ter medo ou duvidar ou deixar de saber que não pode sofrer, ficar em perigo ou experimentar a infelicidade, quanto pertence a Ti, amado e amoroso, na segurança de Teu abraço Paterno?

2. E, na verdade, é aí que estamos. Nenhuma tempestade pode alcançar o abrigo bendito de nosso lar. Estamos seguros em Deus. Pois o que pode vir a ameaçar o Próprio Deus ou amedrontar aquilo que será uma parte d'Ele para sempre?

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COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 244

Caras, caros,

Repito, por pertinente, o comentário feito a esta lição nos dois últimos anos ipsis litteris, com pequena alteração no título da postagem. Espero que ainda lhes seja de utilidade para o aprofundamento das práticas.

A ideia para as práticas de hoje complementa e expande aquela de que nos valemos na última sexta-feira: O medo não se justifica de nenhuma forma [lição 240]. Ela convida a todos e todas - e a cada um e a cada uma de nós - a um mergulho interior para buscar trazer à tona aquilo que ainda nos assusta, aquilo que, por alguma razão, reprimimos e que, agora, nos impede de viver a liberdade, a alegria e a paz completas que Deus quer para nós. 

Isto está diretamente relacionado a um dos textos do Curso, que diz o seguinte: "Tua tarefa não é buscar o amor, mas simplesmente buscar e achar todas as barreiras que construíste dentro de ti contra ele. Não é necessário buscar o que é verdadeiro, mas é necessários buscar o que é falso... [reconhecer o que é falso em nossa experiência, pois] a paz nunca virá da ilusão do amor, mas só de sua realidade".

É preciso, portanto, que não tenhamos medo de olhar para o relacionamento especial de ódio, pois a liberdade está em olhar para ele. Ainda de acordo com o texto, sem isso é impossível conhecer o significado do amor. Uma vez que não nos é possível limitar o ódio, é preciso que o reconheçamos ao olhar para dentro, para trazê-lo à consciência e lidar com ele de forma clara. Para podermos escolher o amor, que é o que queremos, porque é o que somos.

Para tanto, como eu já disse outras vezes, é preciso que nos conscientizemos de que não corremos perigo em momento algum e em lugar nenhum, nem mesmo no ponto mais profundo de nossas mentes. Não há nada em nós mesmos ou em nós mesmas e em nenhum lugar do mundo que ofereça riscos àquilo que somos em Deus, com Ele. E só podemos ser n'Ele, com Ele. Pois fora d'Ele não há nada. Assim como não há nada fora de nós, conforme o Curso ensina.

Repetindo, nem mesmo este mundo em que aparentemente vivemos, e que se apresenta, por vezes, tão cheio de riscos, tão imperfeito e caótico, pode oferecer nenhum perigo, pois ele não passa de sonho. Um sonho que sonhamos, pensando estar acordados ou acordadas, diferente daquele que sonhamos quando estamos dormindo, mas, de qualquer modo um sonho. Ou há alguém entre nós que acredita que alguma coisa daquilo que lhe mostra sua percepção é duradoura e vai se estender até a eternidade?

Se pusermos um pouco de nossa atenção naquilo que pensamos, vamos perceber que não temos medo de nada daquilo que acontece em nossos sonhos dormindo, mesmo quando o que acontece se apresenta de forma terrível e assustadora. E por que não temos medo, então? Simplesmente porque, em algum ponto de nós, sabemos que tudo o que estamos vivendo faz parte de um sonho e que logo vamos acordar em casa, em nosso quarto, em nossa cama, seguros e protegidos.

É preciso, porém, que demos ainda mais atenção a nossos pensamentos, que se multiplicam de forma vertiginosa a todo momento, mudando e mudando, e mudando, passando de um ponto a outro, de um assunto a outro, de uma questão a outra, de uma pessoa a outra, de uma visão a outra, de um modo de perceber a outro, de um problema a outro, detendo-se, às vezes, em um julgamento de nós mesmos e de nós mesmas que nos deprime e nos afasta da alegria, tira a nossa paz para, em seguida, alegrar-se com uma bobagem qualquer, com uma piada qualquer, com um dito espirituoso de alguém.

Dou-lhes novamente aqui a crônica Se eu fosse eu, de Clarice Lispector de que já falei algumas vezes. É para se pensar, será que se eu fosse eu, de fato, o mundo seria o que é? Quer dizer, como seria o mundo, se eu fosse viver a partir do Eu Sou O Que Sou?

Quando não sei onde guardei um papel importante e a procura se revela inútil, pergunto-me: se eu fosse eu e tivesse um papel importante para guardar, que lugar escolheria? Às vezes dá certo. Mas muitas vezes fico tão pressionada pela frase "se eu fosse eu", que a procura do papel se torna secundária, e começo a pensar. Diria melhor, sentir.

E não me sinto bem. Experimente: se você fosse você, como seria e o que faria? Logo de início se sente um constrangimento: a mentira em que nos acomodamos acabou de ser levemente locomovida do lugar onde se acomodara. No entanto já li biografias de pessoas que de repente passavam a ser elas mesmas, e mudavam inteiramente de vida. Acho que se eu fosse realmente eu, os amigos não me cumprimentariam na rua porque até minha fisionomia teria mudado. Como? não sei.

Metade das coisas que eu faria se eu fosse eu, não posso contar. Acho, por exemplo, que por um certo motivo eu terminaria presa na cadeia. E se eu fosse eu daria tudo o que é meu, e confiaria o futuro ao futuro.

"Se eu fosse eu" parece representar o nosso maior perigo de viver, parece a entrada nova no desconhecido. No entanto tenho a intuição de que, passadas as primeiras chamadas loucuras da festa que seria, teríamos enfim a experiência do mundo. Bem sei, experimentaríamos enfim em pleno a dor do mundo. E a nossa dor também, aquela que aprendemos a não sentir. Mas também seríamos por vezes tomados de um êxtase de alegria pura e legitima que mal posso adivinhar. Não, acho que já estou de algum modo adivinhando porque me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais.

Às práticas, pois? 
(Para descobrir que não há perigo em lugar algum do mundo e nem mesmo fora dele!)

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