segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

É enganador o conhecimento que os sentidos nos dá


12. O que é o ego?

1. O ego é idolatria; o sinal do ser limitado e separado, nascido em um corpo, condenado a sofrer e a terminar sua vida na morte. Ele é a "vontade" que percebe a Vontade de Deus como inimiga e toma uma forma na qual ela é negada. O ego é a "prova" de que a força é fraca e de que o amor é amedrontador, de que a vida é, na verdade, morte e de que só aquilo que contraria Deus é verdadeiro.

2. O ego é louco. Com medo, ele se põe diante de Todos os Lugares, separado do Todo, separado do Infinito. Em sua loucura, ele pensa ter se tornado um vitorioso sobre o Próprio Deus. E, em sua autonomia insuportável, ele "percebe" que a Vontade de Deus foi destruída. Ele sonha com castigo e treme diante das imagens de seus sonhos; seus inimigos, que buscam assassiná-lo antes de ele poder garantir sua segurança atacando-os.

3. O Filho de Deus não tem ego. O que ele pode saber da loucura e da morte de Deus, se habita n'Ele? O que ele pode saber da tristeza e do sofrimento, se vive na alegria eterna? O que ele pode saber do medo e do castigo, do pecado e da culpa, do ódio e do ataque, se tudo o que existe à volta dele é a paz perene, livre de conflitos e imperturbada para sempre, no silêncio e na tranquilidade mais profundos?

4. Conhecer a realidade é não ver o ego e seus pensamentos, seus esforços, seus atos, suas leis e crenças, seus sonhos, suas esperanças  seus planos para a própria salvação e o custo que a crença nele cobra. Em termos de sofrimento, o preço pela fé no ego é tão imenso que a crucificação do Filho de Deus é oferecida diariamente em seu santuários sombrio, e o sangue tem de jorrar diante do altar em que seus seguidores doentios se preparam para morrer.

5. Porém, um único lírio de perdão transformará as trevas em luz; o altar às ilusões no santuário à Própria Vida. E a paz será devolvida para sempre às mentes santas que Deus criou como Seu Filho, Sua morada, Sua alegria, Seu amor, inteiramente Seu, um só com Ele totalmente.

*

LIÇÃO 336

O perdão me permite saber que as mentes são unidas.

1. O perdão é o meio designado para o fim da percepção. O conhecimento se restabelece depois que: primeiro, a percepção se modifica para, em seguida, dar lugar àquilo que permanece para sempre além de seu mais profundo alcance. Pois imagens e sons podem servir, no máximo, para despertar a memória que está além de todos eles. O perdão varre as distorções e abre o altar escondido à verdade. Seus lírios refletem a luz para o interior da mente e a chamam para voltar e olhar para dentro, para encontrar aquilo que ela procura fora inutilmente. Pois aí, e só aí, se restabelece a paz de espírito, pois essa é a morada do Próprio Deus.

2. Possa o perdão varrer meus sonhos de separação e de pecado na paz. Deixa-me, então, meu Pai, olhar para dentro e achar Tua garantia de que minha inocência se mantém; Tua Palavra permanece inalterada em minha mente, Teu Amor ainda habita em meu coração.



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COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 336

Repetindo, com pequenas modificações aqui e ali, o comentário de anos passados.


A ideia que vamos praticar mais uma vez hoje deve servir para nos abrir os olhos, a mente e o coração para o fato de que nunca houve um momento em que nos tenhamos separado de Deus. Conforme o Curso ensina, as mentes são unidas. E o que pode nos permitir ver isso é o perdão. Ou como a ideia para as práticas diz:

O perdão me permite saber que as mentes são unidas. 

Não existem pensamentos privados. As ideias não deixam sua fonte. E a união das mentes não autoriza a pensar que existem várias mentes diferentes, uma em cada corpo, que se comunicam umas com as outras. Não! Não é assim! Na verdade, todos nós nos valemos de uma e mesma ligação a uma só Mente única, a qual estamos conectados o tempo todo, quer conscientes disso ou não. É mais ou menos como a Matrix, que o filme de mesmo nome mostra. 

Mesmo a mente, com "m" minúsculo, a do ego, é uma só para todos nós, aparentemente habitantes deste mundo, que pensamos ser o mesmo para todos, mas que não é, por mais que a crença na separação nos impeça de reconhecer isso. E é por isso que não existem pensamentos privados. E tudo aquilo que qualquer um de nós pode pensar em fazer já foi pensado antes por alguém, ou está sendo pensado no mesmo momento ou ainda vai ser pensado por alguém, que não pode ser senão nós mesmos, em um corpo diferente, mas apenas em aparência. 

Aquilo que tememos, a partir da sintonia com o sistema de pensamento do ego, que descubram de nós, que pode nos revelar, desmascarar para os outros, ou revelar o que pensamos ("Como sou egoísta, como sou descuidado, como sou odioso, e por aí a fora"), é o mesmo que o "outro", ou a "outra" pensa. Seja este outro, ou esta outra, quem for. Existe uma unidade entre todos nós, que a maior parte do tempo não somos capazes de ver, de perceber.

Por que, então, não nos damos conta disso? Por que não experimentamos, na prática, a unidade, ou só a experimentamos em raros e fugazes instantes, a que o Curso chama de "instante santo"?

Porque estamos por demais habituados, treinados e automatizados pela crença na separação, que o ego e o mundo do ego promovem o dia inteiro, todos os dias. E porque, repetindo, como observa Guimarães Rosa, em geral, "... vivemos, de modo incorrigível, distraídos das coisas mais importantes".

Isto é, cedemos aos apelos do falso eu e nos perdemos em um mundo de coisas e pessoas aparentemente separadas, às quais atribuímos características e valores diferentes a partir de nossa percepção equivocada de umas e outras. Criticando, julgando e condenando. 

Daí, a necessidade das práticas com a ideia de hoje para podermos reconhecer, aprender e aceitar que:

O perdão é o meio designado para o fim da percepção. O conhecimento se restabelece depois que: primeiro, a percepção se modifica para, em seguida, dar lugar àquilo que permanece para sempre além de seu mais profundo alcance. Pois imagens e sons podem servir, no máximo, para despertar a memória que está além de todos eles. O perdão varre as distorções e abre o altar escondido à verdade. Seus lírios refletem a luz para o interior da mente e a chamam para voltar e olhar para dentro, para encontrar aquilo que ela procura fora inutilmente. Pois aí, e só aí, se restabelece a paz de espírito, pois essa é a morada do Próprio Deus.

E, voltando ao que eu já disse antes a este respeito, se pensarmos bem, mais dia, menos dia, ainda que por caminhos diferentes, havemos todos de chegar à conclusão de que as mentes são unidas. Ou será que algum de nós tem consciência do momento em que deixou de perceber, de saber, que "as mentes são unidas"? Em que momento passamos a acreditar na ideia de separação? 

No mínimo, podemos pensar que em algum momento de nossa experiência neste mundo fomos convidados a olhar para alguma coisa e considerá-la melhor ou pior do que outra, deixando de vê-la como parte de um todo harmônico, no qual as partes são todas neutras e desempenham apenas o papel que lhes cabe.

É claro, repito, que este mundo de aparências em que acreditamos estar, e que cremos ser real e verdadeiro, nos oferece uma avalanche de informações e de coisas, e de provas de sua realidade - separada -, que muitas vezes nos atordoa e exige um esforço sobre-humano até para respirar de forma tranquila e pensar de forma clara.

Mas também é fato de que desde a Antiguidade, os filósofos lidam com a ideia de que a percepção que nos oferece os sentidos não é um guia confiável. Do mesmo modo que nos diz o Curso, Heráclito, filosofo que viveu há cerca de 500 anos antes de Cristo, já dizia que "o conhecimento sensível [isto é, o conhecimento aparente daquilo que se percebe pela via dos sentidos] é enganador e deve ser separado pela razão". 

Ora, isto é o mesmo que dizer que não podemos confiar nas percepções do corpo, nem acreditar na separação aparente de corpos. Ou na separação das mentes, ou mesmo em sua divisão. É só nos sonhos da ilusão deste mundo que podemos acreditar em mentes divididas. Mesmo quando o Curso nos diz que nossa mente se dividiu após a dita separação ou "queda", ele só nos diz isto para chamar a atenção para o fato de que nunca houve a separação. 

Por isso podemos dizer tranquilamente, como orienta a lição de hoje: 

Possa o perdão varrer meus sonhos de separação e de pecado na paz. Deixa-me, então, meu Pai, olhar para dentro e achar Tua garantia de que minha inocência se mantém; Tua Palavra permanece inalterada em minha mente, Teu Amor ainda habita em meu coração.

Às práticas?


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