terça-feira, 16 de julho de 2019

Não é possível chegar à liberdade pelo pensamento


LIÇÃO 197

Só posso ganhar a minha gratidão.

1. Eis aqui o segundo passo que damos para libertar nossa mente da crença em uma força externa contrária a tua. Fazes esforços de bondade e de perdão. No entanto, tu os transformas em ataque novamente, a menos que encontres gratidão externa e agradecimentos generosos. Tuas doações têm de ser recebidas com reverência a fim de que não sejam retiradas. E, assim, pensas que as dádivas de Deus, na melhor das hipóteses, são empréstimos; na pior, enganos que te privariam de defesas para garantir que quando Ele atacar não deixe de matar.

2. Quão facilmente aqueles que não sabem o que seus pensamentos podem fazer confundem Deus e culpa. Nega tua força e a fraqueza tem de se tornar a salvação para ti. Vê a ti mesmo como prisioneiro e as grades se tornam teu lar. E também não deixarás a prisão ou reivindicarás tua força até que culpa e salvação não sejam vistas como uma só e que liberdade e salvação sejam vistas como unidas, com a força a seu lado para ser buscada e reclamada, e encontrada e plenamente reconhecida.

3. O mundo tem de te agradecer quando lhe ofereces a liberação de tuas ilusões. Contudo, teus agradecimentos também te pertencem, pois a liberação do mundo só pode refletir a tua. Tua gratidão é tudo o que tuas dádivas pedem, para serem uma oferenda duradoura de um coração agradecido, livre do inferno para sempre. É isto que queres desfazer tomando de volta tuas dádivas porque não foram reconhecidas? És tu quem as reverencia e lhes dá os agradecimentos devidos, pois és tu quem recebe as dádivas.

4. Não importa se outro considera tuas dádivas indignas. Em sua mente, há uma parte que se junta a tua para te agradecer. Não importa se tuas dádivas parecem perdidas e inúteis. Elas são recebidas aonde são dadas. Em tua gratidão elas são aceitas universalmente e reconhecidas com gratidão pelo Coração do Próprio Deus. E tu as tomarias de volta se Ele as aceitou com gratidão?

5. Deus abençoa toda dádiva que Lhe dás e toda dádiva é dada a Ele, porque ela só pode ser dada a ti mesmo. E aquilo que pertence a Deus tem de ser d'Ele Mesmo. No entanto, nunca perceberás claramente que as dádivas d'Ele são certas, eternas, imutáveis, infinitas, que dão eternamente, estendendo amor e somando-se a tua alegria sem fim, enquanto perdoares apenas para atacar mais uma vez.

6. Retira as dádivas que dás e pensarás que aquilo que te foi dado foi retirado de ti. Mas aprende a deixar que o perdão afaste os pecados que pensas ver fora de ti mesmo e não poderás jamais pensar que as dádivas de Deus são apenas emprestadas por algum tempo antes que Ele as tome de volta novamente na morte. Pois a morte, então não fará nenhum sentido para ti.

7. E, com o fim desta crença, o medo acaba para sempre. Agradece a teu Ser por isto, pois Ele é grato a Deus e Ele agradece por ti a Si Mesmo. Cristo ainda virá a todos que vivem, pois todos têm de viver e se mover n'Ele. O Ser que Ele é está seguro em seu Pai, porque a Vontade d'Eles é a Mesma. A gratidão d'Eles a tudo o que Eles criaram não tem fim, pois a gratidão continua a ser uma parte do amor.

8. Graças sejam dadas a ti, o Filho santo de Deus. Pois da forma pela qual foste criado, conténs todas as coisas em teu Ser. E tu ainda és como Deus te criou. E também não podes turvar a luz de tua perfeição. O Coração de Deus está assentado em teu coração. Ele gosta de ti porque tu és Ele Mesmo. Toda a gratidão te pertence, em razão do que és.

9. Dá graças do mesmo modo que recebes. Liberta-te de toda ingratidão a qualquer pessoa que torna teu Ser completo. E ninguém fica fora deste Ser. Dá graças por todos os incontáveis canais que estendem este Ser. Tudo o que fazes é dado a Ele. Tudo o que pensas só podem ser os Pensamentos d'Ele, ao compartilhar com Ele os Pensamentos santos de Deus. Conquista agora a gratidão que negaste a ti mesmo quando esqueceste a função que Deus te deu. Mas não penses nunca que Ele deixa de dar graças a ti alguma vez.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 197

"Só posso ganhar a minha gratidão."

Resumindo mais uma vez o que a lição quer que aprendamos, antes de entrarmos no comentário propriamente dito, gostaria de compartilhar de novo com vocês algo que um amigo meu [agora já encantado, na luz] postou em sua linha do tempo no Facebook, há cinco anos, no dia em que escrevi este comentário. E, parafraseando o que dizem que Jesus disse em seu tempo, quem tiver olhos para ver, que veja; quem tiver ouvidos para ouvir, que ouça e quem tiver capacidade para ler que leia, além das palavras, para ver se alguma coisa do que ele diz encontra eco em seu coração.

É o seguinte [editado por mim]:

A vida sem felicidade é tão boa!

Só uma vida sem atributos como felicidade, amor, esperança, serenidade, equilíbrio, eficiência [e tantos outros] não tem tristeza, ansiedade, culpa, medo, tédio ou depressão. É a única vida da qual você pode sair sem um pingo de medo e numa boa tão grande que é impossível descrever.

As pessoas de pensamento comum, ajustado ao sistema, jamais poderão entender isso. Uma vida sem felicidade [amor, esperança, serenidade, equilíbrio, eficiência e tantos outros nomes que damos aos nossos anseios de loucura] faz do mundo ordinário [o mundo comum do dia a dia de cada um de nós], com suas pretensas compensações, um absurdo tão grande que tudo [o] que ele contém e nos oferece torna-se asqueroso e tremendamente ofensivo, uma afronta à verdade única interior [por assim dizer], da qual perdemos totalmente a noção. 

Isto é exatamente aquilo que o Curso nos traz no texto intitulado O amigo indicado, no capítulo vinte-e-seis, quando diz: 

Qualquer coisa neste mundo que acredites ser boa e valiosa e pela qual valha a pena lutar, pode te ferir e o fará. Não porque tenha o poder para ferir, mas apenas porque tu negaste que ela é apenas uma ilusão e a tornaste real. E ela se tornou real para ti. E não é [mais apenas um] nada. E, a partir da realidade percebida nela, entra todo o mundo de ilusões doentias. Toda a crença no pecado, no poder do ataque, na dor e no mal, no sacrifício e na morte vem a ti. Porque ninguém pode tornar uma ilusão verdadeira e, ainda assim, escapar das restantes. Pois quem pode escolher manter aquelas [ilusões] que prefere e encontrar a segurança que só a verdade pode oferecer? Quem pode acreditar que as ilusões são todas a mesma e ainda afirmar que uma delas é melhor? 

E voltando agora nosso olhar para a ideia que vamos praticar novamente hoje.

Pergunto-lhes uma vez mais: - Vocês conhecem aquele ditado: "quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece"? 

Pois é verdadeiro! No duro! 

E querem saber por quê? 

Porque quanto mais dedicamos nossa atenção para práticas que visem a nos livrar de alguma coisa como indesejável, sem reconhecê-la, aceitá-la, acolhê-lha e sem agradecer por ela, tanto mais reforçamos a probabilidade de que ela continue a se apresentar a nossa experiência. Ou dito de outra forma, "aquilo a que se resiste persiste".

Acredito, porém, que o ditado também serve, se encarado de forma afirmativa. Isto é, quanto mais voltarmos a atenção para aquelas coisas que queremos alcançar, a partir da entrega de tudo e de todos ao espírito em nós, deixando de lado a interpretação e o julgamento do ego, tanto mais as coisas e pessoas e situações ou circunstâncias que se apresentarem virão para reforçar o aprendizado, ressaltando um ponto aqui, outro ali. Para nos mostrar sempre de forma mais clara aquilo que precisamos aprender.

Por esta razão apenas, e porque ainda me parece que o que eu queria dizer a respeito desta lição é exatamente o que já disse outras vezes antes, vou continuar com o comentário feito para ela em anos anteriores. Desta vez, com algumas poucas e pequenas modificações. Aí vai:

Vale a pena lembrar aqui o poema que trata da possibilidade de uma relação livre do engaiolamento, isto é, do aprisionamento, do julgamento, que, em geral, buscamos e incluímos em praticamente todas as nossas relações, com tudo e com todos. O poema de Perls, que citei também algumas lições atrás: 

Eu sou eu. 
Você é você. 
Eu não estou neste mundo para atender
as suas expectativas.
E você não está no mundo para atender
as minhas expectativas.
Eu faço a minha coisa.
Você faz a sua.
E quando nos encontramos
É muito bom.

É para isto que lição de hoje nos chama a atenção. 

A ideia de que "só posso ganhar minha [própria] gratidão" traz à lembrança outra lição, que diz: "tudo o que dou dou a mim mesmo". Isto quer dizer que tudo o que vivo tem de ser vivido apenas para minha própria satisfação, para minha própria alegria e para minha própria salvação. Até porque uma das ideias centrais do ensinamento é a de que não existe nada fora de nós mesmos.

[Um parêntese: um exemplo que me ocorre neste exato momento. Já pensaram quantas postagens eu teria feito até hoje neste espaço se dependesse dos comentários, ou da aprovação, feitos por aqueles que leem o que posto, além de mim? Quer queira, quer não, tenho de reconhecer todos os dias que tudo o que aparece aqui, aparece apenas para me ensinar mais a respeito de mim mesmo. Um comentário ou outro feito por alguém também tem a mesma e única finalidade: me ensinar mais a respeito de mim mesmo, pois o outro é também uma parte minha que preciso reconhecer, acolher e aceitar por inteiro. Fecha o parêntese.]

Num dos volumes da trilogia Conversando com Deus, falando pelas palavras de Neale Donald Walsch, Deus afirma que a única responsabilidade que qualquer pessoa tem neste mundo é apenas para consigo mesma. Isto é egoísmo? Para o sistema de pensamento do ego, talvez. Porém, se pensarmos bem, veremos que não. Pois tudo começa em nós mesmos e é só em nós mesmos que pode terminar. Em cada um de nós. Para o bem ou para o mal.

Lembro-me de ter lido num dos livros de Fritjof Capra, Uma Sabedoria Incomum, que, após uma palestra de Krishnamurti, ele, Capra, foi se aconselhar com Krishnamurti a respeito de uma questão para a qual ansiava por uma resposta. Sua questão era: "Como posso ser um cientista e ainda assim seguir seu conselho para interromper o pensamento e libertar-me do conhecido?".

Capra conta que Krishnamurti, sem hesitar, respondeu sua pergunta em dez segundos, e de um modo que resolveu completamente seu problema. A resposta foi: "Primeiro você é um ser humano e depois um cientista. Antes você tem de se tornar livre, e essa liberdade não pode ser atingida por meio do pensamento. Ela é atingida pela meditação - a compreensão da totalidade da vida, em que cessam todas as formas de fragmentação". 

Quer dizer, a liberdade está relacionada ao abandono da dependência dos pensamentos, uma vez que, como diz Tolle, que já apareceu por aqui também, nós não somos os nossos pensamentos e não precisamos ter medo de morrer se pararmos de pensar. Na verdade, quando os pensamentos estão ausentes é quando mais podemos nos sentir vivos. Ou nunca experimentaram?

Resumindo, vivemos para aprender a - ou talvez seja melhor dizer lembrar de - ser o que somos. Ou melhor dizendo ainda, para viver apenas a partir do que somos. Isto aprendido, só podemos viver para o que somos, para o Ser. 

As práticas das lições são o equivalente da meditação neste nosso mundo de pressas e prazos e atribulações e medos e inseguranças. Elas nos proporcionam alguns instantes a cada dia para nos voltarmos para o divino em nós mesmos em busca da "compreensão da totalidade da vida", livres de pensamentos e de expectativas, livres de "todas as formas de fragmentação". Pois, voltando a algo a que já me referi antes, ficar livre dos pensamentos é alcançar aquele estado de espírito no qual abandonamos todos os esforços para compreender a vida a partir do intelecto.

Pois, de acordo com D. T. Suzuki, "a mente que não compreende é o Buda; não existe outra". Ou reforçando o que já disse num título de uma postagem anterior, é só o ego que precisa compreender.

Às práticas?

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