LIÇÃO 217
Eu não sou um corpo. Sou livre.
Pois ainda sou como Deus me criou.
1. (197) Só posso ganhar a minha gratidão.
Quem, a não ser eu mesmo, deve agradecer por minha salvação? E de que modo, a não ser pela salvação, posso descobrir o Ser a Quem devo minha gratidão?
Eu não sou um corpo. Sou livre.
Pois ainda sou como Deus me criou.
*
COMENTÁRIO:
Explorando a LIÇÃO 217
De novo, de novo e de novo, se pararmos para refletir um pouquinho só que seja a respeito da última da ideia que revisamos: Só posso crucificar a mim mesmo, relacionando-a, mais uma vez, como fiz ontem, à ideia de uma lição anterior: Tudo que dou é dado a mim mesmo, abrimos caminho uma vez mais para a ideia da revisão de amanhã: Só minha condenação me fere.
Lembremo-nos ainda - os que já estão há mais de um ano por aqui e que já passaram pela prática de todas as lições ao menos uma vez - de que há, na segunda parte, uma lição cuja ideia afirma: Nada pode me ferir, exceto meus pensamentos. Há outra ainda a dizer que: Só meus pensamentos me afetam.
A partir de todas estas ideias é forçoso concluir que, na verdade, tudo sempre gira de modo inevitável em torno de nós mesmos/as, de cada um e de cada uma de nós individualmente. O coletivo também é apenas uma projeção de tudo o que povoa nossa mente - a de cada um, a de cada uma, a de todos e a de todas nós -, se, de novo, pararmos para pensar com bastante atenção.
Isto significa dizer, como também já vimos inúmeras vezes, que o mundo que vejo só existe como projeção ou manifestação de tudo aquilo que trago dentro de mim. E o mesmo vale para cada uma das pessoas que aparentemente existem no mundo. Tanto isso é verdade que estamos já até cansados de ouvir dizer que há tantos mundos quantas são as pessoas que habitam o mundo. Este, em que nossa percepção diz que vivemos.
Isto é apenas a confirmação da ideia que praticamos hoje, que nos diz que só podemos esperar nossa própria gratidão. Mais uma razão, conforme eu já disse no passado, para aprendermos a não depositar nenhuma expectativa em nada, nem em ninguém. Para entregarmos, sim!, todos nossos planos e projetos ao divino, e a um divino - uma vez que não há nada fora de nós mesmos, como o Curso ensina - que só pode existir em nós mesmos/as, ao Espírito Santo, que também só pode existir em nós mesmos/as. Um divino, ou um Espírito Santo em nós, que sabe tudo a respeito de gratidão.
É também o Espírito Santo, em nós, quem sabe o que pode nos dar a alegria perfeita: a Vontade de Deus para nós, e que, claro!, é nossa própria vontade. Em meio a toda e qualquer dúvida que pode advir do sistema de pensamento do mundo, deve bastar-nos a certeza de que sempre podemos contar com nossa própria gratidão, uma vez a tenhamos aprendido.
Repetindo ainda uma vez o que eu já disse em anos passados, esta ideia é também mais uma razão para que deixemos de buscar determinar de que modo os outros devem viver, para que busquemos aprender a abrir mão do controle, de qualquer tipo de controle. Se, em geral, não sabemos o que fazer com nosso próprio mundo, o que nos leva a pensar que podemos decidir o que é melhor para uns e outros, para seus mundos, e para o mundo todo? Ou para todos os mundos que existem?
E, recorrendo ainda a comentários anteriores, é bom lembrar de novo que o texto que introduziu esta ideia para as práticas na primeira vez diz a certa altura:
Não importa se outro considera tuas dádivas indignas. Na mente dele existe uma parte que se junta a tua para te agradecer. Não importa se tuas dádivas parecem perdidas e inúteis. Elas são recebidas onde são dadas. Em tua gratidão elas são aceitas universalmente e reconhecidas com gratidão pelo Coração do Próprio Deus.
E, de novo, alguém pode pedir ou querer mais do que isto? Não será o caso de aprendermos a dar graças por sermos capazes da gratidão? E, se tudo que damos é a nós mesmos/as que damos, será difícil concluir que sempre que somos gratos a alguém por alguma coisa é nossa própria gratidão que recebemos? E que não precisamos de nada mais do que isto?
Lembremo-nos também, por fim, que, do mesmo modo que não podemos ser capazes de amar a ninguém, nem a nada no mundo, se não formos, em primeiro lugar, capazes de amar a nós mesmos/as de forma incondicional, não seremos capazes da gratidão para com nada nem para com ninguém se não aprendermos a ser gratos a nós mesmos/as, por nós mesmos/as.
Às práticas?
*
ADENDO:
Agradeço aqui as manifestações das queridas Dandan e Nina, publicadas na lição de ontem.
É bem verdade o que elas dizem, que tem a ver exatamente com todo o objetivo do ensinamento e com o adendo que publiquei ampliando o comentário da lição 216, por ter sido meio que instado a oferecer mais algumas palavras para esclarecer a importância de questionarmos continuamente a forma com que nos aproximamos do Curso e de seu ensinamento.
Aqui, para a ideia das práticas de hoje, "Só posso ganhar minha gratidão.", também há que se fazer um complemento ao comentário que lhes ofereço há já alguns anos, com algumas poucas modificações.
À luz do que nos ensina o Curso, ou, melhor dizendo, do que ele busca nos ensinar, podemos entender que estamos sós no mundo. Mas, ao mesmo tempo, é preciso aprendermos a certeza de que somos o mundo inteiro. Somos todo o universo. Nossa solidão, como a de Deus, segundo a lenda da Bíblia, é que nos leva a "criar" - melhor seria talvez dizer inventar - este mundo com todas as suas características e dicotomias.
Diferente do mundo "criado por Deus", o mundo que criamos é um mundo repleto de imperfeições e de problemas. Todos advindos da crença na separação, conforme ensina o Curso. É por isso que talvez seja muito interessante e proveitoso refletir profundamente a respeito da gratidão, esta que só podemos ganhar de nós mesmos/as. Porque como estamos cansados e cansadas de saber ou ler ou ouvir "não há nada fora".
Muitos e muitas de nós, ao começarem a tomar consciência de si - no mundo do ego -, passam a perceber a separação física. Inicialmente, quando ainda muito criancinhas, não nos percebemos separados/as de nossa mãe biológica. É só depois de algum tempo que vamos começar a ter ciência de que existimos num corpo diferente do daquele que nos abrigou durante toda a gestação, até estarmos prontos para a expulsão e a queda do paraíso.
Assim, é comum que as crianças construam seus mundos fantasiando, ouvindo, vendo, cheirando, tocando e sendo tocadas, e materializando na fala um universo distinto de todos os universos que existiam até então. Nada mais normal do que isso, não?
A questão começa a se complicar quando passado o tempo não conseguimos mais distinguir o real da fantasia. Por nos temos afastados da essência a que estávamos ligados/as enquanto ainda éramos apenas um ser humano em potencial.
É claro que são muitos os fatores que nos levam a experimentar o mundo de tantas formas diferentes mesmo sendo basicamente os mesmos, as mesmas, em essência. Uns e umas de nós, mais, outros e outras, menos, nos deixamos influenciar pelo que chamamos de fatores externos, todos partes da ilusão criada pela crença na separação. E é por isso que cada um e cada uma de nós vive num mundo diferente daquele em que se pensa que vivem todos os seres humanos, a humanidade.
Não há um só mundo que se pareça a ponto de se acreditar que existem dois mundos iguais. E em todos eles, pode-se dizer, há sempre uma única necessidade a ser suprida, para a satisfação completa da ânsia natural pela alegria, pela paz e pela felicidade: o reconhecimento de que só cada um, cada uma, pode escolher viver a unidade. Não há nada nem ninguém que possa me fazer mais feliz ao expressar uma gratidão que não tenha origem em mim mesmo.
Daí a necessidade de praticar e praticar e praticar, para que o ego não nos engane, fazendo-nos pensar que seríamos mais felizes, teríamos mais alegria, ou desfrutaríamos da paz, caso alguma coisa ou alguém mudasse em nossa experiência de viver.
Tudo o que importa, de fato, é que só posso mesmo ganhar minha própria gratidão. Ela é a única coisa que pode dar sentido a minha existência aparente neste mundo.
Paz e bem!
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