sábado, 6 de julho de 2013

Não há como viver a plenitude crendo na separação


LIÇÃO 187

Abençoo o mundo porque abençoo a mim mesmo.

1. Ninguém pode dar a menos que tenha. De fato, dar é a prova de ter. Já estabelecemos este ponto antes. O que parece tornar difícil de acreditar nele não é isto. Ninguém pode duvidar de que primeiro tens de possuir o que queres dar. É na segunda fase que o mundo e a percepção verdadeira divergem. Depois de teres e dares, o mundo afirma, então, que perdeste o que possuías. A verdade assegura que dar vai aumentar o que tens.

2. Como isto é possível? Pois é certo que, se dás uma coisa finita, os olhos do teu corpo não perceberão como tua. No entanto, aprendemos que as coias apenas representam os pensamentos que as criaram. E não te falta prova de que quando dás ideias tu as reforças em tua própria mente. Talvez a forma com que o pensamento parece surgir mude ao dar. Porém, ele tem de voltar àquele que dá. E a forma que ele assume também não pode ser menos aceitável. Tem de ser mais.

3. Primeiro as ideias têm de te pertencer antes que as dês. Se tens de salvar o mundo, primeiro aceitas a salvação para ti mesmo. Mas não acreditarás que isto aconteceu até que vejas os milagres que isto traz a todos para quem olhas. Nisto se esclarece a ideia de dar e ela adquire significado. Agora podes perceber que, por tua doação, tua riqueza aumenta.

4. Protege todas as coisas que prezas pelo ato de doá-las e terás certeza de que nunca as perderás. Aquilo que pensavas não ter vai se provar teu deste modo. Não valorizes, porém, sua forma. Pois esta mudará e ficará irreconhecível no tempo, por mais que tentes mantê-la a salvo. Nenhuma forma dura. É a ideia por detrás da forma das coisas que vive, imutável.

5. Dá com alegria. Só podes ganhar deste modo. O pensamento permanece e ganha força quando é reforçado pela doação. Os pensamentos se estendem na medida em que são dados, pois não podem se perder. Não existe nenhum doador ou receptor no sentido que o mundo os concebe. Há um doador que conserva; outro que também dará. E ambos têm de ganhar nesta troca, pois cada um terá o pensamento na forma mais útil para si. O que alguém parece perder é sempre alguma coisa que ele valorizará menos do que aquilo que certamente lhe será devolvido.

6. Não te esqueças nunca de que só dás a ti mesmo. Aquele que entende o que significa dar tem de rir da ideia de sacrifício. E também não pode deixar de reconhecer as muitas formas que o sacrifício pode assumir. Ele também ri da dor e da perda, da doença e do sofrimento, da pobreza, da fome e da morte. Ele reconhece que o sacrifício continua a ser a única ideia por trás de todas estas coisas e em sua risada tranquila elas são curadas.

7. Reconhecida, a ilusão tem de desaparecer. Não aceites o sofrimento e eliminas a ideia de sofrimento. Tua bênção pousa sobre todos os que sofrem, quando escolhes ver todo o sofrimento como ele é. A ideia do sacrifício dá origem da todas as formas que o sofrimento parecer assumir. E o sacrifício é uma ideia tão louca que a sanidade a elimina imediatamente.

8. Nunca acredites que podes sacrificar. Não há nenhum lugar para o sacrifício naquilo que tem algum valor. Se o pensamento acudir, a própria presença dele prova que o erro surgiu e que tem de se fazer a correção. Tua bênção o corrigirá. Dada primeiro a ti, ela agora é tua para dares também. Nenhuma forma de sacrifício e sofrimento pode durar o bastante diante do rosto daquele que se perdoa e se abençoa.

9. Os lírios que teu irmão te oferece estão depositados sobre teu altar, com os que lhe ofereceste ao lado deles. Quem poderia ter medo de olhar para tão bela santidade? A grande ilusão do medo de Deus se reduz a nada diante da pureza que verás aqui. Não tenhas medo de olhar. A ventura que verás afastará toda ideia de forma e deixará em seu lugar a dádiva perfeita sempre presente, destinada a crescer para sempre, tua eternamente, para ser dada incessantemente.

10. Agora somos um em pensamento, pois o medo se foi. E aqui, diante do altar do único Deus, do único Pai, do único Criador e do único Pensamento, estamos juntos como um único Filho de Deus. Não separados d'Aquele Que é nossa Fonte; não distantes de um só irmão que é parte de nosso único Ser, Cuja inocência se uniu a nós todos como um só, permanecemos em bem-aventurança e damos do mesmo modo que recebemos. O Nome de Deus está em nossos lábios. E, ao olharmos para dentro, vemos a pureza do Ceú brilhar em nosso reflexo do Amor de nosso Pai.

11. Agora somos abençoados e agora abençoamos o mundo. Queremos estender aquilo para que olhamos, porque queremos vê-lo em todos os lugares. Queremos vê-lo brilhar com a graça de Deus em todos. Não queremos que ele seja negado a nada do que vemos. E, para garantir que esta visão santa seja nossa, nós a oferecemos a tudo o que vemos. Pois aonde a virmos ela nos será devolvida na forma de lírios que podemos depositar em nosso altar, transformando-o em um lar para a Própria Inocência, Que habita conosco e nos oferece a Santidade d'Ela como sendo nossa.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 187


"Abençoo o mundo porque abençoo a mim mesmo."

As práticas da ideia que o Curso nos oferece para hoje podem - e vão - nos revelar, se ainda não o sabemos, o quanto recebemos e a forma pela qual podemos fazer multiplicar os dons recebidos.

De acordo com o que ensina Joel Goldsmith, no livro A Arte de Curar pelo Espírito,  em capítulo intitulado Uma nova concepção de suprimento, de já lhes falei outras vezes, "o suprimento dos bens da vida é uma das coisas mais simples que um principiante no caminho espiritual pode realizar". 

Precisamos, porém, estar atentos ao fato de que há uma grande diferença entre "a verdade espiritual que subjaz ao suprimento e a concepção humana desse suprimento". 

É interessante notar a correspondência entre o que Goldsmith ensina e o que o Curso nos diz na lição que praticamos hoje. Diz ele: "Em sentido espiritual, ser suprido dos bens da vida, não quer dizer receber algo, mas sim dar algo". O que é bem o contrário do que se pensa no sentido humano. 

Ele afirma isso porque, em seu modo de ver, "no plano espiritual, não existe nenhum caminho para realizar o plano como tal: tal processo seria impossível, uma vez que todos os bens do céu e da terra já estão dentro de ti, neste momento, razão por que toda e qualquer tentativa de receberes de fora o suprimento desses bens" está fadada ao fracasso. Pois, como ele diz,  "não existe nenhum processo de subsistência fora do teu ser. Se quiseres fruir a plenitude daquilo de que necessitas para tua vivência, tens de abrir um caminho [interior] pelo qual essa plenitude possa fluir e se manifestar".   

Aproveitemos também para lembrar de que o rabino Nilton Bonder, em seu livro Fronteiras da Inteligência, diz que "a sabedoria não é um saber, mas a habilidade de aprender". Isto é o mesmo que dizer, como já se disse muitas vezes, que a sabedoria começa para alguém quando ele reconhece que não sabe. 

Ele também diz que "a única forma que se tem de chegar à certeza é pela dúvida. E [que] mesmo assim essa certeza deve estar eternamente aberta à dúvida. Ou, em outras palavras, ainda pertencer à categoria da dúvida". Para ele, "a espiritualidade não foge a esta regra da 'inteligência'. Ao contrário do que muitos pensam, a fé não é formada de certezas, mas de dúvidas trabalhadas de forma sensível e sofisticada".

Mas estas dúvidas desaparecem quando chegamos ao conhecimento, que, apesar de não ser o objeto de que se ocupa o ensinamento do Curso, nos espera quando nos rendemos por completo a Deus. Isto é, quando nos abandonamos por inteiro na certeza de que nosso único desejo é fazer o que a Vontade d'Ele. Quando deixamos de lado a crença na separação.

Alan Watts, no livro God [Deus], para dizer a mesma coisa de outro modo, afirma que a "fé é um estado de abertura ou confiança" e que "a entrega é a atitude fundamental da fé". O que não significa que não se pode ter dúvidas. Estas, contudo, quando existirem - e acho que sempre vão existir -, também têm de fazer parte da entrega.

Da mesma forma, o Curso, em um de seus exercícios, convida, a certa altura, a abandonarmos tudo, inclusive o próprio Curso, e buscarmos o encontro com o Ser no mergulho mais profundo em nós mesmos, aonde vamos ser capazes de ouvir distintamente a Voz por Deus.

Lembremo-nos ainda mais uma vez da Oração de São Francisco, que afirma que "é dando que se recebe", palavras a que raramente damos atenção, porque distraídos de nós mesmos a maior parte do tempo. Quantas vezes já ouvimos estas palavras antes? Alguma vez já percebemos, de fato, a verdade que há nelas? Quantas vezes nos dispomos a verificar, na prática, a veracidade delas? E quantas vezes, apesar de comprovada sua verdade, nos esquecemos disto, julgando que é negando a doação que poderemos manter e guardar aquilo que prezamos? Temendo perder o que conquistamos "a duras penas".

As práticas de hoje vão reforçar em nós a ideia de que somos abençoados com todas as dádivas de Deus, na terra e no céu, que podemos abençoar, e que é só dando que podemos receber, pois ela nos diz claramente que só damos a nós mesmos. Sempre!

Às práticas, pois! 


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