sexta-feira, 25 de outubro de 2024

A impermanência é a constante e o melhor do mundo

 

8. O que é o mundo real?

1. O mundo real é um símbolo, igual ao resto do que a percepção oferece. Contudo, ele representa o contrário daquilo que tu fizeste. Teu mundo é visto pelos olhos do medo e te traz à mente as evidências do horror. O mundo real não pode ser visto senão por olhos que o perdão abençoa, a fim de que eles vejam um mundo no qual o horror seja impossível e não se possa encontrar indícios de medo.

2. O mundo real possui uma contrapartida para cada pensamento infeliz que se reflete em teu mundo; uma compensação infalível para as cenas de medo e para os ruídos de luta que teu mundo contém. O mundo real apresenta um mundo visto de forma diferente, por olhos serenos e por uma mente em paz. Não há nada aí a não ser paz. Não se ouve nenhum grito de dor e de tristeza aí porque não fica nada fora do perdão. E as imagens são serenas. Só imagens felizes podem chegar à mente que se perdoa.

3. Que necessidade esta mente tem de pensamentos de morte, ataque e assassinato? O que ela pode perceber a sua volta a não ser segurança, amor e alegria? O que há para ela querer escolher condenar e o que há para ela querer julgar de modo desfavorável? O mundo que ela vê nasce de uma mente em paz consigo mesma. Não há nenhum perigo à espreita em nada do que ela vê, porque ela é benigna e só vê benignidade.

4. O mundo real é o símbolo de que o sonho de pecado e de culpa acabou, e de que o Filho de Deus já não dorme. Seus olhos despertos percebem o reflexo seguro do Amor de seu Pai; a garantia infalível de que ele está redimido. O mundo real indica o fim do tempo, pois a percepção dele torna o tempo inútil.

5. O Espírito Santo não tem nenhuma necessidade do tempo depois que o tempo cumpre o propósito d'Ele. Agora, Ele espera aquele único instante a mais para que Deus dê Seu passo final e o tempo desapareça, levando consigo a percepção enquanto se vai, e deixa apenas a verdade para ser ela mesma. Esse instante é nossa meta, porque ele contém a lembrança de Deus. E, quando olhamos para um mundo perdoado, é Ele Quem nos chama e vem para nos levar para casa, lembrando-nos de nossa Identidade, que nosso perdão nos devolve.

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LIÇÃO 299

A santidade eterna habita em mim.

1. Minha santidade está muito além de minha própria capacidade de entender ou conhecer. No entanto, Deus, meu Pai, Que a criou, reconhece minha santidade como a d'Ele. Nossa Vontade conjunta a compreende. E Nossa Vontade conjunta sabe que isso é verdade.

2. Pai, minha santidade não vem de mim. Ela não é minha para ser destruída pelo pecado. Ela não é minha para sofrer ataques. Ilusões podem escondê-la, mas não podem extinguir sua radiância nem turvar sua luz. Ela continua a ser perfeita e intocada para sempre. Todas as coisas são curadas nela, pois continuam a ser tal qual Tu as criaste. E eu posso conhecer minha santidade. Pois a Própria Santidade me criou, e eu posso conhecer minha Fonte porque é Tua Vontade que Tu sejas conhecido.


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COMENTÁRIO:


Explorando a LIÇÃO 299

Caras, caros,

Repetindo, uma vez mais ainda, o que eu disse em anos anteriores, a ideia que vamos praticar hoje busca nos devolver à condição natural do Filho de Deus. É a prática desta ideia que pode nos pôr em contato com aquilo que verdadeiramente somos. 

Aquilo em que acreditamos nos ter transformado a partir das experiências que vivemos neste mundo não tem importância, pois só existe naquela parte de nossa mente que imagina de modo equivocado ser possível uma existência separada da Deus. 

A imagem que fazemos de nós mesmos e de nós mesmas, que cria e constrói este mundo em que aparentemente vivemos, é falsa. É apenas uma parte da ilusão. E toda a ideia de busca e todos os esforços que fazemos nos vários caminhos que trilhamos servem apenas para confirmar aquilo que o Curso diz, que é a mesma coisa que nos dizem todos os mestres de todos os tempos. Nós já somos aquilo que buscamos. 

Atenção! Atenção! Atenção!

Nós, todos, todas, cada um e cada uma de nós, sempre fomos, já somos e seremos eternamente aquilo que buscamos.

É por isso, pois, que as ideias da alegria e da paz, perfeitas e completas, bem como a da santidade são, como já disse anteriormente, recorrentes no Curso, por serem elas a condição natural do Filho de Deus. Aprender a reconhecer e a internalizar a santidade em nós é o que vai nos permitir viver na alegria e na paz perfeitas. É o que vai nos devolver à Graça, ao Eu, de que fala Ramana Maharshi, quando diz, conforme já vimos antes, que:

"As pessoas não entendem a verdade nua e crua e - a verdade de sua consciência de cada dia, sempre presente e eterna. Essa é a verdade do Eu. Existe alguém que não esteja consciente do Eu? Embora não gostem de ouvir falar disso, as pessoas estão ávidas por saber o que vai além [de suas vidas momentâneas] - céu, inferno, reencarnação. Exatamente porque elas amam o mistério e não a verdade pura, as religiões as mimam - para, finalmente, trazê-las de volta ao Eu. Por mais que possam vagar, vocês devem retornar em última instância ao Eu; portanto, por que não subsistir no Eu [na santidade] aqui e agora?

"... a Graça está sempre presente desde o princípio. A Graça é o Eu. Não é algo para ser conseguido. Basta reconhecer sua existência.

"Se a realização não fosse eterna, não valeria a pena. Assim, o que buscamos [a santidade, a Graça, o Eu] não é algo que deve ter começado a existir, mas algo que é eterno e está presente agora mesmo, presente em sua própria consciência [algo que habita em nós].

"[Na verdade], passamos [aparentemente e na ilusão apenas] por todo tipo de práticas e princípios vigorosos para nos tornarmos o que já somos agora [o que sempre fomos e seremos eternamente]. Todo [o] esforço serve simplesmente para nos livrarmos da impressão errada de que estamos limitados pelas aflições desta vida.

"Inicialmente, é impossível para você não fazer esforço. Quando você vai mais fundo, é impossível para você fazer esforço."

O aparente esforço que precisamos fazer inicialmente só é necessário porque "no estado do viver, as coisas vão enqueridas [amarradas] com muita astúcia: um dia é todo para a esperança, o seguinte para a desconsolação", como nos ensina o jagunço Riobaldo.

Porém, ele mesmo nos alerta para o fato de que: "Somente com a alegria é que a gente realiza bem - mesmo até as tristes ações".


E novamente Nikos Kazantzakis:

"O rosto mais iluminado da desesperança é Deus; o rosto mais iluminado de esperança é Deus..."  


Entretanto, esperança e medo são duas faces da mesma moeda. A esperança não existe sem o medo e vice-versa. Daí, a necessidade de transcendermos essa aparente divisão, que é o que constrói este mundo ilusório, onde a separação é a tônica. Precisamos aprender a amar a impermanência neste mundo, porque é ela que nos oferece a visão da intemporalidade. Só ela pode nos mostrar quão pouco importante é o apego que temos às coisas mundanas, que duram tão somente o breve espaço de nossa respiração, para no momento seguinte já se transformarem em outra coisa.

Às práticas?

ADENDO:

Este adendo foi escrito em 2020. Tendo como base os comentários daquele ano - um ano bissexto como este - para os comentários que estou publicando neste ano. Resolvi mantê-lo, como forma de responder, acredito, a várias questões que podem surgir ao longo do caminho, à medida que buscamos seguir os ensinamento do UCEM, praticando suas lições. Ampliei-o um pouquinho, por conta de tudo o que penso ter aprendido desde então.

Olá a todos e todas. Olá, Glória, do Atelier G'Ávila,

Esta é uma tentativa de resposta à questão trazida pela nossa colega Glória, a respeito do livro "Cartas de Cristo", mas acredito que pode ser uma reflexão que vale para todos nós em nossos caminhos pela busca do autoconhecimento. Um amigo, mestre, acha melhor dizer na busca da "autoconstrução".

É claro que existem muitos outros livros que dizem ter sido ditados por uma "Voz" e que esta "Voz" seria a "Voz" de Jesus, não o homem que dizem ter vivido na Palestina há mais de dois mil anos, mas a "Voz" do Cristo, a "Voz" de Deus feito carne e sangue e sentidos.

Portanto, o que posso dizer?

Primeiro que não conheço o livro, quer dizer, não o li. Cheguei a comprá-lo e a começar sua leitura em algum momento em 2012, mas não fui além da terceira carta. Inicialmente porque não gostei da tradução e depois o tom do livro não chegou a me tocar de fato. Cheguei ao ponto de comprar um exemplar para ler no original, em inglês, mas a leitura também não deslanchou.

Isso quer dizer que o livro não é bom? Que a mensagem não é boa, ou que não deve ser ouvida, lida, estudada? Absolutamente não! Sei que existem grupos que estudam este "Cartas de Cristo". Assim como há grupos que estudam outros textos, de outros mestres. Não há nada de errado nisto. 

É preciso que nos lembremos de que o próprio "Um Curso em Milagres" é também um livro que muitas pessoas não conseguem ler. Muitas pessoas que se aproximam dele não conseguem dar continuidade às práticas das lições diárias. E os próprios "lançadores" do livro, ainda em vida, chegaram a dizer que sua mensagem não era para todas as pessoas. Kenneth Wapnick aconselhava as pessoas a não se preocuparem em fazer com que a mensagem do Curso se disseminasse, se espalhasse. Não é o que o Curso pede. Não é o que ele quer. Não é a isto que ele se presta.

A própria Helen Schucman, que transcreveu as palavras ditadas pela "Voz" era uma pessoa que não lidava bem com o Curso, nem com sua mensagem. 

Com respeito ao que eu disse no comentário à lição 295, onde surgiu a questão da colega, há assunto para muitas vidas.

Eu diria que essas "Cartas" entram no rol de inúmeros outros textos que circulam pelo mundo de tempos em tempos, buscando trazer uma nova luz para aquilo que se diz que o homem Jesus - encarnando o papel de Filho de Deus e vivendo-o, como se fora um nosso irmão mais velho, como afirma no Curso - disse. 

Isso significa que por trás de tudo o que a história nos conta, por trás de tudo o que as religiões e seus padres, pastores e divulgadores interessados nos contam, há uma mensagem que não ficou clara para um grande número de pessoas. Assim, sempre aparece alguém que quer e vai esclarecer as coisas. Isto talvez signifique que há um grande número de egos querendo aplauso, querendo traduzir a mensagem dos mestres. Aliás, as religiões todas não fazem nada a não ser isto.

Parece-me, porém, não ser verdade que a mensagem dos mestres não é clara. O problema, o que obscurece e deturpa, em geral, a mensagem é o que os seguidores fazem com ela. 

A mensagem dos mestres em todos os tempos é claríssima, e é apenas uma: "faze aos outros apenas aquilo que queres que façam a ti". Ou "ama teu próximo [irmão] como a ti mesmo". Todo o resto são apenas comentários. Interpretações.

O Curso traz logo no início, em sua introdução, um resumo do que precisamos aprender que se limita a três pequenas frases:

"Nada real pode ser ameaçado.
Nada irreal existe.
Nisto está a paz de Deus."

Pronto! E tudo está dito. 

Há ainda um ditado que vem, se não me engano, lá da sabedoria do Oriente e diz: "Quando o aluno está pronto, o mestre aparece". 

Para terminar, sem me alongar demais, eu diria que o importante não pode ser nunca o meio, pelo qual a mensagem se apresenta, e sim a mensagem em si. Em outras palavras, como também diz o Curso a certa altura, não precisamos mais do que aprender, praticar e viver no dia a dia nada mais do que apenas a ideia de uma só das lições para sermos salvos e para salvar o mundo todo conosco.

Eu, para mim, para minha vidam adotei o roteiro dado pelo Curso. E procuro, além de praticar as lições diariamente, pô-las em prática nos meus dias há já mais de vinte anos. Isso, no entanto, não me impede de beber de outras fontes e de encontrar boas águas numa e noutra.

O maior cuidado, não obstante, que todos e todas nós devemos ter é o de não transformar nenhum dos meios - o Curso, as Cartas, o professor, a professora, o mestre, a mestra, o guru, a gurua - em ídolos. Para tanto, o Curso sempre nos oferece a possibilidade de consultarmos o divino em nós mesmos e em nós mesmas e de lembrar-nos do mais importante que o ensinamento pode nos oferecer: não há nada fora. Ouçamos o divino em nós para agir de acordo com o que nos fala a alma, o coração. Abandonando quaisquer conselhos que venham do ego, ou de qualquer forma ilusória.

Relendo este adendo, à luz do tempo de práticas e de leituras outras desde o período em que ele foi escrito, parece-me útil acrescentar que o que o Curso pede de nós - oferecendo-nos com seu ensinamento a possibilidade de que o alcancemos - é que não nos deixemos amarrar, aprisionar, ou prender por quaisquer coisas da forma, dos sentidos, aconselhando-nos inclusive a que o abandonemos, quando tivermos alcançado a liberdade do amor por nós mesmas e por nós mesmas, a certeza de que somos um com o divino que nos nutre e mantém vivos, vivas.

Dizendo de outra forma, o Curso não seria necessário, como ele mesmo diz, se agíssemos no mundo a partir daquilo que nos manda a fazer o coração, orientado pelo divino que o dirige e dá força e proteção por toda a eternidade. Tudo o que precisamos fazer é ser nós mesmos, nós mesmas. 

Paz e bem!

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