sexta-feira, 22 de julho de 2022

Manter a atenção na luz é o que pode aquietar o ego

 

LIÇÃO 203

Eu não sou um corpo. Sou livre.
Pois ainda sou como Deus me criou.

1. (183) Invoco o Nome de Deus e o meu próprio nome.

O Nome de Deus é minha liberação de todo pensamento de mal e de pecado, porque é meu próprio nome assim como o d'Ele.

Eu não sou um corpo. Sou livre.
Pois ainda sou como Deus me criou.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 203

Lembram-se de que já me referi no passado - e mais do que só uma vez - a um livro de Thomas Keating, intitulado A condição humana? Acho que vale a pena relembrar o que eu disse que ele tinha a nos ensinar na ocasião em que falei dele. E, com certeza, em sintonia com o que o Curso quer que aprendamos, a partir das práticas com a lição de hoje, bem como com as práticas de todos os dias. 

A certa altura de seu livro, falei naquela oportunidade, repito agora, Keating diz que quem está envolvido em uma prática espiritual precisa de orientação e que "nem todo guia espiritual que aparece pode oferecê-la. O mais importante é a fidelidade à prática diária de uma forma contemplativa de oração" [o grifo é meu]. Não é isso o que lhes parece que são os exercícios: "uma forma contemplativa de oração"?

À medida que buscamos nos lembrar de quem somos, na verdade, em Deus, o autor diz que a prática diária "gradativamente nos expõe ao inconsciente em um ritmo com que podemos lidar, e [nos] coloca... sob a orientação do Espírito Santo. O amor divino prepara-nos, então, para receber[mos] o máximo que Deus pode comunicar de sua luz interior". Lembrando-nos sempre de que o máximo que podemos receber em dado momento é diferente para cada um e cada uma nós.

Assim, resta lembrar que a ideia que praticamos hoje chama a atenção para o fato de que, ao invocar o Nome de Deus, reconhecemos que "o mesmo amor incondicional, que se move em Deus, está se movendo em nós pela Graça, suplantando o ego humano com o divino 'Eu'", para que possamos começar a "manifestar na vida diária, não nossos falsos egos e preconceitos, mas a ternura infinita de Deus, o interesse de Deus por cada coisa viva", de acordo com Keating.

E, ainda de acordo com o que ele diz, e que é a mesma coisa que diz Joel Goldsmith, conforme citado várias outras vezes,  "enquanto nos identificarmos com algum papel ou pessoa, não estaremos livres para manifestar a pureza da presença de Deus. Parte da vida é um processo de abandonar qualquer papel, embora digno, com que você se identifica. Ele [o papel com o qual você se identifica] não é você. Suas emoções não são você. Seu corpo não é você. Se você não é nada disso, que é você", então?

Lembrem-se, lembremo-nos, da lição 189, por que passamos há pouco, e que vamos revisar daqui a alguns dias. Lá, no sétimo parágrafo, o Curso aconselha a nos aquietarmos, a abandonarmos tudo o que já nos aconteceu no passado, inclusive o próprio Curso, para podermos ir a Deus de mãos livres, de mente aberta [ir metaforicamente apenas porque, na verdade, o que fazemos ao deixar tudo para trás, é tão somente permitir que sejam removidos os obstáculos que interpusemos entre o divino, que somos, e um "eu" que construímos e que acreditamos egoicamente ser]. Porque nada do que já experimentamos antes pode nos levar a nós mesmos. Só podemos chegar a nós mesmos/as, e, por extensão, a Deus, agora. E no silêncio. 

Numa entrevista recente, publicado no jornal El País, o filósofo George Steiner diz o seguinte, e que tem a ver com isso de que falo acima:

"... há algo que me preocupa: os jovens [eu diria que não só os jovens] já não têm tempo... de ter tempo. Nunca a aceleração mecânica das rotinas da vida foi tão forte quanto hoje. E é preciso se ter tempo para buscar tempo. E outra coisa: não há que se ter medo do silêncio. O medo das crianças do silêncio me dá medo. Só o silêncio nos ensina a encontrar o essencial em nós mesmos."  

Ora, o que pode ser o essencial em nós mesmos/as? O mundo e seu sistema de pensamento, o mundo e seus ruídos, a estática que não nos permite ouvir a voz interior durante muito mais do que uns poucos segundos, tudo isso serve apenas para nos distrairmos de nós mesmos/as. Para voltarmos a atenção para tudo aquilo que o mundo quer que compremos, para a perpetuação da existência do ego e de todas as diferenças que o ego quer nos fazer acreditar que nos separam uns e umas dos outros e das outras, mas que, mais do que nos separar uns e umas dos outros e das outras, nos separam de Deus, de nós mesmos/as.

Tudo isso pode desaparecer se buscarmos alguns momentos de silêncio no dia-a-dia, como prática até, todos os dias. Se reservarmos um pouco de tempo para aquilo que é essencial em nós: nós mesmos/as. O divino em nós. Isso vai permitir que os obstáculos que o ego quer interpor entre Deus e nós sejam removidos. A pouco e pouco. E quanto mais tempo escolhermos dedicar ao silêncio tanto mais fácil ficará ouvir a Voz por Deus em nossos dias. Tanto mais fácil será perceber a luz que trazemos interiormente e que tem de se irradiar para iluminar o mundo e tudo o que há nele, ainda que apenas aparentemente. 

Quer dizer, o ego só aparece quando nos esquecemos de trazer a ele a Luz do divino que sabemos em nós. Quando permitimos que seus ruídos sejam ouvidos e nos distraiam a atenção. Daí a necessidade da atenção, da vigilância, para que não nos deixemos enganar pelo ensinamento do mundo, para que não nos deixemos tentar a dar valor àquilo que não tem valor, como ensina uma das lições por que já passamos.

E, para terminar este comentário da mesma forma que fiz no passado, chamo sua atenção para o seguinte: "se nós [ainda] não tivermos experimentado a nós mesmos/as como amor incondicional, temos mais trabalho a fazer - porque isso [amor incondicional] é o que realmente somos".

Às práticas, pois!

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