segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Provações também são expressões do Amor de Deus


5. O que é o corpo?

1. O corpo é uma cerca que o Filho de Deus imagina ter construído para separar partes de seu Ser de outras partes. É dentro desta cerca que ele pensa viver para morrer quando ela enfraquecer e se deteriorar. Pois dentro desta cerca ele pensa estar a salvo do amor. Identificando-se com sua segurança, ele percebe a si mesmo como aquilo que sua segurança é. De que outra forma ele poderia ter certeza de que permanece no interior do corpo e de que mantém o amor do lado de fora?

2. O corpo não permanecerá. Mas ele vê isto como segurança em dobro. Pois a impermanência do Filho de Deus é "prova" de que suas cercas funcionam e cumprem a tarefa que sua mente atribui a elas. Pois, se sua unidade ainda permanecesse intocada, quem poderia atacar e quem poderia ser atacado? Quem poderia ser vitorioso? Quem poderia ser sua presa? Quem poderia ser vítima? Quem o assassino? E, se ele não morresse, que "prova" haveria de que o Filho de Deus pode ser destruído?

3. O corpo é sonho. Igual a outros sonhos, algumas vezes ele parece retratar a felicidade, mas pode bem repentinamente retroceder para o medo, onde nascem todos os sonhos. Pois só o amor cria na verdade e a verdade nunca pode ter medo. Criado para ser medroso, o corpo tem de servir ao propósito que lhe foi dado. Mas nós podemos mudar o propósito a que o corpo obedecerá mudando o que pensamos acerca de sua finalidade.

4. O corpo é o meio pelo qual o Filho de Deus volta à sanidade. Ainda que ele tenha sido feito para prendê-lo no inferno de forma irremediável, apesar de a meta do Céu ter sido trocada pela busca do inferno. O Filho de Deus estende sua mão para alcançar seu irmão e para ajudá-lo a caminhar pela estrada junto com ele. O corpo se torna sagrado imediatamente. Agora ele serve para curar a mente à qual ele tinha feito para matar.

5. Tu te identificarás com aquilo que pensas que te deixará seguro. Seja isso o que for, acreditarás que é um contigo. Tua segurança está na verdade, e não em mentiras. O amor é tua segurança. O medo não existe. Identifica-te com o amor e estás seguro. Identifica-te com o amor e estás em casa. Identifica-te com o amor e encontras teu Ser.


*

LIÇÃO 270

Não usarei os olhos do corpo hoje.

1. Pai, a visão de Cristo é Tua dádiva para mim e ela tem o poder de traduzir tudo aquilo que os olhos do corpo veem na visão de um mundo perdoado. Quão sublime e generoso é este mundo! Porém, quão mais do que a visão pode mostrar perceberei nele. O mundo perdoado significa que Teu Filho reconhece Seu Pai, permite que seus sonhos sejam trazidos à verdade e espera ansioso aquele único instante a mais que falta do tempo que acaba para sempre, quando Tua lembrança volta a ele. E, nesse momento, a vontade dele fica uma só com a Tua. A função dele, então, é apenas Tua Própria Função e todo pensamento, exceto Teu Próprio Pensamento, desaparece.

2. A paz de hoje abençoará nossos corações e a partir deles a paz virá para todos. Cristo é nossos olhos hoje. E com a visão d'Ele oferecemos a cura ao mundo por intermédio d'Ele, o Filho santo a quem Deus criou perfeito; o Filho santo a quem Deus criou uno.

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COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 270

A ideia que vamos praticar hoje visa a permitir que usemos - ou aprendamos a usar - a visão de Cristo para olhar para o mundo e perceber que invariavelmente  "... quando pessoas de mente decidida e coração bondoso acreditam apaixonadamente em alguma coisa, de um modo que ilumina suas vidas, parece que Deus sorri através delas".*

Abrir mão da visão que os olhos do corpo nos apresenta em favor da visão de Cristo pode - e vai, mais dia, menos dia - nos fazer entender que "... Deus não é a causa dos males nem das alegrias da vida. O importante é saber que, independentemente dos acontecimentos, Ele está sempre conosco e só deseja [se é que Deus pode desejar alguma coisa que já faça parte do que Ele É] que voltemos ao Seu seio" [de onde, aliás, nunca saímos].* 

Aliás, é importante lembrar novamente que, como diz Joel Goldsmith, não nos serve de nada saber racional e intelectualmente que Deus é onipresente, onipotente ou onisciente. O que se faz necessário e pode servir para orientar nossas vidas e iluminar nossos caminhos é trazer a Presença d'Ele à consciência desde as primeiras horas do dia, sempre que acordarmos. Só então, vamos ser capazes de olhar para o mundo com os olhos de Cristo, mesmo se nos valermos dos olhos do corpo.

É esta visão crística que pode - e vai - nos levar a atingir a meta proposta para esta segunda parte do livro de exercícios, qual seja, a que nos dá a possibilidade de chegar à percepção verdadeira, aquela que só podemos alcançar com a ajuda do Espírito Santo. Aquela percepção que nos revela a necessidade de que estejamos sempre prontos e abertos "para receber o amor de Deus na forma que Ele vier".* 

Um parêntese: Esta, aliás, é uma das grandes lições que aprendi, já há muitos anos conforme também lhes disse antes, de um amigo muito querido, que se encantou há algum tempo. Isto é, é necessário que estejamos sempre preparados para o inesperado. Já imaginaram como seria sem graça um mundo aonde soubéssemos com antecedência tudo o que vai acontecer? Pema Chödrön diz que, e isto tem a ver com a lição de meu amigo: "A vida é uma boa escola e um bom amigo. Tudo está sempre em transição, se pudermos nos dar conta disso. Nada nunca se completa da maneira como gostamos de sonhar. A situação ideal é a fora do eixo, no meio das coisas, e na qual podemos abrir nossos corações e mentes além do limite".]

E isto - estar pronto e aberto "para receber o amor de Deus na forma que Ele vier" e ser capaz de "abrir nossos corações e mentes além do limite" - é bastante possível, se não cedermos às falsas promessas de controle e poder do falso eu [o ego, em seus delírios de onipotência] sobre o mundo e não nos rendermos à oferta enganosa que ele faz de nos dar o mundo inteiro, sem revelar que o preço que ele cobra por isso é nossa alma. 

Na verdade, com esta lição, assim como com todas e cada uma delas, tudo o que o Curso quer nos ensinar - e ensina vezes e vezes repetidas, para quem quiser de fato aprender - é que tudo o que precisamos mudar é tão-somente nossa percepção. Uma vez que ela não pode nos oferecer a verdade, por estar sempre contaminada pelas interpretações que fazemos dos fatos e das coisas que vemos a partir do que já experimentamos no passado. 

É por isso que é útil pensar, por exemplo, "quando você sente [uma] dor física ou quando conflitos psicológicos o(a) atormentam, que Deus está lhe dando um abraço um pouco mais apertado. Provações [também] são uma expressão de Seu amor, não de rejeição"**, vistas à luz do ensinamento do Curso. Porque, se você e eu e todos e todas nós estivermos bem lembrados(as), cada um e cada uma de nós é inteiramente livre para escolher aquilo que deseja e precisa viver ou experimentar. E porque Deus só diz "sim" a tudo o que você escolhe. 

Portanto, se as provações se apresentam, de alguma forma, em algum momento, em nossas vidas, elas são a prova de que Deus nos permite viver tudo o que escolhermos. E, caso não estejamos satisfeitos com alguma coisa em nossa vida, basta nos voltarmos para aqueles três passos de que falei num comentário a uma lição recente e nos prepararmos para escolher de novo.

Ou ainda porque, como disse Chögyam Trungpa Rinpoche: "O caos deve ser encarado como uma excelente notícia". 

Busquemos, pois, com as práticas da ideia de hoje alcançar a bênção da paz para nossos corações e mentes, para, de fato, sermos capazes de, a partir da cura de nossa percepção, oferecer a cura ao mundo. 

Às práticas?
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* Citações extraídas do livro Apocalipse 2012, de Lawrence E. Joseph.
** Citação de Thomas Keating, em Mente aberta coração aberto.

OBSERVAÇÃO: Este comentário, inclusive o título da postagem, com algumas modificações, se vale de praticamente todo o comentário feito nos últimos anos para esta mesma lição.

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