terça-feira, 1 de outubro de 2019

As raízes de nosso sofrimento são: esperança e medo


6. O que é o Cristo?

1. Cristo é o Filho de Deus tal qual Ele O criou. Ele é o Ser que compartilhamos, que nos une uns aos outros e também a Deus. Ele é o Pensamento que ainda mora no interior da Mente que é Sua Fonte. Ele não abandona Seu lar santo, nem perde a inocência na qual Ele foi criado. Ele habita na Mente de Deus.

2. Cristo é o elo que te mantém um com Deus e garante que a separação não é mais do que uma ilusão do desespero, pois a esperança habitará n'Ele para sempre. Tua mente é parte da d'Ele e a d'Ele é parte da tua. Ele é a parte aonde a Resposta de Deus está, aonde todas as decisões já foram tomadas e na qual os sonhos acabaram. Ele permanece intocado por qualquer coisa que os olhos do corpo percebem. Pois embora Seu Pai tenha depositado n'Ele o meio para tua salvação, ainda assim Ele continua sendo o Ser Que, tal qual Seu Pai, não conhece nenhum pecado.

3. Lar do Espírito Santo e à vontade em Deus apenas, Cristo, de fato, continua em paz no interior de tua mente santa. Na verdade, esta é a única parte de ti que é real. O resto são sonhos. Esses sonhos, porém, também serão entregues a Cristo, para se desvanecerem diante de Sua glória e te revelarem, por fim teu Ser santo, o Cristo.

4. O Espírito Santo, a partir do Cristo em ti, alcança todos os teus sonhos e lhes ordena que venham a Ele, para serem traduzidos em verdade. Ele os trocará pelo sonho final que Deus designou como o fim dos sonhos. Além do mais, quando o perdão descansar sobre o mundo e a paz chegar a todo Filho de Deus, o que poderia haver para manter as coisas separadas, pois o que resta ver exceto a face de Cristo?

5. E por quanto tempo essa face será vista, se ela é apenas o símbolo de que nesse momento acabou o tempo para o aprendizado de que alcançou-se, enfim, a meta da Expiação? Busquemos, por isto, então, achar a face de Cristo e não olhar para mais nada. Quando virmos Sua glória saberemos que não temos nenhuma necessidade de aprendizado ou de percepção ou de tempo, nem de nada a não ser do Ser santo, o Cristo a Quem Deus criou como Seu Filho.


*

LIÇÃO 274

Este dia pertence ao amor. Que eu não tenha medo.

1. Pai, hoje quero deixar que todas as coisas sejam tais como Tu as criaste e oferecer a Teu Filho o respeito devido a sua inocência; o amor do irmão a seu irmão e Amigo. Por meio disso sou redimido. Também por meio disso a verdade penetrará no lugar aonde as ilusões estavam, a luz substituirá toda a escuridão e Teu Filho saberá que é como Tu o criaste.

2. Hoje chega a nós uma bênção especial d'Aquele Que é nosso Pai. Dá este dia a Ele e não haverá nenhum medo hoje, porque o dia é dado ao amor.


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COMENTÁRIO:


Explorando a LIÇÃO 274

A ideia que o Curso oferece para as práticas de hoje nos convida a dedicarmos, mais uma vez, um dia inteiro ao amor. Pois é só o amor que pode - e vai - nos fazer abandonar e esquecer por completo quaisquer medos. É possível existir coisa melhor a se fazer? Mas, pergunto-lhes mais uma vez, será que somos capazes de dedicar um só dia dos nossos que seja inteiramente ao amor? Quem sabe? Como eu disse antes, se nos decidirmos a ficar atentos, é possível. Se nos decidirmos a estar presentes a tudo o que nos acontecer neste dia, é possível.

Quem sabe será possível? Se dedicarmos, de fato, o dia todo ao silêncio, que é a única forma de chegarmos ao autoconhecimento, deixando de lado tudo o que nos oferece o mundo das ilusões, a partir de nossa sintonia com o sistema de pensamento do falso eu, talvez seja possível. 

Repetindo pela enésima vez o que diz Krishnamurti a respeito do autoconhecimento: "autoconhecimento não significa acumular conhecimentos sobre si próprio; significa observar a si próprio. Se aprendo acumulando conhecimentos, nada aprendo a respeito de mim mesmo". Aprendendo apenas a respeito do conhecimento do mundo que vejo, continuo a encher minhas reservas de informações velhas em lugar de esvaziar a mente para que o novo possa entrar. Lembremo-nos da necessidade de esvaziar a xícara antes de servir um chá novo.

Ele diz ainda que devemos "recusar, não apenas verbal, intelectual ou teoricamente, mas negar realmente tudo o que o homem" diz e precisamos incluir aí tudo o que cada um de nós diz a si mesmo - e aos outros - a partir do que a percepção nos leva a pensar. Cabe a cada um de nós descobrir, por si próprio, o que é a Verdade. Porque não é possível obtermos a Verdade de outrem. E a Verdade também não está fixada em um ponto particular.

Lembremo-nos novamente do comentário anterior a esta lição. Krishnamurti vai ainda além, dizendo que nos cumpre ser sérios para rejeitar toda espécie de propaganda - e toda religião institucionalizada é uma contínua propaganda -, a fim de que possamos descobrir por nós mesmos "o que é a Verdade, se tal coisa existe". 

O que importa, ele diz ainda, é que compreendamos por nós mesmos e não pelo que dizem a nosso respeito psicólogos, filósofos, analistas, intelectuais, velhos mestres, mesmo os mais antigos e venerados, pois, fazendo isto, estaríamos apenas seguindo o que eles dizem a respeito de nós. 

O próprio Buda, de acordo com livro que li há algum tempo, e conforme já lhes disse aqui há dois ou três anos, se recusava, por inútil, repetidamente a discutir a respeito de 14 temas, todos eles buscando uma certeza absoluta, que ninguém pode encontrar no mundo. Vejam aí, por favor, quais são eles e vamos refletir, para mudar, caso algum destes temas seja parte de nossas próprias discussões: 

1) Se o mundo é eterno, ou não, ou ambos, ou nenhuma das duas coisas.
2) Se o mundo é finito (no espaço), ou infinito, ou ambos, ou nenhuma das duas coisas.
3) Se um ser iluminado existe depois da morte, ou não, ou ambos, ou nenhuma das coisas.
4) Se a alma é idêntica ao corpo ou diferente dele. 

Vejam bem, o próprio Buda diz que é inútil se discutir acerca destes temas. Não há reposta possível a nenhuma destas questões. Não é possível haver certeza absoluta nenhuma nunca acerca de nada. Abandonemos, pois, a busca por certezas e busquemos nos contentar com "a sabedoria da insegurança", ou da incerteza, como também nos ensina o Curso.

Daí, pois, ser interessante notar também, como já ressaltei outras vezes antes, que o próprio Curso, em uma de suas lições iniciais, nos convida a abandonarmos tudo, inclusive o próprio Curso, e a irmos, de coração e mente abertos, na direção do mais profundo de nós mesmos. Pois é só lá, diz ele, que vamos poder, de fato, encontrar o que buscamos. E que é, na verdade, o que já somos.

Ampliando um pouquinho este comentário antes de finalizá-lo, em função de um livro que lia no momento em que ele foi reescrito, e que também tem a ver com a ideia que praticamos hoje, preciso lhes dizer que, além do medo, no abandonar tudo a que nos orienta o Curso, há que se incluir igualmente o abandono de toda esperança.


Por quê?

Porque esperança e medo são duas faces da mesma moeda. Enquanto mantivermos uma, a outra vai se apresentar, necessariamente. E o que significa abandonar a esperança? Significa aceitarmos que não há base alguma no mundo para qualquer tipo de segurança. Tudo é impermanência e mudança. 

Pema Chödrön, a autora do livro, afirma, por exemplo, que: 

"Sem desistir da esperança - de que há um lugar melhor para [se] estar, de que há alguém melhor para ser - nunca relaxaremos onde estamos ou naquilo que somos". 

Diz ela ainda: 

"A primeira nobre verdade que Buda ensinou diz que, quando sofremos, isso não significa que algo está errado. Que alívio! Finalmente alguém falou a verdade. O sofrimento faz parte da vida e não devemos achar que o estamos sentindo por termos feito, pessoalmente, algo errado. Entretanto, o fato é que, quando sofremos, achamos que algo está errado. Enquanto estivermos viciados em esperança, pensaremos que podemos abrandar nossa experiência, torná-la mais intensa ou, de algum modo, modificá-la - e continuaremos a sofrer muito."

Ambos, esperança e medo, "são a raiz de nosso sofrimento. No mundo da esperança e do medo, sempre teremos que mudar de canal, ajustar a temperatura ou procurar outra música, porque algo está se tornando desconfortável, algo está se tornando inquieto, algo está começando a doer, e nós continuamos a procurar alternativas".

Não é assim que lhes parece? Ora, o Curso ensina que é possível viver sem medo, o que significa certamente que também é bem possível viver sem esperança. Sem expectativas. Deixando que o mundo seja exatamente como é no momento que se apresenta. Ele e todas as coisas nele.

Convido-as(os), então mais uma vez, a se entregarem às práticas, deixando este dia aos cuidados do amor, que é o que somos para descobrir que "não há nada a temer", como nos ensina uma das lições da primeira parte do livro de exercícios. 

Às práticas?


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