terça-feira, 25 de agosto de 2015

Não temos mais do que nossas próprias sensações


LIÇÃO 237

Agora quero ser como Deus me criou.

1. Hoje aceitarei a verdade acerca de mim mesmo. Eu me elevarei em glória e deixarei que a luz em mim brilhe sobre o mundo ao longo de todo o dia. Trago ao mundo as boas novas da salvação que ouço quando Deus, meu Pai, fala comigo. E vejo o mundo que Cristo quer que eu veja, ciente de que põe fim ao sonho amargo de morte, ciente de que ele é o Chamado de meu Pai para mim.

2. Cristo é os meus olhos hoje e Ele é os ouvidos que ouvem a Voz por Deus hoje. Pai, venho a Ti por meio d'Ele, Que é Teu Filho e também meu Ser verdadeiro. Amém.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 237

"Agora quero ser com Deus me criou". Podemos querer mais do que isto? Mais do que a ideia que o Curso nos oferece para as práticas de hoje? Como eu já disse em anos passados, nós nos esquecemos de que isto é tudo, e é a única coisa que podemos querer de verdade no mais íntimo de nós mesmos. 

Dizendo de outra forma, tudo o que precisamos aprender a fazer - e que é o que vai nos colocar em contato com a alegria e com a paz perfeitas e completas, que são a Vontade de Deus para nós - é reconhecer que só existe um poder, e que este único poder é Deus. E que somos um com Ele, hoje e sempre. E que, exatamente por isso, podemos nos satisfazer, na entrega, com a ideia de que não precisamos fazer nada, como ensina o Curso.

Quando nos decidimos a dar ouvidos ao mundo da ilusão, e às coisas do mundo da ilusão, perdemos - mas só aparentemente -, nossa Identidade verdadeira. Afastamo-nos do Ser. Pensamos, com isto, estar separados de Deus, da Fonte. Isto não é verdade. É só uma ilusão passageira da qual podemos nos libertar num piscar de olhos. 

Basta, repito, como já disse tantas vezes, que tomemos a decisão a que nos convida a ideia que praticamos hoje. A decisão de ser. A decisão de ser [ou de trazer de volta à consciência o fato que só podemos ser] como Deus nos criou. Pois não pode existir outra forma. Não há como ser diferente, a não ser nos delírios do ego, que acredita numa separação que nunca aconteceu.

Voltemos, pois, mais uma vez, nossa atenção à visão de Bernardo Soares, um dos heterônimos, talvez menos conhecido, de Fernando Pessoa, em seu Livro do Desassossego:

"A vida é para nós o que concebemos nela. Para o rústico cujo campo próprio lhe é tudo, esse campo é um império. Para o César cujo império lhe é ainda pouco, esse império é um campo. O pobre possui um império; o grande possui um campo. Na verdade, não possuímos mais do que as nossas próprias sensações; nelas, pois, que não no que elas veem, temos que fundamentar a realidade da nossa vida". 

Agora, o melhor de tudo é que, como vimos na lição de ontem, as sensações que temos dependem de nossa mente, que só nós podemos governar. Quer dizer, se nossas sensações estão estreitamente ligadas ao que pensamos, basta mudar nosso modo de pensar para que vivamos as sensações que quisermos. Não é mesmo?

E voltemos uma vez mais a Ken Wilber, ao texto a que já me referi várias vezes antes. Um texto de que é bom lembrar sempre para trazermos de volta à lembrança, à consciência, aquilo que pode nos auxiliar na caminhada do autoconhecimento, objetivo que nos propõe o Curso.

Diz Ken Wilber a respeito da Mente, ou Deus, ou o nível mais profundo do espectro da consciência, em um capítulo intitulado "Aquilo que é sempre já", em seu livro O Espectro da Consciência:

"Embora por conveniência falemos da Mente como o 'nível mais profundo' do espectro, ela não é, de fato, um nível particular, que dirá 'profundo'. O 'nível' da Mente não está de forma alguma enterrado ou escondido nas profundezas ocultas de nossa psique - ao contrário, o nível da Mente é nosso estado de consciência atual e comum, pois, sendo infinito e todo-abrangente de forma absoluta, ele é compatível com cada nível ou estado de consciência imaginável. Isto é, o 'não-nível' da Mente não pode ser um nível particular separado de outros níveis, pois isso imporia uma limitação espacial à Mente. A Mente é, antes, a realidade todo-abrangente, embora sem dimensão, da qual cada nível representa um desvio ilusório.Por esta razão deve-se enfatizar isto - nosso estado de consciência atual, do dia-a-dia, seja ele qual for, triste, alegre, deprimido, em êxtase, agitado, calmo, preocupado ou com medo - justamente este, tal qual ele é, é o Nível da Mente. Brahman [Deus, O Divino] não é uma experiência particular, um nível de consciência ou estado de alma - em vez disso ele é precisamente qualquer nível de consciência que tenhamos agora, e perceber isto claramente dá-nos um vívido centro de paz, que se sustenta e subsiste ao longo das piores depressões, ansiedades e medos."

Por isso volto a lhes perguntar: aprender isto não será parte de aprender: O que é a salvação?, o tema que orienta as práticas desta segunda série de lições?

Às práticas? 

NOTA: 

Um convite a uma reflexão especial para a amiga e colega, Majô, que viu sua mãe se encantar, como diria Guimarães Rosa, no último sábado - e, é claro, também para todos os que leem as postagens neste espaço

Será a morte do corpo o fim da vida de um ser humano? Pelo que nos diz a maioria dos grandes mestres que já frequentaram este mundo da forma, valendo-se de um corpo, o que somos - isto é, a essência em nós, que é o que conta verdadeiramente, é imortal. E se tivéssemos consciência de nossa imortalidade também o corpo poderia ser imortal, uma vez que ele é apenas um veículo para o espírito divino que é o que somos. 

Dizem também os mestres que quando colocamos mente e corpo a serviço do espírito não há limites para o que podemos fazer, para o que podemos viver, melhor dizendo, é só quando pomos corpo e mente a serviço do espírito é que de fato vivemos. Na verdade, o corpo é um limite e é uma fonte de impedimento à vida, quando nos identificamos com ele e tememos perdê-lo, tememos sua deterioração ou qualquer outra coisa que impeça o corpo de estar bem de se movimentar e fazer as coisas que um corpo deveria fazer normalmente. 

Esquecemo-nos, em geral, de que o corpo só pode funcionar a partir do comando da mente e que a mente é que tem de mudar, quando o corpo dá sinais de cansaço, de doença ou de fadiga. É isso que os mestres todos ensinam, se tivéssemos uma fé do tamanho de apenas uma semente de mostarda - que é minúscula - seríamos capazes de mover montanhas. E - por que não? - de permitir que o corpo vivesse e se mantivesse saudável por anos e anos, indefinidamente. 

No entanto, o mundo nos vende a ideia da doença, da degeneração, da deterioração, de perda e da morte. E nós a compramos. Não vivemos bem com elas, mas temos medo de desafiar as crenças do mundo. O próprio Curso ensina que não há mundo. Ora, se tudo o que existe só existe dentro de cada um de nós mesmos, a partir daquilo que cada um de nós escolhe para si, então não há como negar que escolhemos acreditar na morte, apesar de querermos acreditar na vida sem fim. 

Assim, há que se tomar uma decisão em relação à vida, há que se escolher a vida, se quisermos de fato viver para sempre, e esta decisão tem de ser renovada a cada segundo, permanentemente, dia a dia, segundo a segundo. Precisamos deixar de acreditar na morte e de prestar homenagens a ela, como se ela fosse o acontecimento mais importante da vida de alguém. Precisamos aprender a viver sem temer a morte, por nos sabermos espíritos imortais. Seres cuja essência é a luz que não se apaga jamais. Só assim viveremos como seres que Deus criou. 

Ou alguém ainda acredita num Deus que nos criou apenas para nos matar? Para nos fazer sofrer com a ausência das pessoas que amamos? Para nos castigar e punir pela nossa falta de fé? Que Deus seria este? 

A morte do corpo, quando acontece, é apenas uma escolha do ser que resolveu voltar aos braços amorosos do divino, sem os limites que lhe impunha o corpo. A função dos que ficam, e veem alguém partir, ausentar-se da companhia dos seus, é a de agradecer pelo tempo que tiveram com esse alguém, de celebrar o amor que puderam compartilhar enquanto estiveram juntos no convívio. É tempo, enfim, de alegrar-se por saber que o espírito venceu a morte, voltou à luz original para iluminar todos quantos ainda continuam sua jornada na forma, que continuam a experimentar o mundo a partir dos sentidos. 

Um beijo, Majô!

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