sábado, 20 de março de 2021

O Curso não trata só na teoria as coisas do mundo

 

LIÇÃO 79

Que eu reconheça o problema para
que ele possa ser resolvido.

1. Um problema não pode ser resolvido se não souberes qual é ele. Mesmo que ele já esteja resolvido tu ainda terás o problema porque não reconhecerás que ele está resolvido. Esta é a situação do mundo. O problema da separação, que é verdadeiramente o único problema, já está resolvido. No entanto, a solução não é reconhecida porque o problema não é reconhecido.

2. Todos neste mundo parecem ter seus próprios problemas particulares. Mas eles são todos o mesmo e têm de ser reconhecidos como o mesmo se é para ser aceita a única solução que os resolve a todos. Quem pode perceber que um problema está resolvido se pensar que o problema é alguma outra coisa? Mesmo que a resposta lhe seja dada, ele não pode ver sua pertinência.

3. Esta é a posição na qual te encontras agora. Tu tens a resposta, mas ainda estás em dúvida a respeito de qual é o problema. Uma longa série de problemas diferentes parece te desafiar e assim que um é resolvido aparece o outro, e o seguinte. Parece não haver fim para eles. Não há nenhum momento em que te sintas completamente livre de problemas e em paz.

4. A tentação de considerar os problemas numerosos é a tentação de manter não resolvido o problema da separação. O mundo parece te presentear com um grande número de problemas, cada um pedindo uma resposta diferente. Esta percepção te coloca em uma posição para a qual teu modo de resolver problemas tem de ser precário e o fracasso inevitável.

5. Ninguém poderia resolver todos os problemas que o mundo parece ter. Eles parecem estar em tantos níveis, em formas tão variadas e apresentar conteúdos tão diversos, que te desafiam com uma situação impossível. O desânimo e a depressão são inevitáveis quando tu pensas a respeito deles. Alguns surgem de forma inesperada, exatamente quando pensavas ter resolvido os anteriores. Outros permanecem insolúveis sob uma nuvem de negação e se erguem para te assombrar de vez em quando, apenas para se esconderem mais uma vez, mas ainda sem solução.

6. Toda esta complexidade é apenas uma tentativa desesperada de não reconhecer o problema e, por isto, de não permitir que ele seja resolvido. Se pudesses reconhecer que teu único problema é a separação, não importa que forma ela assuma, poderias aceitar a resposta porque perceberias sua pertinência. Percebendo a constância subjacente a todos os problemas que parecem te desafiar, compreenderias que tens o meio para resolver todos eles. E utilizarias o meio, porque reconheces o problema.

7. Em nossos períodos de prática mais longos hoje vamos perguntar qual é o problema e qual é a resposta para ele. Não vamos pressupor que já sabemos. Tentaremos libertar nossas mentes de todos os muitos tipos diferentes de problemas que pensamos ter. Tentaremos perceber claramente que temos um só problema, que deixamos de reconhecer. Perguntaremos qual é ele e esperaremos pela resposta. Ela nos será dada. Em seguida, pediremos a solução para ele. E ela nos será dada.

8. Os exercícios para hoje serão bem-sucedidos na medida em que não insistires em definir o problema. Talvez não sejas bem-sucedido em abandonar todas as tuas ideias preconcebidas, mas isto não é necessário. Todo o necessário é alimentar alguma dúvida acerca da realidade de tua versão de quais são teus problemas. Estás tentando reconhecer que a resposta te foi dada pelo reconhecimento do problema, a fim de que o problema e a resposta possam ser reunidos e possas ficar em paz.

9. Os períodos de prática mais breves para hoje não serão determinados pelo tempo, mas pela necessidade. Verás muitos problemas hoje, cada um pedindo uma resposta. Nossos esforços serão orientados para o reconhecimento de que há apenas um problema e uma resposta. Neste reconhecimento todos os problemas se resolvem. Neste reconhecimento há paz.

10. Não te deixes enganar pelas formas dos problemas hoje. Sempre que qualquer dificuldade parecer surgir, dize a ti mesmo imediatamente:

Que eu reconheça este problema para que ele possa ser resolvido.

Em seguida, tenta suspender qualquer julgamento acerca do que é o problema. Se possível, fecha os olhos por um momento e pergunta qual é ele. Serás ouvido e receberás resposta.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a lição 79

"Que eu reconheça o problema para que ele possa ser resolvido."

Hoje, de novo, vamos modificar um pouquinho a forma de nos aproximarmos da lição e da ideia que ela traz para as nossas práticas. Na verdade, vamos refletir de um modo um pouco mais demorado a respeito do que nos trouxe até aqui e como fomos ensinados, sem perceber de modo consciente a mais das vezes, a abandonar o contato como o espírito que nos anima, voltando nossa atenção, a maior parte do tempo, às coisas que se referem ao corpo, ao nosso próprio e ao de todos e de todas com quem dividimos nosso mundo. 

De que modo e por quais razões o mundo se mostra hoje a nós como algo a ser apenas explorado em proveito próprio, para acúmulo de coisas materiais, coisas que vão desaparecer com a passagem do tempo? Coisas que, sem sombra de dúvida, podem dar - e dão - privilégios e boa vida a alguns, enquanto deixam na aparente miséria e no abandono a maior parte da população do planeta. Onde está o problema? Como reconhecê-lo?

Chama-se Em defesa de Deus um dos livros que li, há pouco mais de cinco anos, e que ainda hoje se mantém na memória pela pertinência e pela forma diferente de olhar para a situação do mundo de hoje - sem condená-lo, mas sem negar que o espírito foi, de certo modo, relegado a um plano secundário pela maioria de nós, seres humanos. Se é que, sem levar em consideração o espírito que nos anima, se pode chamar alguém de ser humano. Este fato se deu, se dá ainda, é claro, em geral, em favor do consumismo, do imediatismo, do interesse individual e individualista, da inversão de valores, da falta de ética e de moral, da exploração pura e simples dos que não têm pelos que têm, em nome do progresso e do desenvolvimento e da criação de riquezas materiais, valores daquilo que se chama capitalismo, ou talvez mais apropriadamente hoje, de liberalismo capitalista. Um modo econômico dito selvagem algumas vezes.

Escrito por Karen Armstrong, ele, o livro, busca mostrar quais os caminhos que, tomados pelas religiões, a partir das escolhas humanas, nos afastaram da religião verdadeira ou, melhor dizendo, do sentimento de religiosidade intrínseco a nossa experiência humana, como se pode ver pelos registros das primeiras manifestações encontradas pela pesquisa arqueológica, que dão conta de expressões de rituais que reconheciam uma Presença, a que não se podia dar nome, e que ficava além da experiência cotidiana.

Falando de alguns dos grandes e importantes pensadores da humanidade, Karen diz no livro que a atividade filosófica de Sócrates, e de outros filósofos da Antiguidade, não era separada da religião. Isto é, a atividade dos filósofos estava intrinsecamente ligada à religião e à espiritualidade, sendo ela mesma - a filosofia -, pode-se dizer, a religião que se praticava então, uma vez que não existia, como hoje, nenhuma prática religiosa institucionalizada sob o patrocínio de uma "autoridade" constituída, como o Papa e seus bispos, a partir de certo ponto da história. 

Sócrates não tinha pretensões a ser dono da verdade absoluta, nem se tinha em conta de sábio, ou qualquer coisa que o valha, e seus ensinamentos buscavam, pensando junto com os indivíduos que o procuravam, quase sempre muito mais dar elementos para que os indivíduos que iam até ele questionassem por si mesmos a forma, ou formas, como viam o mundo, a fim de que eles mesmos descobrissem a melhor maneira de resolver suas questões e de viver suas vidas. É a ele que se atribui a famosa frase: "Conhece-te a ti mesmo".

Uma historinha que ela conta a respeito dele, diz que no fim de sua vida, Sócrates, apesar de não pensar em si mesmo como um sábio, relembrou uma ocasião em que foi atacado por um importante político de Atenas e disse para si mesmo: "Sou mais sábio que esse homem; provavelmente, nenhum de nós sabe qualquer coisa que valha a pena, porém ele pensa que sabe algo - e não sabe -, enquanto eu não sei, nem penso que sei; portanto, provavelmente sou mais sábio que ele só porque não penso que sei o que não sei".

A ideia que a lição deste sábado, dia 20 de março, nos apresenta para as práticas é, como eu disse em comentário anterior, de suma importância. Considerando-se que o Curso busca nos oferecer uma forma, um caminho, para se chegar ao autoconhecimento - ao "conhece-te a ti mesmo" de Sócrates, precisamos questionar verdadeiramente aquilo que sabemos ou que pensamos saber que sabemos. Tal como ele ensinava, é preciso que questionemos a forma, ou formas, pela qual vemos o mundo, para descobrir aonde está o problema, se é que vemos algum.

Só reconhecendo o problema, como a lição ensina, é que vamos poder, de fato, lidar com ele. Daí a necessidade de que nos dediquemos às práticas com toda a atenção e com todo o esforço de que somos capazes, dispostos e dispostas a reconhecer a necessidade de mudar, se, e quando, ela se apresentar. Prontos/as para fazer com alegria a mudança que se nos afigure necessária. Com isso, quem sabe?, seremos capazes de reconhecer que todos os problemas do mundo são um só e o mesmo: a crença na separação.

Se nos deixamos enganar pelo sistema de pensamento do ego - o falso eu que pensamos ser -, que tenta nos convencer de que há uma quantidade ilimitada de problemas para os quais devemos buscar solução, viver passa a ser um inferno, na medida em que nos vemos forçados, de fato, a lidar com tantos problemas, mergulhando de corpo e mente neles, abandonando o espírito, por esquecê-lo, sem que a solução de um faça diminuir a quantidade dos que nos chegam a cada momento. 

Vejam, pois, parágrafo a parágrafo o que o Curso nos oferece como forma de iluminar as práticas da ideia para hoje. É vital que prestemos toda a atenção possível ao que ele diz, pois se, de alguma forma, continuamos a ver problemas se apresentarem a nossa experiência, multiplicando-se e se agravando dia após dia, isso só pode ser sinal de que ainda não tomamos a decisão que nos pedia Tara Singh, em sintonia com o ensinamento, já lá desde as primeiras lições. 

É só a partir da decisão de pôr em prática o que as lições oferecem que vamos poder reconhecer o problema aonde ele de fato está e perceber que ele já está resolvido, e que vamos poder dizer com certeza que somos estudantes de Um Curso em Milagres. 

Apesar de parecer que o que o Curso oferece é apenas teoria, como bem podem pensar alguns e algumas entre nós - a maioria de nós até, quem sabe? -, isto não é a verdade a respeito do Curso. 

Não! Não e não! Tudo o que ele nos traz, se visto com olhos honestos e sinceros, abertos para ver de modo diferente, e ouvidos abertos para ouvir a verdade a nosso próprio respeito, é apenas prática. As lições, a aplicação das ideias no dia-a-dia em nossas vidas faz uma diferença absurda, a partir do momento em que algum ou alguma de nós se decide de fato a praticar. 

A decisão de praticar diariamente não é nada mais nada menos do que a decisão de salvar-se e de, por extensão, salvar o mundo todo. É escolher o céu. Pois, ao tomar a decisão, a pessoa que a toma escolhe olhar para o mundo e ver tudo e todas as coisas e pessoas nele de modo diferente. Sem julgar.

O foco da atenção muda e ela já não dá mais ouvidos ao apelo ensurdecedor do ego para olhar para os defeitos, problemas, diferenças, imperfeições, ou quaisquer sombras sobre a criação, ou sobre as criaturas. 

Não, o que se quer ver em tudo e em todos é apenas a luz. E quando qualquer um ou qualquer uma de nós for capaz, por ter tomado a decisão, de ver em tudo e em todas as pessoas apenas a luz, esta pessoa está salva. E, claro, o mundo todo também. Ela venceu o mundo. Reconheceu o problema para que ele pudesse ser - e ele foi - resolvido.

Às práticas?

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