sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Não dá para crer em Deus e ter medo a um só tempo

 

5. O que é o corpo?

1. O corpo é uma cerca que o Filho de Deus imagina ter construído para separar partes de seu Ser de outras partes. É dentro desta cerca que ele pensa viver para morrer quando ela enfraquecer e se deteriorar. Pois dentro desta cerca ele pensa estar a salvo do amor. Identificando-se com sua segurança, ele percebe a si mesmo como aquilo que sua segurança é. De que outra forma ele poderia ter certeza de que permanece no interior do corpo e de que mantém o amor do lado de fora?

2. O corpo não permanecerá. Mas ele vê isto como segurança em dobro. Pois a impermanência do Filho de Deus é "prova" de que suas cercas funcionam e cumprem a tarefa que sua mente atribui a elas. Pois, se sua unidade ainda permanecesse intocada, quem poderia atacar e quem poderia ser atacado? Quem poderia ser vitorioso? Quem poderia ser sua presa? Quem poderia ser vítima? Quem o assassino? E, se ele não morresse, que "prova" haveria de que o Filho de Deus pode ser destruído?

3. O corpo é sonho. Igual a outros sonhos, algumas vezes ele parece retratar a felicidade, mas pode bem repentinamente retroceder para o medo, onde nascem todos os sonhos. Pois só o amor cria na verdade e a verdade nunca pode ter medo. Criado para ser medroso, o corpo tem de servir ao propósito que lhe foi dado. Mas nós podemos mudar o propósito a que o corpo obedecerá mudando o que pensamos acerca de sua finalidade.

4. O corpo é o meio pelo qual o Filho de Deus volta à sanidade. Ainda que ele tenha sido feito para prendê-lo no inferno de forma irremediável, apesar de a meta do Céu ter sido trocada pela busca do inferno. O Filho de Deus estende sua mão para alcançar seu irmão e para ajudá-lo a caminhar pela estrada junto com ele. O corpo se torna sagrado imediatamente. Agora ele serve para curar a mente à qual ele tinha feito para matar.

5. Tu te identificarás com aquilo que pensas que te deixará seguro. Seja isso o que for, acreditarás que é um contigo. Tua segurança está na verdade, e não em mentiras. O amor é tua segurança. O medo não existe. Identifica-te com o amor e estás seguro. Identifica-te com o amor e estás em casa. Identifica-te com o amor e encontras teu Ser.

*

LIÇÃO 264

O Amor de Deus me envolve.

1. Pai, Tu estás na minha frente e atrás de mim, ao meu lado, no lugar em que me vejo e em todos os lugares aonde vou. Tu estás em todas as coisas que vejo, em todos os sons que ouço e em cada mão que busca alcançar a minha. O tempo desaparece em Ti e o espaço se torna uma crença sem sentido. Pois o que envolve Teu Filho e o conserva em segurança é o Próprio Amor. Não existe nenhuma Fonte a não ser esta e não existe nada que não compartilhe a santidade dela; nada que fique fora do alcance de Tua criação única ou sem o Amor que contém todas as coisas em si mesmo. Pai, Teu Filho é igual a Ti mesmo. Hoje, vimos a Ti em Teu Próprio Nome para ficar em paz no Teu Amor eterno.

2. Meus irmãos, juntem-se a mim hoje. Esta é a prece da salvação. Não temos de nos unir naquilo que salvará o mundo junto conosco?

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 264

Caras, caros,

"Qualquer coisa que acredites ser boa, valiosa e pela qual valha a pena lutar neste mundo pode te ferir, e o fará. Não porque tenha o poder de ferir, mas apenas porque negaste que ela é só uma ilusão e a tornaste real. E ela é real para ti. Ela não é [mais só um] nada. E, por meio da realidade percebida nela, entra todo o mundo de ilusões doentias. Toda a crença no pecado, no poder do ataque, em ferimento e dano, em sacrifício e morte, vem a ti. Pois ninguém pode tornar uma ilusão real e, ao mesmo tempo, escapar das outras. Pois quem pode escolher manter aquelas que prefere e encontrar a segurança que só a verdade pode oferecer? Quem pode acreditar que as ilusões são todas iguais e, ao mesmo tempo, afirmar que uma delas é melhor?" [T.26.VI.1:1-9]

Voltemos mais uma vez nossa atenção para o texto acima, ponto de partida para o comentário a esta mesma lição neste ano, e também em anos anteriores. Texto que pode se revelar de grande utilidade para nos convencermos de que a ideia que praticamos hoje é a que deve ser cultivada para que nos libertemos de quaisquer temores em nossa vida, na experiência aparente da forma e dos sentidos. 

Wayne Dyer, em um de seus livros, afirma que não se pode acreditar em Deus e ter medo ao mesmo tempo. Sim, é isso mesmo, repetindo enfaticamente, não se pode acreditar em Deus e ter medo ao mesmo tempo. Ou vivemos a partir de nossa fé com a certeza interior de que nada nos pode ferir a não ser nossos próprios pensamentos, ou estaremos vivendo uma vida dissociada daquilo que somos verdadeiramente. Uma vida que se deixa orientar e dirigir pelas impressões e interpretações que o ego - o falso eu - e seu sistema de pensamento, orientado apenas pelos sentidos, nos oferecem como forma de ver-perceber o mundo, e que nem de longe chega a um mínimo vislumbre do que é viver realmente. 

Talvez seja por isso que Jesus, em seu tempo, pelo que se diz a respeito dele, chegou ao ponto de afirmar que seus discípulos eram homens de pouca fé. Pois, apesar de verem, não viam e, apesar de ouvirem, não ouviam. Assim como a grande maioria de nós desde então até hoje.

Hazrat Inayat Khan diz que o objetivo da vida é alcançar o espírito [e o espírito é alegria, é luz, é paz]. E que alcançar o espírito não é apenas adquirir conhecimento ou sabedoria; é o apetite da alma; e que virá o dia na vida de uma pessoa em que ela sentirá o apetite da alma mais do que qualquer outro apetite.

Diz ele ainda não haver dúvida de que toda alma [no sentido de toda pessoa, todo ser] tem um anseio inconsciente pela satisfação do apetite de sua alma, mas que, ao mesmo tempo, em razão da absorção de nossa vida diária nas atividades mundanas nos mantemos tão ocupados que não temos tempo para prestar atenção ao apetite da alma. 

É exatamente a isto que se refere o texto que abre este comentário. Ele trata de nos chamar a atenção para o fato de nos deixarmos envolver pelo mundo do ego. Trata do fato de resistirmos, e de esquecermos de nos abrir, à ideia que o Curso nos oferece para as práticas, e para as próprias práticas em si mesmas. Elas são a melhor forma de neutralizar a insanidade de buscar satisfação em um mundo que não pode oferecer nada verdadeiro. Nada duradouro. 

Os exemplos estão aí o tempo inteiro. Há os que dizem não querer nada, mas se ressentem do que lhes falta. Há os que têm tudo e mais do que qualquer ser humano precisa para a satisfação de suas necessidades neste mundo, mas que não estão satisfeitos e querem mais, e mais, e mais, e mais... Esquecem-se, e nós com eles de ambos os modos, de que não há nada a que nos agarrarmos no mundo que vá durar para sempre. Acumular, então, qualquer coisa para quê? Medo de que qualquer coisa possa faltar para quê? Talvez aquilo para que damos nossa atenção e cuidado perdure no tempo, além do tempo que devolverá nossos corpos ao pó. Mas é só a alegria que conseguimos viver sendo o que somos, sendo o que fazemos, colocando-nos por inteiro em cada momento, vivendo aqui e agora, tudo o que há para vivermos, que pode dar sentido a nossa existência e, quem sabe?, servir de inspiração para outras vidas que se seguirão à nossa. 

E não nos enganemos jamais. Qualquer dúvida, qualquer pontinha de incerteza, qualquer insegurança, quanto ao que estamos dizendo, fazendo ou pensando, é indicativo de que nos afastamos da meta de ser e de viver sendo, em vez de nos deixarmos levar pelas emoções e reações que os sentidos fazem despertar em nós via ego. Nada do que fazemos a partir da orientação do falso eu pode levar à unidade, ao reconhecimento de que somos todos um e de que sem todos os outros do mundo estamos incompletos, da mesma forma que "o próprio Deus é incompleto sem mim", conforme o Curso ensina. 

Como eu disse antes, se voltarmos nossa atenção para a ideia que praticamos, acreditando na verdade que ela expressa, isto é, se acreditamos que o que nos envolve é o Amor de Deus, podemos, com certeza, abrir mão de todas as ilusões que o sistema de pensamento do ego nos oferece como alternativas à alegria infinita que Deus quer para nós.

Tudo no mundo da ilusão, repetindo parte dos comentários do passado,  é equivalente a nada no mundo real. Então, só precisamos abandonar toda e qualquer crença que nos diga que há alguma coisa que queiramos neste mundo para alcançarmos a paz e a alegria, que são nossa herança natural como filhos de Deus. E é por isso que a ideia para as práticas de hoje pode trazer luz a nossas vidas, ajudando-nos a fazer novas escolhas. 

A partir das práticas de hoje já não vamos mais poder acreditar que alguma coisa diferente da alegria e da paz perfeitas possa se apresentar a nós. Pois a lição de hoje nos oferece a certeza de que é só o Amor de Deus que nos envolve. E, se vemos e vivemos algo diferente da paz e da alegria completas, só pode ser porque ainda estamos nos recusando a reconhecer que a Vontade de Deus e a nossa própria vontade são uma só e a mesma.

Às práticas?

quinta-feira, 19 de setembro de 2024

E daí?

 

5. O que é o corpo?

1. O corpo é uma cerca que o Filho de Deus imagina ter construído para separar partes de seu Ser de outras partes. É dentro desta cerca que ele pensa viver para morrer quando ela enfraquecer e se deteriorar. Pois dentro desta cerca ele pensa estar a salvo do amor. Identificando-se com sua segurança, ele percebe a si mesmo como aquilo que sua segurança é. De que outra forma ele poderia ter certeza de que permanece no interior do corpo e de que mantém o amor do lado de fora?

2. O corpo não permanecerá. Mas ele vê isto como segurança em dobro. Pois a impermanência do Filho de Deus é "prova" de que suas cercas funcionam e cumprem a tarefa que sua mente atribui a elas. Pois, se sua unidade ainda permanecesse intocada, quem poderia atacar e quem poderia ser atacado? Quem poderia ser vitorioso? Quem poderia ser sua presa? Quem poderia ser vítima? Quem o assassino? E, se ele não morresse, que "prova" haveria de que o Filho de Deus pode ser destruído?

3. O corpo é sonho. Igual a outros sonhos, algumas vezes ele parece retratar a felicidade, mas pode bem repentinamente retroceder para o medo, onde nascem todos os sonhos. Pois só o amor cria na verdade e a verdade nunca pode ter medo. Criado para ser medroso, o corpo tem de servir ao propósito que lhe foi dado. Mas nós podemos mudar o propósito a que o corpo obedecerá mudando o que pensamos acerca de sua finalidade.

4. O corpo é o meio pelo qual o Filho de Deus volta à sanidade. Ainda que ele tenha sido feito para prendê-lo no inferno de forma irremediável, apesar de a meta do Céu ter sido trocada pela busca do inferno. O Filho de Deus estende sua mão para alcançar seu irmão e para ajudá-lo a caminhar pela estrada junto com ele. O corpo se torna sagrado imediatamente. Agora ele serve para curar a mente à qual ele tinha feito para matar.

5. Tu te identificarás com aquilo que pensas que te deixará seguro. Seja isso o que for, acreditarás que é um contigo. Tua segurança está na verdade, e não em mentiras. O amor é tua segurança. O medo não existe. Identifica-te com o amor e estás seguro. Identifica-te com o amor e estás em casa. Identifica-te com o amor e encontras teu Ser.

*

LIÇÃO 263

Minha visão sagrada vê todas as coisas como puras.

1. Pai, Tua Mente criou tudo o que existe, Teu Espírito penetrou em tudo, Teu Amor deu vida a tudo. E eu olharia para aquilo que Tu criaste como se ele pudesse se tornar pecaminoso? Eu não quero perceber tais imagens sombrias e ameaçadoras. Dificilmente o sonho de um louco serve para ser minha escolha, em lugar de toda a beleza com a qual Tu abençoaste a criação; toda sua pureza, sua alegria e sua morada eterna em Ti.

2. E, enquanto ainda permanecemos do lado de fora do portão do Céu, olhemos para tudo o que vemos pela visão sagrada e com os olhos de Cristo. Que todas as manifestações pareçam puras para nós, para podermos ir além delas na inocência e caminhar juntos na direção da casa de nosso Pai como irmãos e como os Filhos santos de Deus.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 263

Caras, caros,

Ainda desta vez, mais uma, não vou mudar praticamente nada do comentário - nem o título que dei a ele - feito nos últimos anos para as práticas da ideia que o Curso nos oferece na lição de hoje, a não ser pela adição de um poema, como vocês vão ver abaixo [esta adição foi feita, se não me engano, em 2014]. Continuo a acreditar que é importante fazermos mais uma vez as perguntas que sugeri então. Por isso aí vai de novo:

Vocês alguma vez já pararam para pensar que, na ilusão da forma e dos sentidos, na percepção, "... estamos nos movendo [permanente e constantemente] sem sentir"? Que "além da rotação diária da Terra e de sua revolução anual em torno do Sol, somos passageiros do Sistema Solar, que gira numa órbita não-especificada pela Via-Láctea, a qual, de seu lado, avança não se sabe para onde universo afora" [conforme Lawrence E. Joseph]?

Rivaldo, meu amigo, meu irmão internético que já se encantou, diria: E daí?

Daí, eu diria, como já disse aqui antes, continuamos a dar demasiada importância a nossos dramas pessoais, aparentemente "particulares", distraindo-nos, a maior parte do tempo, de nós mesmos e de nós mesmas, e daquilo que, de verdade, é essencial a
 nossas vidas. Melhor dizendo, distraindo-nos da própria vida em si. Inconscientes da vida e do viver. Em um transe hipnótico sob a influência das ilusões do ego, avançamos "não se sabe para onde universo afora".

Vivemos, pois, em geral, olhando para o mundo, e para as coisas do mundo, como se precisássemos "ganhar todo o mundo", mesmo à custa de perder a alma. "O Espírito Santo te ensina que não podes perder a tua alma e que não há nenhum ganho no mundo, pois, por si mesmo, ele não favorece a nada" [T-12.VI.1:2].

Para o ensinamento do Curso que buscamos aprender, a única coisa de valor que existe no mundo são aquelas partes para as quais olhamos com amor. É isto que as práticas da ideia da lição de hoje nos convidam a fazer. Olhar para o mundo e para tudo o que aparentemente existe nele com amor. Só isto pode dar ao mundo o valor "e a realidade que ele alguma vez terá". Pois o valor do mundo não está no mundo em si mesmo, mas nosso valor está em nós mesmos e em nós mesmas. E, como "a valorização do ser vem de sua própria extensão, ... a percepção do valor do ser [também] vem da extensão dos pensamentos amorosos para aquilo que está fora" [T-12.VI.3:5].


Por isso, é importante, na busca do autoconhecimento, aprender a "olhar para dentro", pois o que fazemos aqui é "empreender uma jornada", uma vez que não estamos em casa neste mundo. E nossa jornada tem por fim 
buscar nosso lar, "reconhecendo ou não onde ele está". Se acreditarmos que ele está fora de nós, a busca será inútil pois buscaremos aonde ele não está. E esqueceremos de "olhar para dentro", pois não acreditamos que lá é nosso lar.

O Curso diz, porém: "Não podes ver o invisível. Entretanto, se vires os seus efeitos, saberás que ele tem de estar aí. Percebendo o que ele faz, reconheces sua realidade. E por aquilo que ele faz, aprendes o que ele é" [T-12.VII.2:2-5].

Assim, a partir das práticas, podemos até re-criar em nós a consciência de que a verdade acerca de nós pode ser que, diferentemente, das perguntas iniciais deste comentário, a Via-Láctea de nossa consciência, em nossa jornada [no universo interior], avance na direção de nós mesmos e de nós mesmas, com todos os passageiros e todas as passageiras do Sistema Solar girando em uma órbita não-especificada, enquanto nos movemos e fazemos a Terra girar em sua rotação diária e em sua revolução anual em torno do Sol.


Ou, quem sabe, podemos aprender com o anti-poeta chileno, Nicanor Parra, que tudo o que existe no mundo do ego, mesmo a poesia, existe apenas para ser questionado. Vejam um exemplo da anti-poesia do poeta, que viveu até janeiro de 2018, o ano em que completaria cento e quatro anos, extraído do site Poesianet, de meu amigo, e poeta, Carlos Machado:

CRONOS

Em Santiago do Chile
Os
    dias
          são
               interminavelmente
                                           longos:
Várias eternidades num só dia.

Nos deslocamos em lombo de mula
Como os vendedores de cochayuyo: *
A gente boceja. E volta a bocejar.

No entanto as semanas são curtas
Os meses passam a todo vapor
Eosanosparecequevoaram.


Cochayuyo, palavra de origem quíchua, é uma alga marinha comestível. 

Ou podemos escolher também continuar no auto-engano acreditando que existe alguma coisa fora de nós mesmos.

E daí?

quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Os sentidos, se a serviço do ego, não são confiáveis

 

5. O que é o corpo?

1. O corpo é uma cerca que o Filho de Deus imagina ter construído para separar partes de seu Ser de outras partes. É dentro desta cerca que ele pensa viver para morrer quando ela enfraquecer e se deteriorar. Pois dentro desta cerca ele pensa estar a salvo do amor. Identificando-se com sua segurança, ele percebe a si mesmo como aquilo que sua segurança é. De que outra forma ele poderia ter certeza de que permanece no interior do corpo e de que mantém o amor do lado de fora?

2. O corpo não permanecerá. Mas ele vê isto como segurança em dobro. Pois a impermanência do Filho de Deus é "prova" de que suas cercas funcionam e cumprem a tarefa que sua mente atribui a elas. Pois, se sua unidade ainda permanecesse intocada, quem poderia atacar e quem poderia ser atacado? Quem poderia ser vitorioso? Quem poderia ser sua presa? Quem poderia ser vítima? Quem o assassino? E, se ele não morresse, que "prova" haveria de que o Filho de Deus pode ser destruído?

3. O corpo é sonho. Igual a outros sonhos, algumas vezes ele parece retratar a felicidade, mas pode bem repentinamente retroceder para o medo, onde nascem todos os sonhos. Pois só o amor cria na verdade e a verdade nunca pode ter medo. Criado para ser medroso, o corpo tem de servir ao propósito que lhe foi dado. Mas nós podemos mudar o propósito a que o corpo obedecerá mudando o que pensamos acerca de sua finalidade.

4. O corpo é o meio pelo qual o Filho de Deus volta à sanidade. Ainda que ele tenha sido feito para prendê-lo no inferno de forma irremediável, apesar de a meta do Céu ter sido trocada pela busca do inferno. O Filho de Deus estende sua mão para alcançar seu irmão e para ajudá-lo a caminhar pela estrada junto com ele. O corpo se torna sagrado imediatamente. Agora ele serve para curar a mente à qual ele tinha feito para matar.

5. Tu te identificarás com aquilo que pensas que te deixará seguro. Seja isso o que for, acreditarás que é um contigo. Tua segurança está na verdade, e não em mentiras. O amor é tua segurança. O medo não existe. Identifica-te com o amor e estás seguro. Identifica-te com o amor e estás em casa. Identifica-te com o amor e encontras teu Ser.

*

LIÇÃO 262

Que eu não perceba nenhuma diferença hoje.

1. Pai, Tu tens um único Filho. E é para ele que quero olhar hoje. Ele é Tua única criação. Por que eu deveria perceber mil formas naquilo que continua a ser único? Por que eu deveria dar a este único mil nomes quando um só basta? Pois Teu Filho tem de levar Teu Nome, porque Tu o criaste. Que eu não o veja como um estranho para Seu Pai, nem como um estranho para mim. Pois ele é parte de mim e eu dele, e nós, eternamente unidos em Teu Amor, somos parte de Ti Que és nossa Fonte; somos o Filho santo de Deus eternamente.

2. Nós, que somos um só, queremos reconhecer a verdade acerca de nós mesmos neste dia. Queremos ir para casa e descansar na unidade. Pois a paz está lá e não pode ser buscada e encontrada em nenhum outro lugar.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 262

Caras, caros,

Que tal nos lembrarmos mais uma vez, com a ideia para as práticas, de que o que o Curso nos pede hoje é que deixemos de lado todas as diferenças. Até porque elas são apenas aparentes e se referem tão somente àquilo que projetamos à volta de nós. É desta projeção de aparentes diferenças que nasce o mundo inteiro. Que tudo nasce. Mas apenas na ilusão. 

Assim, aquilo que aparentemente não nos parece correto no mundo é só o que não queremos aceitar como parte de nós mesmos e de nós mesmas. Pois, como já lhes disse antes - e não poucas vezes -, é a ideia de que existe alguma diferença entre o que somos e o que são todas aquelas pessoas que habitam o mundo conosco que nos leva a comparações e nos prende a julgamentos. Isso, é claro, só pode redundar em reforço na crença na separação.

Temos de ter sempre presente que não importa o que o ego nos diz. Pois tudo o que ele pode dizer se refere unicamente à percepção dos sentidos, que lhe dão existência, uma existência apenas ilusória, porém. E os sentidos não podem ser confiáveis, em nenhuma circunstância, quando a serviço do sistema de pensamento do ego. Uma vez que tudo o que vemos é fruto da percepção - e fruto de nossa própria escolha, ainda que, às vezes, de modo inconsciente -, é necessário que pratiquemos a escolha e decisão de ver, ouvir, tocar, cheirar e provar apenas a partir da percepção que nos dá o espírito em nós. A percepção que nos devolve à unidade, mesmo em meio a toda a diversidade das aparências que o mundo mostra. 

E tem mais. Lembram-se de que já lhes falei da forma pela qual Ken Wilber, em seu livro O Espectro da Consciência, dá a orientação que nos permite avaliar se estamos vendo de forma correta aquilo que estamos vendo? Para termos bem claro se estamos vendo o que, de fato, se apresenta a nossa experiência ou se estamos vendo apenas nossa interpretação do que vemos? Quer dizer, para descobrirmos se estamos oferecendo ao que se nos apresenta o olhar correto ou o olhar do julgamento do falso eu, que só vê de modo equivocado.

Diz ele o seguinte: quando olhamos para alguma coisa, pessoa ou situação, seja em que momento for, seja em que circunstância for, e o que vemos apenas nos informa, isto é, acrescenta alguma informação nova a nosso repertório, estamos olhando de forma correta. Se, por outro lado, olhamos para alguma coisa, pessoa ou situação, em qualquer dado momento ou circunstância, e o que vemos nos perturba, incomoda ou nos deixa irritados/as ou deprimidos/as, inquietos/as e preocupados/as, é preciso que mudemos nossa forma de olhar. Pois isto é uma indicação segura de que estamos reagindo, não ao que vemos, mas à interpretação que fazemos do que vemos.

Não lhes parece, pois, que faz todo o sentido trabalhar de novo com a ideia que o Curso nos oferece para as práticas de hoje? Para nos tornarmos capazes de olhar para o mundo e ver nele só o mesmo. Isto é, ver que tudo o que existe e é verdadeiro é a manifestação do divino por trás da diversidade de formas que projetamos para completar nossa experimentação do mundo. 

Às práticas?

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Uma ferramenta para a comunicação perfeita: o corpo

 

5. O que é o corpo?

1. O corpo é uma cerca que o Filho de Deus imagina ter construído para separar partes de seu Ser de outras partes. É dentro desta cerca que ele pensa viver para morrer quando ela enfraquecer e se deteriorar. Pois dentro desta cerca ele pensa estar a salvo do amor. Identificando-se com sua segurança, ele percebe a si mesmo como aquilo que sua segurança é. De que outra forma ele poderia ter certeza de que permanece no interior do corpo e de que mantém o amor do lado de fora?

2. O corpo não permanecerá. Mas ele vê isto como segurança em dobro. Pois a impermanência do Filho de Deus é "prova" de que suas cercas funcionam e cumprem a tarefa que sua mente atribui a elas. Pois, se sua unidade ainda permanecesse intocada, quem poderia atacar e quem poderia ser atacado? Quem poderia ser vitorioso? Quem poderia ser sua presa? Quem poderia ser vítima? Quem o assassino? E, se ele não morresse, que "prova" haveria de que o Filho de Deus pode ser destruído?

3. O corpo é sonho. Igual a outros sonhos, algumas vezes ele parece retratar a felicidade, mas pode bem repentinamente retroceder para o medo, onde nascem todos os sonhos. Pois só o amor cria na verdade e a verdade nunca pode ter medo. Criado para ser medroso, o corpo tem de servir ao propósito que lhe foi dado. Mas nós podemos mudar o propósito a que o corpo obedecerá mudando o que pensamos acerca de sua finalidade.

4. O corpo é o meio pelo qual o Filho de Deus volta à sanidade. Ainda que ele tenha sido feito para prendê-lo no inferno de forma irremediável, apesar de a meta do Céu ter sido trocada pela busca do inferno. O Filho de Deus estende sua mão para alcançar seu irmão e para ajudá-lo a caminhar pela estrada junto com ele. O corpo se torna sagrado imediatamente. Agora ele serve para curar a mente à qual ele tinha feito para matar.

5. Tu te identificarás com aquilo que pensas que te deixará seguro. Seja isso o que for, acreditarás que é um contigo. Tua segurança está na verdade, e não em mentiras. O amor é tua segurança. O medo não existe. Identifica-te com o amor e estás seguro. Identifica-te com o amor e estás em casa. Identifica-te com o amor e encontras teu Ser.

*

LIÇÃO 261

Deus é meu abrigo e minha proteção.

1. Eu me identificarei com aquilo que penso ser abrigo e proteção. Eu me verei aonde percebo minha força, e penso viver no interior da fortaleza na qual estou seguro e não posso ser atacado. Que hoje eu não busque proteção no perigo e nem tente achar minha paz no ataque assassino. Vivo em Deus. Encontro n'Ele meu abrigo e minha força. Minha Identidade está n'Ele. A paz duradoura está n'Ele. E só n'Ele me lembrarei de Quem sou verdadeiramente.

2. Que eu não busque ídolos. Hoje quero voltar para Ti, meu Pai. Decido ser como Tu me criaste e achar o Filho a quem Tu criaste como meu Ser.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 261

Eis-nos aqui, agora, mais uma vez, com a quinta instrução que vai orientar e dar unidade às próximas dez lições que começamos a contar de hoje. E, para continuar os comentários e a exploração das lições desta segunda parte da forma que comecei nos últimos anos, esta quinta instrução vai ser publicada também antes de cada nova lição desta série, para que nos lembremos de mantê-la em mente durante as práticas. A instrução é: O que é o corpo? 

Sabes? Sabemos? Sabem?

Bem, como já lhes disse, a partir do que o Curso orienta, as questões que abrem as séries de lições, bem como toda esta segunda parte do livro de exercícios, se destinam a iluminar nossa percepção para harmonizá-la à do Espírito Santo, à do divino no interior de cada um e de cada uma de nós. Para que cheguemos à percepção correta. É isto que vocês estão percebendo? Os temas estão lhes trazendo alguma luz? Vocês estão conseguindo ligar os temas às lições que se seguem como forma de se abrirem ao olhar amoroso do Espírito Santo em vocês? 

A instrução que o Curso apresenta novamente hoje, este tema em particular, como lhes disse outras vezes, muitas, eu diria, trata de nos ensinar de que forma podemos mudar a percepção que temos do corpo, transformando-o em um instrumento que sirva para nos devolver a sanidade, em lugar de ser o símbolo de nossa separação de Deus e o meio que serve para nos levar à morte, conforme o propósito que lhe dá o falso eu - o ego. 

O Curso ensina que é preciso aprendermos a utilizar o corpo apenas como um veículo, uma ferramenta, para nos levar à comunicação perfeita com nossos irmãos, com nós mesmos, com nós mesmas e com toda a criação. Visto deste modo, usado para a finalidade da comunicação, o corpo não é um fim em si mesmo e pode ser considerado neutro. Vendo-nos, e vendo tudo e todos como extensões amorosas do Pensamento de Deus, devolvemos aos corpos a condição do sagrado. E eles podem voltar a ser um meio para curar a mente.

Assim é que a primeira das dez ideias que praticamos neste período serve também para reforçar nossa condição de Filhos de Deus. Ela nos ajuda a identificar em Deus, e a encontrar n'Ele, o verdadeiro abrigo, a única verdadeira proteção de que precisamos.

Na verdade, como eu já disse antes também, libertando-nos de nossa identificação com o corpo, aprendemos a certeza de que só em Deus vamos encontrar abrigo, proteção, força, paz duradoura, amor infinito e Identidade. 

Às práticas?

segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Estamos aqui "para lembrar e recriar Quem Somos"

 

4. O que é o pecado?

1. Pecado é insanidade. Ele é o meio pelo qual a mente é levada à loucura e busca deixar que ilusões tomem o lugar da verdade. E, por estar louca, a mente vê ilusões aonde a verdade deveria estar e aonde ela verdadeiramente está. O pecado deu olhos ao corpo, pois o que há para os inocentes quererem ver? Que necessidade eles têm da visão, da audição e do tato? O que querem ouvir ou tentar compreender? De qualquer modo, o que perceberiam? Perceber não é conhecer. E a verdade só pode se satisfazer com o conhecimento e nada mais.

2. O corpo é o instrumento que a mente criou, em seus esforços para se enganar. A finalidade dele é lutar. Mas a meta da luta pode mudar. E, em função disso, o corpo serve para lutar por um objetivo diferente. O que ele busca agora é escolhido pelo objetivo que a mente aceita como substituto para a meta do auto-engano. A verdade, tanto quanto as mentiras, pode ser sua meta. Neste caso, os sentidos, de preferência, buscarão testemunhas para aquilo que é verdadeiro.

3. O pecado é o lar de todas as ilusões, que representam apenas coisas imaginárias, resultantes de pensamentos que não são verdadeiros. Eles são a "prova" de que aquilo que não tem nenhuma realidade é verdadeiro. O pecado prova que o Filho de Deus é mau, que a intemporalidade tem de ter um fim, que a vida eterna tem de morrer. E que o Próprio Deus perdeu o Filho que Ele ama, ficando apenas com a corrupção para completar a Si Mesmo, com Sua Vontade derrotada pela morte para sempre, com o amor morto pelo ódio e com a paz a não existir mais.

4. Os sonhos de um louco são amedrontadores e o pecado parece, de fato, aterrorizar. E, no entanto, aquilo que o pecado percebe é apenas uma brincadeira infantil. O Filho de Deus pode fingir que se tornou um corpo, presa do mal e da culpa, com nada mais do que uma vida curta que termina com a morte. Mas seu Pai reluz sobre ele o tempo todo e o ama com um Amor infinito, que suas simulações não podem mudar em absoluto.

5. Até quando, ó Filho de Deus, sustentarás a brincadeira do pecado? Não é melhor abandonar estes brinquedos infantis de pontas afiadas? Em quanto tempo estarás pronto para voltar a casa? Hoje, talvez? Não existe nenhum pecado. A criação é imutável. Ainda queres adiar a volta ao Céu? Até quando, ó Filho de Deus, até quando?

*

LIÇÃO 260

Que eu me lembre de que Deus me criou.

1. Pai, eu não fiz a mim mesmo, embora em minha loucura tenha pensado que sim. Entretanto, como Pensamento Teu, não deixei minha Fonte, e continuo a ser parte d'Aquele Que me criou. Teu Filho, meu Pai, chama por Ti hoje. Permite que eu me lembre de que Tu me criaste. Permite que eu me lembre de minha Identidade. E permite que minha inocência se eleve novamente diante da visão de Cristo, por meio da qual quero olhar para meus irmãos e para mim mesmo hoje.

2. Agora nossa Fonte é lembrada e, Nela, enfim, encontramos nossa verdadeira Identidade. Somos santos, de fato, porque nossa Fonte não pode conhecer nenhum pecado. E nós, que somos Filhos d'Ele, somos iguais uns aos outros e semelhantes a Ele.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 260

Caras, caros,

Repetindo - com algumas poucas e pequenas alterações - ainda uma vez os comentários dos últimos anos para esta lição, hoje vamos voltar a praticar aquela ideia que nos remete à Fonte, da qual nunca nos afastamos. Uma das poucas ideias que o Curso oferece como tema de mais de uma lição, que é a que diz: Eu sou como Deus me criou.

A ideia que praticamos hoje diz a mesma coisa com outras palavras. Isto é, ela nos convida a exercitarmos o pensamento de lembrar que foi Deus quem nos criou. E, como já sabemos, Ele nos criou, e cria, a Sua imagem e semelhança. Mas isto, a nossa criação à imagem e semelhança de Deus, não tem absolutamente nada a ver com os corpos, com as formas, ou com este mundo de aparências em que pensamos viver, conforme eu já disse antes. À imagem e semelhança de Deus, como fomos criados e criadas, se refere tão somente ao nosso estado natural no Ser, na Luz, no Espírito, no EU SOU, que é o que somos na unidade com Ele, n'Ele, uma vez que não há nada fora de Deus. Nem fora de nós.

Isto significa dizer também que, em última instância, sempre fomos, ainda somos e, na verdade, sempre vamos ser como Ele nos criou. E que não há nada que precisemos aprender, uma vez que trazemos tudo dentro de nós. Somos, com Deus, ou como Deus, o todo de tudo.

Para nos lembrarmos de que isso também está de acordo com o que o Curso diz e com o que eu já disse em comentários anteriores, voltemos a atenção mais uma vez a um pequeno trecho do primeiro livro da trilogia Conversando com Deus, de Neale Donald Walsch.

"A vida não é uma escola... Por que estamos aqui? Para lembrar e recriar Quem Somos. A vida [esta vida ilusória do mundo dos sentidos] é uma oportunidade para sabermos experimentalmente aquilo que já sabemos conceitualmente. Não precisamos aprender nada para fazer isso. Basta lembrar do que já sabemos e agir de acordo com este conhecimento. Nossa alma [o Ser, o divino em nós] sabe tudo o que há para saber o tempo todo. Nada é misterioso ou desconhecido para ela. Contudo, saber não é suficiente para a alma. Ela quer experimentar."

É isso que a ideia para as práticas de hoje nos convida a fazer. 

Às práticas, pois.

domingo, 15 de setembro de 2024

"Os minutos são mais importantes do que os anos."

 

4. O que é o pecado?

1. Pecado é insanidade. Ele é o meio pelo qual a mente é levada à loucura e busca deixar que ilusões tomem o lugar da verdade. E, por estar louca, a mente vê ilusões aonde a verdade deveria estar e aonde ela verdadeiramente está. O pecado deu olhos ao corpo, pois o que há para os inocentes quererem ver? Que necessidade eles têm da visão, da audição e do tato? O que querem ouvir ou tentar compreender? De qualquer modo, o que perceberiam? Perceber não é conhecer. E a verdade só pode se satisfazer com o conhecimento e nada mais.

2. O corpo é o instrumento que a mente criou, em seus esforços para se enganar. A finalidade dele é lutar. Mas a meta da luta pode mudar. E, em função disso, o corpo serve para lutar por um objetivo diferente. O que ele busca agora é escolhido pelo objetivo que a mente aceita como substituto para a meta do auto-engano. A verdade, tanto quanto as mentiras, pode ser sua meta. Neste caso, os sentidos, de preferência, buscarão testemunhas para aquilo que é verdadeiro.

3. O pecado é o lar de todas as ilusões, que representam apenas coisas imaginárias, resultantes de pensamentos que não são verdadeiros. Eles são a "prova" de que aquilo que não tem nenhuma realidade é verdadeiro. O pecado prova que o Filho de Deus é mau, que a intemporalidade tem de ter um fim, que a vida eterna tem de morrer. E que o Próprio Deus perdeu o Filho que Ele ama, ficando apenas com a corrupção para completar a Si Mesmo, com Sua Vontade derrotada pela morte para sempre, com o amor morto pelo ódio e com a paz a não existir mais.

4. Os sonhos de um louco são amedrontadores e o pecado parece, de fato, aterrorizar. E, no entanto, aquilo que o pecado percebe é apenas uma brincadeira infantil. O Filho de Deus pode fingir que se tornou um corpo, presa do mal e da culpa, com nada mais do que uma vida curta que termina com a morte. Mas seu Pai reluz sobre ele o tempo todo e o ama com um Amor infinito, que suas simulações não podem mudar em absoluto.

5. Até quando, ó Filho de Deus, sustentarás a brincadeira do pecado? Não é melhor abandonar estes brinquedos infantis de pontas afiadas? Em quanto tempo estarás pronto para voltar a casa? Hoje, talvez? Não existe nenhum pecado. A criação é imutável. Ainda queres adiar a volta ao Céu? Até quando, ó Filho de Deus, até quando?

*

LIÇÃO 259

Que eu me lembre de que não existe pecado.

1. O pecado é o único pensamento que faz parecer a meta de Deus* inatingível. O que mais poderia nos cegar para o óbvio e fazer o estranho e o tortuoso parecerem mais claros? O que além do pecado gera nossos ataques? O que mais a não ser o pecado poderia ser a fonte da culpa que exige castigo e sofrimento? E o que, exceto o pecado, poderia ser  a fonte do medo, que esconde a criação de Deus; e dá ao amor as características do medo do ataque?

2. Pai, hoje não quero ser louco. Não quero ter medo do amor nem buscar abrigo no oposto dele. Pois o amor não pode ter nenhum oposto. Tu és a Fonte de tudo o que existe. E todas as coisas que existem permanecem Contigo, e Tu com elas.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 259

Caras, caros,

Estou repetindo, por pensar pertinente, ainda que com pequenas alterações, a postagem do comentário feito a esta lição nos últimos anos.

A ideia que vamos praticar hoje busca nos mostrar novamente que acreditar no pecado, ou na possibilidade de pecado, é insanidade, é loucura, pode-se até dizer que é irracional, é falta de juízo. É a única coisa que pode nos dar a impressão de que é impossível chegarmos à meta de conhecer Deus. 

Basta, porém, que nos decidamos a mudar nosso modo de perceber, isto é, que nos decidamos a olhar para o mundo de forma diferente para entendermos que tudo o que vemos de errado - quando olhamos para o mundo e vemos algo de errado nele - é apenas um equívoco de nossa percepção, que, atrelada aos sentidos, não é confiável.

Fiquei muito tentado a repetir, falando desta lição, o que tinha dito aqui nos anos anteriores. Porém, algo que li recentemente me levou a fazer uma pequena mudança no comentário, voltando-o para outra linha de raciocínio, não menos importante e nem menos capaz de estimular cada um de nós a se voltar para o interior de si mesmo, ou cada uma de nós se voltar para o interior de si mesma. Na busca daquela parte que, no mais profundo de cada um e de cada uma, tem certeza de que não existe nenhuma separação entre Deus e nós e que, em função disto, sabe que não é possível a existência do pecado.

O que li está também no livro Onde Existe Luz, de Paramahansa Yogananda, e de, certa forma, complementa e estende o que eu já lhes ofereci dos pensamentos dele em comentários anteriores. Diz ele agora:

"Enquanto tua consciência não estiver convencida da absoluta importância de Deus, tu não O encontrarás. Não permitas que a vida te engane. (...) Os minutos são mais importantes do que os anos. Se não preencheres os minutos da tua vida com o pensar em Deus, os anos vão passar e, quando mais precisares d'Ele, talvez não consigas sentir a Sua presença. Mas se ocupares os minutos de tua vida com aspirações divinas, os anos ficarão automaticamente saturados por elas." 

Ou ainda [o que nos traz diretamente à ideia das práticas de hoje ou de duas das últimas lições]:

"Cultiva o relacionamento com Ele. É possível conhecer Deus tão bem quanto conheces teu amigo mais querido. Essa é a verdade. (...) Busca Deus por amor a Ele próprio. A percepção suprema é senti-Lo como Bem-aventurança brotando das infinitas profundezas de ti mesmo. Não anseies por visões, fenômenos espirituais, nem por experiências emocionantes. O caminho para o Divino não é um circo!" 

[O que, por outro lado, não significa que um circo não possa nos levar a Deus.]

E, para ilustrar de forma um tanto mais poética a razão para nos voltarmos cada vez mais para o amor, deixando de lado qualquer ideia de pecado, talvez possamos nos valer de novo de um dos poemas de Carlos Drummond de Andrade, que já citei outras vezes antes. É ele:

 "As sem-razões do amor"

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
semeado no vento, 
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo**
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.

É, por isso, entre outras coisas, como eu já disse várias vezes antes, que precisamos ficar vigilantes com relação às opções que o falso eu - o ego - nos oferece como forma de mudar o mundo, como aquele amor que quer mudar o outro, em lugar de aceitá-lo exatamente como é. Que mundo queremos mudar? Que tipo de amor queremos oferecer? O Curso afirma com todas as letras: "Não há mundo"! A não ser aquele que construímos a partir de nossos pensamentos. Ou ainda não percebemos que tudo o que aparentemente vemos fora de nós é apenas a manifestação "concreta" daquilo que trazemos aqui dentro? 

É para aprender isso que praticamos.

*OBSERVAÇÃO 1

Entenda-se, na primeira frase da lição: a meta de chegar a Deus, de conhecê-Lo.

**OBSERVAÇÃO 2: 

Mas também talvez porque me amo o bastante para perceber que tudo o que existe é também parte de mim.