quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Abandona a culpa, o ataque, para experimentar a paz

 

LIÇÃO 216

Eu não sou um corpo. Sou livre.
Pois ainda sou como Deus me criou.

1. (196) Só posso crucificar a mim mesmo.

Tudo o que faço, faço a mim mesmo. Se ataco, eu sofro. Mas, se eu perdoar, a salvação me será dada.

Eu não sou um corpo. Sou livre.
Pois ainda sou como Deus me criou.

*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 216

A ideia que vamos revisitar mais uma vez hoje, como já disse antes, contém uma verdade que não aprendemos com o mundo. Quer dizer, não a aprendemos a não ser depois de muitas cabeçadas e de, como se diz, cansar de "dar murro em ponta de faca". Pois tudo o que o mundo nos ensina a fazer é julgar, condenar, atacar e crucificar todos e todas que se apresentem em nossos caminhos. 

Para o sistema de pensamento do mundo - o do ego - todos/as são culpados/as pelo estado de coisas que vivemos todos e todas e cada um e cada uma de nós, e, por consequência, é claro, nós mesmos/as, cada um, cada uma, de nós é culpado/a e tem de carregar a culpa por alguma coisa horrível que já fez, ainda faz, ou vai fazer nalgum momento no futuro. 

É claro que isso é só uma tentativa equivocada de transferir nossa própria responsabilidade pessoal por nossa vida individual a outras pessoas e circunstâncias, ignorando - porque o mundo não nos ensina - que somos nós mesmos/as que as fazemos: as circunstâncias - e também as outras pessoas, que não são nada mais do que imagens de nós mesmos que não conseguimos ver olhando apenas para a imagem que pensamos ser. Assim como somos responsáveis por absolutamente tudo, todos e todas no mundo. Pelo menos por tudo aquilo que, no mundo, se apresenta a nossa consciência.

Ora são nossos pais, ora é nossa família toda. Ora são os professores, ora é a escola em que estudamos. Ora é o bairro ou o lugar em que vivemos, ora é o país em que nascemos. Em alguns momentos é o supervisor em nosso emprego, nosso superior direto, noutros é a empresa, que não nos dá a chance que pensamos precisar e merecer. Noutros é a situação econômica, social e política do país, onde "todos" os representantes eleitos são corruptos e só pensam em seu próprio bem. Ou ainda onde alguns - em geral aqueles que consideramos nossos adversários - são "mais" corruptos que o tolerável.  Noutras ainda é a religião em que fomos criados, que quer nos manter sob o jugo de um Deus acusador e vingativo. Em geral, nunca, ou quase nunca, dirigimos o olhar para dentro de nós mesmos/as, buscando ver aí a parte de responsabilidade que nos cabe por aquilo que pensamos estar vivendo.

Quando é que vamos aprender a deixar de atribuir a outro(s), ou a outra(s), a responsabilidade que nos cabe pelo estado das coisas que vivemos? Quando é que vamos compreender - e, lembrem-se, compreender é aceitar - que só nós mesmos/as criamos e construímos esse estado de coisas, seja ele qual for. 

Um estado que, aliás, como já disse também outras vezes, nunca parece ser de nossa própria responsabilidade, conforme eu disse também dois parágrafos acima. Porque "eu" sei o que faço e o que quero e o que não quero. Os outros? Os outros estão todos errados, a se dar ouvidos ao sistema de pensamento deste falso "eu", desta imagem de nós mesmos/as apenas, que vamos construindo com o aprendizado do mundo, e que o Curso chama de ego.

O Curso diz várias vezes, em diversos pontos diferentes, que oferece um ensinamento muito simples. Afinal, diz ele a certa altura, o que pode ser mais simples do que ensinar que só a verdade é verdadeira? E que o que é falso é falso?

E é isto que a ideia para as práticas de hoje nos ajuda a aprender e a compreender. Pois ela é apenas extensão e consequência natural de outra lição que diz: Tudo o que dou é dado a mim mesmo (Lição 126). Ora, se só dou a mim mesmo/a, é lógico que só posso ferir a mim mesmo/a, não? Da mesma forma, só posso julgar, condenar, culpar e crucificar a mim mesmo/a, não? Mesmo quando estou atribuindo todas as culpas do mundo a todos e a todas que me cercam menos a mim mesmo/a.

Isto não é simples de se aprender? Sim! Sim! É simples, mas não é fácil. E por quê? Porque, na maior parte do tempo, estamos hipnotizados pelos modos e sugestões do mundo [do ego, o falso eu], grande número de vezes não nos apercebemos de que o que fazemos só atinge mais fundo, de fato, a nós mesmos/as.

Apesar de todos e todas já termos experimentado em algum momento a dor que resulta de se ferir alguém, o ego nos convida a relevar esta dor e a esquecê-la, sob a justificativa de que o que fizemos era o que aquela pessoa merecia, mas não ensina como abandonar o sentimento de culpa que se origina do ataque.

Na verdade, sabemos que não é assim. Pois sempre que buscamos ferir ou atacar alguém é a nós mesmos/as que machucamos mais. E pagamos o preço em culpa. E a culpa gera o medo. E não conseguimos mais ficar em paz, nem experimentar a alegria, que é nosso estado natural. É só abandonando a culpa, que vem do ataque e do julgamento do ataque, frutos da crença na separação, que vamos conseguir experimentar a paz.

Afinal, o que queremos de verdade para nossa vida? Paz ou culpa? Ou, lembrando novamente de mais um dos ensinamentos do Curso: queremos ter razão ou ser felizes?

Às práticas?

*

ADENDO: 

Creio que todos e todas nós já nos apercebemos de que o Curso fala conosco, com cada um e cada uma de nós, com uma voz que não é diferente daquela voz interior que conhecemos em nós mesmos/as e que nos leva a fazer aquilo que aparenta ser o melhor para nós, dirigindo-nos às ações, ou inações, aqui e ali para nos oferecer a alegria e a paz de espírito. Ou já não nos surpreendemos nalguma passagem pensando : - Nossa, como é que ele, o Curso, sabe que fiz isto. Quer dizer, ele está nos revelando que determinado ponto está dirigido a nós, a cada um e a cada uma de nós de forma específica.

Bem, este adendo, assim como todos os outros, também quer ter destinatário/a específico. Claro, ele se dirige a quem bem o entender.

Vejamos o seguinte: muitas pessoas que tiveram, e ainda têm, contato com o Curso se queixam de que ele não oferece orientações práticas para se viver no mundo. Orientações do tipo, faça isto, não faça aquilo, isto não deve ser feito, isto pode e isto não pode, ou qualquer coisa parecida. 

Ora, nada mais falso do que isto, eu diria. Porque, como já falei em um comentário nalgum momento, o Curso não pode ser mais objetivo e prático do que qualquer outra instrução que possamos receber de um mestre, uma mestra, de um orientador, uma orientadora, de um psicólogo, de uma psicóloga ou de quem quer que seja.

Como assim?, vocês podem objetar.

Pensemos. Voltemo-nos para o interior de nós mesmos/as e busquemos lá. O que estamos fazendo com as lições, com as práticas? Estamos tentando abandonar o ego, ou estamos dando-lhe alimento para que ele se fortaleça? Dando-lhe argumentos para ele continuar a nos orientar de forma a que neguemos a responsabilidade que temos para com tudo o que nos acontece?

Sabemos de aprendizados antigos que reconhecemos a árvore por seus frutos. Quer dizer, os resultados que se apresentam a nossa vida estão diretamente ligados à forma com que regamos nossa árvore interior, oferecendo-lhe todos os nutrientes, luz e calor, e cuidado, para seu crescimento saudável. Se, nalgum momento de nossa vida, ou em toda ela, no tempo em que estamos vivendo neste mundo, os resultados que obtivemos não são satisfatórios, não conseguimos colher os frutos que pensamos ter plantado ao longo da vida, não será porque, sem querer, sem entender, de modo equivocado, estamos nos deixando enganar pelo ego?

Se atentos/as às orientações, às lições, às práticas, ainda assim não logramos obter satisfação - no sentido de paz de espírito, alegria - com a vida que vivemos e experimentamos sentimentos de falta, de carência, de necessidades, quer físicas, quer espirituais, não será porque nos estamos deixando enganar pelo ego? Não estamos permitindo que o ego se valha do ensinamento para reforçar em nós a crença na separação, na escassez, na dor, no sofrimento e na morte?

Wapnick, um dos primeiros professores do Curso, alertava para a necessidade de agirmos como pessoas normais, para não mergulharmos de cabeça no Curso, esquecendo-nos de que há coisas na experiência ilusória do mundo para as quais precisamos dar também nossa atenção. Os nossos relacionamentos, os nossos trabalhos, que nos propiciam a sobrevivência e também devem nos oferecer conforto, bem-estar e uma situação de vida satisfatória e suficiente, para que não precisemos pensar, com preocupação ou medo, nas necessidades do corpo a serem supridas.

Se alguém dentre nós está vivendo uma situação desagradável (no julgamento do ego sempre), em que não tem alguma coisa que considera importante para seu viver, a orientação prática do Curso não pode ser mais clara. É preciso que esta pessoa se volte para dentro de si e perceba o quanto está se deixando dominar pelo ego em suas atitudes, em suas ações, em suas formas de se relacionar com as pessoas que fazem parte de sua vida, enganando-as e se deixando enganar por elas e por si mesma. Muitas vezes, o ego nos leva a fingir uma elevação espiritual que estamos longe de sentir, uma paz de espírito e uma leveza de que só ouvimos falar.

Não nos enganemos mais! Se nosso viver no mundo não nos dá aquilo que "julgamos" merecer para viver uma vida digna e tranquila, "a culpa" não é do mundo, nem de quaisquer pessoas no mundo. Precisamos nos voltar para dentro, observar e analisar bem atentamente, para perceber que espaço o ego ocupa em nossos dias. Quantos interesses mundanos ocupam nosso pensamento dia a dia. Que lugar reservamos em nosso tempo para ser apenas o Ser e viver a partir da orientação do divino.

O Curso afirma com todas as letras que nós nos contentamos com muito pouco, uma vez que, na condição de filhos e filhas de Deus, temos direito a tudo. Resta nos voltarmos para dentro de nós mesmos/as para ver o que estamos escolhendo viver. Se pensamos ou sentimos que algo nos falta, é certamente porque ainda estamos vivendo sob a orientação do ego.

'Bora refletir a respeito?

Paz e bem!

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