quarta-feira, 2 de junho de 2021

Tudo o que precisamos fazer é abrir mão do controle

 

LIÇÃO 153

Minha segurança está em ser sem defesas.

1. Tu, que te sentes ameaçado por este mundo inconstante, pelas viradas da sorte nele e por suas brincadeiras cruéis, seus relacionamentos breves e todas as "dádivas" que ele apenas te empresta para tomar de volta mais uma vez, presta bastante atenção nesta lição. O mundo não oferece segurança. Ele se baseia no ataque e todas as suas "dádivas" com aparência de segurança são logros enganadores. Ele ataca e em seguida ataca novamente. Aonde o perigo ameaça desta forma, nenhuma paz de espírito é possível.

2. O mundo só dá origem à defensiva. Pois a ameaça gera raiva, a raiva faz o ataque parecer razoável, francamente provocado e justificado em nome da defesa própria. Porém, a defensiva é uma dupla ameaça. Pois ela evidencia a fraqueza e funda um sistema de defesa que não pode funcionar. Com isto os fracos ficam ainda mais debilitados, pois há traição fora e uma traição ainda maior no interior. Agora a mente está confusa e não sabe para onde se voltar para achar saída para suas fantasias.

3. É como se ela estivesse amarrada no interior de um círculo, no qual outro círculo a prendesse e mais um dentro daquele, até que não se pudesse mais ter esperança ou obter saída. Ataque, defesa; defesa, ataque se tornam os círculos das horas e dos dias que amarram a mente com pesadas fitas de aço revestidas de ferro, que retrocedem apenas para começar outra vez. Parece não haver nenhuma trégua, nem fim, para o aperto sempre mais firme da prisão imposta sobre a mente.

4. As defesas são o preço mais alto que o ego quer cobrar. Nelas reside a loucura sob uma forma tão inflexível que a esperança de sanidade parece ser apenas um sonho inútil, além do possível. A sensação de ameaça que o mundo encoraja é muito mais profunda e fica tão mais distante do delírio e da violência do que podes imaginar, que não fazes nenhuma ideia de toda a destruição que ela produz.

5. Tu és escravo dela. Tu não sabes o que fazer por medo dela. Tu, que sentes seu aperto férreo sobre teu coração, não compreendes o quanto ela te força a sacrificar. Tu não percebes de forma clara o que fazes para sabotar a santa paz de Deus com tua defensiva. Pois vês o Filho de Deus apenas como uma vítima à qual atacar com as fantasias, os sonhos e as ilusões que ele inventa; mas indefeso na presença delas, apenas carente de defesa por meio de mais fantasias ainda e de sonhos, pelos quais as ilusões de sua segurança o consolam.

6. A não-defensiva é força. Isto atesta o reconhecimento do Cristo em ti. Talvez lembres que o texto afirma que sempre se faz a escolha entre a força do Cristo e tua própria fraqueza, vista separada d'Ele. A não-defensiva não pode ser atacada nunca, porque ela reconhece uma força tão grande que o ataque se torna loucura, ou uma brincadeira tola que uma criança cansada poderia brincar, quando estivesse sonolenta demais para se lembrar do que quer.

7. A defensiva é fraqueza. Ela declara que negas o Cristo e vens a temer a raiva de Seu Pai. O que pode te salvar agora de teu delírio de um deus irado, cuja imagem assustadora acreditas ver em ação em todos os males do mundo? O que senão ilusões poderiam te defender agora, se é apenas contra ilusões que lutas?

8. Não participaremos de tais jogos infantis hoje. Pois nosso objetivo verdadeiro é salvar o mundo e não queremos trocar a alegria infinita que nossa função nos oferece por tolices. Não queremos permitir que nossa felicidade escape porque um fragmento de um sonho inútil passou por acaso por nossas mentes e porque confundimos as figuras nele com o Filho de Deus, seu instante minúsculo pela eternidade.

9. Hoje olhamos para além dos sonhos e reconhecemos que não precisamos de nenhuma defesa porque fomos criados inatacáveis, sem qualquer pensamento ou desejo ou sonho no qual o ataque tenha qualquer significado. Agora não podemos ter medo, pois deixamos para trás todos os pensamentos assustadores. E estamos seguros na não-defensiva, calmamente convictos de nossa segurança, certos da salvação, certos de que realizaremos o objetivo escolhido, à medida que nosso ministério estende sua bênção sagrada pelo mundo.

10. Fica quieto por um instante e, em silêncio, pensa quão santo é teu propósito, com que segurança descansas, intocável em sua luz. Os ministros de Deus escolhem que a verdade esteja com eles. Quem é mais santo do que eles? Quem pode ter mais certeza de que sua felicidade está inteiramente assegurada? E quem poderia estar mais fortemente protegido? Que defesa poderia ser necessária àqueles que estão entre os escolhidos de Deus por escolha d'Ele e também pela deles mesmos?

11. É a função dos ministros de Deus ajudar seus irmãos a escolherem como eles escolhem. Deus escolhe a todos, mas poucos chegam a perceber claramente que a Vontade d'Ele é apenas a deles mesmos. E, enquanto deixares de ensinar o que aprendes, a salvação espera e as trevas mantêm o mundo em uma prisão horrível. E também não aprenderás que a luz veio a ti e que tua saída se completou com sucesso. Pois não verás a luz até que a ofereças a todos os teus irmãos. Quando eles a receberem de tuas mãos, então a reconhecerás como tua.

12. Pode-se pensar na salvação como uma brincadeira que crianças felizes brincam. Ela foi planejada por Aquele Que ama Suas crianças e Que quer substituir seus brinquedos assustadores por jogos felizes, que lhes ensinem que o jogo do medo acabou. O jogo d'Ele educa na felicidade porque não há perdedor. Cada um dos que jogam tem de ganhar e na vitória dele garante-se o ganho de todos. O jogo do medo é posto de lado com alegria, quando as crianças chegam a ver os benefícios que a salvação traz.

13. Tu, que brincas que estás perdido para ter esperança, abandonado por teu Pai, deixado só, aterrorizado, em um mundo assustador, enlouquecido pelo pecado e pela culpa, fica feliz agora. Este jogo acabou. Agora começa um tempo de paz, no qual guardamos os brinquedos de culpa e trancamos para sempre nossos pensamentos fantásticos e infantis de pecado fora das mentes puras e santas das crianças do Céu e do Filho de Deus.

14. Paramos por mais um instante apenas para jogar nosso jogo final e feliz sobre esta terra. E, em seguida, vamos assumir nosso lugar legítimo aonde habita a verdade e onde os jogos não têm significado. Assim termina a novela. Deixa que este dia traga o último capítulo para mais perto do mundo, para que todos possam aprender que a fábula que ele lê a respeito de um destino aterrorizante, da derrota de todas as suas esperanças, sua defesa lamentável contra uma vingança da qual não se pode fugir, é apenas sua própria fantasia no delírio. Os ministros de Deus chegam para despertá-lo dos sonhos sombrios que esta novela suscita em sua memória confusa, perplexa com este conto mentiroso. Enfim, o Filho de Deus pode sorrir, ao aprender que ele não é verdadeiro.

15. Hoje praticamos de uma forma que vamos manter por algum tempo. Começaremos cada dia dando nossa atenção à ideia diária durante o maior tempo possível. Cinco minutos, agora, são o mínimo que oferecemos no preparo para um dia no qual a salvação é a única meta que temos. Melhor seriam dez; quinze, melhor ainda. E, à medida que a confusão deixa de surgir para nos afastar de nosso objetivo, descobriremos que meia hora é um tempo demasiado curto para se passar com Deus. Tampouco estaremos dispostos a oferecer menos à noite, com gratidão e alegria.

16. Cada hora amplia nossa paz crescente, quando nos lembramos de ser fiéis à Vontade que compartilhamos com Deus. Às vezes, talvez, um minuto, até menos, será o máximo que poderemos oferecer ao soar de cada hora. Algumas vezes esqueceremos. Noutras as atividades do mundo nos impedirão e não seremos capazes de nos afastar por alguns momentos para voltar nossos pensamentos para Deus.

17. No entanto, quando pudermos, manteremos nossa confiança como ministros de Deus, lembrando-nos a cada hora de nossa missão e do Seu Amor. E nos sentaremos calmamente e esperaremos por Ele e ouviremos Sua Voz, e aprenderemos o que Ele quer que aprendamos na hora que ainda está por vir, enquanto O agradecemos por todas as dádivas que Ele nos deu na que passou.

18. Com o tempo, com a prática, nunca deixarás de pensar n'Ele e de ouvir Sua Voz amorosa orientando teus passos por caminhos suaves, onde caminharás na verdadeira não-defensiva. Pois saberás que o Céu vai contigo. E também não queres manter tua mente afastada d'Ele nem por um momento, embora passes teu tempo oferecendo a salvação ao mundo. Pensas que Ele não tornará isto possível para ti, que escolheste executar o plano d'Ele para a salvação do mundo e para a tua?

19. Nosso tema hoje é nossa não-defensiva. Nós nos cobrimos com ele enquanto nos preparamos para enfrentar o dia. Levantamo-nos fortes em Cristo e deixamos nossa fraqueza desaparecer, enquanto nos lembramos de que a força d'Ele habita em nós. Nós nos lembraremos de que Ele permanece ao nosso lado ao longo do dia e nunca deixa nossa fraqueza sem o apoio de Sua força. Invocamos a força d'Ele cada vez que sentirmos a ameaça de nossas defesas minarem nossa convicção a respeito de nosso objetivo. Pararemos por um instante, enquanto Ele nos diz: "Eu estou aqui".

20. Agora tua prática começará a assumir a dedicação do amor, para te auxiliar a impedir tua mente de se desviar de seu objetivo. Não tenhas medo nem fiques apreensivo. Não pode haver nenhuma dúvida de que alcançarás tua meta final. Os ministros de Deus não podem fracassar nunca, porque o amor e a força e a paz que brilham a partir deles para todos os seus irmão vêm d'Ele. Estas são as dádivas d'Ele para ti. Tudo o que precisas oferecer a Ele, em retribuição, é a não-defensiva. Tu simplesmente abandonas aquilo que nunca foi real, para olhar para o Cristo e ver Sua inocência.


*

COMENTÁRIO:

Explorando a LIÇÃO 153

"Minha segurança está em ser sem defesas."

Novamente: se quisermos nos manter fiéis ao que o Curso ensina, não há como não relacionar esta lição e esta ideia a uma lição anterior, a 135, que diz: Se me defendo, sou atacado.

Todos os movimentos que fazemos se devem a uma lógica que muitas vezes não paramos para questionar, nem conseguimos perceber, porque a maior parte do tempo distraídos de nós mesmos e do que acontece à volta de nós, pensando no movimento anterior [o passado], e nas consequências dele, ou tentando antecipar o próximo movimento [o futuro], e avaliando os possíveis resultados que advirão dele.

Quer queiramos, quer não, quer saibamos de forma consciente, quer não, os movimentos que fazemos são sempre aqueles que podemos fazer a partir da consciência que temos de nós mesmos, a partir das vontades, dos desejos e dos quereres que nos movem na direção do sonho, da alegria e da felicidade.

À medida que nos movemos pelo mundo e buscamos ver claramente o que nos move, em função de resultados que se apresentam, e que muitas vezes não são aparentemente aqueles que queríamos ou que pensávamos querer - aqueles que nos fazem felizes, que nos enchem de alegria - vamos aprendendo a mudar as escolhas. No entanto, enquanto buscarmos pensando que havemos de preencher alguma necessidade, alguma falta, vamos viver experiências de altos e baixos, vamos passar por experiências que nos satisfazem e por outras que não nos dão a satisfação esperada.

Por quê?

Porque é preciso compreendermos - e este compreender tem sempre de ser no sentido de aceitar - que não precisamos fazer nada. Nada, nada, nada. Isto, para usar uma expressão corriqueira bem conhecida, também equivale a aceitar como verdadeiro aquele ditado: "muito ajuda quem não atrapalha".

Ora, viver do modo que vivemos, como se precisássemos nos defender o tempo todo de um mundo perigoso, um mundo em que há armadilhas em cada esquina, um mundo no qual o inimigo usa os disfarces mais inusitados e pode nos surpreender com a guarda baixa, não é viver absolutamente. É atrapalhar a vida. É não entender a lógica da vida e seus movimentos. É acreditar que é preciso fazer alguma coisa para melhorar um mundo no qual a vida é criada de modo perfeito. Tanto é assim que ninguém até hoje consegue explicar como a vida funciona. Ninguém conseguiu "criar" vida ou reproduzir "artificialmente" de maneira parecida os movimentos da vida.

É a vida que se sobrepõe a tudo o que podemos fazer no mundo. É a vida que continua a existir quando morre uma flor, um pássaro, uma planta qualquer, um animal qualquer ou mesmo quando as pessoas, conhecidas ou desconhecidas, quer próximas, quer distantes, morrem. A vida não morre jamais.

Tudo o que precisamos compreender, e aceitar, é que estamos no lugar certo o tempo todo, seja lá onde for que estivermos. Fazemos - porque é só o que podemos fazer em qualquer instante dado - o que tem de ser feito, em cada um e em todos os momentos, seja lá o que for que fizermos. Ou como diz a música From the Beginning, de Emerson, Lake & Palmer, que citei também no comentário dos anos anteriores: "Vê, é tudo claro, tinhas de estar aqui, desde o início".

A lição de ontem - O poder de decisão é meu - é absolutamente clara a respeito do equívoco das crenças a partir das quais pensamos que o que vivemos é viver. Isto é, pensamos estar à mercê de um poder tirano sobre o qual não temos o menor controle. Um poder que nos pôs num mundo qual um barco à deriva no meio de uma tempestade num mar em fúria. E achamos que precisamos lutar para nos defender dos perigos que este poder nos apresenta a cada instante.

Nada mais falso. Isto é, como a lição de ontem diz:

Ninguém pode sofrer perda a menos que isso seja sua própria decisão. Ninguém pode sentir dor a não ser que sua escolha eleja esse estado para si. Ninguém pode se afligir nem ter medo nem se perceber doente a menos que esses resultados seja o que quer. E ninguém morre sem seu próprio consentimento. Tudo o que acontece representa apenas teu desejo e nada do que escolhas deixa de acontecer. Eis aqui teu mundo, completo em todos os detalhes. Eis aqui a realidade inteira dele para ti. E é só aqui que está a salvação. 

Ou, como diz Elio D'Anna em seu livro, de que já lhes falei: "o inesperado precisa de um longo tempo de preparação" e nada do que acontece a ninguém acontece sem seu consentimento, conforme o ensinamento do Curso.

Quem, então, pensas que cria [inventa] a necessidade de defesas? Quem cria [inventa em sua imaginação insana] os perigos de que se defender? Obviamente não é aquilo que tu és na verdade, em Deus. Só pode ser uma imagem falsa de ti mesmo/a que construíste para justificar este mundo insano em que pensas viver.

É importante observar o que diz a última frase do primeiro parágrafo que cito: "E é só aqui que está a salvação".

E ela é muito simples, se abandonares tua necessidade de controle, se abandonares o julgamento do mundo, se baixares todas as tuas armas e deixares de te defender. A salvação está em deixar que Deus viva a Sua vida em ti. Pois Isso é o que és. Na verdade, todas as defesas que o ego inventa são para se proteger de Deus, e de nada mais.

É hora, pois, de reconhecer que não há necessidade de nos defendermos de Deus. É hora de abandonarmos toda a luta. É hora de reconhecermos que nossa vontade e a Vontade de Deus são a mesma.

NOTA: Reprisando ainda uma vez mais: quem quiser ouvir a música que citei, que acho belíssima, o link é o seguinte:

http://www.youtube.com/watch?v=3epPMa5rq0U 

Às práticas?

Um comentário:

  1. Com legenda em português: https://www.youtube.com/watch?v=F-kWt05S6JY&ab_channel=machadoletters

    ResponderExcluir