domingo, 29 de novembro de 2020

Perdoar a nós mesmos é igual a perdoar o mundo

 

12. O que é o ego?

1. O ego é idolatria; o sinal do ser limitado e separado, nascido em um corpo, condenado a sofrer e a terminar sua vida na morte. Ele é a "vontade" que percebe a Vontade de Deus como inimiga e toma uma forma na qual ela é negada. O ego é a "prova" de que a força é fraca e de que o amor é amedrontador, de que a vida é, na verdade, morte e de que só aquilo que contraria Deus é verdadeiro.

2. O ego é louco. Com medo, ele se põe diante de Todos os Lugares, separado do Todo, separado do Infinito. Em sua loucura, ele pensa ter se tornado um vitorioso sobre o Próprio Deus. E, em sua autonomia insuportável, ele "percebe" que a Vontade de Deus foi destruída. Ele sonha com castigo e treme diante das imagens de seus sonhos; seus inimigos, que buscam assassiná-lo antes de ele poder garantir sua segurança atacando-os.

3. O Filho de Deus não tem ego. O que ele pode saber da loucura e da morte de Deus, se habita n'Ele? O que ele pode saber da tristeza e do sofrimento, se vive na alegria eterna? O que ele pode saber do medo e do castigo, do pecado e da culpa, do ódio e do ataque, se tudo o que existe à volta dele é a paz perene, livre de conflitos e imperturbada para sempre, no silêncio e na tranquilidade mais profundos?

4. Conhecer a realidade é não ver o ego e seus pensamentos, seus esforços, seus atos, suas leis e crenças, seus sonhos, suas esperanças  seus planos para a própria salvação e o custo que a crença nele cobra. Em termos de sofrimento, o preço pela fé no ego é tão imenso que a crucificação do Filho de Deus é oferecida diariamente em seu santuários sombrio, e o sangue tem de jorrar diante do altar em que seus seguidores doentios se preparam para morrer.

5. Porém, um único lírio de perdão transformará as trevas em luz; o altar às ilusões no santuário à Própria Vida. E a paz será devolvida para sempre às mentes santas que Deus criou como Seu Filho, Sua morada, Sua alegria, Seu amor, inteiramente Seu, um só com Ele totalmente.

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LIÇÃO 334

Reivindico, hoje, as dádivas que o perdão dá.

1. Não vou esperar outro dia para achar os tesouros que meu Pai me oferece. Todas as ilusões são vãs e os sonhos desaparecem, mesmo porque se baseiam em percepções falsas. Permite que hoje eu não aceite dádivas tão mesquinhas novamente. A Voz de Deus oferece a paz de Deus a todos que ouvem e escolhem segui-Lo. Esta é minha escolha hoje. E, assim, vou encontrar os tesouros que Deus me dá.

2. Busco apenas o eterno. Pois Teu Filho não pode se satisfazer com nada menos do que isso. O que, então, pode servir de consolo para ele, a não ser aquilo que Tu ofereces a sua mente confusa e coração amedrontado, para lhe dar segurança e lhe trazer paz? Quero ver meu irmão sem pecado hoje. Esta é Tua Vontade para mim, pois deste modo verei minha inocência.

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COMENTÁRIO:


Explorando a LIÇÃO 334

A ideia para as práticas de hoje tem a ver com o renovar nossa decisão de tomar posse da herança de filhos de Deus, a que temos direito natural, por ainda sermos tal qual Deus nos criou, conforme ensina o Curso de várias maneiras e em várias ocasiões ao longo do texto e dos exercícios. 

Tal decisão começa com a afirmação que cada um de nós vai fazer da ideia: 

Reivindico, hoje, as dádivas que o perdão dá.

Ela tem a ver com o perdão, porque é a forma de acessar essa herança. Pois perdoar o mundo é o mesmo que abandoná-lo, é o mesmo que abrir mão dele, para ganhá-lo por inteiro, à luz da percepção verdadeira, sabendo que ele não vai durar, que ele não é eterno e não tem senão o valor que lhe damos, que é sempre temporário e variável. Por dependente da percepção que temos e que, ora nos mostra algo como útil, ora como inútil. 

Ora, se nos parecer difícil pensar na enormidade do gesto que parece ser oferecer o perdão ao mundo todo, é preciso que nos lembremos que o Curso ensina que não há nada fora. Assim é que podemos ficar tranquilos e aceitar a tarefa, pois, além de tudo, perdoar o mundo não é nada mais nada menos do que apenas nos perdoarmos a nós mesmos, por tudo e por nada, aceitando que ainda somos como Deus nos criou, escolhendo viver a Vontade d'Ele para nós, que é a mesma que a nossa, como vimos há pouco 

E é urgente que tomemos esta decisão. A decisão que pode nos salvar e salvar o mundo inteiro. Pois por que esperar para fazer em outro momento, se a decisão pode nos pôr em contato com a paz e a alegria perfeitas e completas, que são a Vontade de Deus para nós? Assim é que dizemos:

Não vou esperar outro dia para achar os tesouros que meu Pai me oferece. Todas as ilusões são vãs e os sonhos desaparecem, mesmo porque se baseiam em percepções falsas. Permite que hoje eu não aceite dádivas tão mesquinhas novamente. A Voz de Deus oferece a paz de Deus a todos que ouvem e escolhem segui-Lo. Esta é minha escolha hoje. E, assim, vou encontrar os tesouros que Deus me dá.

Vamos, pois, perdoar o mundo, em sintonia com o que o Curso ensina, para podermos encontrar e desfrutar dos tesouros que Deus nos dá. Perdoemos o mundo e tudo o que há nele e esqueçamos o passado. Pois perdoar o mundo é, como já disse outras vezes, entregá-lo a seu próprio destino, juntamente com seu futuro, sem sequer uma única intenção de controle, sem qualquer pretensão de saber ditar a ele "melhores" modos e maneiras.

Repetindo, perdoar o mundo é reconhecer que ele não tem nada que queiramos realmente. É dar a ele apenas o valor que lhe é devido por sua impermanência, por sabê-lo passageiro e mutável, reconhecendo a diversidade apenas como aspectos diferentes da mesma ilusão, que o cria e constrói a partir de pensamentos baseados na crença em uma ideia que valoriza a separação, como se ela fosse verdadeira, esquecendo-se da Unidade, de que todos somos partes. 

Não há nada no mundo que vá durar para sempre, para a eternidade; e o que buscamos, unindo-nos à orientação do Curso nesta lição é apenas o eterno. Por isso dizemos:

Busco apenas o eterno. Pois Teu Filho não pode se satisfazer com nada menos do que isso. O que, então, pode servir de consolo para ele, a não ser aquilo que Tu ofereces a sua mente confusa e coração amedrontado, para lhe dar segurança e lhe trazer paz? Quero ver meu irmão sem pecado hoje. Esta é Tua Vontade para mim, pois deste modo verei minha inocência.

Para nos lembrarmos de tudo isso, ofereço-lhes mais uma vez, outra, a passagem do livro Primeiras Estórias, de Guimarães Rosa, na qual ele nos apresenta a compreensão disto, a partir da percepção do Menino, em um trecho de uma das estórias:

"E, vindo o outro dia, no não-estar-mais-dormindo e não-estar-ainda-acordado, o Menino recebia uma claridade de juízo - feito um assopro - doce, solta. Quase como assistir às certezas lembradas por um outro; era que nem uma espécie de cinema de desconhecidos pensamentos; feito ele estivesse podendo copiar no espírito ideias de gente muito grande. Tanto, que, por aí, desapareciam, esfiapadas.

"Mas naquele raiar, ele sabia e achava: que a gente nunca podia apreciar, direito, mesmo as coisas bonitas ou boas, que aconteciam. Às vezes, porque sobrevinham depressa e inesperadamente, a gente nem estando arrumado. Ou esperadas, e então não tinham gosto de tão boas, eram só um arremedo grosseiro. Ou porque as outras coisas, as ruins, prosseguiam também, de lado e do outro, não deixando limpo lugar. Ou porque faltavam ainda outras coisas, acontecidas em diferentes ocasiões, mas que careciam de formar junto com aquelas, para o completo. Ou porque, mesmo enquanto estavam acontecendo, a gente já sabia que elas já estavam caminhando para se acabar roídas pelas horas, desmanchadas..." 

Não lhes parece que as práticas podem nos levar mais depressa ao encontro de nós mesmos, no Ser, em Deus, com Ele? Não lhes parece que perdoar o mundo vai permitir que, de fato, reivindiquemos e recebamos as dádivas que o perdão oferece, e que, na verdade, já são nossas? 

Às práticas?


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